sábado, 20 de dezembro de 2014

SOU OU NÃO SOU


Eu não sou o que vês
Tampouco sou aquilo que vejo
Sou aquilo que fui
Assim como
Sou aquilo que serei

Perdido entre o passado e o futuro
Reduzido a um breve momento
Infinitamente pequeno no tempo
Suficientemente grande para me definir

Carregando lembranças do passado
Projetando a esperança no futuro
Sou aquilo que fui
Assim como
Sou aquilo que serei

Professor Orosco.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

UM POUCO SOBRE O PENSAMENTO DE HEGEL


O Daisen, o ser existente, de Hegel, em sua obra Fenomenologia do Espírito, desenvolve-se como uma consciência em si (bewusstsein selbst), que através da história, alcança a consciência de si (selbstbewusstsein), percebendo-se conectado ao Geist (espírito) cósmico, ou Deus.
Isto em uma lógica que não tem consciência “de si” (selbst).
Mas que tem consciência “em si” (an sich)
Em uma razão (Vernunft) que, à medida que adquire consciência “de si” (pela história) evolui para uma consciência “para si” (für sich).
Em uma consciência para si que se traduz no Conceito (Begriff).
Esta plena consciência de si, contida no conceito, é, para Hegel, o fim da história.
Para ele, a abstração (teoria) era o distanciamento do ser e o conceito era o encontro com o ser.
Como em todo o particular (das bensodere), para Hegel, o ser em si, só pode existir mediante seu reconhecimento, corporizado por outros particulares, cuja somatória total se aproxima do universal.
Em outras palavras, no momento atual, poderíamos representar esta situação comparando-a com a Internet, a rede mundial de computadores, que funciona pela somatória de todas as CPU´s conectadas virtualmente a ela.
Assim, para alcançar a consciência de si, como não podemos interagir com a imagem do espelho, somos obrigados a interagir com outros conscientes de si (outras pessoas), e dizer, tomamos consciência do que não somos e isto nos auxilia a construir aquilo que somos.
Algo como a proposta defendida por Plotino nas Enéadas.

      Plotino entendia a parte inferior da alma como sendo aquela que exerce as atividades da alma animal, da sensação e do movimento; da alma vegetativa, que é o crescimento.
         A parte central, entendida como racional, que realiza seu discurso interior ou exterior no tempo, e a parte superior da alma, que exerce a atividade do pensamento puro, típica do intelecto.
         E dizer, como que acompanhando a linha de raciocínio de Aristóteles, Plotino privilegia uma apresentação hierárquica onde os níveis de realidade descem do Uno até a matéria, indo do Ser-Intelecto e da Alma aos corpos inanimados, ou seja, onde o efeito não está separado da causa, estando sempre em seu princípio.
      O “Um”, chamado frequentemente de “Bem”, “Deus” ou “Primeiro”, é o fundamento de todas as coisas, absolutamente simples e único, de onde tudo emana e para onde tudo deseja retornar.
         O ser humano, enquanto corpo, governado por uma alma provida de funções superiores (raciocínio e intelecto) ou inferiores (sensitivas e vegetativas) é verdadeiramente o ponto de encontro dos dois mundos tradicionais de Platão: o inteligível e o sensível.
          Plotino declara que a alma é como um universo inteligível. 
      Para poder tocar o “Um”, a alma deve despojar-se de tudo e abandonar o que caracteriza a inteligência para perder toda a forma, como objeto para o qual ela tende.
         Para Plotino, ainda que existam muitas almas, todas elas são uma só alma; uma alma que pode se tornar Intelecto, já que na sua parte superior, ela já é um intelecto.
                       
       Extraído de Artigo Publicado em meu blog em 12 de Julho de 2013

Hegel corrobora a ideia de que o sensível é apenas a representação do objeto (sua imagem), que não pode gerar o conhecimento do ser em si.
Este Geist universal, que ele chama de Absoluto, como não poderia deixar de ser, é maior que a soma de todas as partes e, aqui distanciando-se da proposta do cristianismo, Hegel afirma que ele só pode existir, corporizado nos particulares, também maiores que a soma se suas partes corpóreas uma vez que, além da alma, eles têm, também, a capacidade de expressar-se.
Este Geist universal, Absoluto, torna-se, assim, imortal, pela somatória de todos os processos finitos dos particulares que o compõem.
Nesta evolução histórica, se começarmos pela Grécia antiga, que, segundo Hegel, atingiu a unidade mais perfeita entre a natureza e a mais sublime das formas expressivas humanas, evidencia-se a necessidade de que esta unidade precisava morrer para que o homem desenvolvesse a razão rumo ao estágio de auto clareza, essencial para sua realização como ser radicalmente livre.

“A bela síntese grega tinha de morrer porque o ser humano necessariamente seria levado à divisão interior, visando seu crescimento. Em particular o crescimento da razão e, consequentemente, o da liberdade radical requeriam um rompimento com o natural e o sensível.
O sacrifício tinha sido necessário para que o ser humano desenvolvesse ao grau máximo a sua consciência de si e a sua autodeterminação livre. No entanto embora não houvesse esperança de retorno, havia esperança de uma síntese mais elevada, uma vez que o ser humano tivesse desenvolvido plenamente sua razão e as suas faculdades, síntese na qual ambas, a unidade harmoniosa e a plena consciência de si, seriam unidas.”
                Taylor, Charles. Hegel. São Paulo: ELD, 2014

Poderíamos, analogamente, associar esta ideia, não a um círculo perfeito, onde retornamos ao ponto de origem, mas a uma espiral, como na sequência de Fibonacci, onde o aprendizado pelo crescimento interior, nos aproximaria do Geist cósmico (Deus).

“Assim, enquanto a natureza tende a realizar o espírito, isto é, a consciência de si, o ser humano como ser consciente tende à apreensão da natureza, na qual ele a verá como espírito e em conformidade com seu próprio espírito.” 
    Taylor, Charles. Hegel. São Paulo: ELD, 2014

Assim sendo, figurativamente, “O Homem é aquilo que come!" 
Hipócrates, cerca de 460/370 a.C.

Hegel, neste ponto, é refutado por Feuerbach, que nega o conceito de que exista primeiro a ideia e depois a matéria (a maçã real precede a ideia de maçã), chegando este, a afirmar, em seus comentários, que Hegel descreve o homem de ponta-cabeça.
Para Hegel, continuando a evolução histórica, no mundo romano, o espírito livre do mundo grego, diante das exigências do Estado, havia sido destruído e o indivíduo só podia encontrar a liberdade recolhendo-se a si mesmo.

Quando o mundo natural é implacavelmente contrário a seu anseio por liberdade, como era o mundo romano, não existe uma saída no âmbito do mundo natural.
    SINGER, Peter. Hegel. São Paulo: Loyola, 2012
Segundo Hegel, a religião cristã, assumida oficialmente como religião do Estado, no ocaso do Império romano, “era especial porque Jesus Cristo era ao mesmo tempo um ser humano e o filho de Deus” (SINGER, 2012) o que inferia aos homens a noção de que, embora limitados, eles também eram feitos à imagem de Deus, levando-os ao desenvolvimento da “consciência de si religiosa”.
No entanto, para Hegel, este cristianismo mostrava-se estagnado, decadente, pois padecia da mesma estrutura burocratizada que o Estado tinha adotado para a administração das coisas públicas.
Isto fez com que ele se distinguisse dos românticos de seu tempo, que entendiam que a unidade entre a subjetividade e a natureza foi alcançada por intuição ou imaginação.
Para eles, a razão era vista como uma faculdade divisora, analítica, que apenas nos distanciava da união com a natureza.
A essa visão da relação do ser humano com Deus, Hegel contrapõe uma visão alternativa, cuja noção é “destino”, onde aquilo que sucede a nós fora do nosso poder, o que se nos acomete na história, deveria ser visto como uma reação que vem sobre nós devido à nossa própria infração contra a vida.
E dizer, percebendo que a separação em relação à natureza era essencial, porém inatingível, ele desenvolve uma nova perspectiva de história como o desdobramento necessário de um certo destino humano, onde, o crescimento da consciência de si leva o indivíduo a distinguir a si mesmo, dentro de sua comunidade, desejando a liberdade.
Ou seja, para que esta liberdade se constitua é necessário que existam condições preestabelecidas para isto, e, dentre elas, a necessidade de que o ser humano desenvolva uma consciência de si, o que o leva a tornar-se indivíduo, distinto de sua comunidade, tornando-se o seu próprio senhor.
Na perspectiva liberal, a liberdade pode ser compreendida como um conceito onde se pode fazer tudo o que se quer.
Ocorre que, com a oferta de novos produtos e de novos serviços, este querer se torna infinito e, por isso, a liberdade se torna inalcançável.
Assim sendo, Hegel vê que o ser humano só alcança a sua autonomia racional e autoconsciente separando-se da natureza, repudiando qualquer tentativa de retornar à unidade primitiva e, à medida que esta consciência racional cresce por si mesma, o seu modo de expressão desta consciência se altera.
Frente a isto, ele coloca que deve haver uma hierarquia nestes modos de expressão, onde o superior torne possível um pensamento mais exato.

Espécies inferiores de vida ostentam, por assim dizer, protoformas de subjetividade; porque elas mostram, em grau crescente, propósito, auto conservação como formas de vida, conhecimento do que as cerca. Em suma, elas se convertem cada vez mais em agentes e, a exemplo dos animais mais elevados, carecem unicamente do poder de expressão para serem sujeitos.
                Taylor, Charles. Hegel. São Paulo: ELD, 2014

Hegel admite, porém, que a tarefa de alcançar este conceito, o Absoluto, pela dialética, esbarra na necessidade física da razão humana estar presa e condicionada ao indivíduo, finito e com necessidades.
            Em outro contexto, no sistema filosófico de Hegel, dialético, que provoca a oposição entre o ser humano e o Estado, este desempenha um papel importante como corporificação do universal na vida humana.
Considerado como muito importante na formação do indivíduo, para ele, o Estado infere a ideia de que, por pertencer a ele o indivíduo já está vivendo para além de si mesmo, em alguma vida mais ampla, assumindo, assim, a posição de “verdade” enquanto expressão da razão universal na forma da lei.
Por conseguinte, nas suas formas mais primitivas, o Estado pode estar em oposição ao ser humano, que aspira ser um indivíduo autoconsciente e livre.
No entanto, para Hegel, o indivíduo deve chegar a ver a si próprio como o veículo da razão universal e, quando o Estado tiver chegado ao seu pleno desenvolvimento como corporificação desta razão, então os dois terão sido reconciliados.
Em sua conclusão, Hegel coloca que o indivíduo livre não pode realizar a si próprio como indivíduo livre fora do Estado, porque não pode haver uma vida espiritual descorporificada, e dizer, para ele, uma liberdade puramente interior é apenas um desejo.
Para Hegel, a liberdade só é real quando expressa numa forma de vida e, visto que o ser humano não pode viver por si próprio, necessitando viver em comunidade, o Estado se transforma no modo de vida coletivo e, por conseguinte, a liberdade tem de ser corporificada a ele.
Esta polêmica posição, como se sabe, acabou servindo, histórica e equivocadamente, de base para o desenvolvimento dos regimes totalitários que vimos despontar no século XX.

Professor Orosco.






quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

PENSANDO NO CAVALO DE TROIA




            No processo de desenvolvimento da humanidade, desde muito cedo, os homens aprenderam ou foram obrigados a desenvolver conceitos abstratos para tentar explicar o mundo em que viviam.
            Valeram-se de mitos e crenças num primeiro momento.
            Posteriormente desenvolveram o conceito de espaço, que é inexistente, uma vez que só conseguimos medir coisas no espaço, e não o próprio espaço.
            Desenvolveram o conceito de tempo, uma criação humana, que nos permite sequenciar eventos.
            Do tempo natural (dia e noite); do tempo social (hora de plantar e hora de colher, hora de festejar); do tempo matemático (Galileu) que permitiu definir a velocidade (V=E/t); do tempo tecnológico, chegando ao tempo relativo (Einstein) que corre de forma diferente, segundo a velocidade e a posição do observador.
            Desenvolveram o conceito de substância (Aristóteles) e das categorias (qualidade, quantidade, relação, posição, efeito, etc.).
            Desenvolveram o conceito de Deus, criador do universo e das coisas que ele contém.
            Ordenador do Caos, da expansão e da retração, do Big Bang ou do Big Crunch.
            Desenvolveram o conceito de bom e de mau; do belo e do feio; da verdade e da falsidade; da virtude e do vício, do certo e do errado, além de outros, todos destinados a nos auxiliar na compreensão deste mundo em que vivemos.
            Desenvolveram o conceito do próprio conceito, da razão absoluta (Hegel), da lógica que não tem consciência de si, só em si, que através e pela história adquire a consciência de si, transformando-se em para si, que se traduz no conceito e no fim da história.
            Desenvolveram tantos conceitos, tantas abstrações que, como na Internet, onde ficam conectados a milhares de amigos nas redes virtuais, abstratas, se veem perdidos neste emaranhado de coisas, quase todas sem sentido real.
            Coisas estas que se nos apresentam como aquele presente, o Cavalo de Troia, que traz no seu interior um exército de frustrações, de decepções, de angústias, impossibilitando-nos de olhar o nascer do Sol, de sentir, por sentir, a brisa suave e úmida do amanhecer, de ouvir o melodioso canto de um pássaro ao longe.
            É para pensar...


Professor Orosco 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 9

SOBRE A MITOLOGIA

Encerrando esta pequena coletânea de artigos, onde nas oito postagens que antecederam este fechamento, falamos sobre a Mitologia, sobre o estudo dos Mitos, sobre a influência que tiveram no desenvolvimento do pensamento racional e, até, sobre a forma com que continuam a influenciar a mente dos homens na atualidade, cabe-nos, agora, uma pequena explanação sobre a origem dos mitos.
Algumas teorias correlacionam as lendas mitológicas com as Escrituras Sagradas do Cristianismo, onde, por exemplo, Deucalião seria, apenas, outro nome para Noé; Hércules, outro nome para Sansão; Aríon, outro nome Jonas, ou o dragão que guardava as maçãs de ouro como outra representação da serpente que tentou Eva.
Outras teorias correlacionam as lendas mitológicas à História, onde, todos os personagens da mitologia foram, antes, pessoas reais, como no caso de Éolo, rei e deus dos ventos, que pode ter relação com Éolo, soberano de algumas ilhas do mar Tirreno e que ensinou os nativos sobre a utilização das velas dos navios e o modo de conhecer as mudanças climáticas a partir de sinais atmosféricos.
Particularmente, prefiro a correlação estabelecida pela teoria alegórica, onde todos os mitos eram alegóricos e simbólicos, contendo sempre alguma verdade moral, religiosa, filosófica que, com o tempo, passaram a ser compreendidas literalmente.
Assim, Saturno ou Cronos que devorava os próprios filhos, está relacionado com o tempo, cuja propriedade é destruir tudo o que já tenha sido criado; ou a correlação entre Io e a lua, sempre em movimento, vigiada por Argos, o firmamento estrelado.

Extraído da obra de Thomas Bulfinch, O Livro da Mitologia Trad.Luciano Alves Meira. São Paulo: Martin Claret, 2013

Professor Orosco

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 8

A RESPOSTA DO ORÁCULO

Conta a Mitologia que cada herói, antes de lançar-se a uma aventura, valia-se da consulta ao oráculo, como forma de antever o sucesso ou fracasso da jornada.
Diferentemente do que se pensa ou do que se diz pelo senso comum, oráculo não era uma pessoa, mas um lugar.
Oráculo era o nome utilizado para designar o lugar em que se podiam buscar as respostas de qualquer divindade, dadas àqueles que o consultavam sobre o futuro, além de denominar, igualmente, a própria resposta recebida.
O mais antigo oráculo da Grécia era o de Júpiter de Dodona, antiga cidade, localizada próximo à atual Tomaros, região do Épiro, no noroeste grego.
O mais célebre, foi o de Apolo, em Delfos, cidade edificada nas colinas do Parnaso, na Fócida.
Havia também o de Trofônio, em Lebadeia, na Beócia.
Vários outros dedicados a Esculápio, ficando o de maior renome em Epidauro.
Em Mênfis, ficava o oráculo de Áspis, o boi sagrado, que respondia àqueles que o consultavam pelo modo como aceitava ou recusava o que lhe era oferecido.
Em todos eles, a pitonisa (a sacerdotisa) entrava em uma espécie de transe hipnótico, que por sua vez fazia sempre despertar a faculdade da clarividência, transmitindo àquele que consultava, uma mensagem, quase sempre enigmática, que dava asas à imaginação humana e que poderia ser interpretada segundo os desejos ou temores de quem ouvia, ou, ainda, correlacionado aos fatos, depois de acontecidos.



Professor Orosco.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 7

O VOTO DE MINERVA

Conta a Mitologia que Orestes, filho de Agamenon e Clitemnestra, acusado de matar Egisto e a própria mãe, por conta de seu adultério e pela sua participação no assassinato do pai, foi perseguido pelas Eumênides, divindades da vingança.
Levado a julgamento na corte de Areópago, alegou, em sua defesa, o cumprimento da ordem que recebera do oráculo de Delfos, que defendia a vingança pela morte do pai.
Como a corte dividiu-se, com igual número de votos pela condenação e pela absolvição, Orestes foi, finalmente, absolvido pelo voto de Minerva, a deusa da sabedoria, a quem havia solicitado refúgio, na cidade de Atenas.
Desde então, o desempate, em qualquer julgamento, onde persista a condição de empate, a questão é decidida pelo voto de Minerva.

Professor Orosco.

domingo, 7 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 6


O NOME DA CIDADE

Conta a Mitologia que Minerva, a deusa da sabedoria, filha de Júpiter, que teria sido gerada sem mãe, saindo diretamente da cabeça do pai, já madura e revestida de armadura completa, entrou em uma disputa com Netuno (Poseidon), seu tio, irmão de Zeus, pela posse de certa cidade.
Como juízes da disputa, os deuses decretaram que ela seria entregue àquele que produzisse o presente mais útil aos mortais.
Netuno ofertou o cavalo e Minerva a oliveira.
Os deuses julgaram a oliveira mais útil e entregaram a cidade a ela.
A cidade passou a ser conhecida, desde então, com seu nome.
Minerva, em grego Atena e por isso, a cidade chamou-se Atenas.
Atenas, então, como não poderia deixar de ser, transformou-se no berço da filosofia, do amor a sabedoria, do amor a Minerva.

Professor Orosco.

sábado, 6 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 5


Conta a Mitologia que Narciso, um belíssimo rapaz que gostava de caçar pelas montanhas, rejeitando Eco, outrora uma formosa ninfa, condenou-a a definhar até morrer, de tal sorte que só restasse sua voz, repetindo para sempre o que ouvia.
Sua crueldade era tal que rejeitava, também, todas as outras ninfas.
Um dia, uma donzela que tinha em vão procurado atraí-lo, proferiu uma prece para que Narciso, alguma vez, sentisse o que é amar sem ser correspondido.
A deusa da vingança, ouvindo a prece, consentiu que o pedido se realizasse.
Havia uma fonte cristalina, da qual jorrava água prateada, para a qual Narciso, retornando de uma caçada, dirigiu-se a fim de se refrescar.
Inclinando-se para beber, viu refletida sua própria imagem na água, tão nítida e formosa, que acabou apaixonando-se por ela.
Sem saber que era seu reflexo, tentou beijar a imagem na água que, ao ser tocada, desfez-se em pequenas ondas, retornando depois de alguns momentos.
Narciso ficou espantado, perguntando porque aquele ser tão belo o recusava.
Ao chorar, seu lamento produzia lágrimas que caiam sobre as águas, distorcendo a imagem.
Recompondo-se, pedia que aquele ser tão belo permanecesse com ele.
Ficou nisto, adorando a imagem, sem saber que o reflexo que via, era a sua própria face.
Morreu ali, sentindo a dor de um amor não correspondido.
No lugar onde seu corpo foi consumido, sem que este fosse encontrado, nasceu uma flor, púrpura por dentro, rodeada de folhas brancas, que recebeu seu nome para que a história fosse preservada.

Professor Orosco.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 4


Conta a Mitologia que Eco era uma linda ninfa que amava os bosques e as montanhas.
Era a favorita de Diana, ajudando-a nas caçadas.
Mas Eco tinha um defeito; gostava muito de falar, e, fosse uma conversa ou um debate, tinha sempre a última palavra.
Certa vez, Juno estava procurando o marido (tinha razões para acreditar que ele estivesse divertindo-se com as ninfas) e Eco, com sua conversa, conseguiu deter a deusa por algum tempo, até que as ninfas pudessem escapar.
Quando Hera descobriu o que se dera, sentenciou Eco a falar para sempre, apenas respondendo, sem nunca poder iniciar uma conversa.
Ela teria, como castigo, sempre a última palavra.
Seu desejo, seria, assim, sua sina.

Professor Orosco

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 3

A FLAUTA DE PÃ




Conta a Mitologia que Mercúrio (Hermes, o deus do comércio), filho de Júpiter (Jove ou Zeus), cumprindo ordens de do pai, precisava livrar-se de Argo, filho de Agenor, rei da Fenícia e filho de Netuno com Líbia.
Argo era um ser que possuía cem olhos e que nunca dormia (só fechava 50 olhos por vez) incumbido por Juno (Hera), esposa de Júpiter, a rainha dos deuses, de vigiar Io, a filha do rio-deus Ínaco, uma de suas sacerdotisas, da qual tinha ciúmes com Jove.
Mercúrio, para desempenhar sua tarefa, aproximou-se de Argos tocando uma flauta e iniciou com ele uma conversa, passando-lhe a contar a estória do instrumento.
Disse que Pã, divindade protetora dos pastores e dos rebanhos, descrito como um ser meio homem, meio animal, com torso humano, cabeça com chifres e pés de bode, era apaixonado pela ninfa Siringe, muito amada pelos sátiros e pelos espíritos da floresta, devota de Diana e dedicada à caça.
Tentando cortejá-la, disse-lhe galanteios, os quais ela recusou, procurando-se afastar-se dele, o que fez com a perseguisse.
Agarrando-a às margens de um rio, a pobre jovem só teve tempo de suplicar ajuda às ninfas da água, suas amigas que, ouvindo seus gritos, vieram em seu auxílio.
Pã procurou abraçar aquilo que julgou ser o corpo na ninfa, mas percebeu que, naquele momento, abraçava um feixe de junco.
Quando soltou um suspiro, o ar atravessou os juncos produzindo uma triste melodia.
O deus, encantado com a novidade, levou com ele alguns dos juncos e, unindo-os lado a lado, com diferentes comprimentos, fez um instrumento ao qual denominou Siringe, em honra à ninfa.
Encantado com a história e influenciado pela música, Argos adormeceu, o que lhe custou a vida, uma vez que Mercúrio tratou de cortar-lhe a cabeça, fechando seus cem olhos de uma única vez
Hera, comovida pelo destino de seu fiel escudeiro, recolheu seus olhos e, homenageando-o, os colocou como ornamento na cauda de seu pavão.


Professor Orosco 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 2


A ORIGEM DA COROA DE LOUROS

            Conta a Mitologia Grega que Apolo, o deus do Sol, também conhecido por Febo, o deus dos arqueiros, da profecia e da música, filho de Júpiter (Zeus) e Latona, retornando à casa depois de uma aventura em que matara a gigantesca Píton com uma única e certeira flecha, viu o menino Cupido (Eros, o deus do amor) brincando com seu arco e flecha.
            Enraivecido, achando aquilo uma afronta à sua destreza, chamou o menino à atenção, dizendo-lhe que arco e flecha não eram para ele, mas para pessoas mais dignas.
            Ofendido com a audácia, o menino deus, pegou duas de suas flechas, uma do amor e outra do desprezo, e as disparou quase que de imediato.
            A flecha do amor atingiu em cheio o coração de Febo e a do desprezo, uma bela ninfa de nome Dafne, filha do rio-deus Peneu.
            Apolo, atingido pela seta, apaixonou-se imediatamente pela jovem, que fugiu apavorada ao vê-lo.
            Ele a perseguiu e, sendo mais rápido, já estava a alcançá-la quando esta, percebendo que não conseguiria escapar, pediu ajuda ao pai, solicitando-lhe que a terra a tragasse ou que se lhe mudasse a forma, de tal sorte que Apolo não a subjugasse.
            Imediatamente seus pés fincaram-se no chão, como raízes, e seus membros enrijeceram-se, sendo toda ela recoberta por uma casca macia.
            Seus cabelos tornaram-se folhas, seus braços galhos e o rosto transformou-se, ficando como uma copa de árvore.
            Febo, vendo o que ocorria, abraçou a árvore macia e beijou a madeira, percebendo que os galhos recuaram de seus lábios.
            Admitindo que não mais poderia tomá-la por esposa, contentou-se em homenageá-la, colhendo algumas de suas folhas com as quais construiu uma coroa.
            Determinou, então, a partir daquele momento, que todos os guerreiros, os grandes conquistadores, enfim, os vitoriosos, ao marcharem triunfalmente nas paradas, seriam condecorados e ostentariam a grinalda de louros.
            A ninfa, agora transformada em um loureiro, inclinou a cabeça expressando sua gratidão.


Professor Orosco. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS QUE O POVO CONTA Nº 1

Conta a Mitologia Grega que Cupido (Eros, o deus do amor), filho preferido da deusa Afrodite (Vênus, a deusa do amor e da beleza), acidentalmente feriu-se com a própria flecha e, ao fazê-lo, apaixonou-se perdidamente pela jovem Psiquê (alma).
Enciumada pela beleza da moça, antes de aprovar o noivado, a deusa Vênus lhe impôs tarefas que acreditava ser impossível serem cumpridas, as quais Psiquê conseguiu realizar graças à ajuda que recebeu de outros deuses, que viam com bons olhos esta união.
Cobrada por Júpiter (Jove ou Zeus), Afrodite deu-se por vencida e acabou por abençoar o casal que, feliz com a sorte, acabou gerando, no tempo devido, uma filha, a quem deram o nome de Prazer.
Assim, o Prazer é fruto da união entre o Amor e a Alma humana.
Posteriormente, com as bênçãos de Zeus, o casal também gerou os gêmeos Juventude e Alegria.
Ref.: Milton na conclusão de seu Comus.
Professor Orosco

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

PAÍS RICO OU PAÍS POBRE ?


Realizando uma espécie de fichamento da obra Riqueza e a Pobreza das Nações, de David S. Landes, alerto que, ao contrário do que possa parecer, ele não realiza um estudo profundamente econômico, pelo menos no que tange às regras gerais e formulas de um economês popular, mas sim, promove uma descrição histórica do desenvolvimento de várias nações, evidenciando seu sucesso e o ocaso de seu progresso,
Acompanhando o raciocínio do autor, que visitou a Inglaterra e a descreveu desde o período anterior à Revolução Industrial; que acompanhou o sucesso ibérico do século XVI, da Índia, da Holanda, da França, da Rússia, da Alemanha, do Japão, da China e dos Estados Unidos em períodos posteriores, pudemos identificar um certo padrão no desenvolvimento e sucesso, assim como, igual padrão do fracasso da mantença da liderança conquistada.
Basicamente, o sucesso foi alcançado, quando as nações introduziram uma abertura de seus mercados aos produtos estrangeiros, realizada direta e proporcionalmente à sua capacidade de absorver novas tecnologias, dominá-las, de melhorá-las e de inverter o processo, passando de importadora à exportadora.
Igualmente, o sucesso comercial destas nações esteve diretamente ligado à exploração de seu potencial agrícola, energético e de suas reservas minerais, no máximo possível, sem perder de vista a finitude destes insumos, frente às novas tecnologias e demandas mundiais.
Isto implica dizer que, a exploração e a majoração de preços das matérias primas raras, como o nióbio, por exemplo, ou das que se mantém quase um monopólio, até acima do máximo, implica em produzir reservas econômicas que serão úteis no custeio dos investimentos em infraestrutura.
Aliada a esta abertura, as nações que conseguiram o êxito nesta empreitada, foram aquelas que promoveram uma gigantesca reforma educacional, valendo-se inclusive da contratação maciça de mão de obra qualificada, mestres e doutores, vindos do exterior.
Juntamente com a formação profissional, igual esforço para desenvolver na população um sentimento nativista, pautado na Ética, com E maiúsculo, e na virtude da república democrática de Rousseau (amor à pátria e à igualdade), onde a corrupção fosse minorada ao máximo e o desejo de sucesso fosse coletivizado.
Em todas elas, a parceria pública privada, principalmente na infraestrutura para produção de energia, para a instalação de malha ferroviária, hidroviária ou portuária, inclusive para a produção nacional de trens e de navios, mostrou-se muito mais eficaz.
A indústria de base não é chamada de base apenas por retórica.
Paralelamente tiveram sucesso as nações que conseguiram ou sofreram derrotas as que não, todas aquelas que alcançaram eliminar das relações laborais, as práticas corporativistas, de formação de castas, de concessão de privilégios e, principalmente da eliminação da concessão de estabilidade no emprego público.
Tiveram sucesso as nações em que os sindicatos passaram a ser parceiros da indústria, cobrando delas melhorias nas condições de trabalho, salários compatíveis com as possibilidades do mercado e auxiliando-as na reciclagem e capacitação dos associados.
Tiveram sucesso as nações em que o sistema financeiro privilegiou a produção tanto quanto a simples especulação.
Por outro lado, historicamente, fracassaram todas as nações que, tendo alcançado uma posição de destaque econômico no cenário mundial, permitiram-se sofrer do mal da soberba, da acomodação para usufruto das riquezas alcançadas.
Fracassaram todas aquelas que não conseguiram manter sua juventude interessada e comprometida com o futuro nação, e dizer, todas aquelas em que os governos e a sociedade em geral, não conseguiu acompanhar a ascensão dos desejos descritos pela pirâmide de Maslow.
Por paradoxal que possa parecer, num mercado livre e aberto, fracassaram todas as nações que não construíram aparato militar capaz de assegurar sua soberania.
Isto implica em afirmar, sem meio termo, inclusive, no uso da energia atômica.
Fracassaram todas aquelas que não cuidaram de sua biodiversidade, como negócios de Estado, deixando-se invadir por filantropos mal intencionados.
Em suma, alcançaram êxito todas as nações em que as políticas públicas e estratégias de governo tiveram alcance maior, em termos de planejamento e de tempo; aquelas em que as regras estabelecidas foram cumpridas; aquelas onde o judiciário, eleito, servia ao coletivo e não à uma classe corporativizada.
Perderam todas aquelas que, de modo xenofóbico, se acharam superiores, donas da verdade, escolhidas por Deus ou imunes aos interesses, nem sempre éticos, das outras nações.

Professor Orosco








quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SIMPLESMENTE “G”, SUFICIENTEMENTE “G”


G” de Geometria, a arte de medir.
Nos estudos de filosofia, os alunos principiantes, logo no início de sua jornada rumo a conhecimento, deparam-se com a expressão:
Ποιος δεν έχει δεν γεωμετρα μεταξύ της
Quem não é Geômetra não entre!
Eles aprendem que esta frase se refere à famosa advertência que se podia ler no portal da Academia de Platão. 
Aprende, também, que advertências análogas eram comuns nas entradas de templos e santuários antigos, nos quais, no lugar da Geometria, eram requeridas pureza e outras qualidades, funcionando como uma "senha" para os iniciados.
Neles, matemática e a Geometria assumiram, sempre, uma posição de destaque, marcando um momento de Grande importância na definição do pensamento ocidental e da filosofia em seu nascer: aquele da "descoberta" de um "método científico", entre o V e o IV séculos a.C.
A Geometria ajudou a razão a superar os mitos.
O “G” passou a significar a Grande mudança.
Mais tarde, com o advento da modernidade, “G” passou, também a significar God (Deus), Gold (Ouro) e Glory (Glória).
Em seu nome e, por sua causa, Guerras foram travadas e o homem, sacrificando o Gentio, deixou a razão para trás, transformando-a quase em um mito.
Hoje, em seu Gabinete, o homem moderno, Ganancioso, com seu terno de Gabardina, ou em festas com seu traje de Gala, fazendo Gabarolice com o dinheiro público ou, de forma Gaiata, a Gargalhar, Gaba-se de ser Guardião da Gente mais humilde, vendo no irmão sofrido um reles Gaudério.
Como General, empunhando seu Gládio, arrola-se ser Gestor da Gentalha, esta sim, acostumada a viver na Geena e para quem a Gatunagem é coisa à toa.
Mas nem tudo se mostra tão Gritante, de forma tão Grosseira ou Grave.
Na maçonaria, por exemplo, no Grau de companheiro, o estudante aprende que,  inspirado pela letra “G”, de Gnose, que representa a imagem da inteligência universal, ele deve possuir o conhecimento sobre as medidas.
Aprende que, na vida, medem-se todos os aspectos da Natureza exterior e interior; medem-se as palavras e as obras e que, para tanto, são usados instrumentos específicos, símbolos, que devem ser usados com razão e equilíbrio.
Na construção dos templos, exterior e interior, ela é vital porque nada pode ser feito sem uma medida adequada, desde o ponto às linhas retas e curvas e todas as demais dimensões.


Professor Orosco

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

SOBRE AS REVOLUÇÕES

Lendo um capítulo do livro de Tocqueville sobre o "Antigo Regime", acerca da Revolução Francesa, pude perceber que aqueles que, filosoficamente, deram os sustentáculos morais, libertários, para a instalação da revolução, quando esta é deflagrada e, diante da destruição que promove, acabam, como acusado por Antonio Gramsci, sendo chamados para organizar a nova sociedade, que emerge do seio do povo, inculto, seduzido pela proposta de um futuro melhor.
Aconteceu lá, aconteceu aqui.
Os mentores, como Rousseau e Voltaire não gozaram do poder que sonharam para o povo, assim como nossos Ulisses e Montoro.
Lá Robespierre e Danton levaram-na adiante.
Aqui, Brizola, Darci Ribeiro, Salomão Malina e Covas carregaram-na nas costas.
Lá, a contra reforma , termidoriana, sufocou boa parte dos ideais, resgatados pela grandeza de Napoleão.
Aqui, a reforma foi sufocada por Roberto Marinho e seu Collor de Mello, resgatada em parte por Fernando Henrique, ainda que ameaçada por Sarnei, Renan e outros como eles.
Tanto lá, como aqui, vimos surgirem caudilhos oportunistas, que encarnaram o desejo do povo e dele se locupletaram para benefício próprio.
Lá, Napoleão III, mostrou-se um fraco, que foi deposto e, com sua queda, possibilitou a revitalização dos princípios revolucionários que tornaram a França um pais melhor.
Aqui....

Professor Orosco

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

NO TEMPO CERTO



            Queridos amigos.
            Gostaria de compartilhar com vocês uma breve reflexão.
Não é de hoje que tenho refletido sobre o número de coincidências que verifico se apresentarem em minha vida, coincidências estas que me levam a refletir, profundamente, sobre os desígnios, os sinais e as mensagens que recebo do Grande Arquiteto do Universo.
Vejam só.
            Hoje pela manhã, antes de sair para o trabalho, dediquei alguns momentos para planejar uma aula que vou apresentar na próxima sexta, falando sobre o tempo, para alunos do ensino médio.
            Dentre os vários elementos que pesquisei, estava o famoso quadro de Francisco Goya (1746/1828), um grande pintor espanhol, denominado “Saturno Devorando um Filho”, concluído em 1823 e hoje exposto no Museu do Prado em Madri.
            Logo pela manhã, achei o quadro um pouco macabro demais e optei por deixá-lo arquivado no banco de imagens do meu computador, uma vez que, afinal, estudando a “Mitologia Grega” encontramos algumas das primeiras menções sobre o tempo.
Lá, Cronos (em grego Κρόνος, titã do tempo, Χρόνος), era a divindade suprema da primeira geração de titãs, correspondente ao titã romano Saturno.
Filho de Urano, o Céu estrelado, e Gaia, a Terra, era o mais jovem dos Titãs.
Foi durante seu reinado que a humanidade (recém-nascida) viveu a sua "Idade de Ouro".
Como tinha medo de ser destronado por causa de uma maldição, Cronos engolia os filhos ao nascerem, como retratado na tela.
Comeu todos exceto Zeus, que sua esposa Reia conseguiu salvar, enganando-o ao enrolar uma pedra em um pano, que ele engoliu sem perceber a troca.
Quando Zeus cresceu, resolveu vingar-se de seu pai, solicitando para esse feito o apoio de Métis - a Prudência - filha do Titã Oceano.
Esta ofereceu a Cronos uma poção mágica, que o fez vomitar os filhos que tinha devorado.
Então Zeus tornou-se senhor do céu e divindade suprema da terceira geração de deuses da Mitologia Grega ao banir os Titãs para o Tártaro e afastou o pai do trono, e segundo as palavras de Homero prendeu-o com correntes no mundo subterrâneo, onde foi encontrado, após dez anos de luta encarniçada, pelos seus irmãos, os Titãs, que tinham pensado poder reconquistar o poder de Zeus e dos deuses do Olimpo.
            Até aqui, nada mais que história.
            A coincidência é que, à noite, assistindo uma aula de oficina em epistemologia, qual minha surpresa ao ver que, dentre os vários assuntos abordados, estava a referida obra de arte.
            Isto me fez olhar o quadro e pensar no tempo, de modo diferente.
            Atentando-nos para a belíssima obra de Goya, percebemos, em seus traços sombrios e macabros, algo mais aterrador que a mensagem mitológica,
            Percebemos que Cronos, o tempo,  come os deuses.
Percebemos que come, também, os homens e come a carne dos homens.
Come pais e come filhos.
Come sonhos e come as esperanças.
            Come as alegrias e come, também, as tristezas.
            Implacável, o tempo come o próprio tempo, que não volta mais.
            Nada sobrevive a ele.
            Talvez, breves memórias, regurgitadas no presente e por um singelo momento, como aconteceu com os irmãos de Zeus
            Goya era, simplesmente, um gênio.


Professor Orosco.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

QUE BICHO VAI DAR?

            Fazendo uma rápida leitura da obra “O Livro das Bestas” de Raimundo Lúlio (1232/1315), o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã, não pude deixar de, cometendo o equívoco de um anacronismo, comparar sua obra com o momento presente, neste outro lado do mundo.
            Seu livro, que me custou R$ 3,00, numa destas máquinas colocadas em uma estação do Metrô paulistano, escrito em forma de prosa, reproduz uma analogia entre seres humanos e animais, apresentando diversos temas, como a descrição de uma sociedade feudal, o efeito das paixões humanas na prática política, a luta entre o bem e o mal e as reformas necessárias para atingir-se o ideal.
            Servindo-se do simbolismo das bestas, Lúlio fala sobre a intriga, a ideologia, o adultério, a mentira e toda a sorte de mazelas que amargam a sociedade dos homens.
            Tudo começa com o processo eleitoral para definir o bicho que será coroado rei.
            Diante do favoritismo do Leão, a Raposa percebe que o Urso, o Leopardo e a Onça, que sonham ser eleitos, pleiteiam que se prolongue o pleito a fim de que se possa determinar qual o animal mais digno de ser coroado rei.
            Ao adivinhar suas intenções, ela conta sua história, afirmando que, se o Leão se torna rei e o Urso, a Onça e o Leopardo se opuserem, eles serão, para sempre, malquistos pelo rei.
            Se, porém, o Cavalo se torna rei, e o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá ele se vingar da injúria, não sendo animal tão forte quanto o Leão?
            Como carnívoros e herbívoros se distribuem em dois grupos antagônicos, apresentando ideologias diferentes, a astuta Raposa, manipulando a ambos, incentivando a traição, consegue colocar-se como porteira da Câmara Real, cargo que lhe confere poder e prestígio junto ao rei e que lhe assegura o poder de cobrar impostos.
            Diante do adultério cometido pelo Leão com a Leoparda, na ausência do Leopardo, a Onça engalfinha-se com ele (o Leopardo), em defesa do rei.
            Frente a tal peleja, a Serpente pergunta ao Galo sobre quem haveria de vencer o combate, obtendo por resposta que a contenda se dava em defesa da verdade, contra a falsidade.
            O Leopardo, sustentado pelo ódio ao rei e confiante na sua boa razão, mata a Onça, obrigando-a, antes, a dizer, diante de toda a corte, que o rei, seu senhor, era falso e traidor.
            Constrangido, o Leão, tomado de vergonha, mata o Leopardo.
            O livro termina com o Leão emitindo um grande urro, demonstrando conhecer as verdades do reino, pelos informes que recebia da Raposa, o que assusta o Coelho e o Pavão.
  

Professor Orosco

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A CULPA É DA GEOGRAFIA


Quem primeiro chamou os egípcios de egípcios, foram os gregos, assim como chamaram os iraquianos de persas.
Quem chamou os gregos de gregos, foram os romanos, pois eles mesmos se tratavam por helenos.
A história da humanidade está tão repleta de eufemismos e rotulações preconceituosas sobre os povos que, além de um caráter xenofóbico (chamavam-se de bárbaros todos aqueles que não falavam grego), a quase totalidade das denominações tribais se dá de forma puramente histórico geográfica, influenciada por fatores, no mínimo, curiosos.
Assim, os normandos são os descendentes dos vikings que invadiram a França e tomaram a Normandia; os franceses são descendentes dos francos; os russos são descendentes dos povos nômades da Escandinávia conhecidos por Rus, etc.
Ocorre que, bem mais do que a simples rotulação dada aos povos, a grande diferença entre eles pode ser explicada pela geografia, disciplina que praticamente foi retirada do contexto escolar ou mantida de forma desconectada de seus aspectos histórico sociais.
Segundo Montesquieu (1689/1755) em seu “Espírito das Leis” e Rousseau (1712/1778), de quem foi contemporâneo, em seu “Discurso Sobre a Origem da Desigualdade”, ambos grandes filósofos iluministas, para a compreensão das diversas sociedades humanas, é preciso, antes, compreender “o espírito do povo”, ou seja, suas leis, sua cultura, o desenvolvimento de sua história, sua religião, o tamanho de seu Estado (território) e suas implicações geográficas, principalmente aquelas ligadas ao clima.
A Europa, que ganhou status de continente, na verdade fazia parte da Eurásia, que foi dividida, não pelo mar, mas pelos fatores anteriormente citados.
Seu desenvolvimento foi acelerado pelas características climáticas e pela regularidade das chuvas, frequentes, moderadas e constantes durante todo o ano, decorrentes da grande massa de água quente que conhecemos por Corrente do Golfo, que nasce em mares tropicais ao largo da costa africana, desloca-se para o oeste até o Caribe e retorna novamente pelo Atlântico numa direção nordeste.
Associa-se a isto o fato de que a Europa tem invernos suficientemente frios para impedir a propagação de agentes patogênicos e pragas, que beneficiam as atividades agrícolas e pastoris, contribuindo, também, para uma menor incidência de doenças.
O desenvolvimento das práticas de higiene, particularmente do banho e da assepsia das mãos antes de comer após a invenção do sabonete (1791), que pouco a pouco foram incorporadas à cultura local, praticamente eliminaram, no último século, as doenças epidêmicas, como tifo e cólera, bem como reduziram o estado beligerante das pessoas, fenômeno diretamente proporcional à quantidade de banhos praticados, principalmente a partir da segunda metade do século passado, e dizer, depois da segunda grande guerra.
Este suprimento confiável e uniforme de água propiciou um padrão de organização social e política diferente do predominante nas civilizações ribeirinhas onde o poder, o controle dos alimentos cabia inevitavelmente aos que detinham o domínio do curso das águas.
Embora a Europa conheça mais de um clima, apresentando uma precipitação pluvial mais abundante e uniforme ao longo do Atlântico e maior amplitude térmica à medida que avança continente adentro, ou, apesar, das temperaturas moderadas e chuva mais esparsa e irregular nas costas mediterrâneas, ainda apresenta boa condição de pastagem e cultivo de oliveiras e vinhas, em substituição aos cereais.
No Brasil, um país de dimensões continentais, ao exemplo do restante do mundo, a influência do clima, associado à geografia (altitude, longitude e latitude), ajuda-nos a compreender a diversidade de tipos humanos, de sociedades (culturas) que dão uma característica heterogênea à nossa gente, praticamente única em todo o planeta.
De maneira geral, o clima influencia no “espírito do povo”, apresentando, por exemplo, melhores condições de desenvolvimento da sociedade à medida que se apresenta frio e úmido, como no sul, quando comparados ao calor extremo e umidade elevada da selva equatorial ou ao calor extremo e umidade baixa da caatinga.
Nos climas quentes, a generosidade da natureza é maior que nos climas frios.
Consequentemente, o senso de comunidade, de trabalho em grupo, é mais acentuado nas regiões frias que o verificado nas quentes, onde o individualismo é mais marcante.
Face a isto, o amor à liberdade política dos habitantes é maior nas regiões frias que nas quentes, que, por sua vez, usam mais os sentidos e menos a reflexão.
Os habitantes das regiões mais quentes destacam-se em atividades culturais (artesanato, pintura, música, literatura) ao passo que os habitantes das regiões mais frias destacam-se em filosofia e ciências e atividades laborais que envolvem esforço repetitivo.
É explicável, pelo clima, o maior desenvolvimento econômico, da indústria e da agricultura, na região sudeste que no nordeste, principalmente quando ela está associada às características hidrográficas e ao tipo de solo.
Apenas para exemplificar, a temperatura média no ano de 1980 em São Paulo era de 22ºC e a umidade relativa do ar era de 70%, ao passo que na caatinga, a temperatura quase sempre é superior aos 30ºC e a umidade relativa do ar é inferior a 20%.
Pelo melhor desenvolvimento econômico, as condições de vida e a renda per capta, das regiões mais ao sul, acabam sendo privilegiadas quando comparadas ao norte e ao nordeste, inclusive em termos de saúde, de educação, explicando, em parte, o fluxo migratório que ocorreu no século passado.
Diante das melhores condições de vida, da melhora educacional média da população, da melhor compreensão da vida em sociedade, do “amor à liberdade política” e diante do maior desenvolvimento daquilo que chamamos cidadania, compreende-se a maior corrupção no Brasil, comparado à Europa e nele das populações de regiões de clima quente em relação às mais frias.
Os primeiros, mais individualistas, aceitam melhor, toleram mais, a grande corrupção governamental, quando recebem pequenas regalias (outra forma de corrupção), como outrora as Cestas Básicas ou agora o Bolsa Família, um excelente programa de distribuição de renda, infelizmente desconectado, e frise-se isto, de medidas complementares para a promoção da emancipação que lhes daria a autonomia no médio prazo.
Embora a tecnologia venha, aos poucos, amenizando este efeito, ele é um fato, e, ainda, por um bom tempo, mostrará, percentualmente, seus efeitos nos processos eleitorais que teremos pela frente.

Professor Orosco