domingo, 30 de junho de 2013

O FUTURO A DEUS PERTENCE

Em uma critica do historicismo como forma de prever o futuro, Karl Popper coloca claramente em seu livro " A Sociedade Aberta e Seus Inimigos "  (tradução de Milton Amado. São Paulo: Ed. USP, 1974, p.17) que :"O futuro depende de nós mesmos, e nós não dependemos de qualquer necessidade histórica", com o que concordo apenas parcialmente.
Embora sejamos livres para escolher o caminho que vamos trilhar, nossas escolhas são pautadas por princípios e por valores que construímos ao longo de nossa vida.
Esses valores, nós os construímos através da interação com outras pessoas, inclusive com suas realizações, e dizer, através da história que vivenciamos com elas.
Da interseção destas vidas combinadas, resulta um comportamento médio, que indica com relativa clareza e com boa probabilidade de acerto, a antecipação prévia, ao menos parcial, das escolhas que serão feitas pela sociedade que se estuda.
Não se trata de futurologia, mas da Análise de Tendências.
Fatos extraordinários; fatos sociais (Emile Durkheim); pontos fora da curva de normalidade, podem alterar substancialmente esta tendência, tornando o futuro incerto, imprevisível, e com isto concordamos plenamente.
No entanto, boa parte destes acontecimentos poderia ser prevista, antecipada,por qualquer sociólogo que atentasse para as demandas sociais reprimidas; por qualquer cientista econômico que observasse as sutilezas do mercado; etc.
A própria história mostra que boa parte destas distorções, em verdade, foram planejadas e demagogicamente escondidas, principalmente pelos "donos das moedas" que, valendo-se do poder econômico, sufocaram ou atrasaram descobertas tecnológicas; induziram pequenos acionistas ao erro; ditaram a moda; fabricaram as guerras e venderam a paz.
Popper foi brilhante na crítica aos filósofos que tentaram prever o fim da história (de Platão a Marx), mas exagerou, ao menos um pouquinho, na imprevisibildade do futuro.
Os enófilos (amantes do vinho) compreendem o que estou tentando dizer.
"O futuro a Deus pertence", mas se ouvirmos atentamente o que diz o nosso coração, poderemos sentir suas palavras e seguir o caminho que ele nos aponta.

Professor Orosco.


terça-feira, 18 de junho de 2013

AFINAL, O QUE ESTÁ ACONTECENDO? QUAL A SAÍDA?

         Assistindo de forma entusiasmada às recentes manifestações populares de protesto que se espalharam pelo Brasil, que tiveram a oportunidade de sintetizar a profunda decepção do nosso povo com seus governantes, em todas as esferas de todos os poderes, procuramos compreender as causas que deflagraram este movimento, para tentar encontrar uma saída possível frente o impasse que se aproxima, com a velocidade da Internet, cujos desdobramentos podem ser muito ruins.
            Auxiliado nesta reflexão por um artigo de Juan Arias, publicado no jornal El Pais, edição de 17 de junho último, vamos primeiramente levantar algumas perguntas, que geram a perplexidade naqueles que deveriam conduzir a Nação.
     1-    Por que surge “agora” um movimento de protesto, como os que ocorrem no restante do mundo, quando nos últimos anos o Brasil viveu anestesiado, gozando da estabilidade econômica e do pleno emprego? Mais rico, com menos pobres, mais democrático e menos desigual?
       2-    Por que saem às ruas para protestar contra o aumento da passagem de ônibus jovens que evidentemente não usam estes meios, que já possuem carros?
          3-    Por que protestam os estudantes oriundos de famílias pobres, que a pouco tempo sonhavam poder ver seus filhos na Universidade?
         4-    Por que estes manifestantes estão recebendo apoio da população que apenas há bem pouco tempo conseguiu elevar-se à Classe C? Uma massa humana que sonhava poder comprar uma geladeira, uma máquina de lavar ou uma televisão, e que, só recentemente conseguiu realizar este sonho?
         5-    Por que o Brasil, sempre orgulhoso do seu futebol, mostra-se, agora, contrário ao Mundial, inclusive vaiando uma presidente que tem 70% de aprovação, segundo os institutos de pesquisa?
        6-    Por que os protestos recebem apoio de moradores de favelas recém pacificadas, cujos moradores tiveram melhoria de renda e se libertaram dos narcotraficantes?
          7-    Por que até os índios, que tem recebido apoio dos tribunais, estão se revoltando por toda a parte?
         8-    Por que, após sofrer as agruras de longo período de ditadura, vivendo em uma democracia, só agora estão revoltados?
        9-    Serão os manifestantes tão ingratos para com aqueles que foram eleitos e que estão trabalhando para melhorar o país?
        10-  Por que?
            Na verdade, a explicação para todo este movimento e para responder a todas estas perguntas, é bem simples:
            A motivação humana, que pode ser entendida em termos de hierarquia de necessidades, partindo das necessidades fisiológicas até a autorrealização, explicada por Abraham Maslow, nos mostra claramente que, atendidas as necessidades básicas, como alimento, moradia, etc., assume igual importância, o nível da pirâmide imediatamente acima, onde as necessidades de segurança, necessidades sociais e de autoestima tornam-se igualmente imprescindíveis.

                        “Pode-se ensinar uma pessoa a pensar.
                        Depois disto, é impossível evitar que ela pense”.

            O paradoxo de todo governo de transição, burro, que insiste em manter velhas práticas despóticas para governar, reside exatamente neste detalhe.
            A insistência na manutenção de estruturas oligárquicas, podres e distantes do povo, privilegiadas por leis casuísticas e pela truculência policial contra os insurgentes, acaba por transforma-se no combustível que fornece energia à massa rebelada, fazendo aflorar a violência.
            A história humana é repleta destes exemplos.
            A solução, embora dolorosa à elite governante, apresenta-se melhor do que a alternativa da insistência nestas práticas antiquadas de mando.
            As cabeças dos nobres girondinos que o digam.
            Para começar, torna-se necessário urgênciar os mecanismos de combate à corrupção, fortalecendo o Ministério Público e agilizando os processos contra os crimes de “colarinho branco”.
            A punição exemplar dos “inimigos do povo” provoca a ataraxia necessária para que se possa continuar as reformas reclamadas.
            A renegociação do “Contrato Coletivo de Convivência” (leia-se Constituição) a cada nova geração, ou pelo menos a cada 25 anos, para atender e para comprometer os jovens, é outra importante forma de manter acesa a chama da concórdia.

            “Não sou responsável e não me sinto compelido a obedecer leis escritas nos tempos imperiais, que não representam minhas convicções, valores e crenças”.

            Finalmente, nesta emergência, promover a transparência, sem “maracutaias”, parafraseando nosso “líder” mais carismático, nos contratos públicos, que devem ter as prioridades estabelecidas, segundo a pirâmide de Maslow.
            Não adianta construir estádios de futebol ao invés de concluir a transposição do São Francisco, por exemplo.
            Estas medidas iniciais, em minha modesta opinião, completam o início da transformação que pode ajudar a serenar os ânimos, a partir de quando, se pode pensar nas reformas estruturais e políticas para continuar avançando.

Professor Orosco


terça-feira, 11 de junho de 2013

ATIRO NA CABEÇA DE QUEM ?


            A sátira do comportamento malandro e irreverente do brasileiro, pode ser retratada na passagem, onde estando presentes três oficiais graduados, de diferentes exércitos, que não poupando elogios ao comportamento e disciplina de suas tropas, acabou por provocar um desafio entre eles.
            Como prova de obediência, o primeiro comandante chamou um soldado e ordenando que desse um tiro na cabeça.
          Prontamente atendido, todos viram o soldado sacar sua arma, encostá-la em sua têmpora e sacrificar-se no cumprimento do dever.
            De forma irônica, o segundo oficial, para não ficar em posição inferior, chamou um soldado de seu exercito, dando-lhe ordem similar.
            Atendido com igual eficiência e presteza, voltaram-se para o oficial brasileiro que, desafiado e diante de tamanha disciplina, sentiu-se obrigado a dar a mesma ordem.
            Chamando um pracinha de sua confiança, repetiu a ordem dos seus antecessores:
            - Soldado! De um tiro na cabeça.
            Imediatamente o pracinha sacou seu revolver e gritou:
            - Atiro na cabeça de quem ? meu general.

Moral da história:

              O herói não é quem morre pelo seu país, é quem faz o outro morrer pelo dele.

            Valho-me deste pequeno exemplo de valores abstratos, como honra e moral, que dependendo do contexto, do lugar ou da época, chegam a determinar a visão que se pode ter acerca de uma sociedade, ou seja, algo bem próximo do pensamento de Max Weber, para prefaciar uma análise que fiz, a partir de um artigo do mestre Sidnei Ferreira Vares, intitulado “Sociologismo e Individualismo em Émile Durkheim”, publicado em 2011, o qual tentei contextualizar para o momento que vivemos.
           
            Durkheim (1858/1917), considerado um dos pais da Sociologia Moderna, reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito de Coesão Social, afirmava que o objeto desta ciência está na análise do Fato Social, que tinha um caráter de exterioridade, de coercitividade e de coletividade (de generalidade).
            Exterioridade porque não depende da tomada de consciência pelo indivíduo, ocorrendo desde antes dele e após o término de sua existência.
            As leis, a língua, a moeda, são exemplos desta exterioridade.
            A sociedade já existia antes dele nascer e provavelmente continuará a existir após o seu passamento.

            “Não sou obrigado a falar francês com meus compatriotas, nem empregar as moedas legais; mas é impossível que eu faça de maneira diferente”.
                            Durkheim. Les Régles de La Methode Sociologique. Paris: PUF,1980.

            Coercitividade, no sentido de que não se pode escapar dele, mesmo que este fato seja somente um dever moral.
            A obrigatoriedade de usar roupas adequadas ao ambiente exemplifica bem este critério.
            Usar terno e gravata para caminhar na areia da praia, apresenta-se social e coletivamente tão estranho quanto usar roupas de banho para ir à igreja.
            A característica coletiva, de generalidade, associando-se a padrões comportamentais, de feições particulares imputadas a certos grupos, como os arquétipos, cujas imagens assumem um caráter universal ( $ para indicar dinheiro; S.O.S. como sinal de pedido de socorro, etc.) ou estereótipos, restritos a certas culturas, preconceituosos ou não (todo padre é um bom homem; toda mulher loira é burra; todo baiano é preguiçoso, etc).
            Para Durkheim, nesta concepção, chamada funcionalista, as consciências individuais são formadas pela sociedade, opondo-se ao idealismo iluminista, segundo o qual a sociedade seria moldada pelo “espírito” e pela consciência humana.
            E dizer, para ele, a sociedade constituindo-se como uma síntese das relações estabelecidas entre seus membros, desenvolve uma “consciência coletiva”, aquém do espaço e além do tempo, superior aos indivíduos, investida de uma autoridade moral, da qual os homens não podem se separar sem correr o risco de perder sua condição humana (1978, p.45), tornando-se o indivíduo refém de uma tirania coletiva.
            Ganhando, por assim dizer, corpo e alma, matéria e forma, após as revoluções dos séculos XVI a XVIII ( protestante, industrial, americana e francesa ), que fizeram brotar o sistema capitalista de produção, intensificando a divisão do trabalho, a nova sociedade que emergia após a invenção das máquinas, implicou na substituição da “solidariedade mecânica”, onde os indivíduos compartilhavam das mesmas noções e valores sociais, crenças religiosas e interesses materiais para a subsistência do grupo, pela “solidariedade orgânica”, de maior complexidade, onde os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada individuo é mais acentuada.
            As sociedades tradicionais, que se caracterizavam por uma forte consciência coletiva, que incidia sobre seus membros e impedia o desenvolvimento do individualismo, na medida que a divisão do trabalho avança, são substituídas pelas modernas, onde a influencia dos valores tradicionais tende a recuar (Veras, 2011).
            Como consequencia deste individualismo, inclusive de caráter moral, que rompeu paradigmas e alterou as relações de e para com o poder, explicitadas na frase “Os velhos deuses estão mortos” (Durkheim, 1913), o retrocesso, a possibilidade de retorno às antigas formas de organização social, foi definitivamente sepultada.
            Paradoxalmente, a partir dos fatos sociais, pelas suas características de generalidade, de exterioridade e de coercitividade, o homem se anula enquanto elemento isolado da sociedade, passando o coletivo a ter primazia sobre as partes, passando ele, o homem, a ter induzida a sua forma de agir, de pensar e de sentir.
           
“As representações, as emoções e as tendências coletivas não tem como causas geradoras certos estados de consciência individual, mas condições em que se encontra o corpo social em seu conjunto”.  (Durkheim, 2001, p.67)
           
“Os fatos sociais, embora produzidos pelas relações entre os indivíduos, adquirem uma “consistência” e uma “autonomia” em relação a cada individuo que contribui para sua produção”. (Veras, 2011)

            Como vítima de um sistema globalizado, corporativo, onde a atividade econômica não deriva da ação dos indivíduos, mas da sociedade em seu conjunto, os homens transformam-se em escravos das ideias e dos valores coletivos, entendendo-se a partir de então, como seres sociais.
            O estado de anomia (falta de objetivos individuais, perda de identidade provocada pelas transformações no mundo social) que se instala globalmente como consequencia desta metamorfose social, acaba por mergulhar a civilização num vazio moral, que pode ser tratado, na ótica de Durkheim sobre dois modos:
            Ou como um fenômeno perverso e destrutivo dos laços sociais, ou como característica do desenvolvimento autônomo do indivíduo, que na ótica do pragmatismo da cultura de produção e consumo do sistema capitalista moderno, acaba por ser potencializada.
            O culto do indivíduo, como forma de uma moral que respeita as diferenças individuais, onde o risco do egoísmo é grande, para Durkheim, que não o nega, retrata o diferencial da moral moderna, da inclusão do “espírito de autonomia”, definido pela capacidade do individuo assegurar, por meio da razão, sua adesão à regra.
            
“Esse culto da personalidade, efeito do avanço da divisão do trabalho nas sociedades modernas e consonante à emergência dos ideais democráticos, é responsável por conferir ao indivíduo uma maior autonomia, principalmente no que concerne à capacidade de modificar valores sociais considerados ultrapassados a partir de esforços coletivos”. (Veras, 2011).

           

REFERENCIAS:

Orosco, José Carlos. Euskadi. São Paulo: Jasa, 2013.
DURKHEIM, Émile. Pragmatismo e Sociologia.Paris:Sorbonne,1913.
___.Educação e Sociologia. 7.ed.São Paulo:Melhoramentos, 1978.
___.[et al].Introdução ao Pensamento Sociológico. São Paulo:Centauro, 2001. [Coletânea de Textos].
Vares, Sidnei Ferreira de. Sociologismo e Individualismo em Émile Durkheim. Caderno CRH, Salvador. V.24, n.62, p.435-446, Maio/Ago, 2011.


PENSAMENTOS DE UM REVOLUCIONÁRIO


            O objetivo de um governo íntegro é atingir a “sociedade justa”, e o meio principal para alcançá-la é praticar a “virtude”.
            O vício e a virtude combatem entre si, mas é preciso fazer triunfar a virtude; por isso, a sociedade precisa ser disciplinada, cumpridora da Constituição e das leis, composta por cidadãos honestos e exemplares no civismo, “homens livres e de bons costumes”.
            Para atingir a sociedade justa, perfeita, é preciso caminhar para a “igualdade”: esta é a base do bem estar social.
            Por sua vez, a implantação da igualdade exige a “fraternidade”.
            Uma fraternidade de combate, o qual precisa ser feito pelo povo contra todos aqueles que pretendam usurpar a Nação.
            Pensamentos inspirados na doutrina política do “jacobinismo”, que por sua vez foi influenciada pelo pensamento de Rousseau, que serviu como bússola norteadora da Revolução Francesa.
           

            Professor Orosco

sábado, 8 de junho de 2013

HOJE É UM BELO DIA PARA UMA REVOLUÇÃO


            Esta frase, tão marcante em minha juventude, nos dias atuais, onde o ímpeto da pouca idade há muito me abandonou, não deixa de continuar exercendo forte influencia em meu espírito rebelde.
            Diferentemente daquela época, onde o desejo de atirar pedras era maior do que a prudência de olhar em qual direção as atirava, hoje, com alguma dose de prudência, calejado pelos anos, procuramos primeiro escolher a vidraça que sonhamos atacar.
            A pouca energia física nos obriga a escolher os caminhos menos tortuosos, com menos obstáculos e com melhores condições de acessibilidade.
            Como a visão já não é tão boa, embora o destino final esteja próximo do meu coração, sinto-me compelido a planejar etapas de menor distancia, examinando e corrigindo minha rota a cada fase do processo.
            Examinando na historia outras épocas e outras revoluções, temos a oportunidade de aprender como evitar desvios de caminho, de reduzir possibilidades de fracasso e de determinar com maior precisão nosso objetivo, nosso ponto de chegada.
            Olhando para o passado, constatamos que:
            Espartacus sonhou ser livre.
            Acabou crucificado com milhares de seus seguidores.
            Bolivar sonhou ver nações livres.
            Morreu vítima da tuberculose, ainda jovem, sentindo que sua mensagem havia sido deturpada pelo autoritarismo de um comando único, que deturpava a ideia da federação que ele defendia.
            A Revolução Americana proclamou que, além da liberdade, pretendia assegurar aos seus filhos a busca da felicidade individual, apostando suas fichas no liberalismo econômico.
            Acabou por produzir um gigantesco egocentrismo, promover sucessivas crises globais, indiferença pela vida e pela ética nas relações comerciais, provocando a exclusão de milhões, tanto em terras suas quanto no estrangeiro, alienando o povo que não chega a compreender o motivo de ser odiado.
            A Revolução Francesa, declarando ao mundo que, além da liberdade de cada um, faria o Estado ser o promotor e o garantidor da igualdade para todos.
            Conseguiu, após milhares de cabeças cortadas, parir uma política intervencionista, crescente e asfixiante, socialista, que envelheceu a Europa e provocou grandes guerras.
            A Bolchevista, que pretendia libertar o proletariado, conseguindo conquistar a Lua e que, no final, institucionalizou o medo, a burocracia e a xenofobia que dividiu seus satélites, isto tudo, depois de provocar milhões de mortes e dividir o mundo em algo confuso, como esquerda e direita, num planeta semiesférico.
            Olhando a historia, percebo que, de comum, todas estas experiências tinham o desejo de promover a liberdade.
            Percebo também que o equivoco foi a dimensão do projeto.
            Toda revolução, utópica ou não, defendeu sempre a liberdade, transformando o revolucionário em um agente desta transformação social.
            No entanto, todas elas esqueceram que, para libertar, ele também precisava ser livre.
            Talvez, para o ocaso de meus dias, este deva ser o meu objetivo mais imediato.
            Libertar, não o mundo, mas a mim mesmo.
            Livrar-me de preconceitos, de temores e de falsos pudores.
            Gozar o nascer do Sol e o cair da noite junto daqueles que amo.
            Agradecer ao Grande Arquiteto a oportunidade que ele me dá de poder ver meus filhos e netos brincando no parque.
            Caminhar a esmo, na direção da minha vontade.
            Ousar ser feliz.
            Sim, com certeza, hoje é um belo dia para uma revolução.
           


Professor Orosco

quinta-feira, 6 de junho de 2013

ETILICO OU METILICO ?


            A crescente demanda por álcool no Brasil, que supera com longa margem as melhores projeções, leva o setor sucroalcooleiro a repensar suas estratégias de curto e de médio prazo.
            De um lado, o sucateamento da PTrobrás, que reduziu nossa capacidade de extração e refino, aliada a investimentos duvidosos no exterior, obrigou a que a quantidade de álcool, metílico, fosse aumentada na mistura da gasolina para evitar a sua falta.
            De outro lado, a nova e crescente mania que vemos despontar na sociedade, onde o álcool, etílico, está sendo consumido, a cântaros, para incinerar dentistas, jovens vitimas de sequestro e até vovozinhas que se recusam a oferecer guloseimas, igualmente tem provocado forte pressão de demanda sobre os estoques estratégicos.
            Tudo isto, ainda sem levar em consideração o aumento do consumo via bebidas alcoólicas, que está ocorrendo direta e proporcionalmente ao aumento da classe média, emergente das classes D, E, F, G e H, que agora passa a frequentar as festas Funk.
            Como a questão dos combustíveis tem característica especial, colocada no âmbito estratégico da Segurança Nacional, a questão do álcool começa a preocupar nossos governantes.
            Não nos cause espanto se, brevemente, através de uma medida provisória, observarmos a taxação adicional sobre os derivados da cana, assim como a desoneração fiscal para as importações associadas ao malte, principalmente o escocês.
            Para evitar cenário tão ameaçador, que pode chegar a comprometer o preço do açúcar utilizado para balancear o vinho que consumimos, urge tomarmos uma iniciativa, de origem popular, para obrigar nossos legisladores a produzirem leis que venham minorar tal perigo.
            Um pequeno sacrifício individual, realizado por todos os interessados, poderá gerar a “energia renovável” para superar este momento de crise.
            Parodiando Thomas Hobbes, em seu Leviatã, de 1651, “É preciso que os homens consintam, quando os outros o consentirem também, na medida em que consideram necessário para a paz e para a defesa de seus interesses, em renunciar ao seu direito a todas as coisas, e fiquem satisfeitos com aquela porção, a mesma que julgam ser aceitável oferecer aos outros em condições de igualdade”.
            Para evitar o regresso ao estado de natureza, onde todos lutam contra todos, é necessário repactuar nosso contrato de convivência, edificado a mais de duas décadas, perguntando aos jovens menores de 25 anos, que não haviam nascido à época de sua elaboração, que foram protegidos pelo ECA, se concordam com seus termos.
           
Professor Orosco
           


terça-feira, 4 de junho de 2013

TUDO PELO PODER


            “Quem quer que assalte a Turquia tem que estar preparado para encontrar as suas forças unidas, e tem de repousar mais na sua própria força do que nas desordens dos outros; mas tendo conseguido conquistar o reino da Turquia e batê-lo na batalha, de modo que ele não possa organizar um exercito, então nada mais tem a recear, a não ser a família do príncipe, e se esta for extinta, mais ninguém há para temer, porque os outros não tem qualquer credibilidade perante o povo ...”
                                              Maquiavel, Nicolau. O Príncipe. 1532

            As palavras escritas por Maquiavel, mais que um trabalho de caráter filosófico, acabaram por transformar-se em um guia prático para todos aqueles que, dispostos a manter alijados de si qualquer princípio ético ou moral, tivessem o firme propósito de alcançar e manter o poder.
            As justificativas, as explicações posteriores, oferecidas como forma de expiação dos pecados e dos atos praticados, após a conquista do poder tem, por força da própria força, um caráter falacioso.
            A execução do último Czar, Nicolau II, da casa Romanov, que poderia ser atribuída aos crimes praticados por ele contra o povo russo, perdeu toda a legitimidade e justificativa moral ou legal, quando a pena capital foi estendida a sua família, inclusive às crianças.
            A ordem emitida pelo próprio Lênin, não tinha outra função se não a de derrubar as pontes, evitando qualquer possibilidade de retorno ao passado.
            Derrubar as pontes, tal qual a ordem de Sam Houston, que precedeu a conquista do Texas após a batalha do Álamo, ou a atitude ousada de Caio Julio Cesar ao ordenar a travessia do Rubicão, que imortalizou a frase “alea jacta est” ( a sorte esta lançada ) pouco antes de seu exército invadir e conquistar Roma, evidencia a total falta de confiança na capacidade de convencimento acerca de seus valores, mais ainda, na falta de confiança em seus pares.
            Assim procedendo, ou tudo pode dar certo, ou tudo pode dar errado, ficando de uma forma ou outra, o ônus e as perdas advindas da batalha, seja qual for o resultado dela, imputadas ao povo.
            A inconsequência do governante, que deseja alcançar o poder e a manter-se nele, independentemente dos custos envolvidos para isto, prática que se tornou comum neste nosso Brasil varonil, desde os tempos Getulistas, tem condenado várias de nossas gerações (passadas e futuras) a uma estagnação econômica, extrativista, a um retrocesso em termos da construção da cidadania e da construção de uma sociedade justa.
            A lei do Gerson, do vale tudo, da corrupção endêmica, institucionalizada a cada novo pleito eleitoral, distancia nossos filhos de um caminho de luz e de prosperidade, que poderíamos construir para eles.
            Qualquer ponte que tenha sido construída oferece uma travessia segura por sobre as águas do rio que transpõe.
            O que vamos transportar pela estrada à qual ela serve é o que devemos nos perguntar.
            Antes de derrubar a ponte, preciso lembrar-me de que me vali dela para chegar aonde cheguei.
            Pense nisto, antes de decidir seu voto nas próximas eleições.


Professor Orosco

domingo, 2 de junho de 2013

O MITO DO AVESTRUZ


Para que se possa compreender a forma de agir e pensar de um povo, conhecer sua filosofia e sua história torna-se necessário, antes de qualquer coisa, tentar compreender sua arte, sua religião e suas condições sociopolíticas, seus mistérios e seus mitos.
O mito precisa, aqui, ser compreendido como uma forma atenuada da intelectualidade, de uma verossimilhança que se aproxima de “uma verdade que possa ser aceita” em determinada época e em determinada região.
Os mitos geralmente tratam da conduta do homem em sociedade, do homem frente às divindades, tendo um conteúdo pedagógico moral e teológico, com caráter de mobilização, normalmente prometendo mais que o real, relacionando conceitos contraditórios, ideais de perfeição, de superação e de realização inatingível.
A análise da combinação de todas estas variáveis pressupõe, para a correta compreensão de uma sociedade, mensurar a influencia dos mitos, o grau de liberdade de que gozam os indivíduos, sua forma de organização social, etc.
            Arte e religião, próximas à ideia da imaginação, da metafísica.
            Condições sociopolíticas, indicando seu nível de organização social.
            No passado, dentre os povos helênicos, os gregos valorizavam a educação, destacando-se nas origens de sua filosofia os poemas de Homero e Hesíodo.
            A obra de Homero, rica em imaginação, raramente caia na descrição do monstruoso ou disforme, evidenciando um cuidado com a harmonia, com a proporção, com os limites, coisas que a filosofia levaria inclusive à ontologia.
            Como agente motivador, sua obra, além de narrar os fatos, preocupou-se em pesquisar suas causas e suas razões, o que preparou a mentalidade que, em filosofia, levaria à busca das causas e do princípio do por que das coisas.
            Outra característica de sua obra era procurar apresentar a realidade em sua totalidade, ainda que de forma mítica, dos valores que regem a vida do homem, que na filosofia apresentou um caráter racional, distanciando-se do mito épico.
            A teogonia (genealogia dos deuses) de Hesíodo traçava uma síntese sobre o tema, fornecendo uma explicação da gênese do universo, dos fenômenos cósmicos (cosmogonia) e abrindo o caminho para a filosofia que, sem usar a fantasia, buscaria com a razão, o princípio primeiro.
            Sua obra, exaltando a justiça como um valor supremo, muito contribuiu para os princípios éticos e do pensamento filosófico antigo, em geral, estando presente no centro dos trabalhos de Sólon e Platão.
            Para os gregos, na antiguidade, a justiça se tornaria um conceito ontológico além de ético e político.
            Os poetas líricos fixaram de modo estável o conceito de limites, de medida, que se constituíram no centro do pensamento filosófico clássico, resumido na inscrição “Conhece-te a ti mesmo”, princípio basilar do saber filosófico grego até os últimos neoplatônicos.
            A religião, pública, baseada na representação dos deuses dada por Homero, de caráter politeísta, completava-se e ao mesmo tempo distanciava-se da religião dos mistérios, que foi muito importante para a filosofia.
            Na religião, pública, tanto para Homero quanto para Hesíodo, tudo era divino, tudo ocorria por intervenção dos deuses. Todos os fenômenos naturais, a sorte das cidades, o resultado das guerras, a própria vida social dos homens, eram vinculados aos deuses, personificados em forma humana, amplificados e idealizados.
            Esta forma de religião, pública, constituindo-se como uma forma de naturalismo, onde o homem ficava refém de sua própria natureza, incapaz de elevar-se acima de si mesmo, influenciou a primeira filosofia grega, também naturalista, transformando-se em uma constante do pensamento grego ao longo de todo o seu desenvolvimento.
            A religião dos mistérios, dentre os quais os mais influentes foram os órficos (dos poemas do poeta trácio Orfeu) era recoberta pela névoa dos mitos.
            Sua importância para a filosofia pauta-se no fato de introduzir na civilização grega um novo esquema de crenças e uma nova interpretação da existência humana, proclamando a imortalidade da alma e concebendo o homem segundo um esquema dualista que contrapunha corpo e alma.
            No núcleo das crenças órficas ficava a ideia de que a alma humana, vítima de uma culpa original, fica presa a um corpo, estando condenada a reencarnar-se até que se expie a culpa original.
            O orfismo continha o conceito da ciência, onde a atividade do pensamento se apresentava como pesquisa que conduzia à verdadeira vida do homem.
            A ideia dos prêmios e castigos de além tumulo, nascia para justificar os absurdos que se constatava sobre a terra, explicando as deficiências e sofrimentos daqueles que “aparentemente” se mostravam inocentes.
            Para os órficos, ninguém era inocente e todos pagavam por culpa de suas gravidades, nesta, ou em vidas anteriores.
            Com esta ideia, este novo esquema de crenças, o homem via contrapor-se em si dois princípios, o da alma e o do corpo, rompendo-se, assim, a visão naturalista, o que influenciou sobremaneira o pensamento de Pitágoras, de Heráclito, de Empédocles e de Platão.
            Dentre os poetas antigos destacamos, representando aqui a lenda dos Sete Sábios: Tales, a quem se atribuiu a frase “Conhece-te a ti mesmo”; Bias, a quem se atribuiu as frases “A maioria é perversa” e “O cargo revela o homem”; Pítaco, a quem se atribuiu a frase “Saber aproveitar a oportunidade”; a Sólon (o pai da democracia), as frases “Toma a peito as coisas importantes” e “Nada em excesso”, que marcariam o modo de vida grego; Cleobulo, a frase “A medida é coisa ótima”; a Mísion, a frase “Indaga as palavras a partir das coisas, e não as coisas a partir das palavras”; e a Chilon as frases “Cuida de ti mesmo” e “Não desejes o impossível”, prenunciando uma verdadeira e peculiar investigação sobre a conduta do homem no mundo.
            Esta ideia de moderação grega reforçava a crença de que era preciso conter dentro dos justos limites os desejos humanos descomedidos e afastar o homem de qualquer excesso.
            A poesia grega, antes mesmo da filosofia, descobriu e justificou a unidade da lei por sob as vicissitudes aparentemente desordenadas da vida humana em sociedade.
            Diferentemente do que veio a ocorrer após a dominação romana, apesar do esforço moral particular de Sêneca ou no período posterior a Constantino, quando o cristianismo virou lei, no sistema sócio político grego, as castas sacerdotais não possuíam qualquer relevância e sua cultura não foi influenciada por uma dogmática fixa e imutável, deixando uma ampla liberdade para o desenvolvimento do livre pensamento, diferenciando a civilização grega de todas as outras na antiguidade.
             Nos dias atuais, onde a doxa (opinião) dominante é influenciada e, de certa forma conduzida, por uma mídia ancorada nas ciências sociais, e mantida pelo poder hegemônico do Capital, os valores e princípios éticos ou morais acabam por ter uma abrangência muito menor.
            No auge do período Stalinista, de modo folclórico, anterior ao “Fotoshop”, as fotografias eram constantemente alteradas, aproximando ou suprimindo figuras expoentes em função de sua amizade e apoio manifesto ao Imperador, em torno do qual se construiu o mito da imortalidade.
            Dizem as más línguas que a noticia de seu falecimento só pode ser transmitida ao próprio, três dias depois de ocorrido, quando Nikita Khrushchev criou coragem de oficiá-la, mesmo temendo a reprimenda que poderia vir do além.
            De certa forma, repetindo o mito onde Queops, como Faraó, mandou retirar as placas de identificação da pirâmide construída por seu antecessor, colocando as suas no lugar, exemplo que teria sido seguido por Quifren e posteriormente por Mikerinus, criou-se, a partir do exemplo de Stalin, nos países geridos por governos totalitários, para não dizer burros, a tola e ineficaz pratica de tentar influenciar a historia, tentando reescrevê-la ao rebatizar monumentos e negar sua legitimidade factual, sem entrar no mérito do merecimento da homenagem, negando a influencia que este ou aquele personagem exerceram em determinado momento da história.
            Seria, no caso do Brasil, como tentar reescrever a biografia de nosso primeiro Imperador Pedro I, frequentador assíduo de prostíbulos e casas de má fama, retirando de sua historia a relação que manteve com a Marquesa de Santos, mais famosa que suas duas esposas oficiais.
            Como o mito do avestruz que enterra a cabeça no chão para fugir do perigo, induzido e propagado pela “onça interessada”, precisamos, a exemplo da missão primeira da filosofia, repudiar esta prática e dizer “não” aos governantes do momento que insistem em persistir nesta prática e neste erro.
            Personagens históricos, bons ou maus, certos ou errados, somente poderão ser avaliados pelo crivo do tempo.
            O fato é que, em momento histórico definido, estes personagens tiveram influencia sobre os destinos da sociedade à qual pertenceram.
            Seu nome em uma placa que dá nome a ruas, a monumentos ou viadutos, não induz ninguém ao erro, talvez só despertando em alguns poucos a curiosidade por conhecê-los, nada mais.
            Somente o tolo, ou o desonesto tenta apoderar-se da historia real, ocultando a verdade ou chamando para si os feitos de outros; tentando convencer o avestruz a enterrar a cabeça no solo.
            Como escreveu Santayana, o homem ou a sociedade que não registra e reconhece o erro cometido, está fadado a repeti-lo.
            Sem dizer e publicitar quem foi Hitler, quem foi Mussoline, quem foi Truman, Stalin ou Mao Tse Tung, além de outros genocidas, poderemos eleger seus semelhantes.
            Nós, brasileiros, que aplicamos o calote no Hino Nacional, que fraudamos a nossa Independência, que forjamos a figura Renascentista de nosso maior herói, neste século XXI, precisamos abandonar a Caverna de Platão e recusar seguir o Mito do Avestruz.
            Precisamos ser homens livres e praticar os bons costumes.

Professor Orosco