Os
primeiros filósofos gregos não concordavam em ser chamados de sábios, uma vez
que tinham consciência do muito que ignoravam. Preferiam ser conhecidos como
amigos da sabedoria, ou seja, filósofos, tidos como aqueles que sempre procuram
renovar as perguntas formuladas, no sentido de alcançar as respostas que sejam
condições das demais.
A
história da filosofia tem, então, o grande valor de mostrar que esta não pode
se estiolar em um sistema cerrado, onde tudo já esteja pensado ou resolvido, de
tal sorte que quando um filósofo chega ao ponto de não ter mais dúvidas, passa
a ser, para ele, a história acabada de suas ideias, o momento como definia
Hegel, em que se estabelece e se alcança o conceito.
Por
isso, a filosofia deve ser vista como a atividade perene do espírito, como a
paixão pela verdade essencial e, nesse sentido, como aquela que realiza, em seu
mais alto grau de consequência, a qualidade inerente de toda ciência: a
insatisfação permanente para com os resultados e a procura mais cuidadosa de
fundamentos mais claros, sem outra finalidade além da puramente especulativa,
cuidando, tão somente, daquilo que tenha sentido de universalidade,
transformando-se em um conhecimento que converte em problema os pressupostos da
ciência e do próprio saber humano.
Assim,
enquanto a ciência é um saber parcial unificado, referente a um aspecto
abstraído de outros aspectos possíveis, como condição de observação e análise, que
jamais estuda ou tem a própria ciência como objeto de pesquisa, o objeto da
filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos, não como uma teoria, mas
como uma atividade que consiste essencialmente de elucidações, tornando mais
claras as proposições e auxiliando a tarefa de estabelecer juízos analíticos
(os que nada predicam ao sujeito ou que apenas explicitam aquilo que ele já
contém) ou sintéticos (aqueles que, fundamentados na experiência, predicam o
sujeito, acrescentando-lhe algo que não estava contido em seu conceito).
A
filosofia, para ser, então, fiel às conquistas do saber científico deve ser,
portanto, uma crítica da própria ciência, visando atingir o valor essencial
sobre aquilo que se enuncia sobre os homens e as coisas, implicando em uma
consideração de natureza axiológica que começa pelo problema da validade do
conhecimento em geral.
Professor
Orosco
Extraído
da obra: Filosofia do Direito de Miguel Reale, 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2002
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