quarta-feira, 21 de abril de 2021

SER OU QUERER SER ANALFABETO


Diante de tantas informações desencontradas que vemos publicadas diuturnamente tanto nos periódicos impressos, digitais, ou mesmo nas redes sociais, não é de se estranhar que uma grande confusão se instale na cabeça daqueles que, por mais preparados que estejam, veem sua capacidade depurativa e crítica ser solapada diante de tantas notícias falsas ou falaciosas.


Não é de se estranhar que ideólogos, tanto aqueles de matizes de direita quanto aqueles de matizes mais à esquerda, sejam uníssonos em propagar uma certa censura aos meios de comunicação, e da própria academia,  como forma de assegurar a mantença de seus objetivos.

Detratar a imagem de opositores, exacerbando seus defeitos e minimizando seus méritos, em discursos construídos propositalmente com a utilização de formas falaciosas relevantes, sejam com a utilização de um Argumentun  ad Hominen (ofensivo), que desqualifica o opositor, ou mesmo o Argumentos ad Baculum (recurso à força), quando se apela para a força ou à ameaça de força para provocar a aceitação de uma conclusão ou, ainda, o Argumentum ad Ignorantiam (argumento de que devem existir fantasmas), como aqueles nos quais se amparam as mais diversas crenças e religiões que, mesmo sem poderem ser comprovadas, para justificar padrões de comportamento ou reeditar a história, alterando a realidade dos fatos, são recursos cotidianos usados por quase todos aqueles que estão no poder ou por aqueles que almejam alcançá-lo, invariavelmente valendo-se do pouco conhecimento e preparo daqueles que os ouvem.


A falta ou a incapacidade de evidenciar um pensamento crítico, referendada pela lei do menor esforço, que delega a outros a tarefa de “pensar” por nós, historicamente tem sido um importante aliado das ideologias e amplamente utilizado pelos mais diversos veículos de comunicação de massas. De Goebbels a Assis Chateaubriand, onde quer que estejam as reminiscências de seus átomos (no Tártaro espero eu) que o digam.


Haja visto as divergências provocadas pelo futebol, cujas paixões extrapolam o senso da lógica, provocando inimizades entre aqueles que, quando crianças descalças, ora jogavam no lado A, ora no lado B, quase pelados nas peladas de rua, cujo regra principal era o “vira seis, acaba 12”.


Igual exemplo, poderíamos encontrar entre cristãos, onde evangélicos radicais menosprezam católicos como sendo adoradores de estátuas, ou católicos que depreciativamente classificam evangélicos como “leitores de bíblia”, ambos se esquecendo que defendem o mesmo fantasma, cuja mensagem não chegaram a compreender (Argumentun ad Misericordiam [apelo à piedade]) ou um Argumentum ad Populum [apelo emocional]).


Alguns, chegam ao absurdo de até chamar o Papa de comunista, sem sequer imaginar quais seriam as atribuições papais ou mesmo o que é o comunismo, este último, definido como uma proposta política em permanente construção, e que é desconhecida tanto pela grande maioria daqueles que a difamam quanto, igualmente daqueles que a defendem.


Pasmem, alguns chegam a defender que a Terra é Plana e o centro do Universo, outros que os homens foram soberbamente construídos à imagem de Deus, um Ser isento de defeitos, misericordioso e eterno, como se tivessem a menor condição de opinar sobre isso, o que já defendia Santo Anselmo de Cantuária, quando afirmou, em seu Proslógio, que “Deus está acima de tudo aquilo que pode ser pensado ou dito”.


Posições que já foram defendidas (e algumas ainda são), por proeminentes homens de ciência.


Não é, portanto, sem motivo, que a educação formal, principalmente nas áreas das humanidades, dada sua função crítica e emancipadora, sempre foi tão combatida pelos governantes, independentemente de seu viés ideológico, já que todos eles se preocupam apenas com o usufruto vitalício do poder.


Assim, neste sábado de Aleluia, finalizando este breve texto, elaborado como arremedo de um pequeno opúsculo, gostaria de lembrar a importante mensagem de um velho professor, um sujeito baixinho na estatura mas gigante no saber, com o qual tive a oportunidade de conversar por mais de uma vez, nosso patrono da educação Paulo Freire, para quem, a verdadeira autonomia e liberdade só poderiam ser alcançadas através do conhecimento crítico, que eu completaria com uma frase que costumo repetir para aterrorizar aos que momentaneamente se arvoram detentores o poder e que fazem o possível para negar seus ensinamentos:


- Podemos ensinar uma pessoa a pensar, mas depois será impossível fazer com que ela deixe de pensar !


Professor Orosco

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