segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

PAPO CABEÇA

No retorno às aulas, no dia de hoje, tivemos a oportunidade de participar como ouvinte de um belo papo cabeça, orquestrado pelo professor Domingos Zamagna, sobre as origens do conhecimento humano. Segundo sua cronologia, em determinado período do nosso desenvolvimento na cadeia evolutiva, o animal que precedeu ao bicho homem começou a questionar as coisas, a manifestar desejos, a planejar ações primárias. Este período, onde a Consciência era Arcaica, não éramos muito mais que animais em fase de descobrimento, e dizer, éramos como que irracionais. Passamos depois à época da Consciência da Magia, esta entendida como uma tentativa de identificar e canalizar as forças da natureza em proveito próprio. Neste nível de consciência não funcionava o plano da liberdade individual, pois ela trabalhava com o determinismo. Depois, passamos para o período da Mitologia, uma narrativa, onde a estória vivenciada individualmente era explicada através de um mito. Cifrado e datado, o mito, dada a sua característica, permitia o exercício da liberdade individual. Para poder compreendê-lo, torna-se necessário encontrar a chave hermenêutica que vai desmistificá-lo, que vai separar, retirar o logos do mito, e dizer, onde nasceu a filosofia. Desprezar os mitos é o mesmo que jogar fora uma importante fonte do conhecimento humano. Passamos, na fase moderna, ao nível da consciência racional, onde nos empoderamos dos recursos mentais, tomamos a matemática como linguagem e nos sentimos dominadores do mundo. Finalmente, agora em uma fase mais avançada ainda, passamos a compreender que, de certa forma, ainda vivemos, de forma simultânea, todos os níveis de consciência anteriores. Afinal, não abrimos mão, não nos libertamos da consciência da magia, recorrendo a amuletos, crucifixos, orações (Santo Antonio para casar, São Longuinho para encontrar coisas perdidas), elevar a mão aos céus para encontrar Deus, que em princípio está na altura de nossos olhos, dentro dos olhos de um irmão; das crendices de mau agouro, amarrar a boca do sapo, a macumba, o vodu, etc. Continuamos presos a mitos, com medo de passar à noite em frente ao cemitério, ou passar por baixo de uma escada, gato preto, saci pererê, caipora, Iara, mula sem cabeça, medo que uma descoberta arqueológica libere algum espírito antigo e maligno, etc. Nós, que na era da consciência racional, consumimos a energia requerida para mover um carro de 3 toneladas para deslocar uma massa humana de 80 quilos, que cortamos árvores para fazer papel onde imprimimos campanhas contra o desmatamento e, por aí afora. Eu estava sentindo falta. Em suma, o ano promete. Professor Orosco

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

ESTUDANDO NIETZSCHE

BUSCANDO COMPREENDER SUA OPINIÃO SOBRE AS MULHERES.

Nietzsche escreveu:

A mulher quer se tornar independente: e com esse fim ela começa a esclarecer os homens acerca da "mulher em si" - isto pertence aos piores progressos do afeamento geral da Europa. Pois quantas coisas não trarão à luz essas deselegantes tentativas de cientificidade e autodesnudamento femininos! 
A mulher tem razões demais para o pudor; na mulher se esconde muito de pedante, superficial, doutrinário, mesquinho-arrogante, mesquinho-desenfreado e imodesto - basta estudar o seu trato com as crianças! -, e que no fundo, até agora, foi reprimido e domado da melhor maneira pelo temor ao homem. Aí, se alguma vez for permitido ao "eterno-tedioso na mulher" (paródia de um dos versos finais de Fausto, de Goethe, "O Eterno-Feminino / Puxa-nos para cima") - ela é abundante nisso! - ousar aparecer! Se ela começar a desaprender a sua astúcia e arte, da graça, do jogo, de afugentar  preocupações, de aliviar e não tomar a sério, se ela começar a desaprender radical e profundamente a sua habilidade sutil para apetites agradáveis! Já agora se fazem ouvir vozes femininas que, por santo Aristófanes!, são de dar medo: com uma clareza médica falam, ameaçadoras, sobre o que a mulher quer do homem em primeiro e último lugar. Não é de um mau gosto extremo que a mulher de disponha de tal maneira a se tornar científica? Até agora o esclarecimento foi, por felicidade, um assunto dos homens, um dom dos homens - algo que ficava "entre nós"; e é preciso, afinal, em relação a tudo aquilo que as mulheres escrevem acerca "da mulher", conservar uma boa dose de desconfiança sobre se a mulher realmente quer o esclarecimento acca de si - e se pode querer... Se com isso a mulher não busca um novo enfeite para si - estou certo em pensar que o enfeitar-se pertence ao eterno feminino? -, bem, então ela quer provocar medo: - talvez, com isso, ela queira domínio. Mas ela não quer verdade: que importa à mulher a verdade! Nada é, desde o princípio, mais alheio, mais contrário, mais hostil à mulher do que a verdade - sua grande arte é a mentira, sua mais elevada ocupação, a aparência e a beleza. Admitamo-lo, nós, homens: respeitamos e amamos na mulher precisamente essa arte e esse instinto:  nós, para quem as coisas são pesadas e que para o nosso alívio gostamos da companhia de criaturas entre cujas mãos, olhares e delicadas loucuras a nossa seriedade, a nossa gravidade e profundidade, quase se parece uma loucura. Por fim coloco a pergunta: mesmo uma mulher alguma vez atribuiu profundidade a uma cabeça de mulher, justiça a um coração se mulher? E não é verdade que, de um modo geral, "a mulher" foi até agora, na maior parte das vezes, desprezada pelas próprias mulheres - e de modo algum por nós? - Nós, homens, desejamos que a mulher não continue a se comprometer através do esclarecimento: como foi cuidado e uma proteção masculina para as mulheres quando a Igreja decretou: mulier taceat in ecclesia! (que a mulher esteja calada na igreja)
Na Primeira Epístola aos Coríntos [14,34], o apóstolo Paulo escreve: "As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei".
Foi em proveito da mulher que Napoleão deu a entender a mui eloquente Madame de Staël: mulier taceat in politicis! - e penso é um verdadeiro amigo das mulheres quem hoje lhes grita: mulier taceat de muliere!
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A imbecilidade na cozinha; a mulher no papel se cozinheira; a apavorante irreflexão com que é tratada a alimentação da família e do chefe da casa! A mulher não compreende o que significa o alimento: e quer ser cozinheira! Se a mulher fosse uma criatura pensante, deveria ter descoberto, na condição de cozinheira há milênios, os fatos fisiológicos mais importantes e, do mesmo modo, teria dominado as artes curativas! Através de péssimas cozinheiras - através da completa ausência de razão na cozinha, o desenvolvimento do homem foi retardado por muito tempo, prejudicado da maneira mais grave: mesmo hoje as coisas não estão muito melhores. Um sermão para moças de boa família.
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Em nenhuma época o sexo frágil foi tratado com tal consideração por parte dos homens como na nossa [...] Querem mais, aprendem a exigir, acabam por achar esse tributo de consideração já quase ofensivo, prefeririam a competição por direitos, até a luta, propriamente: em resumo, a mulher perde o pudor. Acrescentemos logo que ela também perde o gosto. Ela desaprende a temer o homem: mas a mulher "que desaprende o temor" renuncia aos seus instintos mais femininos.[...] Onde quer que o espírito industrial tenha triunfado sobre o espírito militar e aristocrático, a mulher agora aspira à independência econômica e jurídica de um caixeiro. "A mulher na condição de caixeiro", eis o que está escrito sobre os portões da sociedade moderna que se forma. Enquanto assim se apodera dos novos direitos, ambiciona se tornar "senhor" e escreve o "progresso" da mulher em suas bandeiras e bandeirolas, consuma-se com clareza assustadora o contrário: a mulher regride. [...] Há estupidez nesse movimento, uma estupidez quase masculina, diante da qual uma mulher bem constituída - que é sempre uma mulher inteligente - se ruboriza dos pés à cabeça. [...] Todavia, há um número suficiente de estúpidos amigos das senhoras e corruptores de mulheres dentre os asnos doutos do sexo masculino que recomendam à mulher se desfeminilizar dessa maneira e imitar todas as imbecilidades das quais padece o "homem" na Europa, a "masculinidade" européia [...] O que inspira respeito pela mulher, e com bastante frequência medo dela, é sua natureza, que é "mais natural" que a do homem, sua genuína, astuciosa agilidade de animal de rapina, sua garra de tigre sob a luva, sua ingenuidade no egoísmo, sua ineducabilidade e selvageria interior, o inapreensível, vasto, errante de seus apetites e virtudes...
  
                            Além do bem e do mal, sétima parte, 232 a 239

Nietzsche demonstra, à primeira vista, uma visão preconceituosa e chauvinista com relação à mulher, o que, irremediavelmente marcou sua reputação.
No entanto, se buscarmos compreender sua forma sarcástica e irônicade escrever, seus traços principais, veremos que ele tece uma crítica, não à mulher, mas ao método feminino, ao desejo daquelas que, querendo equiparar-se ao homem, buscam agir racionalmente, deixando de lado seus dotes naturais, sua malícia, sua perspicácia e beleza, enfim, sua astúcia, optando pelo confronto (tal qual um imã, onde as polaridades iguais se repelem), onde, invariavelmente perdem, frente à força bruta, uma característica dos fracos, ou seja, masculina.
Ele as critica por agirem como um general que, diante da maior e mais importante das batalhas, opta por armar suas tropas com arcos e flechas, deixando seus canhões adormecidos.
Ele nos faz recordar que, o homem, embora um animal racional, quando o assunto é relacionamento, é o que menos se vale da  racionalidade, agindo sempre por um instinto hormonal.
Assim, quando a mulher, abandona seu lado feminino, feromonal, tão agradável e sedutor ao homem, equipara-se a ele e faz com que este busque o feminino, em outro lugar, ainda que em outro homem.
Nietzsche critica a mulher que, alcançando a razão e o conhecimento, não sabe o que fazer com eles, desperdiçando a oportunidade de sacramentar sua natural supremacia sobre os homens.

Professor Orosco.