quarta-feira, 27 de maio de 2015

QUANDO AS BOMBAS CAÍREM


Acordando de madrugada, primeiramente para aliviar a bexiga e depois, aproveitando o momento, para tomar meu remédio de controle da tireóide, como costumo fazer diariamente, ponho-me a refletir sobre as coisas do mundo, enquanto o sono não vem.
Coisas de quem está ficando velho e, como tal, hoje não poderia ser diferente.
Olhando as postagens no Facebook, esperando encontrar alguns "bom dia" publicados por madrugadores como eu, esperando o nascer do Sol, fui surpreendido com mais uma imagem de decapitações promovidas pelo autodenominado Estado Islâmico.
A barbárie das barbáries.
Nada pior, em verdade, do que as bombas jogadas sobre a população civil como ocorre diariamente em zonas de conflito, ou como os naufrágios que já deixaram de ganhar destaque da mídia, ceifando vidas no Mediterrâneo.
É que estas decapitações têm "nomes e endereços", referem-se a pessoas,  o que as tornam particulares; enquanto as outras tragédias, embora humanas, assumem um caráter universal, impessoal.
Na sequência, li uma notícia sobre o pseudo apoio militar que a Russia e a China dariam ao governo da Venezuela, no caso de uma agressão norte-americana.
Mais que uma bobagem, esta notícia teve, como a outra, a consequência de tentar estragar meu dia, tal qual as nuvens que cobrem o céu desta manhã, escondendo o manto dourado do astro rei, que teima em mostrar-se.
Vã tentativa.
A simples lembrança de minhas netas brincando já é suficiente para alegrar meu dia e me colocar, desperto, pronto para mais uma jornada de trabalho.
O "distritão" não foi aprovado; a greve dos metroviários foi postergada para uma próxima semana; e por aí vai.
Também boas notícias.
No entanto, não posso deixar de pensar que, longe dos holofotes, avizinha-se um grande perigo, travestido de "boas novas", ainda não divulgado e que passa desapercebido da grande maioria das pessoas.
Falo do expansionismo chinês que, no hemisfério Sul já conquistou a África e que, cruzando os mares, alcançou a América e nela, o nosso Brasil.
Diferentemente dos anglo-saxônios e seus descendentes, dos celtas e germânicos, belgas ou ibéricos, os chineses preocupam-se não apenas com a exploração dos recursos naturais, como faziam os capitalistas citados, mas também com uma ocupação territorial necessária para acomodar sua gigantesca população. 
Diferentemente das "garras da águia americana" que arrancam rapidamente a carne e depois largam a carcaça, os tentáculos do "polvo asiático" prendem a presa e sugam, lentamente, todo o líquor vital, promovendo uma morte ainda mais dolorosa.
Os chineses são famosos pela paciência e pelo planejamento secular.
Vide o tempo que gastaram para fazer um "muro".
A conquista do hemisfério Sul, tornará a guerra inevitável, pois, diante da escassez de recursos, o norte, dividido em várias potências, atacará.
Não agora, mas atacará.
Minhas netas, ou quiçá as netas delas, verão.
Precisamos pensar um pouco sobre isso.

Professor Orosco.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

SOBRE A ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO


         O presente trabalho tem por finalidade fazer uma apresentação dos conceitos de ética, a partir da civilização grega, chegando aos dias atuais, com a descrição de sua aplicação em um “lócus” específico, em ambiente laboral, no caso, no serviço público.

            Para os gregos, que deram origem à filosofia e com ela, os estudos acerca do homem, que definiram o logos como aquilo que diz o que o ser é, sendo lógico e demonstrativo; a physis como a natureza manifesta como potência autônoma, aquela que dá ordem ao mundo; o ethos, como o fenômeno constitutivo do homem, aquilo que o torna humano, que define o seu agir e o que lhe permite viver em um ambiente com sentido, dando-lhe projeção de futuro; o echos¸ como a casa, a morada do homem como síntese lógica da physis e do ethos, colocava-se um dilema entre conciliar a necessidade, a universalidade e a racionalidade da razão com a liberdade na particularidade.
            Em saber se era possível entender a Ética (do grego ethike pragmateia) como uma ciência.
            Conseguiram estabelecer um caminho para esta conciliação, desenvolvendo o conceito de Bem, e a partir dele, do Bem Supremo, entendido como suficiente e autossuficiente, o que Aristóteles veio chamar de Eudaimonia, que só poderia ser alcançada na virtude.
            Uma virtude que representa a verdade e que somente poderia ser alcançada quando o homem descobrisse o Daimon dentro de si, o sinal de Deus no homem, que o obriga a evoluir.
            Segundo Platão, este Bem Supremo, Uno e Múltiplo, que metaforicamente poderíamos associar a um imã (só é Uno porque é Múltiplo, porque é simultaneamente grande e pequeno), trazia sob si, Bens menores, coadjuvantes e instrumentais que segundo Aristóteles seriam pré-requisitos para alcançar a felicidade.
            Uma felicidade que não pode ser entendida senão como atividade, como algo vivo e integrante, simbioticamente, da vida do ser humano.
            Uma atividade desejada por si mesma, consistindo em uma sabedoria prática (phrónesis) e uma sabedoria teórica (sophia), em um esforço consciente para alcançar o ser plenamente humano e realizar, da melhor forma possível, sua essência.
            Assim, este saber ético que, no homem, carrega em si, todas as características do ethos: da sua dimensão individual e social (costume e hábito); da sua morada (oikós) que simbolicamente o acolhe espiritualmente e lhe dá significação humana; da tradição, transmitida de geração em geração; da historicidade, não como grandeza cultural, mas como algo que muda com o tempo, como a própria cultura; da dialética que, associada à tradição e à historicidade, como uma inter-relação que aparece como constitutiva do fenômeno ético e que define os costumes nas relações sociais entre os homens; do bem como um telos, uma finalidade que lhe confere uma significação plenamente humana e da educação, que transmite àqueles a quem se ama, uma forma permanente do agir do costume para uma forma particular do hábito, acaba por estabelecer as condições necessárias para que a ética se transforme em ciência, uma ciência do ethos.
            Assim, a partir da concepção do homem, na cultura grega, de que ele podia escolher, percebendo-se livre e tendo esta liberdade assegurada pelo cumprimento da lei (nomos), que regula e dá forma aos costumes; garantidora do indivíduo e da sua diferenciação na natureza, do outro, tendo por base a antropologia e a metafísica, o antes e o depois, o que era e o que deseja ser, num primeiro momento, pelo método fenomenológico, que direciona o olhar do observador para o objeto e num segundo momento, consciente de que o ethos tende ao bem, encontrar sua logicidade e racionalidade, e dizer, sua demonstrabilidade, universalidade, necessidade e regularidade. Consegue-se estabelecer a ética como ciência do ethos.

LÓCUS ÉTICO: SERVIÇO PÚBLICO

            Já há bastante tempo, desde a década de 80, no século passado, a discussão da ética nas organizações passou a ser uma exigência da sociedade que passa a cobrar, cada vez mais, posturas que visem o bem-estar do cidadão.
            Na organização pública, a sociedade espera que os serviços disponibilizados sejam eficientes e que os servidores atuem em conformidade com o interesse público, administrando os recursos públicos de forma apropriada com os fins propostos.
            E dizer, os valores éticos que constituem a base comum da administração pública são: eficácia, transparência, qualidade e experiência, imparcialidade e independência, confiança, igualdade e responsabilidade.
            Neste processo organizacional o servidor público é uma peça fundamental, pois, é por meio dos seus agentes que o serviço público de fato se concretiza.
            Como os servidores possuem individualmente suas próprias crenças e valores, no âmbito da organização é importante que sejam delineados os princípios norteadores que servirão de suporte para elucidar os possíveis problemas e divergências que possam surgir.
O bom funcionamento das organizações requer, portanto, o desenvolvimento de pessoas capacitadas para agir com transparência e praticar condutas éticas, o que se dá por meio de um código de ética, de conhecimento de todos que, compreendendo-o saibam aplicá-lo.
Diferentemente das organizações privadas, que primam pelo lucro, no serviço público, que tem por bem atender aos anseios de uma população, indiferentemente de classe econômica ou posição social, este código de ética é regulamentado por lei.
Diferentemente das organizações privadas, que gozam de uma liberdade negativa, onde tudo aquilo que não é proibido por lei pode ser uma atividade permitida, no serviço público, só é permitido executar atividades reguladas por lei, ou seja, nada pode ser feito se não estiver explicitado em lei.
Essa aparente dicotomia se explica pelo fato de que todos os gastos públicos são estabelecidos a partir de um orçamento, que pode ser contingenciado, segundo o resultado arrecadatório em determinado momento, diretamente pelo poder executivo, sem maiores explicações, o que não se dá na suplementação de verbas, ainda que em questões de extrema relevância, necessitando, sempre, da autorização do poder legislativo.
Existe um Tribunal de Contas específico para controlar isto. Um tribunal que afere, ou deveria conferir, de forma eficaz, as contas orçadas e os desembolsos efetivamente realizados.
O desconhecimento deste fato, que causa estranheza pelo munícipe em geral, muitas vezes é confundido com morosidade, pouco empenho, desinteresse ou motivações de ordem política para promover ou não determinadas ações.
Exemplificando:
A compra de uma simples caneta, que não esteja prevista dentro da dotação orçamentária para a compra de materiais de escritório de uma determinada secretaria, não pode ser realizada, e quando pode, não pode ser realizada sem o devido processo que autorize e justifique a transferência de recursos de uma rubrica para outra.
Da mesma forma, o reparo em uma ponte que apresentou falhas estruturais, ainda que necessário, não pode ser feito sem o devido processo licitatório, que só pode ocorrer quando da liberação da dotação orçamentaria para este fim.
Outro exemplo, ainda mais gritante é a recente proibição de remoção de pessoas feridas do local do acidente, por agente público (policial) para atendimento em caráter de urgência, o que só pode ser feito por equipe de paramédicos treinados para isso, sob a alegação de que, por imperícia, poder-se-ia causar dano maior.
Os poderes executivos, de maneira geral, lutam com extrema persistência para conseguir manipular parte destes recursos sem tenta burocracia, alegando governabilidade, enfrentando, por sua vez, em contrapartida, igual ou maior empenho do poder legislativo para que não o faça, dada a possibilidade de desvios de finalidade ou de manipulação com interesse político das verbas públicas.
Outra característica do funcionalismo público, que geralmente passa desapercebida da população pagadora de impostos, é que, na verdade, existem dois tipos de funcionários públicos: os admitidos por concurso público, que tem estabilidade e os em cargos comissionados, que são admitidos sem este direito à estabilidade, para implementar políticas públicas segundo os interesses e programas dos partidos eleitos e mandatários do poder.
De maneira geral, cabe aos concursados executar as tarefas administrativas e operacionais segundo os ditames estabelecidos pelos comissionados, desde que tais ordens não venham a ferir preceitos legais, ou seja, são os concursados com estabilidade que garantem o fiel cumprimento da lei, zelando pela eficácia, transparência, qualidade e experiência, imparcialidade e independência, confiança, igualdade e responsabilidade.
Cabe aos comissionados, elaborar alterações nos procedimentos operacionais, desde que não venham a ferir os preceitos legais, de modo que possam inovar ou apresentar novos modelos de gestão.
Vale ressaltar que, normas subjetivas têm forte influência sobre as intenções de comportamento antiético, pelo que é, cada vez mais importante, que as organizações tomem medidas para melhorar as atitudes de seus funcionários.
No Brasil, o Código de Ética dos Servidores Públicos é regulamentado pela lei federal 8.027 de 12 de Abril de 1990, elaborado pela única mulher a ocupar a Secretaria da Fazenda no Brasil, a Senhora Zélia Cardoso de Mello, e assinado pelo presidente à época, Fernando Collor de Mello.
Este código, cita, por exemplo, em seu artigo segundo que:
São deveres dos servidores públicos civis:
I – exercer com zelo e dedicação as atribuições legais e regulamentares inerentes ao cargo ou função;
II – ser leal às instituições a que servir;
III – observar as normas legais e regulamentares;
VII – guardar sigilo sobre assuntos da repartição, desde que envolvam questões relativas à segurança pública e à sociedade.


Professor Orosco.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Antônio de Castro Caeiro. São Paulo: Atlas, 2009.
PLATÃO. A República. Trad. Leonel Vallandro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
REALE, Giovanni. Para uma Nova Interpretação de Platão. Trad. Marceleo Perine. 2.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004
VAZ, Henrique C. de Lima. Introdução à Ética Filosófica 1. 6.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012
WOLF, Ursula. A Ética a Nicômaco de Aristóteles. Trad. Enio Paulo Giachini. 2. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013


terça-feira, 19 de maio de 2015

A FORÇA DE UM SLOGAN


Participando de uma palestra na Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos, tive a oportunidade de presenciar um interessante debate sobre os temas ligados à Religião e Educação, isto dentro de um contexto histórico e político, já que o Slogan do atual governo é o “Pátria Educadora”.
Uma Pátria Educadora que lança cães raivosos contra professores ainda mais raivosos.
Uma Pátria Educadora onde sacrifica-se mais de dois meses do período letivo em um movimento grevista, sabidamente político, onde os professores têm consciência de que o governo precisa respeitar um orçamento, ainda que este contemple obras faraônicas ou propinodutos, sacrificando os alunos que, por sua vez, festejam ao som do Funk, a extensão do período de férias.
Uma Pátria Educadora que, a exemplo de um artigo que publiquei em meu blog, aceita e perpetua uma Escola como Reprodutora das Desigualdades Sociais, como foi tão bem descrita por Pierre Bourdieu.
Uma Pátria Educadora que se vale de um slogan, desconectado da realidade, como foram os famosos slogans adotados no recente período da ditadura militar em nosso país, que alguns sonham em reviver, ou melhor viver, pois não acredito que quem tenha vivido à época queira reviver aquele período muito bem representado por um silogismo aristotélico, como bem lembrou o Professor Dr. Leonildo Silveira Campos, o palestrante de hoje:
O primeiro governo militar dizia:
O Brasil à beira do abismo.
O segundo governo militar dizia:
Brasil, um passo à frente.
Só poderíamos ter como conclusão, o slogan do terceiro governo militar que dizia:
                                                           Ninguém segura este país
            Uma Pátria Educadora, onde tanto a Igreja quanto a Escola não percebem que o problema está na Família que dia a dia se dissolve auxiliada por uma mídia que serve ao Capital e que incentiva um consumismo desprovido de sentido moral, onde os pais abdicaram da educação dos filhos, oferecendo-os em holocausto ao Deus do Mercado
            Uma Pátria Educadora que não segue a premissa que reproduzi de Albert Schweitzer : Dar o exemplo não é a melhor forma de Educar, é a única.

Professor Orosco





sábado, 16 de maio de 2015

RESENHA E COMENTÁRIOS SOBRE A SEGUNDA CONFERÊNCIA DE NIETZSCHE NOS ESCRITOS SOBRE A EDUCAÇÃO


            O jovem professor se desculpa com o mestre por deixar-se influenciar por seus pensamentos reflexivos.
            O jovem professor reconhece sua imprudência ao tentar mudar o sistema, lamentando-se por haver perdido seu ímpeto reformista, declarando-se vencido, mas não arredando pé de suas convicções e ideais de mudança.
            O filósofo, reconhecendo o mérito do jovem professor, incentiva-o a não se deixar abater pelo sistema, informando-o de que não está só em seus reclamos, e que existem outros apenas aguardando o momento de se manifestar e promover a mudança de um método sabidamente ultrapassado.
            Alerta-o para o fato de que não deve esmorecer, pois embora existam outros, mesmo assim são raros no universo estudantil.
            O mestre alude ao fato de que a produção pedagógica, pobre de conteúdo, só é aceita por aquela maioria que se deixa dominar, mas que, se analisada por homens pensantes e críticos, não suportaria a confrontação e que, este modelo, cedo ou tarde ruirá, como consequência da fragilidade de seus alicerces, declarando que somente aqueles capazes de perceber sua fragilidade é que poderão realizar a transformação que se faz necessária, bastando apenas um, para que o movimento reformador se inicie.
            O jovem professor, sentindo-se desamparado e fraco para empreender tal mudança, solicita a ajuda do mestre para poder resistir em defesa de suas propostas, contra um inimigo de mil faces, que teima em perpetuar o sistema.
            Pede-lhe que o oriente, indicando-lhe o melhor caminho, para que possa empreender tal jornada, mostrando-lhe na base do ensino, o que precisa mudar.
            O mestre, concordando com o jovem professor, declara que, como em uma construção qualquer, só se pode edificar sólidas paredes se elas forem erguidas sobre um bom alicerce, no caso, o ensino fundamental, onde o desejo de aprender não foi conspurcado pelo sistema, e nele, começando pela língua mãe, no caso, o Alemão.
            É no ensino da linguagem que o estudante tem a oportunidade de libertar-se do senso comum, da educação de massas e, ainda que de maneira forçada, expandir seu vocabulário.
            Somente uma escola de qualidade, com o firme propósito de ensinar, é que pode levar o estudante a superar o senso comum, começando pela linguagem que lhe permitirá desenvolver ferramentas para o desabrochar de um pensamento crítico sobre as informações que receberá.
            É o rigor da língua que assegura ada cultura contra os falsos argumentos,
            Seria, na exortação deste gênero, que a escola deveria obrigar os alunos a compreenderem e interpretarem textos mais complexos, analisando os clássicos com o rigor requerido, de tal sorte que isto se transformasse em um hábito, cruel e fatigante para os menos hábeis e, deleitável e entusiasta para os melhores.
            Esta sim deveria ser a educação formal nas escolas, e não a atual, que mascara a informação e que serve para disseminar uma cultura baseada no senso comum, acusada de erudição quando, na verdade, só reproduz um saber vazio.
            Prova disto está na forma como a língua materna (alemão) é ensinada.
            A aceitação da evolução histórica da língua, desprovida de uma crítica real, acaba por promover sua destruição basilar, e é exatamente isto que precisa ser evitado, se desejamos realmente ter acesso à cultura.
            Não só na língua, mas em todos os campos do saber, onde falsas e soberbas pretensões reduzem e limitam o acesso ao verdadeiro conhecimento.
            O ensino da língua, apenas no seu aspecto formal, científico, em nada contribui para seu aprendizado pois, além de promover o terror nos alunos, priva-os da contemplação das grandes obras, do contato com o pensamento de grandes autores, que acabam, pelo modismo, relegados ao ostracismo.
            Os alunos acabam incentivados a produzir textos baseados em seu conhecimento pessoal, em suas vivências, o que empobrece o resultado, uma vez que os dão por acabados, quando na verdade seriam, apenas, iniciados.
            Diante da falta de maturidade e discernimento para tal empreitada, os alunos tendem a exaltar sua imaginação, sentindo-se libertos e ávidos por expressar suas opiniões, tecendo críticas ou elogios sobre todos os assuntos, o que lhes dá a chave para abrir a porta de um saber argumentativo.
            Os mestres, por sua vez, diante dos resultados, ao invés de criticar os excessos e os erros gramaticais, adotam uma postura censora sobre sua autonomia para tratar dos temas abordados nas composições, denunciando sua vaidade e presunção, mostrando-lhes que pouco ou quase nada sabem acerca dos assuntos tratados, delimitando-lhes a área de atuação, o que inibe no aluno, o desejo de ousar, tornando a mediocridade do senso comum, uma regra a ser seguida.
            Existem, ainda, aqueles que consideram este método um absurdo, pois ele exige uma originalidade incompatível com a idade dos alunos, supondo-se que tenham uma cultura formal que a maioria não alcançou.
            No ginásio (escola fundamental), supõe-se que o aluno seja capaz de escrever e explicitar corretamente suas opiniões, embora o correto fosse discipliná-lo sobre a égide dos escritos clássicos, evitando, assim, a soberba que vai entorpecer seu espírito e torna-lo refém do senso comum.
            Poucos sabem que, dentre muitos, apenas um conseguirá se fazer realmente entender pela escrita, ficando os demais presos na mediocridade, onde o ensino formal, contrapondo-se ao deixar fazer, que permite a barbárie, precisa impor seu rigor, sem o qual o ensino da língua mãe (alemão) será tido como um mal necessário, que distancia a escola da tarefa de oferecer acesso à verdadeira cultura.
            Esta deficiência no ensino da língua demonstra o equívoco na formação fundamental, que pode ser medida, quando comparada à seriedade com a qual os gregos e os romanos a tratavam desde a adolescência.
            A vã tentativa de implantar uma “cultura clássica”, em verdade se mostra uma artimanha para mascarar o real compromisso de ensinar para a cultura.
            O próprio termo “cultura clássica” adotado no fundamental, traveste o fracasso da proposta, já que a “cultura clássica” extrapola, em muito, este estágio da formação acadêmica.
            A cultura clássica, cultura formal e cultura que forma para a ciência, três pretensos objetivos do ginásio, no que concerne ao ensino da língua alemã, são, na verdade, termos que se usam para mascarar a solução do problema, uma vez que não realizam seu propósito verdadeiro.
            E dizer, no ensino fundamental, em faltando o primeiro objeto de estudo, a língua materna, falha-se na tentativa de consolidar a cultura, que permitiria aos estudantes compreender as grandes obras.
            É somente pelo ensino formal, argumentativo, que se pode evitar cair na linguagem comum, oferecendo aos estudantes as condições para que possam analisar e compreender os textos.
            Todos aqueles que realmente desejarem aprender precisam, como um soldado, disciplinar-se em suas tarefas, a tal ponto que isto se torne um hábito.
            A maioria dos escritores não aprendeu a expressar-se de forma argumentativa que a cultura verdadeira exige, pelo que, não são boas referências.
            Reconhecemos, portanto, o fracasso do modelo adotado no ensino fundamental, que não consegue fornecer as bases necessárias para implementar o acesso a uma cultura verdadeira, de obediência à forma, uma vez que propaga o senso comum, ao qual a maioria dos autores atuais foi rebaixado.
            A verdadeira cultura clássica, que prima pelo uso correto e habitual da língua evidencia o quão difícil é que alguém consiga fazê-lo por suas próprias forças, pelo que precisam socorrer-se junto aos grandes mestres (Goethe, Schiller, Lessing e Winckelmann) para alcança-la.
            É a obediência à forma, como era na Antiguidade grega, com a ajuda dos grandes mestres, dos clássicos alemães, que nos permite alcançar a cultura verdadeira.
            Deste cuidado, no ensino fundamental, se observam apenas vestígios transmitidos pelos professores, que não alcançaram, eles mesmos, o conhecimento.
            A percepção do helenismo clássico é tão rara que somente por uma incompreensão grosseira se pode almejar realiza-la no ensino fundamental, onde a idade dos alunos não permite sua compreensão, apresentando-se seus personagens como se fossem mitológicos.
            Com isso, perde-se a oportunidade de apreciar e compreender os clássicos gregos, de valorar suas esculturas, etc.
            Paradoxalmente, a obediência à forma e à gramática que se observa no ensino das línguas antigas, no ensino fundamental, não é a mesma que se dá para a língua materna, à qual se procurar dar um sentido mais prático.
            Da mesma forma, este viés cientificista do ensino fundamental, que lançou uma luz esclarecedora na cultura das humanidades, outrora levada a sério, na época dos raros Alemães verdadeiramente cultos, que se preocupavam em consagrar, no ensino fundamental, preocupar-se em oferecer uma cultura nobre e superior.
            Esta reforma planejada e implementada no ensino fundamental, não alcançou os próprios mestres, pelo que não alcançou o objetivo desejado, dando-se maior ênfase à erudição que, por sua vez, tomou o lugar da cultura verdadeira, basicamente por acreditar-se que se podia alcançar o mundo da cultura grega sem o rigor da língua alemã.
            Torna-se, portanto, mister, resgatar o cuidado com a língua e com o espírito alemão, escondido sobre os escombros do senso comum, seu verdadeiro inimigo, influenciado por estrangeirismos, principalmente franceses, bradando que “alemães não são e nem serão franceses”.
            É por esta razão, afirma o mestre ao jovem professor, que é necessário nos apegarmos ao espírito alemão que se revelou na Reforma e na música, que provocou esta força tenaz, ousada e rigorosa da filosofia, arrastando para a luta uma escola de ensino fundamental comprometida com a verdadeira cultura, despertando o nativismo purificador do pensamento alemão, que tem, na cultura grega, o apoio necessário para cruzar o rio da barbárie.
            Enquanto não o fizermos, não lograremos êxito.
            Esta é a triste situação em que se encontra o nosso ensino fundamental.



Professor Orosco

sexta-feira, 15 de maio de 2015

RESENHA E COMENTÁRIOS SOBRE A PRIMEIRA CONFERÊNCIA DE NIETZSCHE NOS ESCRITOS SOBRE A EDUCAÇÃO


Nietzsche, ao iniciar sua apresentação, alerta sobre o problema das escolas na Alemanha, de caráter formativo, chamando a atenção para o fato que não existem propostas colocadas para sua solução.
Coloca que os ouvintes esperam que ele proponha uma solução, convidando-os a dividir consigo, pontos de vista que “ouviu” de uma conversa sobre o assunto.
Nietzsche coloca a todos os interessados na resolução do problema, que muitas das respostas já são conhecidas, estando apenas esquecidas.
Coloca aos ouvintes que, para começar a compreender o problema, é necessário observar o perfil dos estudantes, que se mostram, ao mesmo tempo, ávidos por melhorias em um mundo que se apresenta caótico e, desinteressados pelos modelos vigentes propostos para sua solução.
Coloca também que os alunos, assim como ele quando jovem, desejam experimentar, colocar suas opiniões e submetê-las às criticas de seus pares.
Neste ponto, seus comentários trazem à minha mente o filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, de 1989. Dirigido por Peter Weir e que teve como protagonistas o professor Keating, interpretado por Robin Williams, e jovens atores (Robert Sean Leonard, Ethan Hawke e Josh Charles) que representavam os estudantes.
Nietzsche coloca que este modelo ganhava comprometimento e envolvimento dos participantes, ainda que de modo informal.
Coloca, também, que este modelo, por sua vez, já reproduzia o modelo formal de ensino, ao impor regras para sua realização.
Coloca que a alegria do processo consistia exatamente na irreverência permitida aos participantes, ainda que o ritual para as reuniões fosse mantido.
Este contato com a natureza (liberto do espaço tradicional) e o modelo da reunião também permitia espaço para um processo reflexivo.
Nietzsche coloca a ideia de que a escolha do lugar para a reunião precisava contemplar o prazer dos estudantes, permitindo-lhes “relaxar para refletir”.
            Nietzsche coloca que, para direcionar o trabalho reflexivo dos alunos, antes, tornava-se necessário oferecer-lhes um alvo, metaforicamente simbolizado pelo carvalho caído (modelo formal de ensino) contra o qual devem dirigir suas críticas, reconhecendo, de antemão, que o sistema vigente reage contra estas tentativas de mudança.
            Nietzsche coloca que esta repressão se dá muito mais por desconhecimento de causa do que por desejos de manter a tradição, cujos méritos eles (os conservadores) entendem serem “aceitos por todos”.
            Nietzsche coloca quer esta posição autoritária desperta, nos estudantes, um movimento de revolta, já que não são compreendidos em seus anseios.
            Alerta para o fato de que esta revolta manifesta dos estudantes, é entendida (pelos mestres) como “coisas de crianças” , um problema que o tempo se incumbirá de corrigir.
            Os jovens, ao insistirem no seu caminho rebelde, provocam perplexidade nos defensores do modelo tradicional, que não conseguem compreender o desejo dos alunos.
            Diante do impasse, os mestres que adotam uma postura consensualista, por sua vez, tendem, por hábito, defender propostas conservadoras.
            Diante da perplexidade dos alunos que nada veem de equivocado nas suas ações, os consensualistas tentam defender as posições conservadoras de uma sociedade já estruturada e que não vê com bons olhos este movimento libertador e revolucionário.
            O reconhecimento do temor revolucionário, por sua vez, só faz reforçar, nos alunos, o desejo por mudanças.
            E, para os alunos, esta insistência em defesa da formalidade, só reforça sua posição radical por desejo de mudanças, embora os force a tolerá-la.
            Esta tolerância, aceitação forçada do modelo tradicional, por não encontrar eco entre os alunos, provoca sua alienação e o seu descomprometimento com a educação formal.
            Tal posição faz que, vez ou outra, o modelo rebelde aflore, ainda que mascarado, já que, para os estudantes, não há erro.
Por sua vez, estes rompantes juvenis acabam sendo tolerados pelos conservadores que nada veem de ameaçador, como rompantes, ao sistema.
Os conservadores, para buscar a aceitação dos alunos, valem-se da máxima de que, também eles, já foram jovens e alunos.
Aos consensualistas, esta pseudo abertura concedida aos estudantes, basta por si, e mascara uma ideia conservadora, dando-lhe um aspecto progressista.
Nesta aparente calma, com os espíritos desarmados, tenta-se estabelecer um diálogo entre as partes, onde os jovens apresentam suas dúvidas e temores.
Diante destas dúvidas colocadas, os conservadores, jocosamente riem-se dos alunos e duvidam de sua capacidade de compreender o que realmente anseiam, o que provoca decepção e evidencia a distancia entre as propostas, entre a oferta e a procura.
Diante da inconsistência manifesta pelos alunos, que “não sabem o que precisam saber” (se soubessem não seriam alunos), os conservadores insistem na obediência à forma tradicional de ensino, como maneira de assegurar a transmissão do conhecimento, dando ao tempo a tarefa de fazer-se compreender.
Estabelecida a trégua, o caminho dicotômico se coloca a ambos e, travestido de aparente calmaria, nada, de fato, pode considerar-se que foi aprendido pelas partes, que seguem propostas separadas, sem uma síntese possível.
Este caminho particular, alienado e desconectado do conjunto formal de saberes, acaba por consolidar, nos alunos, a exclusão e a negação do acesso aos conhecimentos que lhes seria devido.
Nesta liberdade acadêmica, defendida pelos estudantes, onde nada do que é solicitado pela sociedade organizada e formal é aprendido ou ensinado, a sensação de realização torna-se presente e institui-se, formalmente, a alienação do estudante no mundo real.
Diante da realidade imposta pelo mundo, apresenta-se, então, ao aluno, de forma inconteste, a necessidade do conhecimento formal, técnico, despertando tardiamente nele, o desejo de aprender.
Pouco, dentre muitos, realmente alcançarão este estágio, sentindo-se frustrados e lamentando-se pelos anos perdidos, onde as oportunidades de obter o conhecimento necessário para a sua profissionalização, a técnica, passaram ao largo, evidenciando a fria realidade do mercado, onde só alguns privilegiados alcançam o sucesso.
É esta descoberta que desnuda a real intenção do sistema educacional que, travestido de democrático e pluralista, na verdade só faz reproduzir e consolidar as desigualdades entre os homens.

Neste ponto, faz-se mister repassar a posição defendida por Pierre Bourdieu sobre “o papel da escola na reprodução e legitimação das desigualdades sociais”, conforme artigo que publiquei em meu blog aos 27 de julho de 2013.

É esta descoberta que revela e indica o longo e árduo caminho necessário para alcançar o conhecimento, explicando em parte, o porquê de muitos alunos preferirem recostar-se à sombra de uma árvore do que caminhar pelo escaldante Sol do saber.

Humildemente o estudante, reconhecendo sua presunção, reconhecendo a necessidade de uma educação formal, coloca aos mestres que o motivo de seu pouco interesse se devia aos modelos propostos pela educação formal, que ele define como “tendência à extensão” e a “tendência à redução”, ambas, aparentemente opostas, ampliando ou reduzindo a própria cultura, buscando suas ambições mais elevadas ou abandonando-as e submetendo-a a interesses menores, do Estado, por exemplo.

A extensão entendida como promotora de uma cultura utilitarista que visa colocar o homem a serviço do modelo econômico vigente, capacitando-o tão e somente o necessário para que possa alcançar o sucesso num mundo cada vez mais competitivo, onde, nesta proposta, os conceitos que visem promover a introspecção e a reflexão sobre temas não ligados ao seu desenvolvimento profissional são suprimidos do processo educacional e, de certa forma, proibidos.

Neste ponto, o próprio modelo formal reconhece que a massificação da cultura tem um caráter inversamente proporcional à sua qualidade, enquanto cultura, e o faz, atendendo aos interesses de uma sociedade cada vez mais competitiva.

- Se todos forem médicos, advogados, cientistas ou engenheiros, quem plantará as batatas?

Percebe-se também que, a extensão e a ampliação da cultura a todos por seu caráter generalista prestam-se, em alguns países, a defender uma postura laica da educação, afastando-a de valores religiosos; em outros, esta extensão é utilizada como instrumento de manutenção de um Estado que precisa mostrar-se mais forte. não aceitando as críticas advindas de uma minoria realmente instruída.

Esta extensão da cultura, que promove a especialização e a particularização do conhecimento, servindo como mantenedora de uma sociedade consumista, acaba, ao final, reduzindo os “educandos” a meros operários especializados em funções laborais específicas e promovendo, neles, a alienação política que interessa ao sistema.

Em suma, a extensão e a ampliação da cultura, oferecida nas escolas formais, que produzem especialistas, acaba submetendo, como consequência direta desta proposta, a ciência e o conhecimento aos interesses do mercado.

Acaba, por fim, associada a um caráter informativo e jornalístico, adotando uma linguagem de massas, distanciando-se do erudito e do clássico, da cultura propriamente dita, formando uma “pseudocultura” que impede o desabrochar do verdadeiro pensamento crítico.

Diante de tais colocações, os próprios educadores, ainda que conservadores, frente aos resultados observados no desenvolvimento dos alunos, acabam por render-se às evidências.



Professor Orosco.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

POR DO SOL


Envelhecer, mais do que sucumbir às dores reumáticas e colecionar, quando se tem, cabelos brancos, é uma oportunidade para evoluir enquanto criatura consciente, capaz de criar o próprio Criador.
Parafraseando Platão, é a oportunidade de alcançar a Ideia do Bem, do Princípio supremo.
Ele dizia que, os Princípios supremos que conferem o sentido último às coisas são, na verdade, acessíveis ao homem só por meio de um tirocínio muito longo, ou seja, caminhando pela "longa via do ser", sem esperanças de encontrar atalhos.
É poder vislumbrar o por do Sol e encantar-se pelas horas claras deixadas para trás, no calor da juventude, preparando-se para contemplar o firmamento, que se ergue majestoso com seu véu estrelado.


Professor Orosco