Após as
revoluções protestantes do século XVI, a figura endeusada do “Papa” foi
duramente questionada, abrindo-se uma vacância no panteão vigente à época.
Após as
revoluções americana e francesa do século XVIII, a figura divina do imperador,
assim como outrora, a figura dos Faraós, foi reduzida à mortalidade e à
falibilidade.
A população
mundial, que aprendia a ler, vítima do iluminismo que lhe abria os olhos, mesmo
diante da dor provocada pelo conhecimento, refém de seus alicerces morais, patriarcal
em sua essência, via ruir também estas colunas em consequencia dos teares e da
máquina a vapor.
Como uma
criança recém desmamada que se separa da mãe, sentindo-se perdida na imensidão
da calçada inexplorada, a massa humana, agora emancipada, movia-se em busca de
uma mão, adulta, que a pudesse amparar.
Como a
caminho a ser percorrido era incerto, desconhecido, ameaçador, o ponto de
referencia passou a ser, não aonde se podia chegar, mas o portão da casa para
onde não se queria voltar.
Dadas às
características geográficas, à condição heterogênea das várias tribos humanas,
tanto econômica quanto cultural, as escolhas sobre o caminho a ser seguido
foram igualmente diferentes.
Monarquias
absolutistas, como no Japão; constitucionalistas, como na Inglaterra e na
Alemanha; clericais, como no Islã; repúblicas como na França e nos Estados
Unidos, foram alguns dos modelos adotados.
Nas sucessivas
revoluções e contra revoluções, o mais importante para a manutenção do poder,
oligárquico em sua essência, pelos governantes do momento, foi associar o
retorno à figura de um inimigo do povo.
Demonizar pessoas,
grupos de pessoas, sistemas políticos, formas de pensamento, crenças
religiosas, etc., foi a estratégia comum que se pode observar ter sido
construída ao longo do século XIX.
Eleger o
Capital como inimigo do proletário, a religião como ópio do povo, a metafísica
como antinomia do positivismo comteano, o cristão como inimigo do Islã, assim
como o islamismo classificado como inimigo do povo judaico, foram formas de
consolidar fronteiras do pensamento, travestidas em nações separadas por rios e
mares.
Influenciadas
por necessidades práticas para seu desenvolvimento, tal qual a criança perdida
na calçada da rua onde ficava sua casa, as populações passaram a dar ouvidos a
todo e a qualquer novo sofista que, apontando um novo caminho, dispunha-se a
conduzir a sua nova manada.
Durante
todo o século XX, vimos surgir e desaparecer muitos destes deuses.
Bismarck,
Lênin, Stalin, Trotsky, Ted e Franklin Roosevelt, Truman, Churchil, De Gaule,
Hiroito, até Getúlio na primeira metade do século, marcado a fogo por figuras
como “il Duce”, Hitler e seus opostos Gandhi ou Elisabeth.
No
despertar da era atômica, novas correntes filosóficas, novos questionadores,
novos deuses.
Com a globalização,
o deus “Dólar” e seus seguidores, Kennedy, Nixon, Bush e Oba-Oba.
Antepondo-se
a eles, Mao Mao, Khomeini, Sadan, Bin Laden.
Na mesma
linha populista, Perón, Noriega, Castro, Tchê ( não o nosso gaúcho), o recém falecido
Chaves e o imortal Lulla.
Na era pós
Steve Jobs, onde ainda resiste heroicamente o bom senso de um Mandela, vemos
ressurgir Francisco, com o mesmo discurso da igreja de alguns séculos atrás.
Sem mudanças
estruturais, que coloquem o homem como sujeito e como objeto a ser trabalhado
pela luz do saber, corremos o risco de ver um Kim Jung, da inexpressiva metade
norte da Coréia, levar o mundo, ofuscado pelo brilho do seu cetro divino, tal
qual a luz refletida pelos escudos polidos que defenderam o povo hebreu, ao
penhasco e à destruição.
Precisamos construir
um novo panteão, à luz da verdade e da justiça, as gerações futuras merecem
isso.
Professor Orosco