Fazendo uma rápida leitura da obra “O
Livro das Bestas” de Raimundo Lúlio (1232/1315), o mais importante escritor,
filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã, não pude deixar de,
cometendo o equívoco de um anacronismo, comparar sua obra com o momento
presente, neste outro lado do mundo.
Seu livro, que me custou R$ 3,00,
numa destas máquinas colocadas em uma estação do Metrô paulistano, escrito em
forma de prosa, reproduz uma analogia entre seres humanos e animais,
apresentando diversos temas, como a descrição de uma sociedade feudal, o efeito
das paixões humanas na prática política, a luta entre o bem e o mal e as
reformas necessárias para atingir-se o ideal.
Servindo-se do simbolismo das
bestas, Lúlio fala sobre a intriga, a ideologia, o adultério, a mentira e toda
a sorte de mazelas que amargam a sociedade dos homens.
Tudo começa com o processo eleitoral
para definir o bicho que será coroado rei.
Diante do favoritismo do Leão, a
Raposa percebe que o Urso, o Leopardo e a Onça, que sonham ser eleitos,
pleiteiam que se prolongue o pleito a fim de que se possa determinar qual o
animal mais digno de ser coroado rei.
Ao adivinhar suas intenções, ela
conta sua história, afirmando que, se o Leão se torna rei e o Urso, a Onça e o
Leopardo se opuserem, eles serão, para sempre, malquistos pelo rei.
Se, porém, o Cavalo se torna rei, e
o Leão lhe fizer alguma ofensa, como poderá ele se vingar da injúria, não sendo
animal tão forte quanto o Leão?
Como carnívoros e herbívoros se
distribuem em dois grupos antagônicos, apresentando ideologias diferentes, a
astuta Raposa, manipulando a ambos, incentivando a traição, consegue colocar-se
como porteira da Câmara Real, cargo que lhe confere poder e prestígio junto ao
rei e que lhe assegura o poder de cobrar impostos.
Diante do adultério cometido pelo
Leão com a Leoparda, na ausência do Leopardo, a Onça engalfinha-se com ele (o
Leopardo), em defesa do rei.
Frente a tal peleja, a Serpente
pergunta ao Galo sobre quem haveria de vencer o combate, obtendo por resposta
que a contenda se dava em defesa da verdade, contra a falsidade.
O Leopardo, sustentado pelo ódio ao
rei e confiante na sua boa razão, mata a Onça, obrigando-a, antes, a dizer,
diante de toda a corte, que o rei, seu senhor, era falso e traidor.
Constrangido, o Leão, tomado de
vergonha, mata o Leopardo.
O livro termina com o Leão emitindo
um grande urro, demonstrando conhecer as verdades do reino, pelos informes que
recebia da Raposa, o que assusta o Coelho e o Pavão.
Professor
Orosco
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