quarta-feira, 27 de julho de 2016

OLYMPIUM INCIPT TRAGOEDIA


Após o advento da modernidade, onde o homem matou Deus e colocou a razão em seu lugar, ainda que de forma irrazoável, a ciência passou a ditar as regras sobre o certo e o errado, sobre o permitido e sobre o proibido. Em seu discurso cartesiano, o epistêmico ganhou uma aura sagrada e o antrophos, aquele que criou o Criador, passou a ser o centro do mundo.
Sob um olhar iluminista, a ideia contratualista de uma vida em sociedade ganhou ares libertários, fraternais e igualitários e a religião vigente à época, após as críticas de Luthero e Calvino, passou a servir de base, ou melhor, de apoio para o desenvolvimento de um capitalismo incipiente, precursor daquele que conhecemos hoje, ultra liberal e defensor do Estado mínimo.
Nele, como centro do Universo, o homem passou a representar, não só o mundo em si, mas os objetivos teleológicos da sua própria existência onde, paradoxalmente, acabou convertendo-se em meio de produção, reduzido ao status de ferramenta, vítima de sua própria τεχνική, mais barato que as máquinas que criou ou que as matérias primas que manuseou.
Assim, ao mudar o mundo, mudando a si mesmo, deixou passar ao largo a nau que transportava os valores éticos e morais construídos e armazenados no passado, dos quais apenas se tem notícias trazidas por loucos que se lançaram ao mar, recusando-se a servir como escravos de piratas apátridas.
Seu corpo, que virou humano, decomposto em aparelhos, vísceras e plasma, reduzido a hormônios e reações químicas, tornou-se, de um dia para o outro, de um século para o outro, na virada deste novo milênio, objeto de desejo econômico, consumidor de proteínas, vitaminas, glutamato monossódico, vacinas, próteses e adereços plásticos ou metálicos, inseridos até nas suas genitálias, um ente acorrentado. Não mais no fundo da caverna olhando as sombras projetadas na parede, mas num "arranha céus" olhando a TV em vez da janela.
Em seu niilismo passivo, esperando pelos Jogos Olímpicos, sonhando alegremente com o pódio e com medalhas, ou sofrendo com os pesadelos do terrorismo e da guerra fria, ambas as opções produtoras de endorfinas, vê-se anestesiado, desejante de uma Nova Gaia, sem humanos, onde uma nova metafísica daria sentido ao seu Ser.
Realmente  começando, uma tragédia de magnitude olímpica.

Professor Orosco 

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