quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SIMPLESMENTE “G”, SUFICIENTEMENTE “G”


G” de Geometria, a arte de medir.
Nos estudos de filosofia, os alunos principiantes, logo no início de sua jornada rumo a conhecimento, deparam-se com a expressão:
Ποιος δεν έχει δεν γεωμετρα μεταξύ της
Quem não é Geômetra não entre!
Eles aprendem que esta frase se refere à famosa advertência que se podia ler no portal da Academia de Platão. 
Aprende, também, que advertências análogas eram comuns nas entradas de templos e santuários antigos, nos quais, no lugar da Geometria, eram requeridas pureza e outras qualidades, funcionando como uma "senha" para os iniciados.
Neles, matemática e a Geometria assumiram, sempre, uma posição de destaque, marcando um momento de Grande importância na definição do pensamento ocidental e da filosofia em seu nascer: aquele da "descoberta" de um "método científico", entre o V e o IV séculos a.C.
A Geometria ajudou a razão a superar os mitos.
O “G” passou a significar a Grande mudança.
Mais tarde, com o advento da modernidade, “G” passou, também a significar God (Deus), Gold (Ouro) e Glory (Glória).
Em seu nome e, por sua causa, Guerras foram travadas e o homem, sacrificando o Gentio, deixou a razão para trás, transformando-a quase em um mito.
Hoje, em seu Gabinete, o homem moderno, Ganancioso, com seu terno de Gabardina, ou em festas com seu traje de Gala, fazendo Gabarolice com o dinheiro público ou, de forma Gaiata, a Gargalhar, Gaba-se de ser Guardião da Gente mais humilde, vendo no irmão sofrido um reles Gaudério.
Como General, empunhando seu Gládio, arrola-se ser Gestor da Gentalha, esta sim, acostumada a viver na Geena e para quem a Gatunagem é coisa à toa.
Mas nem tudo se mostra tão Gritante, de forma tão Grosseira ou Grave.
Na maçonaria, por exemplo, no Grau de companheiro, o estudante aprende que,  inspirado pela letra “G”, de Gnose, que representa a imagem da inteligência universal, ele deve possuir o conhecimento sobre as medidas.
Aprende que, na vida, medem-se todos os aspectos da Natureza exterior e interior; medem-se as palavras e as obras e que, para tanto, são usados instrumentos específicos, símbolos, que devem ser usados com razão e equilíbrio.
Na construção dos templos, exterior e interior, ela é vital porque nada pode ser feito sem uma medida adequada, desde o ponto às linhas retas e curvas e todas as demais dimensões.


Professor Orosco

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

SOBRE AS REVOLUÇÕES

Lendo um capítulo do livro de Tocqueville sobre o "Antigo Regime", acerca da Revolução Francesa, pude perceber que aqueles que, filosoficamente, deram os sustentáculos morais, libertários, para a instalação da revolução, quando esta é deflagrada e, diante da destruição que promove, acabam, como acusado por Antonio Gramsci, sendo chamados para organizar a nova sociedade, que emerge do seio do povo, inculto, seduzido pela proposta de um futuro melhor.
Aconteceu lá, aconteceu aqui.
Os mentores, como Rousseau e Voltaire não gozaram do poder que sonharam para o povo, assim como nossos Ulisses e Montoro.
Lá Robespierre e Danton levaram-na adiante.
Aqui, Brizola, Darci Ribeiro, Salomão Malina e Covas carregaram-na nas costas.
Lá, a contra reforma , termidoriana, sufocou boa parte dos ideais, resgatados pela grandeza de Napoleão.
Aqui, a reforma foi sufocada por Roberto Marinho e seu Collor de Mello, resgatada em parte por Fernando Henrique, ainda que ameaçada por Sarnei, Renan e outros como eles.
Tanto lá, como aqui, vimos surgirem caudilhos oportunistas, que encarnaram o desejo do povo e dele se locupletaram para benefício próprio.
Lá, Napoleão III, mostrou-se um fraco, que foi deposto e, com sua queda, possibilitou a revitalização dos princípios revolucionários que tornaram a França um pais melhor.
Aqui....

Professor Orosco

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

NO TEMPO CERTO



            Queridos amigos.
            Gostaria de compartilhar com vocês uma breve reflexão.
Não é de hoje que tenho refletido sobre o número de coincidências que verifico se apresentarem em minha vida, coincidências estas que me levam a refletir, profundamente, sobre os desígnios, os sinais e as mensagens que recebo do Grande Arquiteto do Universo.
Vejam só.
            Hoje pela manhã, antes de sair para o trabalho, dediquei alguns momentos para planejar uma aula que vou apresentar na próxima sexta, falando sobre o tempo, para alunos do ensino médio.
            Dentre os vários elementos que pesquisei, estava o famoso quadro de Francisco Goya (1746/1828), um grande pintor espanhol, denominado “Saturno Devorando um Filho”, concluído em 1823 e hoje exposto no Museu do Prado em Madri.
            Logo pela manhã, achei o quadro um pouco macabro demais e optei por deixá-lo arquivado no banco de imagens do meu computador, uma vez que, afinal, estudando a “Mitologia Grega” encontramos algumas das primeiras menções sobre o tempo.
Lá, Cronos (em grego Κρόνος, titã do tempo, Χρόνος), era a divindade suprema da primeira geração de titãs, correspondente ao titã romano Saturno.
Filho de Urano, o Céu estrelado, e Gaia, a Terra, era o mais jovem dos Titãs.
Foi durante seu reinado que a humanidade (recém-nascida) viveu a sua "Idade de Ouro".
Como tinha medo de ser destronado por causa de uma maldição, Cronos engolia os filhos ao nascerem, como retratado na tela.
Comeu todos exceto Zeus, que sua esposa Reia conseguiu salvar, enganando-o ao enrolar uma pedra em um pano, que ele engoliu sem perceber a troca.
Quando Zeus cresceu, resolveu vingar-se de seu pai, solicitando para esse feito o apoio de Métis - a Prudência - filha do Titã Oceano.
Esta ofereceu a Cronos uma poção mágica, que o fez vomitar os filhos que tinha devorado.
Então Zeus tornou-se senhor do céu e divindade suprema da terceira geração de deuses da Mitologia Grega ao banir os Titãs para o Tártaro e afastou o pai do trono, e segundo as palavras de Homero prendeu-o com correntes no mundo subterrâneo, onde foi encontrado, após dez anos de luta encarniçada, pelos seus irmãos, os Titãs, que tinham pensado poder reconquistar o poder de Zeus e dos deuses do Olimpo.
            Até aqui, nada mais que história.
            A coincidência é que, à noite, assistindo uma aula de oficina em epistemologia, qual minha surpresa ao ver que, dentre os vários assuntos abordados, estava a referida obra de arte.
            Isto me fez olhar o quadro e pensar no tempo, de modo diferente.
            Atentando-nos para a belíssima obra de Goya, percebemos, em seus traços sombrios e macabros, algo mais aterrador que a mensagem mitológica,
            Percebemos que Cronos, o tempo,  come os deuses.
Percebemos que come, também, os homens e come a carne dos homens.
Come pais e come filhos.
Come sonhos e come as esperanças.
            Come as alegrias e come, também, as tristezas.
            Implacável, o tempo come o próprio tempo, que não volta mais.
            Nada sobrevive a ele.
            Talvez, breves memórias, regurgitadas no presente e por um singelo momento, como aconteceu com os irmãos de Zeus
            Goya era, simplesmente, um gênio.


Professor Orosco.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

QUE BICHO VAI DAR?

            Fazendo uma rápida leitura da obra “O Livro das Bestas” de Raimundo Lúlio (1232/1315), o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã, não pude deixar de, cometendo o equívoco de um anacronismo, comparar sua obra com o momento presente, neste outro lado do mundo.
            Seu livro, que me custou R$ 3,00, numa destas máquinas colocadas em uma estação do Metrô paulistano, escrito em forma de prosa, reproduz uma analogia entre seres humanos e animais, apresentando diversos temas, como a descrição de uma sociedade feudal, o efeito das paixões humanas na prática política, a luta entre o bem e o mal e as reformas necessárias para atingir-se o ideal.
            Servindo-se do simbolismo das bestas, Lúlio fala sobre a intriga, a ideologia, o adultério, a mentira e toda a sorte de mazelas que amargam a sociedade dos homens.
            Tudo começa com o processo eleitoral para definir o bicho que será coroado rei.
            Diante do favoritismo do Leão, a Raposa percebe que o Urso, o Leopardo e a Onça, que sonham ser eleitos, pleiteiam que se prolongue o pleito a fim de que se possa determinar qual o animal mais digno de ser coroado rei.
            Ao adivinhar suas intenções, ela conta sua história, afirmando que, se o Leão se torna rei e o Urso, a Onça e o Leopardo se opuserem, eles serão, para sempre, malquistos pelo rei.
            Se, porém, o Cavalo se torna rei, e o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá ele se vingar da injúria, não sendo animal tão forte quanto o Leão?
            Como carnívoros e herbívoros se distribuem em dois grupos antagônicos, apresentando ideologias diferentes, a astuta Raposa, manipulando a ambos, incentivando a traição, consegue colocar-se como porteira da Câmara Real, cargo que lhe confere poder e prestígio junto ao rei e que lhe assegura o poder de cobrar impostos.
            Diante do adultério cometido pelo Leão com a Leoparda, na ausência do Leopardo, a Onça engalfinha-se com ele (o Leopardo), em defesa do rei.
            Frente a tal peleja, a Serpente pergunta ao Galo sobre quem haveria de vencer o combate, obtendo por resposta que a contenda se dava em defesa da verdade, contra a falsidade.
            O Leopardo, sustentado pelo ódio ao rei e confiante na sua boa razão, mata a Onça, obrigando-a, antes, a dizer, diante de toda a corte, que o rei, seu senhor, era falso e traidor.
            Constrangido, o Leão, tomado de vergonha, mata o Leopardo.
            O livro termina com o Leão emitindo um grande urro, demonstrando conhecer as verdades do reino, pelos informes que recebia da Raposa, o que assusta o Coelho e o Pavão.
  

Professor Orosco