quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O COLO DA MAMÃE


Tão logo a criança começa a experimentar o mundo que a circunda, ela inicia um processo de abandono dos laços familiares, libertando-se das regras e procedimentos impostos por seus pais. É curso natural das coisas. A criança cresce, adolesce, torna-se adulta, emancipada e geradora de nova família, fechando o círculo e reiniciando o processo da vida.
Neste caminhar, inúmeros set-points serão estabelecidos, servindo, cada um deles, como pontos de referência para os quais se pode retornar e corrigir o rumo que se deseja tomar. O quintal, o portão da casa, o nome da rua, do bairro e da cidade são, sequencialmente, alguns deles, aos quais se somam também, na mesma ordem, irmãos, primos, colegas de rua, da escola, do trabalho ou do time de futebol.
À medida que se envelhece, novos caminhos se abrem e muitas possibilidades se mostram, junto com as quais, uma avalanche de informações, fazendo surgir a dúvida sobre qual caminho se deve tomar. Neles, a convivência forçada com a diversidade, colocando à prova os nossos costumes e valores, muitas vezes ferindo nossas crenças mais sinceras, obriga-nos a retroceder para o porto seguro mais próximo a fim de reavaliar nosso proceder.
Se as mudanças forem muito significativas, tornando-se violentas, o retrocesso precisa ser maior ainda, já que a terra firme se mostra imperativa para a nossa segurança. Isso explica, ao menos em parte, o movimento xenofóbico que presenciamos mundo afora, onde cada um, ao seu modo, pede um tempo maior para assimilar as mudanças que estão ocorrendo e onde, a cada novo acontecimento imprevisível e marcante, como as crises econômicas, o desemprego, o terrorismo, a corrupção ou as endemias, o retorno à toca se mostra o caminho mais seguro a tomar.
Precisamos compreender isto como um fato social, de progressão continuada e exponencial, se queremos realmente viver em um mundo globalizado no qual a tecnologia encurta distância e desnuda as diferenças.
A opção, será voltar ao colo da mamãe.

Professor Orosco.

sábado, 9 de janeiro de 2016

ODE ÀS PAIXÕES TARDIAS


      Os anos que acumulei em minha jornada, com o entusiasmo de minha juventude, conduziram-me, depois de um período de encantamento, 
à maturidade alcançada pela experiência.
     Pelos mais belos anos, no vigor da juventude, a educação me mostrava o caminho do conhecimento.
     Meu aprendizado doía em meus ouvidos, pendendo entre a razão e a opinião, compelido para a luz da razão pelo conhecimento, que me afastava da ignorância, abrindo-me os olhos aos novos saberes.
     Aí estava a verdade, aquela que separa os caminhos do conhecimento e da ignorância , escorada em uma sólida construção; a verdade eterna, trancada atrás de uma porta, da qual a Sapiência é a única chave para abrí-la.
    É  na busca desta verdade que se dirige o conhecimento, amparado pela razão, que desnuda o saber.
     Quando ela se mostra de forma altiva, revela a grande distância do caminho a ser percorrido, repleto de armadilhas e aparências.
     Com a educação, ela, a verdade, é a única capaz de conduzir o real aprendizado dos alunos.
     Ao descobrir isso, a sabedoria finalmente me recebeu, amparando minha velhice e sussurrando em meus ouvidos que deixaram de ser moucos.
   -  "Benvindo jovem estudante, que me alcançou através dos anos. 
Beba agora destas minhas águas e refresca teu corpo cansado no rio das paixões maduras. 
São elas as únicas capazes de curar tuas feridas e dar alento ao teu caminhar, conduzindo-te mansamente em seu leito caudaloso para junto daquela com a qual sonhas terminar tua jornada".

Professor Orosco.