terça-feira, 11 de novembro de 2014

QUE BICHO VAI DAR?

            Fazendo uma rápida leitura da obra “O Livro das Bestas” de Raimundo Lúlio (1232/1315), o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã, não pude deixar de, cometendo o equívoco de um anacronismo, comparar sua obra com o momento presente, neste outro lado do mundo.
            Seu livro, que me custou R$ 3,00, numa destas máquinas colocadas em uma estação do Metrô paulistano, escrito em forma de prosa, reproduz uma analogia entre seres humanos e animais, apresentando diversos temas, como a descrição de uma sociedade feudal, o efeito das paixões humanas na prática política, a luta entre o bem e o mal e as reformas necessárias para atingir-se o ideal.
            Servindo-se do simbolismo das bestas, Lúlio fala sobre a intriga, a ideologia, o adultério, a mentira e toda a sorte de mazelas que amargam a sociedade dos homens.
            Tudo começa com o processo eleitoral para definir o bicho que será coroado rei.
            Diante do favoritismo do Leão, a Raposa percebe que o Urso, o Leopardo e a Onça, que sonham ser eleitos, pleiteiam que se prolongue o pleito a fim de que se possa determinar qual o animal mais digno de ser coroado rei.
            Ao adivinhar suas intenções, ela conta sua história, afirmando que, se o Leão se torna rei e o Urso, a Onça e o Leopardo se opuserem, eles serão, para sempre, malquistos pelo rei.
            Se, porém, o Cavalo se torna rei, e o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá ele se vingar da injúria, não sendo animal tão forte quanto o Leão?
            Como carnívoros e herbívoros se distribuem em dois grupos antagônicos, apresentando ideologias diferentes, a astuta Raposa, manipulando a ambos, incentivando a traição, consegue colocar-se como porteira da Câmara Real, cargo que lhe confere poder e prestígio junto ao rei e que lhe assegura o poder de cobrar impostos.
            Diante do adultério cometido pelo Leão com a Leoparda, na ausência do Leopardo, a Onça engalfinha-se com ele (o Leopardo), em defesa do rei.
            Frente a tal peleja, a Serpente pergunta ao Galo sobre quem haveria de vencer o combate, obtendo por resposta que a contenda se dava em defesa da verdade, contra a falsidade.
            O Leopardo, sustentado pelo ódio ao rei e confiante na sua boa razão, mata a Onça, obrigando-a, antes, a dizer, diante de toda a corte, que o rei, seu senhor, era falso e traidor.
            Constrangido, o Leão, tomado de vergonha, mata o Leopardo.
            O livro termina com o Leão emitindo um grande urro, demonstrando conhecer as verdades do reino, pelos informes que recebia da Raposa, o que assusta o Coelho e o Pavão.
  

Professor Orosco

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