terça-feira, 29 de novembro de 2016

VIVEMOS EM UM MUNDO REPLETO DE IDIOTAS


            Segundo os dicionários, a palavra idiota tem sua origem no termo grego antigo ἴδιώτης (idhiótis), utilizada para descrever "um cidadão privado, individual", derivada do termo ἴδιος (ídhios), "privado", aplicada depreciativamente, na antiga Atenas, para se referir a pessoa que se apartasse da vida pública.
            Ou seja, para os gregos, idiota era aquele indivíduo individualista que, como um ser desejante, só pensava em si e que se recusava a perceber que fazia parte de uma comunidade da qual se servia e à qual também deveria servir.
            Um ser desejante que, nas palavras de Sören Kierkegaard (1813/1855), um filósofo e teólogo dinamarquês, considerado o pai do existencialismo, ao alcançar o objeto do seu desejo, aquilo que motivou o seu movimento e que norteou seus passos até então, percebe a inutilidade da coisa em si e passa a desejar outra, mais distante ainda, sem se dar conta de que somente alcançará o conhecimento, a coisa que o separa dos animais não racionais, quando aprender a valorar o caminho percorrido, mais que o objetivo momentaneamente alcançado. Quando, falando em termos nietzschianos, aprender a valorar a vida vivida mais do que a vida idealizada.
           
Nada do que é finito, de fato, nem mesmo o mundo inteiro pode satisfazer o espírito humano, que sente a necessidade do eterno. [...] Tua luta, por isso, se exprime ainda mais profundamente quando tu, ..., desejas ser o mais tolo dos homens e de ser contudo admirado e adorado pelos contemporâneos como o mais sábio de todos, pois isso seria um verdadeiro sarcasmo sobre toda a existência. [...] Por isso, não aspiras a nada, não desejas nada, a única coisa que poderias desejar é uma varinha mágica que pudesse te dar tudo, e depois a usarias para limpar o cachimbo.
    (KIERKEGAARD, Estágios sobre o caminho da vida. E. Estético).
           
            Este parece ser sem dúvida alguma, o retrato mais fiel de nossa sociedade contemporânea, onde os homens massa, idiotizados por uma ideologia consumista que gerou, segundo Ortega y Gasset, o conceito de nações massa, tornaram-se virtualmente ligados uns aos outros e todos desconectados da vida real, como se fossem habitantes do hiperurânio[1], colocando a forma, acima do existente.

            Uma sociedade em que os homens aceitaram que se lhes impusessem midiaticamente o seu “modus vivendi”, como se fosse única alternativa, esquecendo-se de que, como denunciado por Marx em seu Materialismo Histórico, que somos todos reféns de uma superestrutura que detém os meios de produção material e que também detém os meios de produção intelectual.
            Uma sociedade em que o resultado de uma vida é medido pela régua dos interesses atuais, momentâneos, desconsiderando os obstáculos superados pelos que nos antecederam, quando construíram as pontes que nos trouxeram até aqui.
            Uma sociedade em que a maioria dos homens abriu mão de sua dignidade.

Todas as criaturas que se encontram tanto no mundo sensível como no mundo suprassensível foram criadas como realidades ontologicamente determinadas. O homem, ao contrário, foi posto no confim dos dois mundos, com uma natureza estruturada de modo tal que ele próprio deve determinar, plasmando-a segundo a forma de vida moralmente pré-escolhida. A grandeza do homem está portanto em ter sido criado por Deus como artífice de si próprio, como autoconstrutor segundo suas escolhas morais.
(PICO della MIRANDOLA. Discurso sobre a dignidade do homem)
           
            A maioria sim, mas, felizmente, nem todos,...

Professor Orosco
           




[1] Termo usado por Platão no Fedro para representar o mundo das ideias, das causas de natureza não física, das realidades inteligíveis, do Eidos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

NOLI ME TANGERE


Não toques em mim... (Joāo XX:17)

Como fui provocado acerca de uma posição um pouco mais liberal que tomei quando me posicionei sobre a necessidade de um certo comedimento nas recentes atitudes tomadas por  nosso judiciário, particularmente na imposição de penas a pessoas que não foram ainda julgadas ou condenadas, mesmo aceitando que existam reais evidências de sua culpa, tomo a liberdade de compartilhar com os amigos, uma breve reflexão sobre o assunto:
A experiência tem demonstrado que os objetos que podemos possuir não despertam um interesse tão intenso quanto aqueles que estão além de nosso alcance, ou seja, nosso desejo ė diretamente proporcional aos obstáculos que se apresentam para alcançá-los.
- O fruto proibido (inalcançável) se mostra sempre mais doce!
E dizer, esta força motriz, desejante, que Nietzsche chamava de “vontade de potência”, que move o mundo, que ocupa e substitui a figura do próprio sujeito, amplia-se de forma exponencial segundo a distância do objeto desejado, ao ponto de exaurir, em dado  momento, o próprio sujeito, que se anula e padece por isso.
Tomemos o exemplo daquele homem que parte à procura de um tesouro, o qual acredita estar escondido sob uma pedra. Ele ergue um grande número de pedras, uma após outra, e não encontra nada. Cansa-se dessa vã operação mas não quer renunciar a ela, pois o tesouro é por demais valioso. O homem vai então se por em busca de uma pedra pesada demais para ser levantada, depositando ali suas esperanças, quando então vai desperdiçar as forças que lhe restam. (GIRARD, Mentira Romântica e Verdade Romanesca. Ė Realizações, 2009).
Este indivíduo, o assim denominado “masoquista”, mostra-se um homem em perpétua decepção, levado a desejar o próprio fracasso, no qual espera encontrar uma divindade autêntica, um mediador (fonte inspiradora do desejo), causa de sua escravidão.
Se essa consequência (seu fracasso) demorar demais, ele mesmo vai procurar acelerar o processo de sua degradação, pois o masoquista precipita o curso de seu destino e concentra num só momento as fases separadas do processo.
Sua escravidão e dominação pelo mediador (aquele de quem se copia o desejo) justifica para si, a hostilidade com que ė tratado por ele, já que se sente inferior a ele, motivo pelo qual,  a escolha do mediador, como a da pedra mais pesada, se dá não pelas qualidades que possui, mas pelo obstáculo que se lhe opõe, pelo desprezo com que o trata.
A busca do mediador deixou de ser imediata e passa a se dar em função do obstáculo, quando, então, o masoquista vai se distanciar daqueles que lhe tem afeição e carinho, passando a procurar aqueles que o desprezam.
A vã tentativa de agradar ou de se mostrar amigo útil e leal para quem o despreza, para quem ignora a sua existência ou que a percebe apenas como para servi-lo, ė um exemplo clássico desse comportamento masoquista.
Assim, após ter realizado toda essa digressão, podemos dizer que a mantença de um governo democrático, que realmente nos represente e que trabalhe para defender os princípios e valores nos quais acreditamos, não pode ser alcançada se tivermos uma postura servil e masoquista.
Benjamin Constant, em seus “Princípios de política aplicáveis a todos os governos”, já alertava, em 1810, que mesmo um governo que se declara democrático pode suprimir a liberdade e os direitos daqueles que lhe confiaram suas esperanças, citando as milhares de cabeças separadas de seus corpos pela Revolução Francesa, para quem a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, foram argumentos válidos somente para os sobreviventes, pois, para quem morreu, não havia liberdade, igualdade e muito menos fraternidade.
Ou seja, Constant alertava que a soberania popular é uma falácia, já que quem governa, o faz nem sempre pelo interesse coletivo, como apregoava Rousseau, mas segundo seus legítimos interesses particulares, motivo pelo qual seus poderes nunca podem ser demasiadamente abrangentes ou absolutos.
Dessa forma, concluindo minha argumentação, digo que os  nossos direitos individuais, aqueles dos quais não abrimos mão, precisam ser defendidos com toda a energia de que dispomos, ainda que contra o governo ou contra uma maioria inflamada ou masoquista.

Professor Orosco

sábado, 19 de novembro de 2016

SOBRE A VAQUEJADA E A MORTE DO SERTANEJO


Lendo o artigo de Aldo Rabelo publicado no jornal “O Estado de São Paulo” neste sábado, 19 de novembro, um dia que deveria ser consagrado à nossa bandeira, sequer mencionada, sinto-me obrigado, por força do hábito, a refutar veementemente seus argumentos, ou melhor, o entendimento que nosso deputado dá à figura do boi e do cavalo, como baluartes da identidade nordestina.
Concordando, em princípio, com a ideia de que estes animais tiveram importante participação no processo de ocupação e desenvolvimento de nosso território, entendo, na contramão daquilo que ele apregoa, que a valorização destes ícones deve ser feita, valorizando-se seu trabalho e não perpetuando sua exploração e martírio, como propõem os defensores da vaquejada.
Seria, como manter em atividade, a título histórico, a prática do açoite aos escravos, dos prisioneiros e dos índios.
Seria, como defendem alguns intelectuais, promover a atividade criminosa do cangaço, da pilheria e do assassinato, ao status de movimento folclórico regional, que precisa ser conservado e não classificado como página hedionda de nossa história.
No meu entender, a morte daquele sertanejo, entendida como a daquele sujeito que era obrigado a uma vida retirante, sem passado e sem futuro, substituída agora pela figura de um agricultor cujos filhos podem estudar, um cidadão que aos poucos aprende a votar e a reclamar seus direitos, é motivo de alegria e não de saudosismo.
Como defensor dos direitos dos animais, entendo que a melhor homenagem que se pode fazer à nossa gente e à sua história, é a promoção destes parceiros, ao status de seres livres e merecedores de nossas desculpas e eterna gratidão.
O Bumba meu Boi, como festa carnavalesca, é exemplo do que digo.
O jegue, um símbolo como o chapéu de couro, da identidade nordestina, companheiro de infindáveis jornadas e ouvidor de um sem fim de lamentos murmurados na solidão da caatinga, que, com anuência da senadora Katia Abreu, já foi reduzido a produto de exportação, utilizado para alimentar chineses que comeram seus próprios rouxinóis, não teve tanta sorte.
Que aos menos as vaquejadas, sendo proibidas, não continuem tão cruéis.

Professor Orosco








sexta-feira, 11 de novembro de 2016

GASTON BACHELAR E A FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO


Resumo: O presente trabalho destina-se a apresentar, baseado em um método de abordagem qualitativa, fundamentado no estudo de caráter hermenêutico, que se pode depreender particularmente, a partir da leitura do livro A Formação do Espírito Científico, uma síntese do pensamento de Gaston Bachelard, um filósofo e poeta francês, focado principalmente nas questões referentes à filosofia da ciência. Mostrar, a partir da análise do conjunto de sua obra, do potencial metodológico implícito na sua epistemologia e filosofia das ciências, a noção da “construção do objeto científico”, a noção da “construção da alma ou do espírito científico”.

Palavras Chave: Fenômenos, Ciência da Realidade, Pensamento Abstrato, Espírito Científico



Abstract: The present work aims to present, based on a method of qualitative approach, based on the study of hermeneutical character, which can be inferred particularly, from the reading of the book The Formation of the Scientific Spirit, a synthesis of the thought of Gaston Bachelard, a French philosopher and poet, focused mainly on questions concerning the philosophy of science. To show, from the analysis of the whole of his work, the implicit methodological potential in his epistemology and philosophy of sciences, the notion of "construction of the scientific object", the notion of "construction of the soul or the scientific spirit."

Keywords: Phenomena, Reality Science, Abstract Thinking, Scientific Spirit



1 – INTRODUÇÃO

            O presente trabalho destina-se a apresentar, baseado em um método de abordagem qualitativa, fundamentado no estudo de caráter hermenêutico, que se pode depreender particularmente, a partir da leitura do livro “A Formação do Espírito Científico”, obra publicada no ano de 1938, uma síntese do pensamento de Gaston Bachelard, um filósofo e poeta francês (1884/1962) focado principalmente nas questões referentes à filosofia da ciência.
Mostrar, a partir da análise do conjunto de sua obra, do potencial metodológico implícito na sua epistemologia e filosofia das ciências, a noção da “construção do objeto científico”, a noção da “construção da alma ou do espírito científico”, entendidas como uma crítica a algumas perspectivas epistemológicas adotadas até então.
Mostrar que com os principais conceitos desenvolvidos por ele na sua epistemologia – ruptura, vigilância, obstáculo, problemática e recorrência epistemológica -, ele procurou dar a esta ciência nascente, uma filosofia compatível com a revolução científica promovida no início do século XX, particularmente a partir da Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein.  
E dizer, mostrar que, partindo deste objetivo, Bachelard formula suas principais proposições para a filosofia das ciências, a partir da historicidade da epistemologia e da relatividade do objeto, rompendo com as ciências anteriores em termos epistemológicos e tecendo críticas à postura empirista que adotavam, uma vez que, para ele, o seu objeto encontra-se em relação e não pode mais ser considerado absoluto, afirmando que o novo espírito científico encontra-se em descontinuidade, em ruptura com o senso comum, tido por ele como repleto de preconceitos, baseados em boa medida nos limites do empirismo.

2 – SOBRE A OBRA DE GASTON BACHELARD
           
            Historicamente, vê-se que Bachelard viveu numa época de amadurecimento da ciência, que podemos inferir por Revolução Científica do Século XX, onde pode presenciar a discussão sobre o surgimento e as implicações da física relativista, com a consequente quebra do empirismo, uma vez que o objeto de estudo dependia agora do referencial e, assim, não podia mais ser considerado absoluto, como ele mesmo descreve ao “rotular de modo grosseiro as diferentes etapas históricas do pensamento científico”:

O primeiro período, que representa o estado pré-científico, compreenderia tanto a Antiguidade clássica quanto os séculos de renascimento e de novas buscas, como os séculos XVI, XVII e até XVIII. O segundo período, que representa o estado científico, em preparação no fim do século XVIII, se estenderia por todo o século XIX e início do século XX. Em terceiro lugar, consideraríamos o ano de 1905 como o início da era do novo espírito científico, momento em que a Relatividade de Einstein deforma conceitos primordiais que eram tidos como fixados para sempre.
                                                          (BACHELARD, 1996, p 9)
           
            Sua obra pode ser dividida, ainda que de forma didática, em duas fases: a obra diurna (epistemologia e história das ciências) e a obra noturna, que remete ao estudo no âmbito da imaginação poética, dos devaneios e dos sonhos.
            Dentre as obras diurnas se destacam:  “O novo espírito científico”, de 1934; “A formação do espírito científico”, de 1938 (objeto central de nosso estudo); “A filosofia do não”, de 1940; “O racionalismo aplicado”, de 1949 e “O Materialismo racional”, de 1952. Dentre as obras noturnas destacam-se “A psicanálise do fogo”, de 1938; “A água dos sonhos”, de 1942; “O ar e os sonhos”, de 1943; “A terra e os devaneios da vontade”, de 1948; “A poética do espaço”, de 1957.
Bachelard expôs um racionalismo dialético, um diálogo entre a razão e a experiência, partindo do ponto de vista de que a descoberta racional é um processo pelo qual o conhecimento novo é assimilado a um sistema que muda apenas na medida em que cresce, rejeitando o conceito cartesiano de que as verdades científicas são partes imutáveis que se somam para alcançar uma “verdade total”, da mesma forma que refutava o empirismo de Bacon, pautado em seus ídolos.[1]

3 – CRÍTICAS ÀS FILOSOFIAS VIGENTES E A CONSTRUÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO

            No embate que Bachelard travou contra as filosofias do imobilismo, que defendiam, entre outras coisas, que existe uma continuidade entre senso comum e ciência, ele apontava para a descontinuidade entre o conhecimento científico e o conhecimento comum, onde o primeiro se constrói através da negação da experiência primeira, entendida como a primeira observação, a experiência colocada antes e acima da crítica.
            Para ele, a superação do empirismo se dá através do racionalismo, onde a postura epistemológica do novo cientista proclama-se no primado da realização sobre a realidade, ou seja, o cientista aproxima-se do objeto não mais por métodos baseados nos sentidos, na experiência comum, mas pela teoria, mediada pela razão.

A ciência da realidade já não se contenta com o como fenomenológico; ela procura o porquê matemático. (Ibidem, p 8)
           
            Para Bachelard, no pensamento pré-científico, não se procura a variação, mas a variedade, o que leva o espírito de um objeto para o outro, sem método, onde o espírito procura apenas ampliar conceitos e a variação liga-se a um fenômeno particular. Por sua vez, no estado científico do pensamento, a ciência, como um todo, interessa a todos os homens cultos e a ideia dominante é a de que um gabinete de história ou um laboratório, montados como se fossem uma biblioteca, aos poucos, estabeleçam, quase que automaticamente, as ligações entre os achados individuais.
            Finalmente, na terceira etapa histórica do pensamento científico, o espírito científico passaria necessariamente pelos estados concreto, em que o espírito se entretém com as primeiras imagens do fenômeno e se apoia numa literatura filosófica que exalta a natureza; pelo estado concreto-abstrato, em que o espírito acrescenta à experiência física esquemas geométricos e se apoia numa filosofia da simplicidade e no estado abstrato, em que o espírito adota informações voluntariamente subtraídas à intuição no espaço real, desligadas da experiência imediata.
            Bachelard coloca ainda que, o espírito científico proíbe que se forme opiniões sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular com clareza, evidenciando a necessidade de que é preciso saber formular com clareza os problemas.

Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. (Ibidem, p 18)

            Neste momento, a noção de obstáculo epistemológico ganha, para Bachelard, fundamental importância para o desenvolvimento de conhecimento no âmbito das pesquisas onde, o pesquisador, ao olhar seu objeto de estudo, pode incorrer no perigo de se deixar levar pelo que lhe é visível, dando-lhe um status de verdade, que ele pode não ter. Para ele é na superação destes obstáculos que reside o sucesso de uma pesquisa científica e a primeira advertência que faz é a necessidade de que os cientistas tenham consciência de que se eles não forem neutralizados, todo o processo de pesquisa ficará comprometido. Dos fundamentos ao resultado.
            Este primeiro obstáculo, que ele define por realidade, está intimamente ligado às críticas que ele faz ao empirismo. Bachelard dá especial importância a este obstáculo porque, para ele, diante do real, é praticamente impossível anular, de uma só vez, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, aquilo que acreditamos saber ofusca aquilo que deveríamos saber. Ao designar objetos segundo sua utilidade, deixamos de conhecê-los; temos somente uma opinião sobre eles e o espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, uma constatação à qual o próprio Sócrates já havia chegado.
           
O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras. Nunca é imediato e pleno. As revelações do real são recorrentes. O real nunca é “o que se poderia achar ”, mas sempre o que se deveria ter pensado. O pensamento empírico torna-se claro depois, quando o conjunto de argumentos fica estabelecido. [...] No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. (Ibidem, p 17)
            O segundo obstáculo epistemológico, o senso comum, semelhante ao primeiro, relaciona-se especificamente coma dificuldade com a qual se depara o cientista que precisa separar o seu conhecimento comum, suas opiniões, seus preconceitos, as avaliações relacionadas à sua posição social ou econômica, do conhecimento teórico, científico, que deve estar comprometido com a busca da verdade, baseada em leis gerais, em conceitos e não em preconceitos.
            Neste contexto, poderíamos associar o trabalho de Thomas Kuhn (1922/1996), um físico e filósofo da ciência, que abordou a questão dos paradigmas, como modelos de práxis efetiva, reconhecidos como válidos e que dão origem a tradições de pesquisa científica, como um dos obstáculos descritos por Bachelard, formadores de preconceitos nos quais o cientista fica preso até que uma ruptura deste paradigma (revolução científica) o liberte.

Hábitos intelectuais que foram úteis e sadios podem, com o tempo, entravar a pesquisa. (Ibidem, p 19)

            Bachelard fala também sobre o obstáculo do conhecimento geral ao conhecimento científico, uma vez que ele suspende a experiência e suprime a abstração científica verdadeiramente sadia. Neste ponto, ele realiza uma forte crítica ao sistema educacional que informa aos estudantes, de forma quase dogmática, conceitos aos quais eles deveriam chegar de forma crítica.
            Fala também do obstáculo verbal, quando o uso inadequado de um termo qualquer, um substantivo que pode ser adjetivado, é utilizado sem o devido cuidado de ser corretamente contextualizado, provocando uma distorção da imagem real do objeto estudado.

Uma ciência que aceita as imagens é, mais que qualquer outra, vítima das metáforas. Por isso, o espírito científico deve lutar sempre contra as imagens, contra as analogias, contra as metáforas. (Ibidem, p.48)

            Bachelard alerta ainda para o fato de que, normalmente, os homens tendem a ceder àquilo que ele chamou de instinto conservativo, em detrimento do instinto formativo e que mesmo o cientista mais dedicado, com o tempo acaba fatalmente cedendo a conceitos anteriormente aceitos, quando então o instinto conservativo faz cessar o seu crescimento espiritual.
            Aqui, neste ponto, Bachelard detalha a diferença conceitual sobre o espistemólogo e o historiador da ciência.  Para ele, o historiador da ciência deve tomar as ideias como se fossem fatos e o espistemólogo deve tomar os fatos como se fossem ideias, inserindo-as num sistema de pensamento. Em suas palavras

Um fato mal interpretado por uma época permanece, para o historiador, um fato. Para o espistemólogo, é um obstáculo, um contra pensamento. É sobretudo ao aprofundar a noção de obstáculo epistemológico que se confere pleno valor espiritual à história do pensamento científico. (Ibidem, p 22)
           
           
4 - CONCLUSÃO

            Diante do que foi exposto, concluímos que a epistemologia bachelardiana ainda está presente e atuante no meio científico, onde apresenta contribuições significativas, rompendo com o imobilismo metodológico vigente antes dele, ao inaugurar a filosofia do inexato, onde o conhecimento constitui-se por meio de aproximações contínuas, viabilizadas pelo conhecimento teórico e pela aplicação técnica.
            Neste contexto, o objeto não é mais dado, mas construído denotando uma supremacia do conhecimento abstrato e científico sobre aquilo que ele chamou de conhecimento primeiro e intuitivo, aquele que é imediato, não discursivo.
            Ou seja, Bachelard apresenta seu espectro epistemológico, afirmando que a ciência oscila dentro de um espectro pré-definido; destacando o pluralismo das ciências; apontando que a filosofia da ciência é, por natureza, aberta; apontando para a existência de obstáculos epistemológicos, onde o primeiro a ser superado é a experiência primeira, a destruição das opiniões; afirmando que o espírito científico deve formar-se reformando-se e não aceitando nada como definitivo e que tudo aquilo que sabemos, nosso conhecimento científico, é sempre fruto de uma desilusão com aquilo que julgávamos saber frente aquilo que deveríamos saber.
                       

5 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS


- BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996

- BACON, Francis. Novum Organum. Trad. José Aluysio Reis de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1988 – Coleção os Pensadores

- CAVAILLÈS, Jean. Obras Completas de Filosofia das Ciências. Trad. Abner Chiquieri. Rio de Janeiro: Forense, 2012

- GREGO, John. SOSA, Ernest. Compêndio de Epistemologia. Trad. Alessandra Siedschlag Fernandes. São Paulo: Edições Loyola, 2012



[1] A principal diferença entre Bacon e Descartes está na posição que eles assumem em relação aos sentidos e ao intelecto na aquisição de conhecimento. Enquanto que, para Descartes, os sentidos possuem uma natureza enganadora e o intelecto é limitado, para Bacon o problema não está na natureza dos sentidos nem na limitação do intelecto, mas em seus usos indevidos. O método proposto por Bacon consiste basicamente na indução verdadeira e na demonstração experimental, entendendo-se por indução verdadeira um tipo de raciocínio composto por premissas cuja fonte de observação é empírica, regular e sistemática, das quais se realiza um salto inferencial para se alcançar uma proposição geral. Uma vez extraída uma conclusão de cunho generalizante, que deve ser demonstrada experimentalmente, obtém-se o que Bacon denominou de axioma científico. Para Bacon, os sentidos e o intelecto não podem agir sem auxilio metodológico, e isso se deve à presença na mente humana de ídolos, noções falsas que habitam a mente humana e obstruem o acesso à verdade. Para ele, existem quatro tipos de ídolos: 1) os Ídolos da Tribo, que dizem respeito à natureza humana, cuja ordem é inferior à ordem da natureza e, por isso, todas as percepções dos sentidos e da mente ao fazerem analogia com a própria natureza humana e não com a ordem natural criam distorções entre o que é percebido e o que é da ordem da natureza. 2) Ídolos da Caverna, que versam sobre o homem enquanto indivíduo. Dado que o homem é singular e possui, em virtude de sua formação, diferentes impressões sobre os fatos, o homem inclina-se a buscar o conhecimento em seus próprios mundos e não no universal. 3) Ídolos do Foro, que dizem respeito à associação recíproca entre os homens através do discurso, onde as palavras comportam uma multiplicidade de sentidos. 4) Ídolos do Teatro, que se encontram associados às antigas doutrinas filosóficas que, por não utilizarem os auxílios metodológicos, figuram mundos fictícios.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

OUÇAM O SOM DOS TROVÕES

Neste momento particular da história mundial, onde a maioria das pessoas assiste com certa perplexidade a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o que para mim sempre foi uma possibilidade real, lembro as palavras de Abbé Poncelet. 

 "Ao escrever sobre o trovão, minha principal intenção sempre foi minorar, quanto possível, as impressões desagradáveis que esse meteoro costuma causar em inúmeras pessoas de qualquer idade, sexo e condição. Quantas não passaram dias de agitação violenta e noites de angústia mortal?"

Ao falar sobre o medo do trovão, Poncelet procura mostrar que esse medo é infundado. 

 "Quando o trovão reboa, o perigo já passou. Só o raio pode matar." 

Estamos ouvindo o reboar dos trovões, mas as causas que os provocaram, nós continuamos desejando ignorar. A maior delas, a mentira contumaz que corroí as relações entre os homens.

Professor Orosco.

sábado, 5 de novembro de 2016

COMPREENDENDO E TRATANDO O AUTISMO


Resumo: O presente trabalho destina-se a, além de elucidar uma série de dúvidas sobre o Transtorno do Espectro Autista, partindo da análise de sua definição enquanto distúrbio cognitivo, sua etiologia, seu diagnóstico, suas implicações socioeconômicas e comportamentais, chegando aos métodos terapêuticos de apoio atualmente disponíveis; a propor uma abordagem diferenciada para o tratamento desta patologia que acomete milhões de pessoas ao redor do mundo, ao compreendê-la sob um prisma de um distúrbio eletroquímico, independente de suas implicações anatômicas, que afeta o cérebro humano e, a partir dele, a todo o sistema nervoso, seja ele o central, o periférico ou o autônomo.

Palavras-Chave: Autismo, Síndrome, Cérebro, Neurônios, Sinapses


Abstract: This paper is intended to, and clarify a number of questions about the disorder Autistic Spectrum, based on the analysis of its definition as cognitive impairment, etiology, diagnosis, socioeconomic and behavioral implications, reaching therapeutic methods support currently available; to propose a differentiated approach to the treatment of this disease that affects millions of people around the world, to understand it in a prism of an electrochemical disorder, regardless of their anatomical implications, which affects the human brain and, from it, the the entire nervous system, be it the central, peripheral or autonomic.

Keywords: Autism Syndrome, Brain, Neurons, Synapses


1 – INTRODUÇÃO
           
            O autismo, como é popularmente conhecido um distúrbio comportamental, característico, associado a pessoas com graves dificuldades de socialização, que vivem “isoladas” em um mundo só seu, manifestando “em graus variáveis” um sério comprometimento cognitivo, é uma patologia que atinge, nos dias de hoje, aproximadamente uma a cada mil crianças nascidas no mundo[1]. O autismo apresenta, porém, de forma alarmante e preocupante, uma difusão crescente onde, a exemplo dos Estados Unidos da América, já alcançou proporções de até um para cada duzentos indivíduos nascidos recentemente, sem que se saiba a causa ou motivo determinante para o fato, ao menos até agora, o que o transforma em um desafio ímpar para a neurociência[2].
            Sabe-se que ele aparece nos primeiros anos de vida, normalmente entre etapas sensório motora e pré-operacional, afetando o desenvolvimento normal do cérebro relacionado com as habilidades sociais e de comunicação, podendo manifestar-se em diversos graus de comprometimento. Caracterizado por uma persistente carência de comunicação, de maneira geral, os indivíduos autistas não prestam atenção às pessoas presentes em uma sala e, embora conscientes de sua presença, manifestam menos interesse por elas do que aquele voltado para objetos inertes. Muitas vezes apresentam uma aderência inflexível a rotinas ou rituais, reagindo com intensa ansiedade a mudanças imprevistas no ambiente, demonstrando preferência por atividades cotidianas que sigam uma rotina familiar, aquelas que aumentam a previsibilidade dos acontecimentos. E dizer, estes indivíduos são capazes de manifestarem sentir verdadeiro prazer na repetição de atos simples e de percursos familiares, característica que, em muitos casos, se transformam em obstáculos para seu desenvolvimento e adaptação e, em outros, assumindo uma função calmante, constituem um facilitador importante, pelo que, muitos programas se valem destas rotinas para fins educacionais.
            Em outras palavras, uma pessoa autista apresenta dificuldade para iniciar uma conversa social, preferindo comunicar-se por gestos em vez de palavras; não ajusta a visão para olhar os objetos que as outras pessoas estão olhando, mantendo-se distante, retraída; pode não responder a contato visual; prefere brincadeiras solitárias ou ritualísticas, demonstrando exagerada preocupação com a manutenção das coisas em seus lugares (rotina); apresenta movimentos repetitivos; pode, e normalmente tem, um comportamento agressivo para com outras pessoas ou consigo, etc.
             É consenso entre toda a comunidade científica de que, quanto antes o diagnóstico for feito e o tratamento iniciado, melhor será a qualidade de vida da pessoa com autismo, já que este tratamento, direcionado para necessidades específicas, pode minimizar a dependência para a pessoa autista, ao longo de sua vida. Neste sentido, utilização de programas com imagens e outros recursos visuais ou de tecnologia assistiva no tratamento poder ajudam a criança a lidar melhor com as situações adversas e a estruturar melhor o seu ambiente.
            No Brasil, a Lei 12.764, promulgada em dezembro de 2012, instituiu a “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista” garante, entre outras coisas, que a pessoa autista seja reconhecida como pessoa com deficiência, tendo direito a todas as políticas de inclusão. A dificuldade, no entanto, para a correta implementação inclusiva desta lei, está na identificação das necessidades específicas dos autistas que, em muitos casos, necessitando contenção, por exemplo, demandam transporte diferenciado, cuidadores específicos, etc., além de outras, durante seu processo de desenvolvimento.
            O caminho a percorrer ainda é longo, mas estamos avançando, e o objetivo central deste trabalho é o de contribuir para isso.

2 – HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO

2.1 – Nomenclatura

            O termo, autista, foi um adjetivo inventado por Eugen Bleuler (1857/1939), um psiquiatra suíço, para descrever o encerramento em si mesmo dos pacientes esquizofrênicos[3]. Posteriormente, Leo Kanner (1894/1981), um psiquiatra austríaco, publicou, em 1943, o primeiro trabalho no qual se delineava a existência do autismo infantil. No mesmo período, Hans Asperger (1906/1980), outro psiquiatra e pesquisador austríaco, identificava uma nova condição neurológica, caracterizada por dificuldades significativas na interação social, de comunicação não verbal e por padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos. Diferentemente do autismo, por não apresentar, como nele, um retardo mental ou linguístico, embora sejam frequentes os casos em que se observam os indivíduos serem desajeitados e possuidores de uma linguagem atípica (excêntrica), essa condição particular ficou conhecida por “Síndrome[4] de Asperger”[5]. Ainda no século passado, registra-se também, o trabalho de Andreas Rett (1924/1997) um pediatra austríaco que observou uma doença neurológica caracterizada pela perda progressiva das funções neurológicas e motoras após um período de desenvolvimento aparentemente normal. A Síndrome de Rett, como ficou conhecida, é um tipo muito mais grave de doença associada ao autismo, causado por mutações no gene MEP2, no cromossomo X, que provoca desordens de ordem neurológica, acometendo quase que exclusivamente o sexo feminino (os meninos normalmente não resistem e morrem precocemente), que acomete aproximadamente 1 em cada 10 ou 15 mil meninas nascidas vivas. Neste caso típico, a menina se desenvolve de forma aparentemente normal entre o oitavo e décimo oitavo meses de idade, quando, então, seu padrão de desenvolvimento começa a mudar, havendo uma substancial regressão dos ganhos psicomotores. A criança torna-se isolada, deixando de responder e brincar. Seu crescimento craniano, até então normal, passa a se desenvolver de forma mais lenta, evidenciando uma microcefalia adquirida, momento em que ela deixa de manipular objetos e surgem os movimentos estereotipados das mãos (contorções, apertos, bater palmas, levar as mãos à boca, etc.).
            Finalmente, para encerrar esse aspecto nominativo de nosso trabalho, registramos o trabalho de Lorna Wing (1928/2014), uma médica e psiquiatra inglesa, que introduziu a expressão distúrbios ou transtornos do espectro autista (TEA), terminologia que permanece até hoje, como forma de diferenciar as pessoas afetadas pelo autismo de distúrbios semelhantes, a partir de critérios quantitativos e não mais qualitativos, como acontecia até então.
           
2.2 – Diagnóstico

            Não existem atualmente testes padronizados para diagnosticar o autismo como existem para o retardo mental, devendo o diagnóstico ser formulado por um médico especialista, segundo os critérios acordados internacionalmente, estabelecidos pela International Classification of Diseases (Classificação Internacional de Doenças, CID-10), publicada pela Organização Mundial de Saúde, que preveem uma série de sintomas em três áreas do funcionamento mental e do comportamento: social, comunicação e repertório de interesses.
            Atualmente, os principais instrumentos à disposição do médico para o diagnóstico do autismo tem sido o conhecimento destes critérios, sua experiência com crianças que apresentam o desenvolvimento típico e atípico, a observação direta da criança e as informações obtidas junto aos pais ou outras pessoas que cuidam dela.
            Nesta fase de rastreamento, o médico pode contar com o Chat (Check-List for Autism in Toddlers), uma “listagem para verificar a presença do autismo em crianças” de 1 a 3 anos de idade, onde se tenta obter respostas dos pais para perguntas específicas, como por exemplo: A criança se diverte brincando de “esconde-esconde”?; Já viram a criança brincar de “faz de conta”; Ela já usou o dedo indicador para indicar ou pedir qualquer coisa? Neste processo de diagnóstico, somente um terço das crianças com autismo é identificada pelo Chat e, de forma geral, sabe-se, também, que três em cada dez autistas demonstram bons resultados nos testes comumente usados para estimular o quociente de inteligência e que um a cada dez indivíduos autistas apresenta alguma capacidade específica desenvolvida de forma excepcional. No entanto, é falsa a ideia de que as crianças autistas apresentam processos cognitivos intactos, sendo que cerda de 70% delas apresentam, concomitantemente, um retardo mental médio ou grave e todas elas apresentam dificuldades de compreensão.
            O autismo é caracterizado também por uma persistente carência de comunicação, onde aproximadamente 70% dos indivíduos apresenta um retardo no desenvolvimento da linguagem, sendo este detalhe um importante indicador no diagnóstico, principalmente quando a criança não manifesta tentativas de substituir o código linguístico oral por outros sistemas, como o gestual, por exemplo. Esta distinção ganha importância, quando comparamos a dificuldade de comunicação manifesta entre autistas e crianças surdas ou com problemas para falar.
            Segundo a classificação de Jean Piaget (1896/1980), um epistemólogo suíço que elaborou uma teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica (teoria dos estágios) na etapa sensório motora, aquela que vai do nascimento até o segundo ano de vida, a criança normal caracteriza-se pela ausência da função semiótica, onde a inteligência trabalha através das percepções (sensório) e das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo, tendo uma inteligência iminentemente prática, com linguagem indo da ecolalia (repetição de sílabas) à palavras frase (água para dizer que quer beber água). A criança nesta etapa, normalmente apresenta uma conduta de isolamento e indiferença. Já na etapa seguinte, pré-operacional, entre o 2º e 4º ano de vida, surge a função semiótica, que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação. É o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. É exatamente nesta etapa, na ausência destas características que se identifica, mais comumente, as manifestações do autismo que, no entanto, ainda podem ocorrer mais tarde, de forma regressiva.
            A dificuldade de imitação na maioria das crianças autistas está bem documentada, assim como a falta dos jogos de fantasia que, a partir do segundo ano de vida são importantes sintomas do autismo. Se uma criança não desenvolveu um jogo de fantasia e outras capacidades características de tipo mais claramente significativo no segundo ano de vida, como o interesse de brincar de casinhas, simular aventuras com seus brinquedos, a probabilidade de que seja autista é muito alta.
            Os maneirismos e movimentos estereotipados se manifestam com maior frequência nos autistas em situações de estresse e dificuldades. Igualmente, na observação dos estímulos sociais, como por exemplo, o semblante, percebe-se que a atenção dos autistas parece ir mais para os detalhes do que a configuração do conjunto.
            É importante, contudo, registrar que a aderência a rotinas e rituais também pode ser observada em outras crianças que apresentam algum distúrbio sensório-motor, como os PC’s, por exemplo, sem que elas, venham a adquirir uma condição patológica autista, tratando-se simplesmente de optarem por sua “zona de conforto”. A diferença, como já observado nos estudos da doutora Wing, está na resistência em abandonar esta zona de conforto, que é muito mais acentuada nos autistas.
            Kanner propõe que nas crianças autistas exista a presença não casual de algumas características ou sintomas, sendo os mais importantes: A “incapacidade de relacionamento social”, presente desde o nascimento; “uma habilidade linguística desenvolvida com retardo e sem funções comunicativas”, evidente em alguns casos de ecolalia ou em situações em que a criança faz uso sistemático da substituição dos pronomes pessoais da primeira e da segunda pessoas do singular (eu e tu), ou ainda do uso do próprio nome em lugar do “eu”; e o “repertório restrito de interesses”, caracterizado por uma excessiva intensidade e apego às rotinas disfuncionais.
            Kanner lista, também, outras características como as “potencialidades cognitivas”, “o terror a alguns ruídos”, “os distúrbios de alimentação e da coordenação motora”.
            Nas crianças autistas encontram-se presentes muitas vezes distúrbios de alimentação tão graves que se tornam necessárias medidas para a administração forçada de alimentos, podendo, nestes casos, algumas vezes, evidenciar-se uma extrema seletividade de alimentos aceitos e os atos de mastigar e deglutir.
            O autismo não é mais frequente numa ou noutra classe social, mas é muito mais frequente em homens do que em mulheres, com uma proporção de cerca de 4:1. Nos pacientes sem retardo mental a proporção masculino-feminina sobre para 5:1 e nas pessoas com a Síndrome de Asperger a proporção masculino-feminina é de até mesmo 9:1, o que nos leva a considerar as diferenças anatômicas de gênero como fatores relevantes para o nosso estudo.


3 – CARACTERÍSTICAS ANÁTOMO-FISIOLÓGICAS E FUNCIONAIS
           
            Como tivemos a oportunidade de registrar anteriormente, não existem exames clínicos ou protocolos específicos para o diagnóstico do autismo, e tampouco foi possível identificar uma ou mais causas predominantemente determinantes para sua incidência. Assim sendo, as linhas de pesquisas possíveis que estão sendo desenvolvidas concomitantemente são muitas e seus resultados são incertos, pelo que a “coleta de dados”, o processo de observação para determinar a incidência e a frequência de determinados fenômenos presentes nos pacientes com Transtornos do Espectro Autista, frente a enorme gama de possibilidades, como em qualquer processo estatístico, acaba tendo uma amplitude tão grande, que muitas vezes torna confusa a tabulação dos dados coletados e o estabelecimento das possíveis correlações entre eles.
            Desta forma, para facilitar a compreensão desta abordagem, vamos dividir nossa apresentação em duas linhas centrais: anátomo-fisiológicas e funcionais, ambas pautadas nas recentes descobertas que a tecnologia existente atualmente já nos permitiu comprovar.
            
3.1 – Relações entre características anátomo-fisiológicas e o autismo

            Como vimos, com base em pesquisas recentes, estabeleceu-se uma associação entre o autismo e algumas anomalias físicas, como, por exemplo, uma leve macrocefalia ou um físico significativamente maior que o das outras crianças da mesma idade. E dizer, existem dados claros que indicam uma associação positiva entre o autismo e a dimensão do cérebro, onde as pessoas com autismo tendem a ter cérebros ligeiramente maiores. Dado que os neurônios se reproduzem somente no período pré-natal, podemos, pois, excluir que as diferenças de dimensão sejam atribuíveis à diferença no número de neurônios, o que implica dizer que a explicação deve, necessariamente, voltar-se para os processos de crescimento, diferenciação morfológica e seleção de neurônios, ou ainda, para as outras células presentes no cérebro, como por exemplo as células gliais.
            Na tentativa de compreender os motivos da maior incidência dos casos de autismo em homens do que em mulheres, chegou-se à conclusão de que, embora as diferenças analisadas entre as estruturas do cérebro humano entre homens e mulheres não seja muito significativa, ambos possuem aproximadamente 1.400 gramas para um indivíduo adulto, não significa que elas não existam. O cérebro masculino tem entre 10 e 20 milhões de neurônios a mais que o feminino, o que não é muito significativo de considerarmos que existem 100 bilhões de neurônios num cérebro humano. No entanto, o cérebro masculino tem aproximadamente 30% a mais de conexões entre neurônios que o cérebro feminino, apenas para exemplificar, o que lhe confere melhor inteligência espacial. De outro lado, as observações mostraram uma menor densidade das conexões sinápticas (melhor qualidade no resultado das conexões) nas amostras de mulheres em relação a dos homens, chegando ao ápice da habilidade verbal, onde são muito superiores aos homens, no meio do ciclo menstrual, quando a produção do estrógeno é maior.
            Estudos de imagem recentes revelaram que as variações anatômicas ocorrem em uma série de regiões do cérebro, onde se constatou, por exemplo, que determinadas partes do córtex frontal são proporcionalmente maiores nas mulheres que nos homens que, por sua vez, tem as partes do córtex parietal, ligado à percepção espacial, maiores do que as mulheres.
            Segundo estudos do Dr. José Salomão Schwartzman, um famoso neuropediatra brasileiro, formado na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e professor titular de pós-graduação em Distúrbio do Desenvolvimento na Faculdade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, com quem tive a oportunidade de estudar, o cérebro do bebê masculino é banhado por uma quantidade maior de testosterona do que o cérebro feminino, provocando uma mudança de comportamento no processo de desenvolvimento entre homens e mulheres, que apresentam um amadurecimento mais rápido que os meninos e são superiores no que se refere à habilidade motora fina. Os meninos apresentam um desenvolvimento superior nas atividades que exigem habilidades motoras mais grosseiras, como jogar bola, por exemplo.
            Em outro estudo, uma equipe de pesquisadores liderados pelo Dr. Elliot Albers, diretor do Centro de Neurociência Comportamental da Universidade Estadual da Geórgia, conforme artigo publicado pela Dra. Maria Cláudia Brito, no dia 31 de Outubro de 2016, na Neuroscience Notícias, versando sobre a influencia da serotonina no comportamento agressivo de homens e mulheres, identificou diferenças no desenvolvimento e evolução clínica de muitas doenças neuropsiquiátricas, onde as mulheres, por exemplo, apresentam taxas mais elevadas de depressão e transtornos de ansiedade, enquanto os homens mais frequentemente sofrem de transtorno do espectro autista e déficit de atenção.


                                    Figura 1                                                           Figura 2
           
Esses estudos nos levam a concluir que existe uma possibilidade real de que no cérebro autista existam mais dendrites e sinapses (figura 2) porque se formam em número maior, assim como uma diferença no que diz respeito à seleção das sinapses e das dendrites, um processo que os ingleses chamam de “pruning” (poda).
            De fato, o desenvolvimento neural não implica somente a formação de novas ligações entre os neurônios, mas também a perda de ligações que resultam inúteis, ou até danosas, para o desenvolvimento de determinadas funções mentais. Assim sendo, o cérebro nas pessoas autistas poderia ter mais dendrites do que o normal não porque se formam em maior número, mas porque se verifica um processo insuficiente de pruning.
            Finalmente, poderia existir uma regulação escassa do processo normal de “morte neural”, isto é, a perda programada de neurônios, devendo a compensação total desses processos, especificar cadeias causais, identificando fatores químicos cruciais.
            As técnicas de neuroimagem e os exames executados com o microscópio levaram à descoberta de uma multiplicidade de anomalias em diversas estruturas neurais além de outras no volume de muitas áreas, na densidade das células cerebrais e em sua organização. Surgiram ainda anomalias no fluxo sanguíneo que irriga algumas áreas corticais, principalmente no lobo temporal medial e no córtex pré-frontal, embora não nas estruturas dorsolaterais. Essa redução no aporte de sangue e, portanto, de oxigênio foi observada, também, durante a ausência de atividades cognitivas particulares.
            Sabemos que o ph do sangue[6] humano normal oscila entre 7,35 e 7,45 e, no caso dos autistas, onde se constatou uma maior incidência de filhos de mães do tipo Rh negativo, também se percebeu uma deficiência em zinco, magnésio, manganês, evidenciando um certo grau de acidose metabólica (em ambientes ácidos a oferta de oxigênio fica reduzida), além da vitamina B12 e ácido fólico, vitais para a desintoxicação e para a ativação dos campos elétricos onde ocorrem as sinapses. O ácido fólico, como já sabemos, desempenha importante fator de prevenção contra a má formação do tubo neural no período intrauterino.
            Outra área do lobo temporal que parece crucial na compreensão do autismo é a circunvolução fusiforme[7], cujo papel na elaboração dos semblantes é conhecido há anos e mais recentemente foram relatados dados que indicam seu envolvimento também na elaboração de inferências dos estados mentais. Existem pelo menos três estudos que mostram um funcionamento anômalo da circunvolução fusiforme caracterizado por uma escassa ativação nas pessoas autistas.
            As anomalias do lobo frontal, que dão lugar aos déficits cognitivos podem estar na origem de muitos dos sintomas autistas, como a resistência a mudanças, a rigidez comportamental e o repertório restrito de atividades, alguns problemas de habilidades sociais e dificuldades de conversação.
            Um estudo recente investigou a organização das células neurais no córtex frontal e temporal de um grupo de pessoas com autismo, organização que tipicamente se dispõe em “colunas” que transportam os sinais dos extratos mais superficiais aos extratos mais profundos e vice-versa. Também do córtex para as estruturas subcorticais. Essas colunas nos autistas resultaram mais sutis, uma característica a que pode corresponder um maior “ruído neural”, isto é, uma interferência indesejada dos sinais neurais nos circuitos limítrofes.
Outra forma de explicar este ruído neural no processo de transporte dos sinais (elétricos) entre os extratos, pode ser feita se, por analogia, os compararmos às correntes harmônicas (correntes parasitárias) presentes nos campos elétricos. Correntes harmônicas surgem nas instalações elétricas devido à presença de cargas não lineares, sendo que cada uma dessas cargas tem suas características específicas, incluindo as correntes harmônicas. É importante notar que cada uma dessas correntes harmônicas possuem módulos e ângulos de fase em cada uma das frequências características, fazendo a soma escalar de diversas correntes harmônicas em uma mesma frequência não representar a corrente harmônica total nessa frequência no circuito alimentador.
Em outras palavras, a circulação de correntes harmônicas nos circuitos e nas fontes (transformadores, geradores, etc.) causa o surgimento das tensões harmônicas proporcionais às próprias correntes harmônicas e às impedâncias desses circuitos e fontes. Uma das formas de reduzir a circulação destas correntes harmônicas é filtrá-las, evitando, assim, que as tensões dos barramentos sejam distorcidas pela alimentação das cargas não lineares, um conceito que pretendemos explorar posteriormente, quando falarmos sobre uma abordagem diferente proposta para o tratamento do autismo.



Figura 3,0

Figura 3,1
Uma carga linear pode ser definida como aquela em que há uma relação linear (equação diferencial linear com fatores constantes) entre corrente e tensão. Em termos mais simples, uma carga linear absorve uma corrente senoidal quando é alimentada por uma tensão senoidal. Essa corrente pode estar defasada por um ângulo ϕ em relação à tensão. Como exemplos, podemos ver a figuras 3.0 para uma carga puramente resistiva e figura 3.1, para uma carga mista (resistiva e indutiva)
Quando a relação entre corrente e tensão num determinado componente não é descrita por uma equação linear, esta carga é denominada não-linear. Ela absorve uma corrente não senoidal e, portanto, correntes harmônicas, mesmo quando é alimentada por uma tensão puramente senoidal, como exemplificado na figura 4 para uma situação de carga puramente resistiva.
Figura 4
E dizer, durante o processo sináptico, essas correntes parasitárias podem provocar uma dificuldade adicional para a transmissão elétrica, obrigando o organismo a trabalhar com cargas maiores do que aquelas que seriam necessárias. Este fator, quando aliado ao distanciamento maior observado entre os neurônios e as dendrites nas pessoas autistas (macrocefalia) pode justificar, ao nosso ver, a menor qualidade do processo neural.
Outra estrutura que merece nossa atenção, a amígdala (figura 1), pouco maior nos homens que nas mulheres[8], é uma pequena estrutura em forma de amêndoa composta de treze núcleos e posicionada sob a seção medial anterior dos lobos temporais, normalmente associada às emoções mais primitivas, como raiva e medo.
Algumas afinidades comportamentais entre pessoas com lesões cerebrais e autistas sugerem que a amígdala seja uma das estruturas mais atingidas no autismo. A hipótese de um mau funcionamento da amígdala recebeu confirmação nas pesquisas conduzidas com ressonância magnética funcional, onde se constatou que a ativação seletiva da amígdala era muito inferior nas pessoas com Síndrome de Asperger ou autismo. Análises posteriores com ressonância magnética ou ao microscópio registraram anomalias estruturais da amígdala que podem ser a base orgânica do déficit de capacidade de reconhecimento emotivo e da compreensão dos estados mentais. Entre essas peculiaridades estavam a redução da dimensão e das dendrites, da densidade e do tamanho dos neurônios.



Figura 5
 Até vinte anos atrás se acreditava que as funções da estrutura do cerebelo (figura 5) fossem substancialmente do tipo motor, ou seja, acreditava-se que ela fosse encarregada somente de controlar os movimentos. Hoje, todavia, sabemos que o cerebelo da pessoa autista tem dimensões de conjunto um pouco maiores, quando comparado com os da população não autista, e que ele desenvolve também um papel importante em alguns processos cognitivos, na regulação da atenção e na capacidade de integração sensorial. Os dados obtidos com a técnica da ressonância magnética identificaram zonas específicas do cerebelo em que os autistas diferem dos demais sujeitos dos grupos de controle. Estudos ao microscópio revelaram um número reduzido de tipos particulares de neurônios.
Existem, ainda, estudos e dados que indicam uma dimensão reduzida no corpo caloso (agenesia[9]) dos autistas e alguns dados obtidos através de observação ao microscópio que sugerem uma densidade celular reduzida e um desenvolvimento dendrítico menor em outros componentes subcorticais, como o septo e o hipocampo.
Outro fator de risco confirmado para o autismo é a ordem de nascimento: vários estudos conferiram que o percentual de crianças autistas é maior entre os primogênitos. Já que a ordem de nascimento é ligada à dificuldade e estresse no momento do parto, temos a indicação de possíveis efeitos de fatores perinatais no autismo. Foi descoberto que algumas características psicológicas do autismo se encontram também, de forma leve, no comportamento e nas funções cognitivas dos pais de crianças com autismo.
O papel dos componentes genéticos na etiopatogênese autista já é certo, e o autismo é considerado um dos distúrbios do desenvolvimento em que esse papel é mais forte, muito embora a modalidade de transmissão genética ainda seja desconhecida, conclui-se que a transmissão poligênica permanece a mais provável, dada a heterogeneidade dos sintomas autistas.
Pesquisas realizadas quando o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, pesquisador da Universidade da Califórnia, publicada recentemente na Revista Nature, investigava a Síndrome de Williams[10], mostrou que nos autistas existe não só uma segunda cópia do gene FZD9, associado à baixa sociabilidade dos indivíduos, mas até três cópias. Na Síndrome de Williams, apenas para exemplificar, ao contrário do autismo, faltam a cópia e até mesmo este gene.
Sabe-se, também, que o autismo pode ser provocado pela presença de agentes químicos presentes no ambiente intrauterino, como no caso do mercúrio utilizado na produção de vacinas que eram administradas às mães, ou ao consumo de álcool no período perinatal pelas mulheres, causa confirmada de inúmeros distúrbios neurológicos no feto, inclusive a microcefalia.
Não obstante todos os dados sobre as bases biológicas recolhidos até agora, onde, por exemplo, se verificou que a relação do comprimento entre o dedo indicador e o dedo anular é reduzida pela exposição à testosterona no período pré-natal e que nos autistas ela é significativamente inferior à norma, alguns especialistas, sobretudo na esfera clínica, destacaram que alguns casos de autismo não têm nenhuma base orgânica. No entanto, em todas as pessoas com autismo algumas funções mentais estão gravemente danificadas. Por isso o insucesso em encontrar anomalias neurais depende muitas vezes dos limites das técnicas de investigação disponíveis e dos conhecimentos neurológicos atuais.

3.2 – Relações Funcionais ligadas ao autismo

3.2.1 – Teoria da Mente

            O primeiro a sustentar e colocar por escrito que o órgão da percepção e do pensamento é o cérebro, foi Alcmeão[11], um médico discípulo de Pitágoras que viveu em Crotona há aproximadamente 2.500 anos atrás, o que nos dá uma indicação de há quanto tempo se estudam as funções psíquicas.
Há muitos anos afirmou-se que o autismo, em nível fisiológico, seria devido a uma hiperatividade do sistema dopaminérgico[12] e, em defesa dessa afirmação contribuíram as evidências de que as estruturas cerebrais que resultam envolvidas no autismo, isto é, no surgimento de dificuldades ou peculiaridades cognitivas e comportamentais, são em grande parte dopaminérgicas. Além disso, os medicamentos que agem sobre a dopamina possuem efeitos notáveis sobre a sintomatologia autista.
A ligação entre os sintomas autistas e as estruturas dopaminérgicas é particularmente clara, onde até a atenção aos detalhes, a fixação rígida sobre certos tipos de informação e as dificuldades de compreensão social e psicológica são atribuíveis a uma ativação dopaminérgica excessiva.
A dopamina contribui para o processo utilizado na redução da temperatura corpórea, agindo analogamente, da mesma forma que um dispositivo mecânico de refrigeração que se ativa automaticamente em um computador onde a CPU ficou aquecida (sobrecarregada), um processo que pode ser influenciado por múltiplos fatores, inclusive infecções virais e até mesmo a elevação da temperatura externa. Nos Estados Unidos uma epidemia de rubéola materna foi associada ao aumento da incidência de autismo. A influência de altos níveis de dopamina também é sugerida pela ligação positiva entre a dopamina e a testosterona, o que nos remete novamente aos estudos do Dr. Schwartzman, já relatados, sobre a quantidade deste hormônio nos cérebros masculinos. E dizer, a presença de altas taxas de hormônios andrógenos[13] parece ser um fator de risco para o autismo, onde o denominador comum poderia ser uma alteração na quantidade de dopamina presente em algumas estruturas do cérebro.
            No autismo, por exemplo, foram documentadas anomalias nas funções que dependem também das estruturas cerebrais subcorticais, isto é, das partes do cérebro que na ontogênese amadurecem cedo, antes das estruturas corticais.
            De qualquer forma, desde Alcmeão até Piaget ou Vygotsky (1896-1934) e mais recentemente ainda, a atribuição de estados mentais durante o processo de desenvolvimento humano permite uma compreensão causal sem a qual não seriam possíveis as interações sociais mais comuns. Fala-se de uma teoria da mente porque nos encontramos diante de duas funções que são tipicamente desenvolvidas pelos conhecimentos teóricos: a explicação de uma categoria de fenômenos e a sua antecipação graças ao uso de conceitos abstratos.
A teoria da mente, isto é, dos conhecimentos psicológicos fundamentais que todas as crianças com desenvolvimento típico adquirem nos primeiros anos de vida, não é, porém, um conhecimento consciente.
No processo intelectual, que compõe e que divide para formar juízos[14], por volta dos três anos completos, as crianças com desenvolvimento típico geralmente já demonstram a capacidade de usar o conceito de crença para antecipar e compreender as ações de outras pessoas.
As crianças de até 2 anos de idade geralmente não são bem-sucedidas nas tarefas de falsas crenças, mas em torno da segunda metade do segundo ano de vida, desenvolvem uma predileção por um tipo especial de jogo, o jogo simbólico ou do “faz de conta”.
É o jogo do “faz de conta” que nos sugere que a teoria da mente no desenvolvimento típico já está operante no segundo ano de vida e, sua ausência é um dos sintomas diagnosticáveis do autismo. A maioria das crianças autistas mostra um retardo grave e persistente na aquisição da teoria da mente, um déficit encontrado inclusive em adultos autistas.
Figura 6
              Em outras palavras, podemos dizer que todo o processo de conhecimento se dá de uma forma lógica, mesmo que nem sempre formal, onde somamos características de elementos observados para deduzir outros, como na “notação da linguagem científica baseada em binômios” (figura 6). Nesta analogia, como falamos de impulsos neurais (elétricos), teríamos o “ligado / desligado” o “input / output”, sendo exatamente neste ponto que esta característica marcante do autismo se manifesta.
            Neste processo lógico, não existe espaço para o jogo do “faz de conta”.
Ou uma coisa é, ou não é.
Para o autista, uma vez aprendida, classificada e armazenada na memória, toda informação torna-se permanente (memória de trabalho) e não pode ser modificada, podendo, no máximo, ser combinada, um conceito do qual precisamos nos valer para interagir com eles, durante seu processo de desenvolvimento.
A eficiência de qualquer sistema cognitivo depende sempre da capacidade de encontrar um bom equilíbrio entre automatismo e flexibilidade, um equilíbrio que seja funcional no ambiente em que o sistema deve operar, um critério que a o estudo da semiótica trabalha muito bem, quando separa a semântica do pragmatismo (o que é dito, no contexto em que é dito). O estudo de como essa flexibilidade se realiza no homem levou a investigações sobre as funções executivas.

3.2.2 – Funções Executivas

As funções executivas, ou funções frontais, são os processos de controle e coordenação do funcionamento do sistema cognitivo e abrangem a capacidade de deslocar e manter a atenção em informações pertinentes para completar uma tarefa, fazer planos, inibir as reações impulsivas ativadas por estímulos externos, organizar as ações e monitorar os resultados. Nas funções executivas podem-se identificar três componentes principais: a capacidade de inibição, a memória de trabalho e a habilidade de gerar novas estratégias.
Neuropsicólogos e psicólogos experimentais descobriram que os déficits dessas funções estão associados às lesões dos lobos frontais. Por isso foi proposto desde os anos de 1960 que os lobos frontais desenvolvem um papel crucial na programação e controle das ações e dos processos mentais.
Entre os vários testes para avaliar a estrutura das funções executivas, destaca-se um em que o indivíduo é submetido a situações em que precisa descobrir e agir diante de certos padrões que não são informados previamente, como nos anagramas, por exemplo, um uma sequência numérica qualquer, como 2, 4, 6, 8, 10, 12, ...; depois, também sem prévio aviso, esses padrões são alterados e avalia-se a capacidade do indivíduo em percebê-los, analisa-los e agir diante deles.
As funções executivas têm um papel importante na aquisição e no emprego das habilidades sociais, já que, para compreender os outros, imaginar seus objetivos, perspectivas, emoções e desejos, temos que deslocar a atenção para além dos nossos estados mentais e situações presentes. O desenvolvimento e a conservação das funções executivas promovem o desenvolvimento e contribuem para manter as capacidades sociais manifestadas na vida cotidiana. E dizer, os interesses restritos, os comportamentos repetitivos, a aderência inflexível às rotinas familiares, os rituais e a impulsividade são todos aspectos que sugerem um distúrbio das funções executivas.
A maior parte dos autistas manifesta graves déficits executivos e seus erros por persistência são frequentes. Uma queda seletiva nas funções executivas foi registrada também nos autistas com retardo mental. As pesquisas longitudinais (em que os grupos examinados são seguidos no tempo e periodicamente controlados) mostraram, entretanto, que o déficit executivo é permanente e em alguns sujeitos tende a piorar com a idade.
Uma tarefa adaptada para crianças muito pequenas é a prova de procura de objetos “a - não b” inventada por Jean Piaget. Um objeto interessante é repetidamente escondido sob um pano e pede-se às crianças que o procurem. Depois que a criança procurou e recuperou o objeto por seis vezes consecutivas, o objeto é escondido sob outro pano. A resposta correta, procurar sob o segundo pano, deve, porém, substituir aquela premiada nas seis provas precedentes. A tarefa é adequada para o exame de crianças pequenas e registrou um déficit precoce no desenvolvimento das funções executivas nos autistas.
Existem, porém, dados divergentes sobre a precocidade do déficit executivo, sendo possível que ele seja importante para entender e explicar as dificuldades dos autistas em idade escolar, porém ele não seria um déficit primário. Logo, o déficit executivo no autismo não parece primário e nem ao menos específico, visto que é encontrada em muitos outros distúrbios diferentes do autismo.
A fraca capacidade de mudar critérios parece ser o déficit executivo mais característico do distúrbio autista, o que nos remete ao processo bioquímico das sinapses na solução lógica e racional de problemas, onde a “memória de trabalho” tem papel relevante.
As várias habilidades que compõem as funções executivas – a memória de trabalho, as capacidades de inibição e a habilidade de gerar novas soluções – podem ser danificadas de modo relativamente independente. O dano executivo no autismo e no distúrbio da atenção e de hiperatividade resulta num conjunto mais grave do que nos sujeitos com distúrbio de conduta.
De modo geral, os autistas superam bem as provas iniciais que exigem capacidade de discriminação, mas não aquelas sucessivas em que fazem muitos erros de persistência. Seu déficit parece, pois, dizer respeito principalmente à capacidade de deslocar a atenção para a qualidade do estímulo diversa daquelas a que tinham prestado atenção nas provas iniciais. Isso sugere que, entre os três componentes executivos indicados anteriormente, a mais atingida nos autistas seja a capacidade de gerar novas soluções. A fraca capacidade de mudar critérios parece ser o déficit executivo do distúrbio autista.
A memória de trabalho é fundamental para a ação e o pensamento porque permite manter as informações necessárias ativas para desenvolver um certo raciocínio ou um plano de ação. Todas as ações planejadas, mesmo as mais simples, envolvem a memória de trabalho porque é necessário manter ativos a meta final a ser atingida e os objetivos intermediários úteis para alcançar o objetivo principal.
Segundo Uta Frith, nascida em 1941 na Alemanha, uma das estudiosas mais conhecidas nos processos mentais do autismo, muitos dos sintomas que caracterizam as crianças com distúrbios do espectro autista podem ser entendidos aventando-se a hipótese de que seu sistema cognitivo apresente uma tendência de coerência central fraca. A tendência à “coerência central” é, na definição de Frith, um aspecto que permeia os processos cognitivos mais diversos, do raciocínio à linguagem, das capacidades de ação àquelas de percepção visual e auditiva.
Durante o período em que as pesquisas se desenvolveram, foi descoberto que os autistas tendem a se focalizar mais nas partes dos objetos e nos detalhes, mesmo os muito pequenos e de escasso valor perceptivo, do que nos objetos inteiros. Em resumo, faltaria uma integração das partes, como se prevê num sistema cognitivo dotado de coerência central fraca. Além disso, os autistas podem identificar um objetivo sem levar em conta o contexto em que está inserido.
 Na percepção e produção da linguagem, a coerência central fraca se manifesta de diferentes maneiras. Um sintoma frequente do autismo é a ecolalia que, como já se disse, é a repetição literal daquilo que a criança ouviu.
A tendência de repetir de forma obsessiva certas rotinas disfuncionais, sem experimentar o mínimo incômodo com relação a tais repetições enfadonhas, pode ser explicada referindo-se a uma menor atenção para com os objetivos gerais de certa atividade, uma atenção ao detalhe, que perde de vista o objetivo comumente atribuído a uma atividade particular.
Podem ser atribuídas aos limites da coerência central também as dificuldades na esfera relacional, no desenvolvimento das habilidades sociais já que, segundo Frith, estas habilidades sociais parecem depender muito mais das considerações ligadas ao contexto.
A coerência central fraca pode também se manifestar nos processos de memória. A recordação é influenciada tanto pela presença de informações distintivas quanto por aquelas relacionais. Formar uma imagem de objetos nomeados ou julgar a afabilidade favorece a codificação distintiva das informações. A codificação das informações relacionais, ao contrário, é facilitada quando se pede para pensar na categoria à qual pertence cada objeto nomeado em uma lista prévia. Enfim, essas atividades de codificação têm efeitos diversos em função do material a que são aplicadas.
As noções centrais na teoria da mente nos permitem individualizar as relações causais entre ações, emoções, desejos e crenças. São os conhecimentos causais básicos necessários para compreender as ações e os fenômenos sociais. Os conhecimentos causais permitem uma coerência estável e profunda entre as representações.
  
4 – OS TRATAMENTOS

4.1 – Tratamentos Convencionais
           
            Como dissemos anteriormente, a síndrome não é uma doença, mas sim uma condição médica e, por isso, não se pode dizer que exista uma cura para o autismo, mas pode-se afirmar que existem muitas técnicas e atividades educativas que podem ajudar a criança em seu caminho para um suficiente autocontrole, uma maior independência e, em geral, uma vida melhor.
            Em algumas crianças com autismo os comportamentos autolesivos estão ligados à presença de doenças e complicações médicas, como infecções nas vias urinárias ou nos ouvidos, hérnias, fraturas dos membros, deterioração neural progressiva ou tratamentos farmacológicos errados. Por isso, antes de iniciar qualquer intervenção do tipo psicológico ou psicoeducativo, é preciso certificar-se, através de um exame médico, se não existem na origem dos comportamentos disfuncionais quaisquer dores ou doenças físicas, além de tentar identificar possíveis eventos que provocaram memórias de trabalho. Na opinião de alguns estudiosos, um comportamento autolesivo pode se manifestar, também, como forma de atrair a atenção de um adulto, realizar uma ação desejada ou impedir um evento estressante.
A experimentação de produtos farmacológicos usados comumente com as crianças autistas, no conjunto, é escassa e insuficiente e, em geral, dá-se prioridade aos objetivos que dizem respeito à eliminação de comportamentos que constituam grave perigo para a incolumidade da criança e que lhe limitam drasticamente a autonomia e o acesso a situações de aprendizagem. A intervenção inicial, portanto, poderia não ter o objetivo de reduzir o autismo na criança, mas aumentar de modo geral sua adaptação ou reduzir a dificuldade a ela.
A intervenção de tipo comportamental identifica uma série de objetivos que se pretende atingir para aumentar a independência e a adaptação da pessoa. Os objetivos geralmente dizem respeito à aprendizagem de novas capacidades e eliminação de comportamentos inadequados levando em conta as características de cada paciente para reduzir atividades estereotipadas ou comportamentos autolesivos.
No estado atual dos conhecimentos a terapia do autismo é, em primeiro lugar, habilitadora e educativa, e os medicamentos devem ser usados no âmbito de uma estratégia global quando os métodos educativos se demonstrem ineficazes.
Dentre os fármacos utilizados no apoio de pacientes autistas, existem algumas experiências comprovadas sobre os efeitos da clomipramina, do haloperidol, da risperidona, da naltrexona e da flenfluramina.
A clomipramina é um dos mais antigos antidepressivos conhecidos. Foi desenvolvido nos anos 1960 e está na lista de medicamentos essenciais da organização mundial de saúde. Trata-se de um fármaco que inibe a recaptação de norepinefrina (noradrenalina) e de serotonina pelos neurônios pré-ganglionares. Também tem propriedades inibitórias sobre os receptores adrenérgicos do tipo alfa-1, propriedades anticolinérgicas (antagonista de acetilcolina) e anti-histamínicas.
O haloperidol é um fármaco utilizado pelo corpo de saúde como neuroléptico, pertencente ao grupo das butirofenonas. Pode ser utilizado também para evitar enjoos e vômitos, para o controle de agitação, agressividade, estados maníacos, psicose esteroidea e para tratar a distúrbio de Gilles La Tourette, também conhecida como “Síndrome de la Tourette”, um distúrbio neuropsiquiátrico que se caracteriza por múltiplos tiques, motores ou vocais, que perdura por mais de um ano e normalmente instala-se na infância.
Risperidona é um antipsicótico atípico potente usado mais frequentemente no tratamento de psicoses delirantes, incluindo-se a esquizofrenia. Porém a risperidona, como os demais antipsicóticos atípicos, é também utilizada para tratar algumas formas de transtorno bipolar,  transtorno obsessivo-compulsivo, psicose  depressiva,  e Síndrome de Tourette. Nos Estados Unidos da América ela também foi aprovada para o tratamento sintomático de irritabilidade em crianças e adolescentes autistas.
O haloperidol e risperidona são medicamentos que podem apresentar efeitos colaterais graves, momentâneos ou irreversíveis, como por exemplo os movimentos involuntários da boca e dos lábios. Em especial são potencialmente epileptogênicos e deve-se ter presente tal fato para uma categoria de pacientes que já são predispostos à epilepsia.
A naltrexona é um antagonista opioide puro, utilizado para atenuar ou bloquear os efeitos subjetivos dos opioides administrados intravenosamente, como parte do tratamento do alcoolismo e como antagonista no tratamento da dependência de opioides administrados exogenamente.
A Flenfluramina é uma droga que tem sido utilizado no tratamento da obesidade, que trabalha para aumentar a descarga da serotonina no cérebro e inibir a recaptação. Esta ação é exercida sobre o cérebro ao nível do hipotálamo  e interfere com os mecanismos fisiológicos que regulam o apetite, produzindo uma sensação de saciedade. A Flenfluramina, no caso em que exista uma alteração do sistema de serotonina, e a naltrexona quando o sistema disfuncional estiver em nível de opioides endógenos apresentaram resultados promissores, mas que não se mantiveram nas provas seguintes, conduzidas com métodos de verificação mais rigorosos, nos quais ficou demonstrada nenhuma superioridade estatística significativa do medicamento com relação ao placebo.
Atualmente não existem medicamentos capazes de atingir o núcleo sintomatológico típico do autismo, embora existam alguns que possam mitigar sintomas perturbadores como a agressividade, a agitação e as obsessões.

4.2 – Tratamento Alternativo de Apoio Proposto

            Dando continuidade à linha de pesquisa que adotamos até aqui, onde esperamos haver evidenciado uma preocupação particular com as características elétricas envolvidas no processo neural, entendendo o fenômeno do autismo como um distúrbio eletroquímico, nossa proposta para auxiliar no processo terapêutico desta patologia se dá exatamente nesta linha.
            Ou seja, em linhas gerais, poderíamos dizer que nosso objetivo gira ao redor da proposta de tornar a atividade elétrica no organismo como um todo e, particularmente no “sistema nervoso central”, mais eficiente, de tal sorte que as cargas envolvidas possam ser menores e menos traumáticas. Isto, tanto para o agente emissor quanto para o agente receptor (axonios/dendrites), com a consequente “filtragem” e eliminação das interferências nos respectivos campos elétricos, através da administração controlada de ondas eletromagnéticas distintas, em pontos pré-determinados do corpo, tornando o processo cognitivo menos “doloroso” e melhor adaptado para desenvolver-se de forma autônoma. Ondas eletromagnéticas compreendidas segundo seu espectro da luz fragmentada, conforme seu comprimento e frequência, e dizer, através daquilo que percebemos por cor.
            Como esta forma terapêutica, conhecida por “cromoterapia”, dado o volume de informações e argumentos dos quais se vale para fundamentá-la, não apresenta condições de ser explicitada neste momento, recomendamos uma leitura adicional de outro trabalho nosso, já publicado, diretamente em nosso blog no período de 27 de julho a 22 de agosto de 2014, no endereço “blogdorosco.blogspot.com.br”, para que se possa compreender a terminologia adotada, o processo envolvido e a forma de aplicação, que propomos a seguir.

Obturação :  Azul durante 30 segundos
SNP -             Azul durante 30 segundos
SNC -             Verde Limão durante 30 segundos
                      Azul durante 30 segundos
                      Rosa durante 30 segundos
Ao redor da cabeça -          Azul durante 10 segundos
Chákra Frontal -       Amarelo durante 15 segundos
                              Laranja durante 15 segundos
Chákra Básico -       Vermelho durante 20 segundos
Hipotálamo - Amarelo durante 60 segundos
                    Laranja durante 30 segundos
                    Rosa durante 60 segundos
Têmporas -   Amarelo durante 15 segundos de cada lado
                    Laranja durante 15 segundos de cada lado
Chákra Laríngeo -   Amarelo durante 30 segundos
                             Laranja durante 30 segundos
Chákra Esplênico -  Amarelo durante 30 segundos
                              Laranja durante 30 segundos
Chákra Coronário -  Amarelo durante 30 segundos
           
Realizar esta aplicação três vezes por semana (dia sim, dia não) de forma ininterrupta, sem alterar ou suspender qualquer outro tratamento que já esteja prescrito. Os primeiros resultados (eficácia da proposta) deverão ser possíveis de observação após um ou dois meses.  

Professor Orosco

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

-         Autismo – Luca Surian – Editora Paulinas, 2010
-         Autismo – Ana Maria S. Ros de Mello – CORDE, 2007
-         Atlas de  Anatomia Humana – Frank H. Netter         Editora Artes Médicas – 1995.
-         Fisiognomia e Diagnose Visual – Bartolomeu Alberto Neves Editora Ícone – 1995
-         Cromoterapia – A cura através das Cores – Reuben Amber  Ed Pensamento – 1983
-         Cromoterapia Técnica – Renê Nunes Editora LGE – 1987
-         Dinâmica da Cromoterapia – Renê Nunes    Editora LGE – 1998
-         Conceitos Fundamentais de Cromoterapia – Renê Nunes   Editora LGE – 1995
-         Compendio Científico de Cromoterapia – Renê Nunes Editora LGE – 2001
-         Cromoterapia Aplicada – Renê Nunes  Editora LGE – 2003
-         Cromoterapia – A Cura Através da Cor – Renê Nunes Editora LGE – 2002
-         Mãos de Luz – Barbara Brennan Editora Pensamento – 1987
-         A Cura pelas Mãos – Richard Gordon Editora Pensamento – 1978
-         Chákras– Centros Energ de Transformação – Harish Johari Ed Bertrand Brasil – 1990
-         Milagres da Cura Prânica – Choa Kok Sui Editora Ground – 1998
-         Atlas Universal Enciclopédico de Anatomia Humana – Volume I, II e III  Eduardo Marcelo Souza - Editora Forest Hills  - 1989
-         Anatomia Humana – Prives – Tomos I e II Editora MIR – 1973
-         Medicina Homeopática – Humberto Machado Editora Hemus – 1995
-         Medicina Mitos e Verdades – Carla Leonel   Editora CIP – 1996
-         Manual Merck Sharp & Dohme de Informação Médica. Candeias – Ed Manole - 2002
-         A Trilogia das Cores – Ondina Balzano Guimarães Ed Artes Gráficas Doberman – 1995
-         Dicionário de Física Ilustrado – Horácio Macedo




[1] Estudos evidenciam que o autismo afeta entre 3 e 4 vezes mais meninos que meninas e que é muito mais provável que gêmeos idênticos tenham autismo do que gêmeos fraternos ou irmãos.
[2] Até hoje não se sabe corretamente a ou as causas que provocam a sua manifestação, existindo inúmeras possibilidades sendo pesquisadas, que vão desde características hereditárias, cromossômicas, a possíveis contaminações por mercúrio.

[3] Foi Bleuler que deu o nome de esquizofrenia (schizo,dividida + phrene,mente) à doença anteriormente conhecida por dementia praecox, (demência precoce) ao compreender que ela não era uma demência exclusiva de indivíduos jovens.
[4] A palavra síndrome é derivada do grego (syndromé = reunião, concurso), que na medicina traduz-se por estado mórbido (enfermo, doente, relativo à doença) e se caracteriza por um aglomerado de sintomas e sinais clínicos, podendo resultar de mais de uma causa. Síndrome não é uma doença, mas sim uma condição médica. A palavra doença é oriunda do latim (dolentia = padecimento), que significa que há um distúrbio das funções de um órgão, da psique ou do organismo como um todo que está relacionado a sintomas específicos.
[5] Atualmente o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2013) descreve casos em que a Síndrome de Asperger é considerada como um Transtorno do Espectro Autista, classificando-a como Autismo Leve (nível 1)

[6] Ph sanguíneo abaixo de 7,0 (ácido) induz o individuo ao coma e, acima de 7,7 (alcalino), pode desencadear crises epiléticas.
[7] Circunvolução fusiforme (superfície ventral do lobo temporal) são as concavidades e saliências que o cérebro possui. Em animais com capacidade cerebral mais desenvolvida, o córtex forma sulcos para aumentar a área de processamento neuronal, minimizando a necessidade de aumento de volume.
[8] Submetida a um processo de stress, a amígdala feminina se mostra maior do que a masculina.
[9] A agenesia (ausência ou redução) do corpo caloso não representa um perigo de vida, mas é capaz de causar grandes debilidades ao indivíduo. Normalmente, os primeiros sintomas são caracterizados por convulsões, dificuldades de alimentação e atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor
[10] [10] A Síndrome de Williams também conhecida como síndrome Williams-Beuren é uma desordem genética que, talvez, por ser rara, frequentemente não é diagnosticada. Sua transmissão não é genética. Sabe-se que ela acomete ambos os sexos e, na maioria dos casos infantis (primeiro ano de vida), as crianças têm dificuldade de se alimentar, ficam irritadas facilmente e choram muito. A doença é caracterizada por "face de gnomo ou fadinha”, nariz pequeno e empinado, cabelos encaracolados, lábios cheios, dentes pequenos e sorriso frequente. Estas crianças normalmente têm problemas de coordenação e equilíbrio, apresentando um atraso psicomotor. Seu comportamento é sociável e comunicativo e elas utilizem expressões faciais, contatos visuais e gestos em sua comunicação, ou seja, praticamente o oposto do autismo.

[11] Alcmeão, em grego Ἀλκμαίων, foi um médico e filósofo pré-socrático grego, originário de Crotona, uma comuna italiana da região da Calábria, que viveu no século V a.C., considerado como um dos mais importantes discípulos de Pitágoras, interessado especialmente pelos assuntos ligados à psicologia e à cosmologia. Estudioso da imortalidade da alma, é tido como tendo sido o primeiro a defendê-la de uma forma argumentativa. Dedicado à medicina e às investigações das ciências naturais, foi o primeiro a realizar uma dissecação de um cadáver humano, desenvolvendo uma teoria acerca da origem e dos processos fisiológicos das sensações, sugerindo que os sentidos estariam ligados ao cérebro, ao qual também associou as funções psíquicas, inferindo, também, que nele está a sede do pensamento. Chegou a esta conclusão ao descobrir que certas vias sensoriais (ramificações e terminações nervosas) terminavam no encéfalo. Pioneiro da embriologia, pode ter sido ele, também, o primeiro descobridor das trompas de Eustáquio.
[12] A dopamina é um neurotransmissor (substância química que permite e regula a transmissão de impulsos nervosos entre os neurônios) monoaminérgico, da família das catecolaminas, que desempenha uma série de funções, incluindo o prazer, recompensa, movimento, memória e atenção.
[13] Andrógeno é o termo genérico para qualquer composto natural ou sintético, geralmente um hormônio esteroide que estimula ou controla o desenvolvimento e manutenção das características masculinas em vertebrados. Isso inclui a atividade dos órgãos sexuais masculinos acessórios e o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas. Os andrógenos, que foram descobertos em 1936, também são chamados de hormônios androgênicos ou testóides, de onde deriva o termo testosterona.
[14] Formar juízos significa identificar ou somar predicados ao sujeito. Juízos, que podem ser analíticos (quando o predicado está no próprio sujeito) ou sintéticos (quando o predicado é aderido ao sujeito), que podem ser melhor compreendidos se os estudarmos a partir de Immanuel Kant (1724/1804), considerado o maior filósofo do iluminismo, que operou na epistemologia, uma síntese entre o racionalismo e a tradição, colocando que “são os dados na experiência que fornecem os primeiros passos para o conhecimento”. Dados que são obtidos através de duas formas puras, a priori (independentes da experiência) e que fazem parte do sujeito, o espaço e o tempo, pelos quais o entendimento recebe os dados da experiência, elabora juízos, conceitos e os classifica segundo doze categorias: As da quantidade, que podem ser universais, particulares ou singulares; as de qualidade, que podem ser afirmativas, negativas ou infinitas; as de relação, que podem ser categóricas, hipotéticas ou disjuntivas; e de modalidade, que podem ser problemáticas, assertóticas (interpretativas) ou apodíticas.