sábado, 31 de outubro de 2015

UM FIO DE ESPERANÇA


Hoje, 31 de Outubro, logo pela manhã, li contente a notícia que meu amigo e sempre governador, Valdemar Lopes Armesto, publicava, orgulhoso ao lado de sua esposa, sobre o plantio de uma muda de oliveira que, segundo ele, em 40 anos poderá exportar seus frutos para o restante do mundo.
À tarde, assistí a um vídeo facebookiano onde o Dr. Renato Meneguelo pedia, de joelhos, a permissão para um bando de burocratas, para poder testar um medicamento que pode ajudar na cura do câncer.
Ao anoitecer, em outro vídeo, assistí emocionado a uma apresentação de um conjunto que cantava à música "I Have a Dream", cuja letra e poesia nos remete a acreditar nos anjos.
Anjos que, como minhas netas, neste 31 de Outubro, entre "doces ou travessuras" me fazem recordar de minha infância e, nela, de minha querida e saudosa avó.
Neste dia ela costumava ficar mais reflexiva e amorosa que o normal.
Seu abraço e sua benção vinham sempre acompanhados de um sorriso especial pois, para ela, esta data marcava o início de um novo ciclo.
Ela perdera seu consorte, meu avô, na véspera e, com sete filhos para criar, sabia que não tinha tempo ou se podia dar ao luxo de parar para lamentar.
Sabia que precisava ir à luta, firme e decidida, rumo a um futuro incerto, senhora de seu destino, não podendo falhar, como não falhou.
Agora, relendo o livro de Vladimir Arseniev, Dersu Uzala, que inspirou o filme de Akira Kurosawa, um clássico de minha juventude e de meu período mais aguerrido de militância política, consigo associar este personagem, que só se preocupava em viver uma boa vida laboral, algo estóico/epicurista, valorizando a amizade e respeitando a natureza em todo o seu esplendor, com todos os que citei até o momento.
Por isso senti-me compelido a escrever, como costumo fazer às noites, na tentativa de buscar recuperar um pouco de minha força vital, da esperança nos homens e na humanidade, crente de que o Grande Arquiteto do Universo, em sua infinita sabedoria, traçou o nosso caminho e que dele não devemos nos afastar.
Crente que, com exemplos como os citados, não estamos sós.

Professor Orosco 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

OUTRA VEZ DIGO QUE “NÃO EXISTEM COINCIDÊNCIAS”




A conclusão à qual se chega lendo James Redfield em suas Profecias Celestinas é a de que, pela sincronicidade dos eventos e dos movimentos, não existem coincidências.
Realmente, a cada novo dia, convenço-me de que existe, de fato, alguma coisa nesse sentido. Nada como destino ou caminho pré-definido, mas como sinais de que as coisas acontecem de forma interligada, conectadas umas às outras, de alguma forma.
Vejam o exemplo:
Ontem à noite, participando de um Café Filosófico, assisti a uma brilhante palestra sobre Emile Durkheim e, chegando em casa, como costumo habitualmente fazer, peguei um livro para ler.
“Casualmente”, após duas ou três páginas lidas, o novo assunto abordado pelo autor era exatamente Emile Durkheim.
Hoje pela manhã, lendo as páginas finais do mesmo livro, fiz algumas anotações sobre Nietzsche, de tal sorte que publiquei em meu blog um novo artigo, intitulado “Do Big Bang ao Big Crunch”.
E vejam só:
Hoje à noite, aceitando um convite para assistir outro seminário, do qual só tive notícia pouco antes do início, vi-me surpreendido ao descobrir que o tema central abordado pela palestrante era exatamente Nietzsche.
Outra coincidência?
Talvez.
De qualquer forma, seguindo as migalhas de pão que me foram colocadas no caminho, achei por bem escrever estas palavras, considerando outros aspectos de Nietzsche que podem complementar o que escrevi pela manhã.
Primeiramente gostaria de salientar que vejo em Nietzsche um gênio; um autor que escreve de forma irônica, quase sempre querendo dizer o contrário do que se lê, via senso comum, nos seus textos.
É por isso que normalmente ele é classificado como um louco, ateu e chauvinista, o que certamente não era.
Nietzsche afirmava que o homem, para poder crescer, precisava buscar “Grande Inimigos”, com os quais poderia travar grandes batalhas.
Para ele, os amigos, via de regra, só nos dizem coisas que podemos ouvir, ainda que vez ou outra sejam contrárias àquilo que desejamos.
Inimigos pequenos nada acrescentam à nossa vida, já que diminuem o valor de nossa vitória.
Os grandes inimigos, por sua vez, nos obrigam a superarmos os nossos limites a cada novo momento, a cada novo argumento.
Por isso, Nietzsche desafiou logo o Cristo, colocando-se como ao anticristo, já que via nele uma proposta muito difícil de ser superada, um ente que era incapaz de ofender-se ou guardar rancor por eventuais ofensas que viesse a praticar. Um “homem” contra o qual o nosso intelecto modal, racional, se mostra insuficiente, obrigando-nos a estudar, e muito, para alcançar um mínimo de sua argumentação.
Nietzsche não luta contra Paulo, o criador do cristianismo, pois o considerava, como um simples mortal, um oponente menor; e dizer, Nietzsche rejeitava o cristianismo como uma criação humana, e não o Cristo propriamente dito.
Entendendo-se, também, assim, a sua afirmação de que “Deus está morto”.
Não Deus como o Ser onisciente e onipresente, mas como um ser caridoso, vendido pelos almanaques a milhares de anos, em nome do qual se cometeram tantas atrocidades.
Esta é a visão que tenho dele.


Professor Orosco

DO BIG BANG AO BIG CRUNCH

Uma vez realizadas todas as combinações possíveis dos elementos do mundo, restará ainda um tempo indefinido pela frente, e então recomeçará o ciclo, e assim indefinidamente. Como em um eterno retorno, tudo o que acontece no mundo se repetirá igualmente inúmeras vezes. Tudo voltará eternamente, e com isso todo o mau, o miserável, o vil. No entanto, o homem pode ir transformando o mundo e a si mesmo mediante uma transmutação de todos os valores, compreendendo que o bem máximo é a própria vida, que culmina na vontade de poder. Como o homem está acima do macaco, deve superar-se, tornar-se um super-homem, alcançando uma nova moral, nem cristã, nem utilitária ou kantiana. Uma moral dos senhores, das individualidades poderosas, de superior vitalidade, de rigor consigo mesma, da exigência e da afirmação dos impulsos vitais. Uma moral que se afasta da moral dos escravos, dos fracos e miseráveis, dos ressentidos que valorizam a compaixão, a humildade e a paciência, que afirma todos os igualitarismos. Uma moral que, afastando-se dos valores cristãos, exalta o valor da guerra, produtora do espírito de sacrifício, da valentia e da generosidade, que faz despontar o cavalheiro, o homem corajoso e pujante, que entende a vida generosamente (Nietzsche - 1844/1900).
Uma vida animal, existencialista e sem propósito, que retira do homem o prazer da amizade, do companheirismo, do amor cúmplice e da renúncia. Uma vida que prega o individualismo que traz junto de si a solidão e o desespero. Uma vida que de tanto precisar justificar-se esquece a própria essência, que é viver. Uma vida que não alcança a serenidade contemplativa, ficando refém das moedas amealhadas, dia a dia, com o único objetivo de rechear o colchão sobre o qual se vai tentar dormir, afastando-se da cama macia proporcionada pela terra fofa onde germina uma grama perfumada. Uma vida que não olha o firmamento e vê nele a esperança além das luzes que cintilam por entre as nuvens, evidenciando uma possibilidade real de novas descobertas que, possivelmente trarão respostas a muitas de nossas dúvidas. Uma vida que de tanto racional, interrompe o movimento e para o coração, fonte das emoções. Uma vida que se apega tanto à vida que a sufoca e não lhe dá sentido.
Triste sina a dos homens que, a partir do Século XX seguiram por este caminho, loucos que seguiram um louco, sem compreendê-lo,  valendo-se de um tecnicismo que só provocou uma guerra diária e ininterrupta, que ceifou milhões e milhões de possibilidades viventes, por ideologia ou por cobiça, pouco acrescentando aos sobreviventes que veem-se perdidos numa multidão sem face ou rumo.
Por sorte, uma sentença que não é necessariamente autoaplicável, restando a alguns poucos tolos a irreverência de poder sonhar, de assegurar a si mesmos a ataraxia dos estoicos e dos epicuristas que “não estão nem aí para as coisas do mundo”, deixando-se levar pelas ondas do mar, curvando-se à vida como a flor de cede à brisa do vento.
No fundo, uma questão de escolha.
Nietzsche ou ....

Professor Orosco











sexta-feira, 2 de outubro de 2015

PRELÚDIO DE UMA REVOLTA POPULAR


No ocaso do século XVIII, uma população do além mar, revoltada com os privilégios de uma casta dominante, interessada tão somente na manutenção de suas mordomias, pegou em armas e derrubou o Antigo Regime.
Às custas de milhares de cabeças cortadas, eles declararam ao mundo que o povo, e somente ele, detém o verdadeiro poder soberano.
Na época,  o limite da tolerância foi  ultrapassado quando sugeriu-se ao povo, ao invés de pão, comer brioches.
Algo parecido com aquilo que vemos ser noticiado e denunciado por aqui quase que dioturnamente sobre os atos do Congresso Nacional e do Palácio da Alvorada.
Atos que, nem mesmo o Palácio da Justiça, que teima em permanecer cega, escapa ao demonstrar e defender a opulência de uma corte que se mostra alheia às favelas que proliferam ao seu redor.
O descaso de todos os palacianos, encastelados em seu mundo particular, na praça dos Três Poderes, alegoricamente nos remetendo à época dos "três Estados",  é de tal sorte, que nem se apercebem que a população sofrida já mostra sinais de um questionamento do sistema, perguntando-se qual o melhor caminho para ver-se realmente representada.
O descaso é tal que não se apercebem que, como no século XVIII, a fome, a falta de saúde, a educação medíocre e o desemprego, são fatores que, alimentados pela carestia, podem ser, como foi no passado, a centelha revolucionária que inflamará, à custa de muito sangue, a fogueira da transformação social.
O descaso é tal que não se apercebem que, como outrora, nem mesmo o escudo religioso levantado em defesa de suas gordas cabeças conseguirá evitar que elas sejam cortadas.
Não se apercebem que, como no século XVIII, não será necessária a figura de um líder carismático para iniciar a revolução, que pode começar como um simples movimento sequencial às invasões de supermercados ou de arrastões nas praias repletas de jovens e pequenos burgueses, propagando-se como um rastilho de pólvora que incendiará campos e cidades, do Oiapoque ao Chuí.  
Não percebem, finalmente, como diria George Santayana, "que aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo" e que o prelúdio da revolta popular já bate à sua porta.

Professor Orosco.