quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

SAINDO DO VERMELHO


















Nos momentos de crise, é normal que a maioria das pessoas passe por dificuldades, quer sejam elas de caráter financeiro, emocionais ou mesmo existenciais.

Não fosse assim, não seria crise.

Crises ocorrem sistematicamente de tempos em tempos e, de certa forma, pode-se dizer que fazem parte do processo evolutivo das sociedades, muito embora para nós,  a crise atual, exatamente por ser a atual,  apresenta-se sempre como a pior, independentemente da época a que estejamos nos referindo, dadas a incerteza que temos à nossa frente.

Esta incerteza que nos paralisa e que impede de certa forma nosso raciocínio, impede-nos também de tomar ações que poderiam nos auxiliar a sanar os problemas.

Sentimo-nos indefesos à mercê dos ventos, da maré e das correntes oceânicas.



















O quadro de Theodore Gericault intitulado a “Jangada da Medusa” retrata exatamente esta situação.

Ele retrata o salvamento dos sobreviventes ao naufrágio da fragata “La Meduse”, em 1816, que teria afundado perto da costa do Senegal.

Em Junho de 1816, o navio Medusa içou velas, juntamente com outros três navios, em direção ao porto de Saint-Louis, o qual tinha sido oferecido por Inglaterra à França como prova de boa-fé pela restauração da Monarquia, após a capitulação de Napoleão.

O navio, cujo capitão era Hugues Duroy de Chaumereys, transportava cerca de 400 pessoas, incluindo o novo Governador do Senegal. 

Pretendendo aproveitar o bom tempo, O Medusa ganhou significativa vantagem sobre os outros navios mas, no início de Julho, por alegada incompetência do capitão, encalhou num banco de areia.

As tentativas de largar carga ao mar não resultaram, também porque Chaumereys impediu a tripulação de lançar os canhões ao mar.

Diante do eminente naufrágio, os passageiros mais importantes foram colocados em barcos salva-vidas, suficientes apenas para 250 pessoas.

As restantes foram colocadas numa jangada e lançadas ao mar.

Atada por uma corda a um dos salva-vidas submergiu parcialmente pelo excesso de peso que transportava e, a certa altura, acidentalmente ou não, o cabo soltou-se.

O que se passou a seguir foram cerca de duas semanas de pesadelo num mar tempestuoso, com mortes brutais e até atos de canibalismo.

Cento e cinquenta pessoas andaram à deriva durante dez dias numa jangada.

A tragédia gerou um verdadeiro escândalo internacional, sendo o o capitão obrigado a ter de responder por seus atos diante de um tribunal marcial por seus atos e fazendo os franceses a passarem pelo ridículo perante os ingleses.

Quando a jangada foi encontrada, restavam apenas 15 sobreviventes. 

Foi este o momento escolhido pelo pintor.

Gericault propôs-se contar a tragédia através do relato de dois dos sobreviventes, representados ao pé do mastro, que lhe deram uma descrição precisa da jangada.

As suas preocupações com o realismo, levaram-no ao hospital para observar os sobreviventes e os cadáveres, tendo não só levado para o seu atelier de trabalho um pedaço de cadáver em decomposição, como inclusive decidido passar algum tempo em mar alto.

Em sua obra, podemos encontrar várias representações das emoções e do comportamento humano diante das situações de crise.


















No quadro 1, temos a desolação, a apatia diante dos fatos que nos parecem inevitáveis.

No quadro 2, a representação da morte, da derrota consumada.

No quadro 3, a representação da esperança, apesar da adversidade, onde a perseverança e o otimismo em dias melhores mantém a chama acesa.

No quadro 4, a solidariedade, onde mesmo sofrendo dos mesmos males, o indivíduo ainda encontra energias para auxiliar outro, incentivando-o a continuar e a não desistir.

Embora de forma metafórica, esta obra de arte nos leva a uma série de comparações, levando-nos a refletir sobre a real dimensão e gravidade da crise que enfrentamos.

Seguramente, nada é tão grave.

Jogar fora os canhões significa romper paradigmas, ter uma atitude pró ativa, definir prioridades, planejar ações, definindo metas e implementando ações factíveis, num prazo de tempo previamente definido.

Basicamente os hábitos, em sua maioria de caráter comportamental, que adquirimos ao longo do tempo são os responsáveis pelas dificuldades que se nos apresentam para solucionar os problemas, impedindo-nos de ver claramente as alternativas, os caminhos que podemos trilhar para resolvê-los.

Quando falamos em romper paradigmas devemos ter em mente que todo o conhecimento ou opiniões que temos deste ou daquele assunto deve ser criticado, repensado, posto à prova.

É necessário o reconhecimento de que se o modelo que adotamos para nossa vida, na atualidade, não sobreviver às críticas, é porque não é bom e precisará ser repensado, modificado, atualizado.

Embora apenas amarrado a um pequeno tronco, um elefante de circo não consegue se soltar.

Fisicamente ele poderia, mas mentalmente não pode.

Quando filhote foi amarrado a este tronco e não conseguia fugir, e assim ficou condicionado a ACREDITAR que sua fuga é impossível.

Hoje, adulto, amarrado ao mesmo pequeno tronco, o condicionamento que absorveu o impede de sair do lugar, e nem sequer tenta.

A conduta, o hábito e as atitudes das pessoas se modificam lenta e gradualmente.

Quanto mais cedo começar ...


Professor Orosco


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

MEA CULPA, MEA MÁXIMA CULPA

Este ano de 2014 teremos, além da Copa do Mundo, eleições (assim espero) por todo o país.
Aproveitando-se da permanente insatisfação da população, em geral pela pífia resposta dada pela classe política às demandas de nossa gente, vejo proliferar, principalmente nas redes sociais, as já conhecidas campanhas pelo "anule seu voto", pelo "vote em branco", pelo "não reeleja ninguém", pelo "votem novamente para reeleger o Cacareco", etc.
Este tipo de campanha, embora "do jogo democrático", na verdade só faz perpetuar o atual estado de coisas, generalizando e banalizando a atividade política além de fomentar, cada vez mais, a alienação das pessoas.
De forma propositiva, as redes sociais poderiam, ou ao menos deveriam, promover denúncias específicas, dando nome aos bois e tornando conhecidos os nomes daqueles que não cumprem com suas obrigações, que roubam ou que votam por interesses pessoais, em projetos contrários aos interesses da nação.
Embora poucos, existe gente séria por lá, gente que trabalha e que, pelo menos, tenta fazer a diferença.
Eu poderia elencar vários, mas isto também não seria correto de minha parte, pois isto perpetuaria a alienação.
Cada um deve fazer a sua pesquisa.
Jogar todos no mesmo saco, só faz proteger aqueles que não merecem nosso voto, já que normalmente eles tem mais dinheiro para suas campanhas, que podem contratar grandes e renomados "marketeiros", que podem oferecer sapatos e dentaduras, cestas básicas, bolsa família, emprego de técnico da seleção, etc.
Os que estão lá, no legislativo e no executivo, estão lá porque nós os elegemos.
A culpa não é deles, é nossa.
Mea Culpa, mea máxima culpa.
O voto não é, como se apregoa aos quatro ventos, um direito, e que por isso deveria ser facultativo.
O voto é um dever, cívico, pois é como um cheque em branco que assinamos.
A conta no banco é nossa e quem paga pelas mazelas somos nós.
Somos responsáveis pela bandalheira.
Se nos déssemos ao trabalho de examinar como aquele a quem demos a procuração para gastar nosso dinheiro, o faz, não teríamos dúvidas sobre como agir nas próximas eleições.
Felizmente, como Deus é brasileiro (o papa é argentino), ainda temos tempo.
Podemos, ao invés de desperdiçar munição em campanhas inúteis, acompanhar o trabalho dos eleitos, tomando o cuidado para evitar as armadilhas de um denuncismo irresponsável,  que também é arma de marketing político.
Afinal, nunca antes neste país...

Professor Orosco