Nossa sociedade, como já denunciava Darcy Ribeiro (1922/1997) em sua obra “O Processo Civilizatório”, desde os primórdios da nossa República (res + pública = coisa pública), perdeu sua identidade e passou a subir na escala do desenvolvimento social e econômico, subindo uma escada de dois em dois degraus e, algumas vezes, como no período do “milagre econômico”, de três em três, num processo que ele chamava de atualização histórica.
Dito em outras palavras, isto significa que, em nome do desenvolvimento econômico, passamos a importar tecnologias de países mais desenvolvidos, dando saltos de qualidade na produção de bens e serviços, sem que nossa sociedade tivesse a capacidade de assimilar este conhecimento ou de estabelecer correlações com nossas tradições e costumes, perdendo, com isso, o domínio do processo emancipador.
O problema desta “atualização tecnológica”, é que não aprendemos a falar inglês e esquecemos o português, ou como prefiro colocar, não aprendemos a lançar foguetes, e esquecemos como se plantam as batatas.
Tornamo-nos inteiramente dependentes destas tecnologias externas e sequer nos demos conta disto.
Como diria Lima Vaz, em sua “Introdução à Ética Filosófica”, incorporamos valores e comportamentos que renegam nosso Ethos e que nos levam a uma situação de total dependência externa, tanto em níveis do desenvolvimento tecnológico quanto em termos dos valores basilares que constituíram a nossa população afro-ibérica miscigenada à indígena.
Somos capazes de solidarizamo-nos com a violação dos direitos civis nos Estados Unidos, quando um policial branco assassina um homem negro, mas aceitamos passivamente que isso ocorra em escala muito maior aqui no Brasil, onde a população mais pobre e vulnerável, acaba precisando render-se à proteção do crime organizado, para enfrentar a violência do Estado, visível em cada favela ou guetos metropolitanos.
E dizer, abdicamos da mantença dos valores éticos que constituíram a nossa nação e acabamos por nos render a uma concepção moral, individual, onde “vale tudo” e onde o que conta é o pertencer a uma pseudo elite cosmopolita, risível para os padrões dos povos do chamado primeiro mundo, que nos veem como “macaquitos”, engraçados e inúteis.
Claro que sem querer generalizar, mas já fazendo-o, relembro que durante o chamado “período do milagre econômico brasileiro”, operários estrangeiros, que sabiam operar as máquinas, chegaram ao Brasil para trabalharem como técnicos; técnicos para atuarem como engenheiros e engenheiros para serem capitães da indústria.
Hoje, boa parte de nossos engenheiros contentam-se em servir mesas, lá fora, ou sujeitam-se a prestar serviços de pouca relevância ou reconhecimento.
Transformamo-nos em um povo que se orgulha de ostentar uma bandeira estrangeira em situação de igualdade à nossa, e “batemos continência” a ela, em respeito e sinal de obediência e submissão.
Sem dúvida, enquanto povo, temos sérios problemas morais a superar.
Professor Orosco
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