domingo, 22 de novembro de 2015

DAI-ME SUA BENÇÃO! AMADO PAI.

            Em dias tão atribulados como os que estamos vivendo atualmente, não posso deixar de refletir sobre os desígnios que foram desejados para nossa espécie, desde antes de sua aparição.
Diante deles, Deus, como supremo Bem, criador e genitor do homem, apresentando-se como um pai generoso que transferiu à sua prole, junto com seu DNA, um Ethos que lhes permite distinguir as coisas boas das coisas más, seguramente deve estar desgostoso com o fruto de seu trabalho.
            Magoado pela irreverência e irresponsabilidade destes jovens humanos, que mal alcançaram a puberdade, seguramente ele não pode aprovar a violência, o individualismo e a presunção com a qual seus filhos se arbitraram o domínio do mundo e o poder de vida e morte sobre as demais espécies.
            Como todo pai que, pacientemente, entendendo ser o excesso de testosterona a causa maior da sua soberba, não pode, contudo, deixar de querer que eles amadureçam, aprendam a ser tolerantes e que venham ao seu encontro, iluminados pela justa razão, ávidos de poder contemplar a plenitude de sua obra.
            Que alcancem um estágio de desenvolvimento suficientemente capaz para que percebam não estarem sós neste vasto universo em que foram colocados.
            Que, com o passar dos anos, aprendendo a ser humildes, prostrem-se de joelhos, arrependidos dos arroubos de sua juventude e, simplesmente, lhe peçam sua benção.

Professor Orosco

ATÉ QUANDO?


Ontem, 21 de novembro, li a notícia de que o Brasil, "celeiro do mundo", vai exportar um milhão de jegues por ano, com as bênçãos e festejos da ministra da agricultura Katia Abreu, para a China.
Lá eles serão transformados em saborosos quitutes para agradar o paladar chinês.
Hoje, leio no jornal que o abate de jacarés para o comércio de carne  está liberado em Rondônia, sob a alegação de que existem muitos e que isso coloca a população em risco, admitindo-se que isso pode vir a ser um grande negócio.
Há algum tempo, não muito, é verdade, acompanhei a notícia de que os chineses estavam "comprando" cachorros abandonados em São Paulo e levando-os para alimentar sua população.
Não vou falar nada sobre o contrabando de aves, insetos e de outros brasileiros que são roubados e mortos diariamente para alimentar uma indústria da moda lá fora, a exemplo das chinchilas.
Também não vou falar sobre a criação de gado, predatória de nossas matas, produtora de metano e grande consumidora de nossa água potável, realizada por multinacionais que ainda recebem incentivos fiscais para exportar essa carne.
Isso sem falar de porcos e frangos, mortos aos milhões, pelos mesmos motivos.
Num país assim, não deveríamos nos indignar quando rins e outros órgãos para transplante, de pele ou cabelo humano são comercializados, ainda que travestidos de adoção de crianças abandonadas, em situação de vulnerabilidade social ou deficientes, como vez ou outra denunciam os jornais.
A pergunta que me faço, sentindo-me profundamente envergonhado e enojado por me achar um ser racional   e superior, neste mundo criado por Deus é:
Até quando vamos permitir isso?

Professor Orosco.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

REVOGANDO A LEI DA GRAVIDADE

Durante os últimos anos tenho participado ativamente de Conselhos Municipais e Estaduais, particularmente naqueles que tratam dos interesses de pessoas com deficiência, embora não exclusivamente nestes. Tenho acompanhado algumas reuniões ordinárias e outras tantas extraordinárias, em várias cidades e estados, tendo, inclusive, participado da última conferência nacional, promovida pelo CONADE, em Brasília.
Nestes encontros, onde a presença de representantes da sociedade civil se soma à participação de pessoas indicadas pelo poder público, pude perceber, na maioria das vezes, um forte compromisso com a causa defendida, por parte dos membros eleitos ou nomeados.       Da mesma forma, quer por inexperiência, quer por presunção ou soberba, percebi que, em boa parte dos momentos vividos, o conceito de “Conselho” não foi corretamente assimilado pelos participantes que, ansiosos por alcançar resultados, extrapolam seu poder e ferem os preceitos legais que instituíram estas instâncias, principalmente quando se entendem deliberativos ou capazes de emitir comandos.
            Segundo Thomas Hobbes, em suas obras De Cive e Leviatã, o conselho é um preceito em que o motivo da obediência é tomado da própria coisa aconselhada, diferentemente do comando que é um preceito em que o motivo da obediência é tomado da vontade de quem cria o comando. O conselho é daquele que não tem o poder sobre a quem está destinado, ao passo que o comando é de quem tem o poder sobre aquele a quem comanda. Fazer o que é indicado por conselho é de livre escolha, fazer o que é indicado por comando é dever. O conselho é dirigido ao fim (interesse) de quem o recebe, o comando é dirigido ao fim (interesse) de quem manda. Dá-se conselho só a quem quer, impõe-se o comando a quem não quer. O direito do conselheiro cessa pela vontade daquele a quem é dado o conselho, o direito de quem comanda não cessa pela vontade daquele a quem o comando é imposto. (Hobbes, 1993: 179; 2003:471, apud Quintana, 2014).
            Somado ao desconhecimento destes critérios por parte dos membros da sociedade civil, em igual número de vezes, pude perceber que os membros nomeados pelo poder público também não os compreenderam, principalmente quando se valem de sua pseudo estabilidade funcional (os membros da sociedade civil são em sua maior parte voluntários) para extrapolar seu poder de mando, em princípio igual a qualquer membro, para impor procedimentos, arbitrar normas e criar uma burocracia com a qual a maioria dos mortais não está apta para tratar.
            Este motivo, que ao meu ver, tenta revogar a Lei da Gravidade, distorce o objetivo dos Conselhos, afasta a população que poderia ser convidada a participar e igualmente colaborar, apresentando demandas e sugestões, promove o descrédito das instituições que deveriam auxiliar e impede que estas instancias produzam aquilo que se esperava delas quando foram concebidas.
            Se não houver uma rápida mudança comportamental, ao invés de lograrem consolidar-se como instancia de decisão, ou como sonham alguns, em instâncias político partidárias a serviço de alguns partidos, os Conselhos tenderão a serem incorporados à máquina pública ou serem dissolvidos, o que, em ambas as situações, seria um retrocesso.

Professor Orosco.
                                   
HOBBES, Thomas. De Cive. Trad. I.Soler. Petrópolis: Vozes, 1993
_____. Leviatã Trad. J.P. Monteiro; M.B. Nizza da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2003
QUINTANA, Fernando. Ética e Política: São Paulo: Atlas, 2014