Tanto Hobbes quanto Locke, e até mesmo o próprio Rousseau, reconheciam o estado de natureza em que possivelmente a espécie humana começou a se desenvolver.
Estado este em que os homens eram livres, não se sujeitando a ninguém, além de sua própria vontade, onde não haviam leis civis, principalmente porque a sociedade ainda não tinha sido constituída, reafirmavam o comportamento antissocial dos homens de maneira geral.
Hobbes, que acreditava que eles eram maus, os colocava em permanente estado de guerra, todos contra todos; Locke, que acreditava que eram bons, os colocava em estado de paz, porém, de forma desconectada e independente.
Rousseau, salientava a piedade, que mais referia-se à sorte de haver escapado do infortúnio do que à compaixão de um pelo outro.
De qualquer forma, os primórdios da sociedade começaram a se estabelecer pela união carnal de macho e fêmea, a exemplo de todos os outros animais, onde, na maioria das espécies, esta união dura pouco mais que o período do coito, pois a fêmea se mostra independente e capaz de cuidar da cria, até que esta se mostre suficientemente capacitada para sobreviver sozinha.
Isto acontece com a maioria dos herbívoros.
Já entre os predadores, onde a fêmea tem dificuldades para caçar e alimentar as crias de forma concomitante, a presença do macho, formando a família, costuma durar um pouco mais.
Isto é um fato e um comportamento ainda mais acentuado entre os pássaros.
Neste período, o macho torna-se o provedor do sustento e da segurança do lar, da fêmea e da crias.
No caso humano, como a cria gerada tem um período de dependência muito mais acentuada, o estabelecimento da relação familiar costuma durar ainda mais.
Como, no início dos tempos, a fêmea humana costumava engravidar antes mesmo da autossuficiência da cria gerada anteriormente, a presença do macho, do homem, como provedor do alimento e da segurança à prole, acabou por eternizar-se, incluindo na dependência dos filhos, também o período de educação e formação profissional.
Chegou-se, por um tempo, a determinar a maioridade, a independência dos filhos, aos 21 anos de idade.
Isto não significava para o macho, necessariamente a permanência no lar, pois tão logo a oportunidade surgisse, um novo relacionamento se estabelecia e uma nova família era formada.
Com o desenvolvimento da espécie, acompanhando a evolução dos filhos, surgiu, além da cumplicidade, o amor e o desejo de perpetuar a sensação de afetividade estabelecida, estabelecendo-se, em definitivo, os laços familiares sobre os quais se construiu a célula mãe de todas as sociedades.
Estes laços se estenderam se tal forma, que a relação familiar cresceu a tal ponto que, vivendo em pequenos grupos, a família passou a ser composta por país, filhos, avós, tios, irmãos e primos, de tal sorte que o próprio amparo dos mais velhos, promovido pelos jovens, em retribuição ao que haviam recebido, tornou-se um fator aglutinador da espécie.
Estes grupos familiares, reuniram-se a outros, formando clãs e tribos que, por sua vez, cresceram e formaram a sociedade, agora regida por leis, que garantiam os direitos de todos e asseguravam a paz ao grupo.
Ocorre que, com o desenvolvimento do progresso tecnológico experimentado nos últimos séculos, particularmente no último, onde as fêmeas da espécie foram, finalmente, reconhecidas como seres de igual direito aos homens, face às dificuldades econômicas de uma sociedade capitalista formada no consumo de bens e de serviços, a manutenção dos laços familiares, que formavam o povo e a nação, começaram a esfacelar-se.
A família excluiu primeiramente os primos, depois os tios.
Aos poucos distanciou irmãos e afastou filhos e pais.
Com o advento do divórcio, separou marido e mulher e a guarda dos filhos, inicialmente compartilhada, está sendo relegada àquele que se dispuser gastar um pouco do seu tempo para com os rebentos.
Surgiram e se multiplicaram os colégios de período integral e os internatos.
Face ao fracasso do modelo educacional, o próprio Estado propõe as escolas em período integral.
Diante do pragmatismo americano, vimos surgir vilas e vilas de idosos, largados à própria sorte, amparados por políticas assistenciais do Estado, distante dos filhos, que costumam ver no dia de ação de graças, isto quando não estão me viagem de negócios ou, então, quando os netos desejam ir à Disney.
Por aqui, multiplicam-se os asilos.
É um fato incontestável, desta sociedade do século XXI, que estamos ficando a cada dia que se passa, mais conectados na Internet e mais distantes das pessoas reais.
Estamos, a largos passos, adentrando o Estado de Natureza do qual viemos.
Professor Orosco.
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