A música de qualidade mais
inferior produz entre os povos bárbaros sensações incomparavelmente mais fortes
do que as provocadas pela mais doce das melodias entre os povos civilizados.
Quanto mais os gregos quiseram aperfeiçoar a música, mais viram suas maravilhas
enfraquecerem. Isso ocorreu precisamente porque eles desejaram aperfeiçoar a
música. Isto é, a estavam julgando. Tudo o que seus selvagens ancestrais haviam
feito tinha sido escutá-la. (M. de Pauw [1], Recherches sur les Grecs, 1768)
Este
argumento defendido por Pauw, a quase 250 anos atrás, é ainda tido por muitos como
verdadeiro, principalmente quando não compreendemos o significado das atuais
preferencias musicais de boa parte de nossa juventude.
Se
realizarmos um estudo antropológico destas novas tribos urbanas, a partir de
seus gostos musicais, poderíamos evidenciar, por exemplo, alguns preconceitos
de nossa parte para com elas, quando não percebemos o fato de que a harmonia
melódica que defendemos é simplesmente um processo de racionalização
(matematização) construída ao longo dos tempos, inspirada em boa parte na
observação que fizemos das coisas da natureza, responsável por todo o nosso processo
civilizatório.
O
jovem, como o bárbaro das civilizações antigas, tendo uma imaginação dominante,
é capaz de justificar para si a violência e o desejo de conquista territorial
ou de poder, como força motriz do desenvolvimento humano, elementos que Nietzsche
explorou muito bem ao definir sua “vontade de potência”. Já os mais velhos, conscientes
de sua finitude, veem seus interesses serem pautados por coisas mais próximas a
eles, preferindo valorar a razão, a paz e o comércio ao uso da força que já não
possuem.
Assim,
refutando uma análise simplista do pensamento de Pauw, entendemos que o entusiasmo
e o conhecimento, de forma complementar e não antagônica, fazem parte do
processo de desenvolvimento humano, tanto individual quanto coletivamente.
Ambos são igualmente importantes ou potencialmente perigosos para a
continuidade e desenvolvimento da nossa espécie.
A
música, ou a forma como ela nos toca, simplesmente espelha isso.
Professor Orosco
[1] Cornélius Franciscus de Pauw, ou
Cornelis de Pauw (1739-1799) foi um holandês filósofo, geógrafo, especialista
em estudos etnonógicos e diplomata na corte de Frederico, o Grande, da Prússia,
Familar às ideias do iluminismo, foi considerado o maior especialista sobre as
Américas, mesmo nunca tendo visitado o continente. Também escreveu sobre as
origens dos povos antigos, rejeitando a ideia popular de que a China havia
sido, originalmente, uma colônia do Egito Antigo.
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