O
QUINTO BILHÃO
Cada nação do planeta, a sua maneira,
procurou adaptar-se a esta nova realidade, desenvolvendo pesquisas e iniciando
programas em busca de uma nova fonte de combustíveis renováveis, destacando-se
sobremaneira, o Pró-Álcool ou Programa Nacional do Álcool um
programa de substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados
de petróleo por álcool, financiado pelo governo do Brasil a partir de 1975.
Em 14 de Novembro
de 1975, por decreto foi criado o Pró Álcool, sendo o engenheiro Lamartine Navarro Júnior considerado
"o pai do Pró Álcool", acompanhado pelos empresários Cícero
Junqueira Franco e Maurílio Biaggi.
O programa de
motores à álcool foi idealizado pelo físico José Walter Batista Vidal e pelo
engenheiro Urbano Ernesto Stumpf este último
conhecido como o pai do motor a álcool entre outros.
Na época, o então
governo militar, incentivou a grilagem de terras para o
cultivo da cana e fez vista grossa em relação à violações de direitos
trabalhistas. Quanto aos usineiros o governo forçou a produção de álcool, ao
invés de açúcar, mediante o fornecimento de subsídios.
O programa
substituiu por álcool etílico a gasolina, o que
gerou 10 milhões de automóveis a gasolina a menos rodando no Brasil, diminuindo
a dependência do país ao petróleo importado.
A decisão de
produzir etanol a partir da cana de açúcar por via fermentativa foi por causa da baixa nos preços do açúcar (a
exemplo das outras commodities) na época, sendo também testados outras
culturas, como a mandioca, por exemplo.
A crise do
petróleo provocou um revés na política comercial vigente no mundo, pois os
países exportadores de commodities (quase todos no 3º mundo) viram-se
subitamente alijados de uma expressiva fonte de recursos, o que provocou um
elevado endividamento das nações em desenvolvimento, obrigando-as a cortar
programas sociais, postergar obras de infraestrutura e a admitir uma forte
elevação nas taxas de juros por parte do sistema financeiro internacional,
capitaneada pelos Estados Unidos.
O milagre
desenvolvimentista alardeado por quase todas as ditaduras financiadas pelos americanos
caia por terra, fazendo ressurgir com maior vigor o movimento de insurreição
popular em quase todo o planeta contra a política hegemônica americana, ou da
“Nova Roma” como era chamada à época.
Como reflexo, em
todo o mundo e, particularmente na América Latina, houve um endurecimento por
parte dos governantes frente aos reclamos da população, sendo este período
marcado por uma violenta repressão governamental aos insurgentes, com a total
violação dos direitos civis promovendo sequestros e assassinatos em larga
escala contra as lideranças políticas de oposição, lideranças sindicais ou
quaisquer outras que questionassem o modelo, sendo as maiores vitimas os
jovens, universitários que sonhavam com os ideais de liberdade e de igualdade.
Em 1977, cientistas
britânicos detectaram pela primeira vez a existência de um buraco na camada de
ozônio sobre a Antártida.
Na verdade, não
um buraco, mas uma considerável redução na concentração de ozônio na atmosfera,
cujo efeito mais visível era a passagem maior dos raios ultravioleta vindos do
espaço, com a consequente nocividade sobre os tecidos vivos (maior incidência
de câncer).
A grande causa
desta queda nos níveis de ozônio foi atribuída ao CFC (Clorofluorcarbono), um
gás industrial utilizado de forma pioneira pela General Motors nos Estados
Unidos que, no decorrer do tempo, dispersou-se pelo mundo, inserido em bens de
consumo como geladeiras, aparelhos de ar condicionado e em aerosóis dos mais
variados tipos e com as mais variadas aplicações.
No ano de 1978, os
Estados Unidos da América jogavam na atmosfera 470 mil toneladas de CFC, que
somados ao restante do mundo, outras 350 mil toneladas, davam características
de grave crise ambiental ao problema.
Com uma campanha
mundial de esclarecimento e com um vigoroso boicote aos produtos que continham
CFC, por todo o planeta, nos anos seguintes a substituição quase que total do
clorofluorcarbono nos sprays e nos aparelhos eletrodomésticos foi alcançada.
Em 1978, na Nicarágua, América
Central, o líder oposicionista Pedro Joaquim Chamorro, diretor do mais importante
jornal do país, La Prensa, foi assassinado sendo o presidente Anastácio Somoza
acusado de cumplicidade no crime, o que fez com que o grupo guerrilheiro
sandinista (Frente Sandinista de Libertação Nacional) ganhasse apoio dos
camponeses em sua luta contra a Guarda Nacional (treinada pelos americanos),
tomando este confronto proporções de uma guerra civil.
Em 1979, Somoza renuncia ao poder e
asila-se nos Estados Unidos, deixando atrás de si uma guerra que custou mais de
30 mil vidas e destroçou a economia do país, assumindo o poder em seu lugar, a
Junta de Reconstrução Nacional que revogou a Constituição, dissolveu o Congresso,
promulgando um Estatuto de Direitos e Garantias, nacionalizando grande parte da
indústria e expropriando as terras de grandes latifúndios distribuindo-as entre
os camponeses.
Os Estados Unidos, em oposição à
política esquerdista dos sandinistas, começaram a apoiar um movimento
guerrilheiro anti-sandinista, os “Contras” (cerca de dois mil membros antigos
da Guarda Nacional, baseados em Honduras) que desencadearam ataques
guerrilheiros à Nicarágua, culminando com um embargo total americano ao país.
No mesmo período de tempo, no Oriente
Médio as relações estavam se deteriorando cada vez mais, onde a OLP
(Organização para a Libertação da Palestina) adotando uma posição de guerrilha,
promovia constantes ataques a Israel, exigindo a criação e o reconhecimento do
Estado Palestino, a partir de suas bases na Jordânia, no Líbano e na Síria.
A recusa dos países árabes em
reconhecer e conviver pacificamente com Israel desde sua fundação em 1948,
agravava ainda mais a relação americana no Oriente Médio (os Estados Unidos em
apoio a Israel enviara uma força naval que bombardeou a população civil no ano
de 1979, no lado Oeste de Beirute, no Líbano).
O Xá Reza Pahlevi
no Irã, retornando ao poder depois de um contra golpe apoiado por britânicos e
Americanos (1953) começou um novo período no Irã, caracterizado por um monarca
que queria converter seu país em uma potência econômica e militar na região.
Embora com alguns
avanços, seu governo se destacou por uma política de subordinação ao Ocidente e
pelos métodos despóticos utilizados contra os dissidentes.
A esta situação
se somou a inflação, a escassez de trabalho e os abusos dos direitos humanos. O
sistema ocidental que queria impor o Xá Reza Pahlevi não funcionou, o mal-estar
popular foi crescendo até chegar à revolução, impondo-se o líder religioso
Ruhollah Khomeini, por suas características pessoais, como o líder indiscutível
da revolução iraniana.
Em 16 de janeiro,
o Xá Reza Pahlevi abandona o país e em 10 de
Fevereiro de 1979 volta Khomeini do seu exílio na França,
dirigindo pessoalmente a revolução islâmica, deixando sem efeito o regime
imperial e proclamando a República Islâmica do Irã.
Devido ao asilo que outorgou os Estados Unidos ao Xá, justificando-se por motivos de saúde, em
Novembro Khomeini promoveu a expulsão da embaixada americana em Teerã mantendo seu
pessoal como reféns (um total de 53 pessoas), utilizando este sequestro como
motivo para pressionar e conseguir
liberar recursos iranianos congelados, aproximadamente 23 bilhões de
dólares, em contas nos Estados Unidos.
Com a denúncia
pública da venda de armas americanas ao Irã, em troca dos reféns mantidos na
embaixada e cujos recursos financiavam a guerrilha dos Contras na Nicarágua, se
anularam os acordos de venda de armas
provocando por parte do Irã a interrupção do fornecimento de petróleo para os
Estados Unidos e a promulgação de uma nova constituição Teocrática.
Desta maneira os
EUA perderam o seu principal aliado no Golfo Pérsico, provocando a segunda crise mundial no fornecimento de petróleo.
Em 1979, a União
Soviética invadia o Afeganistão, um pequeno país montanhoso (85% do seu
território é composto por montanhas) de características agrícolas,
principalmente da papoula usada na produção de ópio (entre 80 e 90% da heroína
consumida na Europa provém do ópio produzido no Afeganistão) que, apesar da
destruição maciça provocada na sustentação logística das forças de ocupação,
causando as lutas entre as facções dos Mujahidin (guerreiro santo) mostrou-se
incapaz de sufocar o movimento de resistência, permitindo que os
fundamentalistas do Talibã se apropriassem da maior parte do país.
O movimento de
resistência à ocupação soviética contou com apoio logístico, material e militar
da CIA, que enviou ao Afeganistão vários de seus agentes, inclusive ajudando
Osama Bin Laden, um jovem idealista de nacionalidade Saudita, cujo pai,
extremamente rico, possuia importantes ligações com a indústria petrolífera
americana.
Ainda como forma
de minimizar a perda de influencia na região, os Estados Unidos da América, sob
a liderança de Ronald Reagan, aproximaram-se do Iraque, onde Saddan Hussein, um
simpatizante stalinista com forte apelo para o “Culto à Personalidade”, que
chegou a receber um premio da UNESCO em 1973 por seu trabalho na promoção da
saúde e da erradicação do analfabetismo com os recursos advindos da elevação do
preço do petróleo após a crise de 1973, governava ditatorialmente.
Aproveitando-se
das divergencias pessoais entre Saddan Hussein e Khomeini, sem envolver-se diretamente,
contando com o apoio da União Soviética que também não desejava ver
aprofundar-se o fundamentalismo islãmico, os Estados Unidos agindo em conjunto
com a Inglaterra e França fomentaram uma atitude belicosa entre o Irã e o
Iraque, culminando com a guerra entre as duas nações.
Em 1980, o presidente Saddam Husseim, do Iraque, revogou um acordo de 1975 que cedia ao Irã cerca de 518
quilômetros quadrados de uma área de fronteira ao norte do canal de Shatt-a-Arab em troca da garantia de que o Irã cessaria a
assistência militar à minoria curda no Iraque que lutava por independência.
Exigindo a revisão do acordo para demarcação da
fronteira ao longo do Shatt-a-Arab (que controla o porto de Bassora),
a reapropriação de três ilhas no estreito de Ormuz (tomado pelo Irã em 1971) e a cessão de
autonomia às minorias dentro do Irã, o exército iraquiano, em Setembro de 1980, invadiu a zona
ocidental do Irã.
O Iraque também estava interessado na
desestabilização do governo islâmico de Teerã e na anexação do Khuzistão,
a província iraniana mais rica em petróleo.
Segundo os iraquianos, o Irã infiltrou agentes
no Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein. Além disso, fez intensa
campanha de propaganda e violou diversas vezes o espaço terrestre, marítimo e
aéreo iraquiano.
Ambos os lados foram vítimas de ataques aéreos a
cidades e a poços de petróleo.
O exército iraquiano engajou-se em uma
escaramuça de fronteira numa região disputada, porém não muito importante,
efetuando posteriormente um assalto armado dentro da região produtora de
petróleo iraniana. A ofensiva iraquiana encontrou forte resistência e o Irã
recapturou o território.
A resistência do Irã levou o Iraque a propor um
cessar-fogo, recusado pelo Irã (os iranianos exigiram pesadas condições: dentre
elas a queda de Hussein). Graças ao contrabando de armas (escândalo Irã-Contras),
o Irã conseguiu recuperar boa parte dos territórios ocupados pelas forças
iraquianas. Nesse mesmo ano, o Irã atacou o Kuwait e outros Estados do Golfo Pérsico. Nessa altura, a Organização das Nações Unidas e alguns Estados Europeus enviaram vários navios de guerra para a zona.
Em 1985, aviões iraquianos destruíram uma usina nuclear parcialmente construída em Bushehr e depois bombardearam alvos civis,
o que levou os iranianos a bombardear Bassora e Bagdá.
Entre 1985 e 1987 a Guerra terrestre passou para
uma fase onde predominou o atrito, que favoreceu o desgaste iraquiano, enquanto
o conflito transbordava para o Golfo Pérsico,
envolvendo o ataque iraniano a navios petroleiros que saiam do Iraque e o uso
de minas submarinas nas proximidades da fronteira marítima dos dois países.
O esforço de guerra do Iraque era financiado
pela Arábia Saudita, pelos EUA, enquanto o Irã contava com a ajuda da Síria e da Líbia. A União Soviética que vendia armas inicialmente
mais para o Iraque, passa a vender mais equipamento militar para o Irã,
conforme cresceu o apoio americano ao Iraque. Durante todo o conflito o Brasil foi um
dos países ocidentais que vendeu armas para o Iraque em troca de petróleo durante todo o conflito.
Na América do Sul, no ano de 1982, o governo
militar argentino, numa busca desesperada de manter-se no poder com apoio
popular, invadia as Falklands (Malvinas) reivindicando a soberania territorial
das ilhas para a Argentina.
A rapida resposta militar da Inglaterra na
retomada das ilhas, com o envio de navios, submarinos e tropas de ocupação, que
provocou a morte de 649 soldados argentinos, 255 britânicos e 3 civis das
ilhas, acabou por acelerar o processo de queda do regime militar na Argentina.
O apoio logistico e material dos americanos às
tropas inglesas contra as sul americanas acentuou definitivamente o
distanciamento dos governos militares do sul do continente da política de
Washington, caindo por terra a idéia de união continental sob tutela norte
americana e praticamente sepultando o Tratado Interamericano de Assistência
Recíproca - TIAR (Tratado do Rio), um tratado de defesa
mútua celebrado em 1947 na cidade do Rio de Janeiro entre diversos países americanos cujo princípio central era que “no caso de ocorrer um ataque
contra um dos membros, isto seria considerado como um ataque contra todos”, com
base na chamada "doutrina da defesa hemisférica"), ao menos no que
cabia aos Estados Unidos.
De volta ao Oriente Medio, em 1983, Donald Rumsfeld, viaja como enviado especial dos EUA, no Governo Reagan, para
reforçar o apoio americano ao governo iraquiano de Saddam Hussein, na guerra Guerra Irã-Iraque.
Posteriormente Donald Rumsfeld veio a ocupar o cargo de Secretario de Defesa dos EUA,
durante o Governo Bush.
Mas, em meados da década de 1980, a reputação
internacional do Iraque ficou abalada quando foi acusado de ter utilizado armas químicas contra as tropas iranianas, embora tenha acusado o Irã de
fazer o mesmo (1987-1988).
Novamente as
Super Potencias adotavam a fórmula A luta contra B nas terras de C, já que um
dos maiores prejudicados com esta guerra, a exemplo da primeira, foi o Japão
que viu sua economia quase estagnar, distanciando-os do sonho de conquistar uma
supremacia econômica na Ásia e o respeito americano / europeu.
Esta nova crise
no Oriente Médio só fez agravar ainda mais as economias da América Latina,
excetuando-se o Brasil que contava com o Pró-Álcool e com uma industria
exportadora de armamentos em franca expansão, fazendo o sentimento anti norte americano acentuar-se,
principalmente na América Central e no Caribe.
Em 1979 na ilha
de Granada, um golpe de estado de inspiração marxista levou ao poder Maurice
Bishop, que estreitou os laços com Cuba e a União Soviética.
Em 1983, através
de uma intervenção militar, os Estados Unidos apoiaram uma insurreição dirigida
pelo general Hudson Austin que em outubro de 1983 executou Bishop e assumiu o
poder.
Também em 1983,
os Estados Unidos da América tiveram
importante papel na ação contra revolucionária em El Salvador, apoiando
militarmente o governo de José Napoleón Duarte, contra a Frente Farabundo Marti
de Liberación Nacional, apoiada por Cuba, em um conflito que resultou em mais
de 75 mil mortes naquele país, praticamente destruindo a economia local.
No Brasil, em
dezembro de 1979, o governo militar modificou a legislação partidária e
eleitoral e restabeleceu o pluripartidarismo. A Arena (Aliança Renovadora Nacional,
de sustentação do regime) transformou-se no Partido Democrático Social PDS, e o MDB (Movimento
Democrático Brasileiro) de oposição, acrescentou a palavra partido à sigla,
tornando-se o PMDB .
Outras agremiações foram criadas, como o Partido dos Trabalhadores PT e o Partido Democrático
Trabalhista PDT , de
esquerda, o Partido Popular PP e o Partido Trabalhista Brasileiro PTB, de centro-direita. Alguns partidos, como o Partido Comunista
do Brasil ainda permaneceram proibidos.
Com o agravamento
da crise econômica, inflação e recessão, os partidos de oposição ao regime
cresceram; da mesma forma fortaleceram-se os sindicatos e as entidades de
classe.
Em 1984, o País mobilizou-se
na campanha pelas "Diretas Já". A partir do governo Ernesto Geisel, entre 1974 e 1979, a crise econômica do país e as dificuldades do
regime militar agravam-se. A alta do petróleo e das taxas de juros
internacionais desequilibra o balanço brasileiro de pagamentos e eleva a
inflação. Além disso, compromete o modelo de crescimento econômico, baseado em
financiamentos externos. Apesar do encarecimento dos empréstimos e do
crescimento acelerado da dívida externa, o governo não interrompe o ciclo de
expansão econômica do começo dos anos 70 e mantém os programas oficiais e os
incentivos aos projetos privados. Ainda assim, o desenvolvimento industrial é
afetado e o desemprego aumenta.
Nesse quadro de
dificuldades, o apoio da sociedade torna-se indispensável. Para consegui-lo,
Geisel anuncia uma "distensão lenta, gradual e segura" do regime
autoritário em direção à democracia. Entre 1980 e 1981, prisões de líderes
sindicais da região do ABC paulista, entre eles Luís Inácio Lula da Silva presidente do
recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT), atentados terroristas na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
no centro de convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, revelam as grandes
dificuldades da abertura. Ao mesmo tempo, começa a se formar um movimento
suprapartidário em favor da aprovação da emenda constitucional, proposta pelo
deputado federal mato-grossense Dante de Oliveira, que restabelece a eleição
direta para a Presidência da República. A campanha das “Diretas Já” espalha-se
em grandes comícios, passeatas e manifestações por todo o país.
Em 25 de janeiro
de 1984. O cenário é a Praça da Sé, centro da cidade de São Paulo. Marcado para
o dia do aniversário da cidade de São Paulo, o primeiro grande comício da
campanha por eleições diretas para presidente foi organizado por Franco
Montoro, governador paulista.
Participaram
também diversos partidos políticos de oposição, além de lideranças sindicais,
civis e estudantis.
A expectativa era
das mais tensas. O governo militar tentava minar o impacto do evento. O dia
estava chuvoso. Aos poucos, a praça foi lotando e, no final, cerca de 300 mil pessoas
gritavam por "Diretas já!" no centro da cidade, declarando apoio à
emenda constitucional do deputado federal Dante de Oliveira que permitia a
eleição direta para a Presidência da República. Mas a emenda foi derrotada na
Câmara dos Deputados em votação realizada em 25 de abril: não alcançou número
mínimo de votos para ser aprovada.
Em 15 de janeiro
de 1985, o governador de Minas Gerais Tancredo Neves foi eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral, com José Sarney como vice-presidente, derrotando o candidato da situação, o deputado
federal Paulo Maluf, por 480 a 180 votos e 26 abstenções.
Tancredo, porém,
foi internado em Brasília, um dia antes da cerimônia de posse. Foi submetido a
várias cirurgias mas seu estado de saúde só se agravou. Até que, para grande
pesar e comoção dos brasileiros, Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985 na
Cidade de São Paulo.
Sarney assumiu a Presidência no dia 15 de março, dando
fim a 21 anos de ditadura militar no Brasil.
Mas a redemocratização só foi completa com a promulgação de nova
Constituição no dia 5 de outubro de 1988.
Na madrugada entre
dois e três de dezembro de 1984, mais de 40 toneladas de gases letais vazaram
da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia, provocando
o maior desastre químico da história.
Gases tóxicos como o
isocianato de metila e o hidrocianeto escaparam de um tanque durante operações
de rotina, onde os precários dispositivos de segurança que deveriam evitar
desastres como esse apresentavam problemas ou estavam desligados.
Estima-se que três
dias após o desastre 8 mil pessoas já tinham morrido devido à exposição direta
aos gases.
A Union Carbide se
negou a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e,
como conseqüência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos
expostos.
Mesmo hoje os sobreviventes
do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da
Union Carbide e de seu novo dono, a Dow Química, informações sobre a composição
dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde.
Infelizmente, a noite
do desastre foi apenas o início de uma longa tragédia, cujos efeitos se
estendem até hoje.
A Union Carbide, dona
da fábrica de agrotóxicos na época do vazamento dos gases, abandonou a área,
deixando para trás uma grande quantidade de venenos perigosos.
A empresa tentou se
livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao
governo da Índia uma indenização irrisória face à gravidade da contaminação.
Hoje, bem mais de
150.000 sobreviventes com doenças crônicas ainda necessitam de cuidados
médicos, e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da
herança tóxica deixada pela indústria.
Na noite do desastre,
as seis medidas de segurança criadas para impedir vazamentos de gás
fracassaram, seja por apresentarem falhas no funcionamento, por estarem
desligadas ou por serem ineficientes. Além disso, a sirene de segurança, que
deveria alertar a comunidade em casos de acidente, estava desligada.
Os gases provocaram
queimaduras nos tecidos dos olhos e dos pulmões, atravessaram as correntes
sangüíneas e danificaram praticamente todos os sistemas do corpo.
Muitas pessoas
morreram dormindo; outras saíram cambaleando de suas casas, cegas e sufocadas,
para morrer no meio da rua. Outras morreram muito depois de chegarem aos
hospitais e prontos-socorros.
Os primeiros efeitos
agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações de queimadura
nos olhos, nariz e garganta, e grande parte das mortes foi atribuída a insuficiência
respiratória. Em alguns casos, o gás tóxico causou secreções internas tão
graves que seus pulmões ficaram obstruídos; em outros, as vias aéreas se
fecharam levando à sufocação.
Muitos dos que
sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados com problemas respiratórios.
Estudos posteriores
com os sobreviventes também apontaram sintomas neurológicos, como dores de
cabeça, distúrbios do equilíbrio, depressão, fadiga e irritabilidade, além de
danos nos sistemas músculo-esquelético, reprodutivo e imunológico.
Em 2001, a Union Carbide
foi adquirida pela multinacional Dow Química, sediada nos Estados Unidos. Com a
compra da Union Carbide por um total de US$ 9,3 bilhões, a Dow se tornou a
maior indústria química do mundo.
A Dow comprou não
apenas os bens da empresa, mas também a responsabilidade pelo desastre de
Bhopal e mesmo assim, a empresa se recusa a aceitar a responsabilidade moral
pelo passivo ambiental adquirido.
Ao mesmo tempo em que
a responsabilidade legal da Dow está sendo julgada pela justiça
norte-americana, os moradores de Bhopal continuam a sofrer os impactos do
desastre.
No ano de 1987,
um humilde “catador de resíduos” em Goiânia, no Brasil, rompeu a embalagem de
uma unidade radioativa, contendo Césio 137, que havia sido descartada de forma
irresponsável, expondo ao risco uma população de 112.800 pessoas e contaminando
de fato 129, das quais 49 necessitaram internação, 21 com tratamento intensivo
e ao final causando 4 mortes, transformando-se este fato no primeiro acidente
com vitimas fatais por contaminação radiotiva no país.
Neste ano de
1987, o planeta alcançava a cifra de 5 bilhões de habitantes e pela primeira
vez o tema da superpolução e o consequente desequilibrio alimentar,
principalmente na África, começava a ganhar espaço na midia mundial.
Professor Orosco