“Nenhum homem é uma
ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se
um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um
promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de
qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não
perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
Lendo
o poema de John Donne, imortalizado na obra de Ernest Hemingway, veio a minha
mente uma série de pensamentos, que transcrevo e submeto à paciência de meus
amigos.
Como
nos fragmentos de Heráclito, agora já não somos, fomos.
Nossas
células são substituídas aos milhares a cada novo minuto; nosso pâncreas e
nossa mucosa gástrica praticamente reconstruídas a cada novo dia e, apesar
desta permanente e constante transformação, continuamos existindo, mantendo
vivos os nossos sonhos e desejos, compartilhando memórias e experiências com
aqueles que amamos.
Estamos
presos às pessoas que conhecemos e evoluímos com o planeta, embora muitos
acreditem que evoluímos no planeta.
O
cientificismo e o materialismo a partir de Descartes, transformando-se em uma religião
dominante, só fez alienar o homem do mundo, retirando dele (do homem) todas as
considerações morais e a responsabilidade por suas descobertas.
Nossos
brilhantes cientistas, com suas máquinas e equipamentos de última geração,
descobriram que o átomo, em sua maior parte, é composto por espaços vazios,
circunscritos pela órbita dos elétrons, a eletrosfera.
Demócrito
de Abdera, muitos séculos antes de Cristo, já havia chegado à mesma conclusão,
simplesmente observando as partículas de poeira visíveis em um único raio de
Sol que entrava pela porta.
Todos
os prótons, nêutrons e elétrons, estão contidos entre as dimensões da realidade
e da potencialidade.
Em
um nível subatômico, não existem objetos sólidos e aquilo que vemos ocupando
espaço, é, na realidade, apenas uma probabilidade de estar ocupando aquele
espaço.
Nossa
vida, no entanto, é muito maior que isto.
É
composta de probabilidades e de infindáveis conexões com o mundo.
Ela
sente a si mesma.
A
matemática pode explicar o movimento que uma pedra lançada ao ar descreve até
atingir as águas serenas do lago em que a atirei.
Só
não consegue explicar porque fiz isso.
A
sabedoria de antigas tribos indígenas da América repousava no fato de tomarem
suas decisões pensando em muitas gerações adiante, o que o homem moderno sequer
aprendeu.
Em
verdade, o homem do século XXI sequer
consegue pensar na sua própria geração, procurando visualizar os anos próximos
que estão por vir.
A transferência
de responsabilidades que se dá em todos os níveis: do povo para os cientistas;
dos cientistas para os militares; dos militares para os políticos e estes para
os desejos manifestos do povo, consolida esta ideia.
Sofremos
uma crise de percepção.
Se
pensarmos melhor, gastaríamos muito menos com medicina se, simplesmente
alterássemos nossos hábitos alimentares; se, ao invés de desmatar para produzir
carne vermelha e assim aumentar a incidência de infartos, produzíssemos grãos,
etc.
Enfim,
se conseguíssemos olhar em uma árvore não apenas a madeira que se pode extrair
dela, seu tronco e suas folhas, mas a sua relação simbiótica com a vida da
floresta; com a produção de oxigênio; com o controle da temperatura do ar pela
absorção de CO2; pelas frutas que produz e que potencialmente pode
produzir; como abrigo de pássaros e morada de inúmeros insetos; sua relação com
os fungos e deles com a terra, de onde retira a umidade que eleva aos céus;
curvando-se ao vento e rejuvenescendo após cada chuva, evidenciando um aroma
agradável e uma sensação de plenitude, estaríamos mais próximos de nos
compreender.
Não
pergunte por quem os sinos dobram,
Eles
dobram por ti.
Professor Orosco
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