Jean William Fritz Piaget (1896/1980) foi um epistemólogo
suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX.
Defendeu
uma abordagem interdisciplinar para a investigação epistemológica e fundou a
Epistemologia Genética, teoria do conhecimento com base no estudo da gênese psicológica do pensamento humano
A epistemologia (epistemo=conhecimento e logia=estudo), é, então, o ramo da filosofia que se interessa pelo
conhecimento, preocupada nem tanto com o que sabemos como com a refutação da
afirmação de que nada sabemos em absoluto.
Na
educação, Piaget utiliza sua “teoria dos estágios” para contrapor o ensino
tradicional, autoritário, herdado do século XIX.
Piaget
dizia que a maneira como uma criança de cinco anos de idade entende o mundo é
qualitativamente diferente da maneira como uma de doze anos entende o mundo,
que por sua vez é diferente da maneira como um adulto entende o mundo.
A
partir da trilogia: O nascimento da inteligência na criança; A
construção do real na criança; A formação do símbolo na criança, ele relata seus estudos sobre o
desenvolvimento cognitivo para demonstrar que "a capacidade cognitiva
humana nasce e se desenvolve, não vem pronta".
Dessa forma, Piaget afirma que o
conhecimento tem origem na interação "sujeito-objeto".
Sua
ideia de capacidade cognitiva, então, propõe que o conhecimento não nasce no
sujeito, nem no objeto, mas origina-se da interação "sujeito-objeto".
As
teorias de Jean Piaget tentam nos explicar como se desenvolve a inteligência
nos seres humanos.
Daí
o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é
entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos.
Convém
esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas, ou
seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência,
mas experimentalmente, comprovou suas teses.
A
inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação
nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas.
Esta
adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica.
Desta
forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e
estímulos oferecidos pelo meio que os cercam.
O
que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando
um aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui "desde o nível mais primitivo da existência,
caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas”.
Para
Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de
condicionamentos.
Para
ele o comportamento é construído através da interação entre o meio e o
indivíduo.
Esta
teoria epistemológica é caracterizada como interacionista.
A
inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está
relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa
for esta interação, mais “inteligente”
será o indivíduo.
As
teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do
desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de
permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas.
“Não existe
estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura”
Jean
Piaget
Ou
seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a
gênese depende de uma estrutura de maturação.
Sua
teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se
estiver preparado para recebê-lo, se puder agir sobre o objeto de conhecimento
para inseri-lo num sistema de relações.
Não
existe, portanto, um novo conhecimento, sem que o organismo tenha já um
conhecimento anterior, para poder assimilá-lo e transformá-lo.
O
que implica, por sua vez, em dois polos da atividade inteligente: assimilação e
acomodação, que contém ainda a equilibração e a adaptação.
É
assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da
experiência ou estruturação por incorporação da realidade exterior a formas
devidas à atividade do sujeito.
É
acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas
variações.
A
adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo
assimilador e uma acomodação complementar, uma adaptação”.
Piaget
situa o problema epistemológico do conhecimento, ao nível de uma interação
entre o sujeito e o objeto.
E
"essa
dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas,
empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc., e
permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento".
Piaget diz que a embriologia humana evolui
também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas, onde o
desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intrauterino e vai até aos 15
ou 16 anos.
A
construção da inteligência dá-se, portanto, em etapas sucessivas, de forma
escalar, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras, o que Piaget
chamou de “construtivismo sequencial”.
Para
distinguir os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e
mental, Piaget identificou cinco etapas diferentes:
a) A etapa sensório–motora, até o 2º ano de
vida;
É
caracterizada pela ausência da função semiótica, onde a inteligência trabalha
através das percepções (sensório) e das ações (motor) através dos deslocamentos
do próprio corpo.
É
uma inteligência iminentemente prática, motora, ligada ao movimento.
Sua
linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase
("água" para dizer que quer beber água) já que não representa
mentalmente o objeto e as ações.
Sua
conduta social, neste período, é de isolamento e indiferença.
Neste
estágio, as ações da criança manifestam-se pelo reflexo, pelos mecanismos
hereditários, pelos instintos e pelas primeiras emoções.
Segundo
alguns estudiosos posteriores a Piaget, Tran-Thong (1981) este estágio sensório
motor pode ainda ser subdividido em seis sub estágios:
O
primeiro, que dura até o primeiro mês de vida, caracterizado pelos exercícios
reflexos, como a sucção, por exemplo.
O
segundo, que dura do primeiro ao quarto mês de vida, caracterizado pela
aquisição dos primeiros hábitos, pelo início dos condicionamentos estáveis, que
correspondem ao repetir de “tipos de resposta” sensório motora e pela exploração
visual do ambiente.
O
terceiro, que dura do quarto ao oitavo mês de vida, caracterizado pela
aquisição da coordenação da visão e pela breve busca de objetos desaparecidos.
O
quarto, que dura dos nove aos doze meses de idade, onde a criança dá início à
busca prolongada do objeto desaparecido, verificando-se neste sub estádio a
passagem da identificação à permanência do objeto.
O
quinto, que dura dos doze aos dezoito meses de idade, onde a criança inicia uma
ação para buscar os objetos desaparecidos, como o abrir de uma caixa de
fósforos, por exemplo.
Segundo
Piaget, a criança neste sub estádio já consolida a permanência do objeto, ainda
que separado do espaço que ocupa.
E
finalmente, o sexto sub estádio, que dura entre os dezoito e os vinte e quatro
meses de vida, onde começa o processo de interiorização de esquemas e soluções
de alguns problemas por dedução, como a ação de alcançar um objeto valendo-se
de uma vara para isto, por exemplo.
Neste
momento se dá, não só a permanência do objeto como também as noções que
permitem organizar, pela criança, o conhecimento da realidade.
Surge,
ainda que de forma incipiente, a capacidade de memorizar e antecipar
acontecimentos e a predição de efeitos a partir de causas.
b) A etapa pré-operacional – entre o 2º e o
4º ano de vida;
É neste período que surge a função
semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da
dramatização, etc., podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da
ação.
É
o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico.
Com
a capacidade de formar imagens mentais pode transformar o objeto numa
satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforos em um carrinho, por exemplo).
É
também o período em que o indivíduo “dá
alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai foi “dormir”
na garagem").
A
linguagem está ao nível do monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo
tempo sem que respondam as argumentações dos outros.
Duas
crianças “conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o outro
está dizendo.
Sua
socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do coletivo.
Não
há liderança e os pares são constantemente trocados.
Existem outras características do
pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, como, por exemplo, o
nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda),
superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
Note-se
que para poder passar de um estágio ao outro, o indivíduo precisa conseguir
formar novas estruturas cognitivas, que antes não possuía, compreendo-se, para
isto, a existência de três características distintas dos estágios:
1
– Uma ordem de sucessão constante
2
– Idades médias variáveis
3
– Um processo de integração, onde ao conjunto de habilidades de um estágio se
adicionam “Reações Particulares”, não em substituição, mas em adição, que o
capacitam a passar para o estágio seguinte.
Por
exemplo: A capacidade de reflexão que surge com o desenvolvimento da linguagem,
que não existia no estágio sensório-motor.
Note-se
que, com o advento da linguagem, identifica-se, também, o surgimento do
pensamento, da socialização, da concatenação de ideias, que eu, particularmente
chamo de “o nascimento da alma”.
c) A etapa intuitiva – entre o 4º e o 7º
ano de vida;
Neste
período já existe um desejo de explicação dos fenômenos.
É
a “idade dos
porquês”, pois o indivíduo pergunta o tempo todo.
Distingue
a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela.
Seu
pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista.
Já
é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no entanto, incluir conjuntos
menores em conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo).
Quanto à linguagem não mantém uma
conversação longa, mas, já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do
companheiro.
Alguns estudiosos de Piaget preferem
considerar as etapas pré-operacional e intuitiva como única, chamada apenas de
pré-operacional, mas eu, particularmente, prefiro adotar esta separação entre pré-operacional
e intuitiva.
d) A etapa operacional concreto – entre 7º
e o 11º ano de vida.
É
o período em que o indivíduo percebe e classifica as coisas, período em que consolida
as conservações de número, substância, volume e peso, sendo capaz de ordenar
elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o
mundo de forma lógica ou operatória.
Sua
organização social é a de bando, podendo participar de grupos maiores,
chefiando e admitindo a chefia.
É
o período em que surge o sentimento de justiça.
Já
podem compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos.
A
conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que, no
entanto, possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão
comum.
e) Etapa
Operacional Formal - dos 11 anos em diante.
É
o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento
hipotético-dedutivo ou lógico-matemático.
É
quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do
concreto em proveito de interesses orientados para o futuro, quando consegue
formular teorias.
É,
finalmente, a “abertura
para todos os possíveis”.
A
partir desta estrutura de pensamento é possível à dialética, que permite que a
linguagem se dê ao nível de discussão para se chegar a uma conclusão.
Neste
estádio já é possível generalizar operações de classificação ou relações de
ordem, verificando-se a capacidade de combinar hipóteses e de utilizar novas
operações.
Sua
organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
A
importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside
no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou
estratégias de sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade.
Piaget
nos mostra, assim, que cada fase de desenvolvimento apresenta características e
possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições.
O conhecimento destas
possibilidades faz com que se possam oferecer estímulos adequados a um maior
desenvolvimento do indivíduo.
Piaget também considera que, de
forma análoga ao desenvolvimento do conhecimento físico, existe o
desenvolvimento do conhecimento moral, que evolui da anomia para a heteronomia
e a autonomia, compreendendo-se a anomia como o período basicamente instintivo,
das ações por impulso; a heteronomia pelo período em que se desenvolve a
capacidade de receber ordens, de adequar-se e de cumprir ordens, aceitando a
interferência de uma moral externa, alheia, como comando, chegando, finalmente,
à autonomia, representada pela capacidade de ação após a assimilação e
compreensão dos fenômenos.
Na primeira
etapa, da anomia, as crianças de até cinco ou seis anos de idade não seguem
regras coletivas, interessando-se, por exemplo, por bolas de gude, mais para
satisfazerem seus interesses motores ou fantasias do que para participarem de
uma atividade coletiva.
Na segunda
etapa, da heteronomia, até aproximadamente os nove anos de idade, surge, na
criança, o interesse por participar de atividades coletivas e regradas, onde,
num primeiro momento ela tenta modificar as regras e num segundo momento ela as
aceita, ainda que com ressalvas.
Na terceira
etapa, da autonomia, em uma fase adulta, oposta à heteronomia, o respeito às
regras é compreendido como um acordo mútuo entre sujeitos.
Professor Orosco
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