terça-feira, 14 de maio de 2013

A GALINHA DOS OVOS DE OURO


            Ontem à noite fui classificado como uma pessoa eugenista por defender abertamente a ideia do controle da natalidade.
            Sem ser acusado de defender posições preconceituosas, do tipo nazista ou teoria similar, que defende a superioridade de uma raça a outra, fui considerado um “inocente útil” que não percebe as manobras que estão ocorrendo ao meu redor.
            Como diria Freud ao ser preso pelos nazistas:
            Ainda bem que estão queimando os meus livros; em outra época eu é que estaria sendo queimado!
            O crescimento vertiginoso do islamismo em todo o mundo, onde um homem pode ter várias esposas e muitos filhos com cada uma delas, desperta em muitos o temor de que em poucos anos a Europa venha a se tornar um continente islâmico, assim como na sequencia os Estados Unidos e o restante do planeta.
            De fato, hoje, boa parte da Ásia, do noroeste africano, das ilhas polinésias, já o é.
            Diferentemente do hinduísmo ou budismo, a teocracia “radical” islâmica sufoca as liberdades individuais e impõe ao povo uma doutrina alienante e servil, onde a vida humana tem pouco valor.
            Para contrapor esta possibilidade, as religiões ocidentais incentivam a procriação e o aumento da natalidade, indiferentes às condições em que ocorre, simplesmente para que os seus adeptos somem um número maior de votos nos plebiscitos regionais e com isto afastem o perigo.
            Se um islamita pode produzir vinte descendentes, precisamos superar este número para continuar governando.
            Precisamos continuar governando para assegurar a democracia.
            Precisamos assegurar a democracia para que nossas palavras não sejam levadas pelo vento ou sufocadas pela forca da repressão religiosa.
            E por aí vai.
            Ocorre, no entanto, um pequeno problema de ordem matemática com esta solução que, no meu entender, justifica o título que usei para a presente dissertação.
            Até o início do século XIX a população humana no planeta mal alcançava o primeiro bilhão de indivíduos e, nos dois últimos séculos, multiplicamos por sete este contingente.
            Como um vírus que se alastra pelo corpo, ocupamos cada pedaço do planeta desconsiderando suas limitações e sua capacidade regenerativa frente às agressões que promovemos.
            “Estamos matando a galinha dos ovos de ouro!”
            Abandonando qualquer réstia que nos prende a uma moral vitoriana, no meu entender, precisamos trabalhar a ideia de que a questão do crescimento da doutrina islâmica no mundo repousa muito mais no nosso diagnóstico do problema, do “remédio que utilizamos para combater este mal” e da soberba que praticamos ao fazê-lo.
            Um povo que vive abandonado, sofrendo as agruras de uma vida miserável, sem expectativa evolutiva, que testemunha diariamente os crimes e os abusos (até mesmo assassinatos) praticados por aqueles que os criticam, acaba fatalmente por revoltar-se e por aceitar seguir líderes que, de forma  demagógica e populista, os defendem.
            Antonio Gramsci alertava, no seus Cadernos do Cárcere, para o fato de que uma vez destruídos os valores (trincheiras) que sustentam a sociedade e a cultura hegemônica imposta pelo Capital e pelos “donos das moedas”, o povo, carente de um objetivo, de um porto seguro para sua jornada, livremente concorda com a supressão de sua liberdade e aceita um governo totalitário que traga a ordem.
            Venceremos o fanatismo religioso, qualquer que seja ele, se adotarmos uma posição construtiva, sem meias palavras e com ações práticas para melhorar a qualidade de vida daqueles que oprimimos para abastecer nossos carros.
            Quem conhece um índio sulamericano sabe muito bem que ele deseja continuar livre e que também deseja poder usufruir da tecnologia que lhe é oferecida: um bom hospital, um carro, uma televisão, celular, etc.
            Faz parte da natureza humana a “Lei do Menor Esforço”.
            Posições radicais são normalmente afastadas pelos fastiados e adotadas pelos famintos, qualquer que seja o regime.
            Observe-se o fenômeno da recente “Primavera Árabe”.
            Desde a primeira Cruzada tentamos combatê-los.
            Talvez seja chegada a hora de ajudá-los.

Professor Orosco

sexta-feira, 3 de maio de 2013

POR QUEM OS SINOS DOBRAM



“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

            Lendo o poema de John Donne, imortalizado na obra de Ernest Hemingway, veio a minha mente uma série de pensamentos, que transcrevo e submeto à paciência de meus amigos.
            Como nos fragmentos de Heráclito, agora já não somos, fomos.
            Nossas células são substituídas aos milhares a cada novo minuto; nosso pâncreas e nossa mucosa gástrica praticamente reconstruídas a cada novo dia e, apesar desta permanente e constante transformação, continuamos existindo, mantendo vivos os nossos sonhos e desejos, compartilhando memórias e experiências com aqueles que amamos.
            Estamos presos às pessoas que conhecemos e evoluímos com o planeta, embora muitos acreditem que evoluímos no planeta.
            O cientificismo e o materialismo a partir de Descartes, transformando-se em uma religião dominante, só fez alienar o homem do mundo, retirando dele (do homem) todas as considerações morais e a responsabilidade por suas descobertas.
            Nossos brilhantes cientistas, com suas máquinas e equipamentos de última geração, descobriram que o átomo, em sua maior parte, é composto por espaços vazios, circunscritos pela órbita dos elétrons, a eletrosfera.
            Demócrito de Abdera, muitos séculos antes de Cristo, já havia chegado à mesma conclusão, simplesmente observando as partículas de poeira visíveis em um único raio de Sol que entrava pela porta.
            Todos os prótons, nêutrons e elétrons, estão contidos entre as dimensões da realidade e da potencialidade.
            Em um nível subatômico, não existem objetos sólidos e aquilo que vemos ocupando espaço, é, na realidade, apenas uma probabilidade de estar ocupando aquele espaço.
            Nossa vida, no entanto, é muito maior que isto.
            É composta de probabilidades e de infindáveis conexões com o mundo.
            Ela sente a si mesma.
            A matemática pode explicar o movimento que uma pedra lançada ao ar descreve até atingir as águas serenas do lago em que a atirei.
            Só não consegue explicar porque fiz isso.
            A sabedoria de antigas tribos indígenas da América repousava no fato de tomarem suas decisões pensando em muitas gerações adiante, o que o homem moderno sequer aprendeu.
            Em verdade, o homem  do século XXI sequer consegue pensar na sua própria geração, procurando visualizar os anos próximos que estão por vir.
            A transferência de responsabilidades que se dá em todos os níveis: do povo para os cientistas; dos cientistas para os militares; dos militares para os políticos e estes para os desejos manifestos do povo, consolida esta ideia.
            Sofremos uma crise de percepção.
            Se pensarmos melhor, gastaríamos muito menos com medicina se, simplesmente alterássemos nossos hábitos alimentares; se, ao invés de desmatar para produzir carne vermelha e assim aumentar a incidência de infartos, produzíssemos grãos, etc.
            Enfim, se conseguíssemos olhar em uma árvore não apenas a madeira que se pode extrair dela, seu tronco e suas folhas, mas a sua relação simbiótica com a vida da floresta; com a produção de oxigênio; com o controle da temperatura do ar pela absorção de CO2; pelas frutas que produz e que potencialmente pode produzir; como abrigo de pássaros e morada de inúmeros insetos; sua relação com os fungos e deles com a terra, de onde retira a umidade que eleva aos céus; curvando-se ao vento e rejuvenescendo após cada chuva, evidenciando um aroma agradável e uma sensação de plenitude, estaríamos mais próximos de nos compreender.

            Não pergunte por quem os sinos dobram,
            Eles dobram por ti.
           
Professor Orosco

quarta-feira, 1 de maio de 2013

A PRECÁRIA SITUAÇÃO DE NOSSOS TRABALHADORES



            Lendo neste 1º de Maio a entrevista publicada na revista Sociologia, da Editora Escala, edição de nº 46, com o sociólogo, militante do PSTU e professor da USP, Ruy Gomes Braga Neto, acerca de seu livro “A Política do Precariado”, acredito ser importante fazer uma breve reflexão sobre o assunto.
            Nas palavras de Ruy Braga, “precariado é, em primeiro lugar, aquele setor da classe trabalhadora permanentemente pressionada pelo aumento da exploração econômica e pela ameaça de exclusão social”.
            Também, nas palavras do professor Guy Standing, da Universidade de Londres, “o precariado seria formado por aqueles grupos sociais mais vulneráveis e empobrecidos, jovens desempregados e subempregados, cada dia mais distantes dos direitos sociais ou das políticas de bem-estar das próprias empresas e, por isso mesmo, potencialmente inclinado a abraçar soluções populistas autoritárias e xenofóbicas”.
            Ou ainda, como nas palavras de Paul Singer, um conceituado economista e professor brasileiro, que se vale da expressão “sub proletariado” para, além dos conceitos anteriores do precariado, incorporar também a população miserável e o lumpesinato (aquela camada social carente de consciência política, formada por operários que vivem na miséria e por aqueles desvinculados da produção social e que se dedicam a atividades marginais) como os nossos camelôs, por exemplo, podemos compreender o quão frágil é esta parcela da população.
            O falacioso empoderamento da classe trabalhadora fica evidente quando, se de um lado, o Capital que entra na produção concentra-se na manufatura semiqualificada, pagando baixos salários, expatriando sob a forma de “commodities” nossos recursos minerais e agrícolas, inclusive a água potável que acompanha os produtos agropecuários, face ao evidente poder das multinacionais que não desejam agregar valor às matérias primas em terras brasileiras, preferindo fazê-lo em seus países de origem, onde geram empregos e tributos que nos cobram, acrescidos de juros, quando seus produtos acabados retornam.
            De outro lado, a multiplicação de oportunidades de trabalho, tão alardeada pelos indicadores econômicos e pelo governo, principalmente nas áreas de comércio e serviços, onde a elevada rotatividade da mão de obra é um fato, a exemplo dos frentistas dos postos de gasolina, dos balconistas, dos garçons, dos profissionais de serviços domésticos, etc., que exatamente por estas características, de maneira geral, remuneram muito mal o trabalho realizado e dificultam a organização sindical, acabando por produzir um enorme contingente de trabalhadores despolitizados e alheios ao que acontece ao seu redor.
            As próprias Centrais Sindicais, reféns de um sistema capitalista de consumo, que prioriza o homem enquanto mercadoria, desde há muito tempo abandonaram a luta de classes, acomodando-se e, desta forma, pactuando com o “Status Quo” e preferindo adotar posturas demagógicas e populistas, como festas, sorteios de casas e carros, no intuito de perpetuar a cultura hegemônica imposta pelo poder, mantendo as benécies que conseguiram para seus representantes, em lugar das categorias de trabalhadores que representam.
            Como consequencia desta alienação generalizada, principalmente no precariado, vemos brotar e crescer assustadoramente uma inquietação social, travestida de violência, em todos os níveis, principalmente contra a pessoa e a vida, que aterroriza a todos nós.
            Somente uma revisão do modelo de produção adotado, que force o desenvolvimento de novas tecnologias, que agregue valor aos nossos produtos de exportação, ainda que requeiram novas estatais, poderá dar vazão a estas demandas reprimidas.
            Por sua vez, a educação formal, que reproduz o sistema hegemônico imposto pelo Capital, onde o homem explora o homem, e com isso só faz aumentar o problema, requer por parte dos educadores, comprometidos com a “salvação nacional” e com as novas gerações, um firme propósito para promover a ruptura destes paradigmas e estabelecer outros, de forma a desenvolver uma sociedade mais justa, mais livre, mais igualitária e mais fraterna.
            E dizer, como nas palavras do sociólogo Charles Wrigth Mills, em sua obra A Imaginação Sociológica, “mais do que analisar e produzir estatísticas, o cientista social (e aqui eu incluo também os filósofos) tem a obrigação de contribuir para a transformação da sociedade”.

Professor Orosco