terça-feira, 17 de setembro de 2019

ESTAMOS SÓS

Num mundo globalizado, sob o domínio das redes sociais, onde contabilizamos várias páginas para poder abrigar dezenas de milhares amigos virtuais, o homem nunca esteve tão solitário.
Preocupado em postar tudo, na esperança de despertar a atenção para si, frustra-se e decepciona-se ao perceber que não faz falta a ninguém; ao constatar que todos estão ali para serem vistos e não para ver. Percebe-se só e cai em depressão.
Muitos suicidam-se anualmente (mais que a soma das guerras e acidentes) por não aguentar a solidão e a pecha de inutilitário; outros tentam mudar de vida, buscar velhos amigos, novos amigos, mas já não sabem como. Sabe que seu grito de lamento não será ouvido e embora deseje que ele seja compartilhado, resigna-se com os poucos "likes" que recebe. Neste mundo globalizado o homem aprendeu a escrever, mas esqueceu de ler assim como esqueceu de sorrir.
Já não viaja mais pelas páginas nas quais navegou o Nautilus, ou nas cinco semanas em um balão, cruzando o continente africano. Esqueceu-se do seu pé de laranja lima e até do sítio do pica-pau amarelo.
Deixou a poesia, abandonou a música e recolheu-se ao fundo da caverna.
Não como o super homem de Nietzsche, mas como o ignorante denúnciado por Platão. Nunca ouviu falar de Dersu Uzala, e sequer sabe que terá o mesmo destino.
Já é tarde.
Cruzamos o Cabo da Boa Esperança.
Não há retorno.
Neste mundo globalizado,
Estamos sós.

 Professor Orosco

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