O problema da deficiência em nosso Estado, ao
menos nos últimos anos, seja ele de caráter físico, intelectual ou sensorial,
deixou de ser visto como um problema de ordem assistencialista, evoluindo e
passando a ser visto como um problema de ordem econômica e social.
A inclusão de pessoas com deficiência na
sociedade, em toda a sua extensão, seja no emprego, na educação, no acesso à
saúde, à mobilidade urbana, etc., tornou-se, nos últimos anos, um vetor
desenvolvimentista em nosso Estado, o que muito nos orgulha.
No entanto, apesar destes significativos
avanços, como o Estado só se mexe quando provocado, ou seja, quando existem
demandas, o problema da prevenção tem sido relegado a um segundo plano.
Minha avó já me dizia que “prevenir é melhor
do que remediar”, mas, quando se trata da coisa pública, aparentemente não é
bem assim.
O funcionamento do Estado, pelo menos por
aqui, no Brasil, inverte até a lei da gravidade.
Aqui, governo bom é aquele que gasta.
Não importa onde, desde que gaste.
Por aqui, secretaria boa é aquela que estoura
o orçamento e pede mais dinheiro.
Aquela que pouca, que racionaliza, que
otimiza os recursos orçados, mostra que não precisava tanto recurso empenhado
e, como “prêmio”, tem seu orçamento reduzido para o próximo exercício.
Grande quimera.
A muito tempo lutamos para que o Estado e a
Sociedade Civil como um todo, promovam uma gigantesca campanha de
conscientização sobre os cuidados necessários para prevenir uma deficiência,
mas, até agora, esta luta tem se mostrado incapaz de sensibilizar os atores
envolvidos com a gravidade do problema.
Somente em nosso Estado nascem,
aproximadamente 50 (cinquenta) mil crianças por ano com alguma deficiência.
Estes números precisam ser ainda acrescidos
daqueles outros que representam as deficiências provocadas por acidentes, pela
violência, pelas enfermidades, etc.
Se somarmos todos, contabilizamos um universo
de quase 10 (dez) milhões de pessoas somente em nosso Estado.
Pessoas que demandam serviços especiais para
sua locomoção, que demandam serviços especializados de fisioterapia,
fonoterapia, terapia ocupacional, próteses e afins, que demandam escolas
adaptadas e todo tipo de coisa necessária para sua inserção social.
Medidas muito simples reduziriam estes
números de forma significativa, como por exemplo, a divulgação da informação
para o público, jovem em especial, sobre os perigos do mergulho em água rasa,
responsável por quase um terço de todos os casos de tetraplegia.
Com as recentes e midiáticas ciclovias, a
necessidade de habilitação destes ciclistas para a obediência às leis de
trânsito, bem como a obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção, como
capacetes, joelheiras, ou a proibição do uso de sandálias (tipo havaianas),
tidas como inseguras para a prática desta atividade.
O aconselhamento genético às parturientes
que, conscientes dos riscos envolvidos, quando existem deficiências em parentes
próximos, tomariam os devidos cuidados antes de uma segunda gestação.
É relativamente comum a existência de 2, 3 e
até 4 crianças com deficiência em uma mesma família.
Somente para que se tenha uma ideia destes
números, no Brasil, existem pouco mais de 13 (treze) milhões de pessoas com
algum tipo de doença rara, considerando-se rara a incidência de um número menor
que 65 para cada grupo de 100 mil pessoas, das quais, boa parte pode provocar
alguma deficiência, principalmente quando está mascarada junto a outra
comorbidade.
Destes treze milhões de pessoas, seguramente
95 % delas, chegarão a óbito sem nunca saber de qual mal sofriam.
Não existem médicos especializados para o
diagnóstico em número suficiente e, infelizmente, este problema não será
resolvido no curto prazo.
Daí, mais um motivo para a prevenção.
Neste pequeno “briefing” sobre o tema,
esperamos ter despertado seu interesse sobre o assunto, convidando-o a somar
esforços conosco nesta campanha de divulgação e prevenção.
Professor Orosco.
Membro do Conselho Estadual dos Assuntos da
Pessoa com Deficiência e militante a mais de 30 anos no segmento de apoio e
defesa dos direitos da pessoa com deficiência no Estado de São Paulo.