sábado, 2 de janeiro de 2021

OS CAMINHOS DA GUERRA


No período que antecedeu o maior flagelo da humanidade, a Segunda Grande Guerra Mundial, a Alemanha, que estava sofrendo as consequências da insanidade da Primeira Grande Guerra onde, além da perda de suas colônias e fontes externas de renda, ou da condenação que a obrigou a pagar vultosas indenizações aos vencedores, também estava limitada em seu expansionismo militar, proibida de manter um efetivo de seu exército, maior que poucos milhares de soldados.

Hitler, como um hábil político populista, numa clara opção fascista de extrema direita, acostumado a mentir e a propalar ideias que soavam boas aos ouvidos de uma massa espoliada, valendo-se da soberba dos vencedores, logrou, de pronto, estabelecer uma profissionalização de suas forças armadas, capacitando e transformando o número limitado de soldados que tinha, em oficiais de baixa patente, capazes de rapidamente assumir o controle de um efetivo infinitamente maior. E dizer, ao invés de manter um exército com milhares de soldados, ele criou um exército com milhares de sargentos e tenentes, aptos a organizar a máquina do III Reich.

Paralelamente a esta capacitação, através de acordos espúrios com a Inglaterra e com  uma expressiva camada da oligarquia remanescente na Europa que incluía, inclusive, muitos judeus, conseguiu os recursos que precisava para equipar “secretamente” a maior máquina de guerra vista até então.

Foram centenas de navios e submarinos, milhares de aviões e tanques, os famosos “Panzer” (uma abreviação de "Panzerkampfwagen", um substantivo da língua alemã que se pode traduzir como "veículo blindado de combate"), uma quantidade incalculável de obuses e de uma reserva estratégica de combustível que, inclusive, previa a construção de imensos depósitos de armas e combustíveis, espalhados por toda a África do Norte.

Paralelamente, a indústria de insumos para a guerra, tais como rações, uniformes, botinas, cantis, capacetes e uma infinidade de armas leves, tipo a famosa pistola Luger, foi capaz de empregar a população civil, desempregada.

Assim, sem que o mundo percebesse, ou quisesse perceber, Hitler pôs em marcha um plano de tomada do poder, consolidada por um regime totalitário onde vigorava o mais absoluto terror.

Até aqui, pura retórica histórica, mas que, se desejamos extrapolar, também poderia ser aplicada à Itália de Mussolini, às pretensões imperiais do Japão de Hiroito ou mesmo à megalomaníaca visão de Stalin, uma condição que, se observada agora, no momento atual, também poderia ser compreendida, aqui no Brasil.

Um país fragilizado por um gigantesco descrédito nas instituições democráticas, consequência de uma educação medíocre e de uma corrupção endêmica que, durante dezenas e dezenas de anos, só fez aumentar as desigualdades e alimentar uma pseudo-oligarquia, emburrecida e alimentada por um desejo de ostentação, ora eurocêntrica ora norte-americana, transformado em um ambiente propício para propostas populistas, capazes de eleger, como Hitler foi eleito, um ser abjeto, incapaz de engraxar suas botas, como este que ocupa atualmente um certo palácio e que é endeusado por reminiscências de uma monarquia falida.

Um país, incapacitado de comprar vacinas, mas que investe na compra de tanques, de submarinos, de novas plataformas nucleares ou de satélites de monitoramento, que podem servir para tudo, menos para o objetivo que foi divulgado e onde uma população imbecilizada e sofrendo as consequências de uma pandemia que já ceifou centenas de milhares de vidas, começa a se mostrar desejosa de um regime de exceção, ainda que controlado por milicias, capaz de trazer ordem sobre o caos; onde a censura da imprensa e da proliferação de “fake-news” através das redes sociais se transformaram no único meio de difundir a notícia crível sobre os fatos, em uma escala que faria Goebbels ser comparado a um principiante; que já começa a mostrar os mesmos sinais de xenofobia e de intolerância religiosa, vistos na Europa do início do século passado, igualmente alimentado e incentivado por uma extrema direita, de caráter mundial, que deseja pôr fim ao “Estado de Bem Estar Social” e que está assombrada com a sombra de uma China que já não é emergente, mas potência capaz de pôr fim às castas vigentes.

Enfim, um país que, apesar das prosopopeias presidenciais sobre a necessidade de ter pólvora e não de vacinas, para resolver nossos problemas, já pode ter começado a trilhar os caminhos de uma guerra, cujo objetivo será, como a história mostrou, sempre o mesmo, qual seja, a criação de uma nova dinastia governante nas terras tupiniquins.

 Professor Orosco