Lendo neste
1º de Maio a entrevista publicada na revista Sociologia, da Editora Escala,
edição de nº 46, com o sociólogo, militante do PSTU e professor da USP, Ruy
Gomes Braga Neto, acerca de seu livro “A Política do Precariado”, acredito ser
importante fazer uma breve reflexão sobre o assunto.
Nas
palavras de Ruy Braga, “precariado é, em primeiro lugar, aquele setor da classe
trabalhadora permanentemente pressionada pelo aumento da exploração econômica e
pela ameaça de exclusão social”.
Também, nas
palavras do professor Guy Standing, da Universidade de Londres, “o precariado
seria formado por aqueles grupos sociais mais vulneráveis e empobrecidos, jovens
desempregados e subempregados, cada dia mais distantes dos direitos sociais ou
das políticas de bem-estar das próprias empresas e, por isso mesmo, potencialmente
inclinado a abraçar soluções populistas autoritárias e xenofóbicas”.
Ou ainda,
como nas palavras de Paul Singer, um conceituado economista e professor
brasileiro, que se vale da expressão “sub proletariado” para, além dos
conceitos anteriores do precariado, incorporar também a população miserável e o
lumpesinato (aquela camada social carente de consciência política, formada por
operários que vivem na miséria e por aqueles desvinculados da produção social e
que se dedicam a atividades marginais) como os nossos camelôs, por exemplo,
podemos compreender o quão frágil é esta parcela da população.
O falacioso
empoderamento da classe trabalhadora fica evidente quando, se de um lado, o
Capital que entra na produção concentra-se na manufatura semiqualificada,
pagando baixos salários, expatriando sob a forma de “commodities” nossos
recursos minerais e agrícolas, inclusive a água potável que acompanha os
produtos agropecuários, face ao evidente poder das multinacionais que não
desejam agregar valor às matérias primas em terras brasileiras, preferindo
fazê-lo em seus países de origem, onde geram empregos e tributos que nos
cobram, acrescidos de juros, quando seus produtos acabados retornam.
De outro
lado, a multiplicação de oportunidades de trabalho, tão alardeada pelos
indicadores econômicos e pelo governo, principalmente nas áreas de comércio e
serviços, onde a elevada rotatividade da mão de obra é um fato, a exemplo dos
frentistas dos postos de gasolina, dos balconistas, dos garçons, dos
profissionais de serviços domésticos, etc., que exatamente por estas características,
de maneira geral, remuneram muito mal o trabalho realizado e dificultam a
organização sindical, acabando por produzir um enorme contingente de
trabalhadores despolitizados e alheios ao que acontece ao seu redor.
As próprias
Centrais Sindicais, reféns de um sistema capitalista de consumo, que prioriza o
homem enquanto mercadoria, desde há muito tempo abandonaram a luta de classes,
acomodando-se e, desta forma, pactuando com o “Status Quo” e preferindo adotar
posturas demagógicas e populistas, como festas, sorteios de casas e carros, no intuito
de perpetuar a cultura hegemônica imposta pelo poder, mantendo as benécies que
conseguiram para seus representantes, em lugar das categorias de trabalhadores
que representam.
Como
consequencia desta alienação generalizada, principalmente no precariado, vemos
brotar e crescer assustadoramente uma inquietação social, travestida de violência,
em todos os níveis, principalmente contra a pessoa e a vida, que aterroriza a
todos nós.
Somente uma
revisão do modelo de produção adotado, que force o desenvolvimento de novas
tecnologias, que agregue valor aos nossos produtos de exportação, ainda que
requeiram novas estatais, poderá dar vazão a estas demandas reprimidas.
Por sua
vez, a educação formal, que reproduz o sistema hegemônico imposto pelo Capital,
onde o homem explora o homem, e com isso só faz aumentar o problema, requer por
parte dos educadores, comprometidos com a “salvação nacional” e com as novas
gerações, um firme propósito para promover a ruptura destes paradigmas e
estabelecer outros, de forma a desenvolver uma sociedade mais justa, mais livre,
mais igualitária e mais fraterna.
E dizer, como
nas palavras do sociólogo Charles Wrigth Mills, em sua obra A Imaginação Sociológica,
“mais do que analisar e produzir estatísticas, o cientista social (e aqui eu
incluo também os filósofos) tem a obrigação de contribuir para a transformação
da sociedade”.
Professor Orosco
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