Nos momentos de crise, é normal que a maioria das pessoas passe por dificuldades, quer sejam elas de caráter financeiro, emocionais ou mesmo existenciais.
Não fosse assim, não seria crise.
Crises ocorrem sistematicamente de tempos em
tempos e, de certa forma, pode-se dizer que fazem parte do processo evolutivo
das sociedades, muito embora para nós, a
crise atual, exatamente por ser a atual, apresenta-se sempre como a pior, independentemente
da época a que estejamos nos referindo, dadas a incerteza que temos à nossa
frente.
Esta incerteza que nos paralisa e que impede
de certa forma nosso raciocínio, impede-nos também de tomar ações que poderiam nos
auxiliar a sanar os problemas.
Sentimo-nos indefesos à mercê dos ventos, da
maré e das correntes oceânicas.
O quadro de Theodore
Gericault intitulado a “Jangada da Medusa” retrata exatamente
esta situação.
Ele retrata o
salvamento dos sobreviventes ao naufrágio da fragata “La Meduse”, em 1816, que
teria afundado perto da costa do Senegal.
Em Junho de 1816,
o navio Medusa içou velas, juntamente com outros três navios, em direção ao
porto de Saint-Louis, o qual tinha sido oferecido por Inglaterra à
França como prova de boa-fé pela restauração da Monarquia, após a capitulação
de Napoleão.
O navio, cujo
capitão era Hugues Duroy de Chaumereys, transportava cerca de 400
pessoas, incluindo o novo Governador do Senegal.
Pretendendo
aproveitar o bom tempo, O Medusa ganhou significativa vantagem sobre os outros
navios mas, no início de Julho, por alegada incompetência do capitão, encalhou
num banco de areia.
As tentativas
de largar carga ao mar não resultaram, também porque Chaumereys
impediu a tripulação de lançar os canhões ao mar.
Diante do
eminente naufrágio, os passageiros mais importantes foram colocados
em barcos salva-vidas, suficientes apenas para 250 pessoas.
As restantes
foram colocadas numa jangada e lançadas ao mar.
Atada por uma
corda a um dos salva-vidas submergiu parcialmente pelo excesso de peso que
transportava e, a certa altura, acidentalmente ou não, o cabo soltou-se.
O que se passou a
seguir foram cerca de duas semanas de pesadelo num mar tempestuoso, com mortes
brutais e até atos de canibalismo.
Cento e cinquenta
pessoas andaram à deriva durante dez dias numa jangada.
A tragédia gerou
um verdadeiro escândalo internacional, sendo o o capitão obrigado a ter de
responder por seus atos diante de um tribunal marcial por seus atos e fazendo os
franceses a passarem pelo ridículo perante os ingleses.
Quando a jangada
foi encontrada, restavam apenas 15 sobreviventes.
Foi este o
momento escolhido pelo pintor.
Gericault
propôs-se contar a tragédia através do relato de dois dos sobreviventes,
representados ao pé do mastro, que lhe deram uma descrição precisa da jangada.
As suas
preocupações com o realismo, levaram-no ao hospital para observar os
sobreviventes e os cadáveres, tendo não só levado para o seu atelier de
trabalho um pedaço de cadáver em decomposição, como inclusive decidido
passar algum tempo em mar alto.
Em sua obra, podemos encontrar várias
representações das emoções e do comportamento humano diante das situações de
crise.
No quadro 1, temos a desolação, a apatia diante dos fatos que nos parecem inevitáveis.
No quadro 2, a representação da morte, da
derrota consumada.
No quadro 3, a representação da esperança,
apesar da adversidade, onde a perseverança e o otimismo em dias melhores mantém
a chama acesa.
No quadro 4, a solidariedade, onde mesmo sofrendo
dos mesmos males, o indivíduo ainda encontra energias para auxiliar outro,
incentivando-o a continuar e a não desistir.
Embora de forma metafórica, esta obra de arte
nos leva a uma série de comparações, levando-nos a refletir sobre a real
dimensão e gravidade da crise que enfrentamos.
Seguramente,
nada é tão grave.
Jogar fora os canhões significa romper
paradigmas, ter uma atitude pró ativa, definir prioridades, planejar ações, definindo
metas e implementando ações factíveis, num prazo de tempo previamente definido.
Basicamente os hábitos, em sua maioria de caráter
comportamental, que adquirimos ao longo do tempo são os responsáveis pelas
dificuldades que se nos apresentam para solucionar os problemas, impedindo-nos
de ver claramente as alternativas, os caminhos que podemos trilhar para resolvê-los.
Quando falamos em romper paradigmas devemos
ter em mente que todo o conhecimento ou opiniões que temos deste ou daquele assunto
deve ser criticado, repensado, posto à prova.
É
necessário o reconhecimento de que se o modelo que adotamos para nossa vida, na
atualidade, não sobreviver às críticas, é porque não é bom e precisará ser repensado,
modificado, atualizado.
Embora apenas amarrado a um pequeno tronco,
um elefante de circo não consegue se soltar.
Fisicamente ele poderia, mas mentalmente não
pode.
Quando filhote foi amarrado a este tronco e
não conseguia fugir, e assim ficou condicionado a ACREDITAR que sua fuga é impossível.
Hoje, adulto, amarrado ao mesmo pequeno
tronco, o condicionamento que absorveu o impede de sair do lugar, e nem sequer
tenta.
A conduta, o hábito e as atitudes das pessoas
se modificam lenta e gradualmente.
Quanto mais cedo começar ...
Professor Orosco