A Sociologia, enquanto ciência estabeleceu-se a partir do século XVIII, quando Augusto Comte, um filósofo francês (1798/1857), negou com sua teoria positivista o fato de que os fenômenos naturais e sociais provinham de um só princípio.
Comte abandonou a consideração das causas dos fenômenos (Deus ou natureza) e passou a pesquisar suas leis, vistas como relações abstratas e constantes entre fenômenos observáveis.
Adotando critérios históricos e sistemáticos, ele, usou a observação, a experimentação, a comparação e a classificação como métodos para compreender a realidade social, com o objetivo de “ver para prever, a fim de prover”, ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar a sua realidade.
É esta previsão científica que caracteriza o pensamento positivo.
Comte, no entanto, tornou-se extremamente rigoroso com o princípio da não interferência, no período da coleta de dados, assegurando, a seu ver, a imparcialidade das informações obtidas.
Suas observações, o resultado de suas análises, desta forma, poderiam servir, de maneira imparcial, a tantos quantos desejam valer-se delas para suas ações e decisões.
A partir da percepção do progresso humano, ele formulou a Lei dos Três Estágios onde, cada ramo do nosso conhecimento passa obrigatoriamente pelos estágios teológico, filosófico e positivo.
No primeiro, os fatos observados são explicados pelo sobrenatural, pelo místico, por entidades cuja vontade arbitrária comanda a realidade.
Esta fase teológica, por sua vez, tem várias subfases: o fetichismo, o politeísmo, o monoteísmo.
No segundo, já se passa a pesquisar diretamente a realidade, mas ainda há a presença do sobrenatural, de modo que a metafísica se torna uma transição entre a teologia e a positividade.
Esta colocação, por sua vez, nos remete a tentar compreender às formas de organização social vivenciadas pela humanidade, examinando alguns trabalhos filosóficos antigos, elaborados muito antes de surgir a Sociologia, mas que evidenciavam interesses semelhantes.
Tomemos o exemplo dos gregos.
No princípio, os dentre os povos helênicos, todos os gregos eram igualmente ricos e igualmente pobres.
Cada homem era dono de certo número de vacas e ovelhas.
Sempre que se fazia necessário discutir questões de importância coletiva, todos os cidadãos se reuniam na praça do mercado para deliberar.
Com o desenvolvimento das comunidades, as aldeias se transformaram em cidades, onde algumas pessoas trabalhavam com afinco e outras permaneciam no ócio, fazendo com que as diferenças começassem a se acentuar, criando-se uma pequena classe de pessoas muito ricas que exerciam o poder (aristocracia) e uma grande classe de pessoas muito pobres.
O povo de Atenas, decidindo “arrumar a casa”, devolveu à multidão dos homens livres o direito de opinar sobre os assuntos de governo.
No período de Péricles, um importante estadista grego, consolidou-se uma forma de “contrato de convivência” elaborada por Sólon, quase 100 anos antes (por volta de 590 a.C), a democracia.
Platão, em sua obra “A República”, traça uma série de considerações sobre a forma de ser da sociedade grega, particularmente da ateniense.
Roma, por sua vez, desenvolveu um sistema de governo, onde o povo elegia seus representantes, incumbidos de tratar da res-pública, da coisa pública.
Como podemos ver, as relações entre as várias camadas da população e a própria relação entre membros de uma mesma classe, até mesmo da família, em todos os tempos, evidenciavam formas de conflito de interesses e de solução, ora pacífica, ora sangrenta para acomodar as coisas.
A literatura histórica é cheia de relatos destes exemplos.
A diferença é que, até a época de Comte, as coisas aconteciam com certa imprevisibilidade, já que ninguém atentava para elas.
Comte introduziu a observação sistêmica dos fenômenos da física social, ciência que veio posteriormente a ser chamada de Sociologia.
Na sequencia, Emile Durkheim, (1858/1917), define o objeto da Sociologia como a observação dos fatos sociais, caracterizados pela sua exterioridade, pela sua coercitividade e pela sua coletividade.
Para Durkheim, nesta concepção, chamada funcionalista, as consciências individuais são formadas pela sociedade, opondo-se ao idealismo iluminista, segundo o qual a sociedade seria moldada pelo “espírito” e pela consciência humana.
E dizer, para ele, a sociedade constituindo-se como uma síntese das relações estabelecidas entre seus membros, desenvolve uma “consciência coletiva”, aquém do espaço e além do tempo, superior aos indivíduos, investida de uma autoridade moral, da qual os homens não podem se separar sem correr o risco de perder sua condição humana, tornando-se o indivíduo uma espécie de refém de uma tirania coletiva.
O homem, enquanto indivíduo, somatiza a cultura do meio em que vive e constrói uma segunda natureza. O grupo ganha identidade própria.
Durkheim, distanciando-se de Comte, percebe que o observador está contido no meio que analisa, sendo também influenciado por ele, de modo que suas conclusões, por mais imparciais que pareçam, acabam carregando um pouco da sua ideia deencaminhamento para as soluções dos problemas observados.
Karl Marx (1818/1883), por sua vez, defende a necessidade de que o agente social adote uma posição transformadora da sociedade, denunciando a exploração do homem pelo homem, a propriedade privada e o Capital como o maior dos males, auxiliando no processo de emancipação dos oprimidos (do proletariado).
Max Weber (1864/1920), em seus ensaios, analisa a influencia das religiões como elementos basilares para a consolidação do Capitalismo, da burocracia e da teocracia, como forma de promover a segregação por classes e castas, entre agrupamentos humanos, gerando incontáveis situações de conflito, acrescentando-se à isto, o fato de que no seu modo de ser, estes modelos dominantes provocam também a alienação cultural, de modo que só analisamos aqueles elementos da realidade que tem algum sentido de valor para nós.
Weber admite explicitamente a influencia sofrida pelo observador no desenvolvimento do seu trabalho, fruto do meio em que ele vive; da sua cultura apologética, da sua classe de origem, dos fatores econômicos que norteiam a pesquisa, etc., deixando claro que a importância cognitiva da ciência social reside na sua capacidade de controlar a pesquisa mediante métodos sistemáticos e padronizados de trabalho.
Finalmente, como tudo está em permanente movimento, o estudo da Sociologia, como não poderia deixar de ser, avança para novas fronteiras, ganhando força nas últimas décadas, as propostas e análises da escola de Frankfurt, de pensamento neo-marxista, como forma de compreender os fenômenos e fatos sociais advindos do período posterior ao surgimento do socialismo na União Soviética, das I e II Grandes Guerras, guerras Quentes, seguidas pela Guerra Fria, do ocaso do modelo, da hegemonia americana, da globalização, do terrorismo como forma de protesto, até os dias de hoje.
O trabalho da Escola de Frankfurt não pode ser completamente compreendido se não entendermos as intenções e os objetivos da teoria crítica, iniciada por Max Hokheimer (1895/1973) que em seu ensaio “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, 1937, definida como uma autoconsciência social que é objetivada na mudança e na emancipação através do esclarecimento e que não se liga dogmaticamente aos seus próprios pressupostos doutrinais.
De certa forma, sua teoria crítica se opõe à teoria tradicional, positivista, cientificista e puramente observacional, argumentando e, valendo-se de Weber para isto, que as ciências sociais são diferentes das ciências naturais, visto que generalizações não podem ser aceitas como experiências, uma vez que uma experiência social em si é sempre moldada por ideias que estão nos pesquisadores.
Diferente do marxismo ortodoxo, que meramente aplica um padrão tanto à critica quanto à ação, a teoria crítica procura ser uma autocrítica e rejeita quaisquer pretensões de uma verdade absoluta.
Ela tenta se colocar fora de estruturas filosóficas, como um modo de pensar e recuperar, pragmaticamente, o autoconhecimento da humanidade.
Outro grande expoente desta escola, Herbert Marcuse (1898/1979), se preocupava com o desenvolvimento descontrolado da tecnologia, o racionalismo dominante nas sociedades modernas, os movimentos repressivos das liberdades individuais e o aniquilamento da Razão.
Ele denunciava que a sociedade industrial avançada cria falsas necessidades e que simplesmente só fazem integrar os indivíduos ao sistema de produção e de consumo, alienando-os das relações de construção social, como família, amigos reais e não virtuais, etc.
Theodor Adorno (1903/1969), um dos filósofos de maior influencia sobre a sociedade europeia e norte-americana na segunda metade do século XX, defendia um método dialético, em parte hegeliano, em parte marxista, para buscar uma explicação para as atrocidades da guerra, identificando personalidades autoritárias que se caracterizam por crenças fixas e pela intolerância em relação às diferenças.
Para ele, os sistemas de produção cultural (televisão, rádio, jornais, etc.) são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar e informar, podendo ter a capacidade de atingir a sociedade como um todo.
Ele denuncia que a chegada da cultura de massa, acaba submetendo as demais a um projeto comum e hegemônico, ligada ao poder econômico do capital industrial e financeiro, promovendo a repressão às demais formas de cultura, criando o conceito de “Comunicação Social” uma nova ciência que estuda a comunicação humana em sociedade, abrangendo as subdisciplinas da comunicação, da teoria da informação, comunicação intra e interpessoal, marketing, propaganda, relações públicas e outras.
Theodor Adorno nos mostra que a arte é a última barreira, a reserva ecológica da sociedade e a última esperança para que a massa saia desse mundo alienador, muito embora, até ela mesma já esteja sendo comprometida, na música, no cinema, nas artes cênicas, todas vítimas do capital.
Finalizando, nós pudemos observar que deste os tempos imemoriais, o comportamento dos vários agrupamentos humanos tem sido objeto de estudos, objetos da sociologia.
Compreendemos também que, apesar de ser ciência, ela, assim como as outras também está sujeita às influencias políticas, religiosas e econômicas.
Compreendemos que o alerta de Comte, acerca do rigor metodológico para evidenciar conclusões, de forma epistêmica, ainda é a garantia para se chegar a argumentação sólida.
Percebemos que, independente do trabalho, o sociólogo, o estudante, o professor, e todos nós, somos agentes sociais que carregamos a missão de transformar o mundo, mas que também, podemos, como alguns o fazem, ficar ao largo e deixar a vida passar.
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