quinta-feira, 24 de outubro de 2013

RECOLHA-SE À SUA INSIGNIFICÂNCIA


Durante toda a nossa vida temos sido educados, informados, de que o homem, feito por último, feito à imagem de Deus, foi por ele designado como aquele que deve governar o mundo, arrolando-se "senhor da natureza", detentor do livre arbítrio, que lhe permite, inclusive, negar o Criador.
Temos sido levados a justificar a nossa fraqueza física, nossa fragilidade corpórea, a falta de asas, como consequência da condição evolutiva, o que, nos confere o direito de explorar os outros animais, retirando deles, a sua força vital.
No entanto, como cada moeda contém duas faces, podemos, assim pensando, estar a incorrer em um erro grosseiro.
Seria prudente, no mínimo sensato, considerar a possibilidade de que o homem, tendo sido feito por último, como termina por reconhecer o próprio Gregório de Nissa, na verdade tenha sido feito por último, não para governar o mundo como nos ensinaram, mas para aproveitar as "sobras do barro", ficando em consequência disto, incompleto, precisando retirar da natureza (das outras espécies) tudo o que precisa.
Se pensarmos bem, para a totalidade das espécies, a existência ou não do homem é, em si, indiferente.
Todos os outros seres viventes, completos em si mesmo, já gozam da plenitude do sentimento da proximidade com Deus.
São felizes vivendo como são.
O cão não precisa mais nada para viver do que os atributos que o cão já tem ao nascer.
O mesmo ocorre com o gato, com o peixe, com o pelicano, e com todos os outros animais, completos desde o nascimento.
O mesmo se poderia dizer dos vegetais.
O homem, feito por último, feito com o resto do barro, incompleto, só consegue gozar desta "inocência" , só é verdadeiramente iluminado, em sua infância, onde é protegido e feliz.
Ao desenvolver-se, sentindo a falta de barro, fica perdido, insatisfeito e, na sua doença, como fruto desta enfermidade, fica arrogante, se dizendo superior, "o escolhido", etc.
Diante disto, desta possibilidade, como as palavras proferidas, da mesma forma que o Sol, podem derreter a cera ou solidificar a argila, pela sua propriedade dual, precisam ser ditas somente após a reflexão sobre quem as vai ouvir, seria sensato, prudente, considerar os dois lados da moeda, evitando a soberba que pode nos colocar em situação ridícula no dia de nossa prestação de contas.

Professor Orosco

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