O jovem professor se desculpa com o
mestre por deixar-se influenciar por seus pensamentos reflexivos.
O jovem professor reconhece sua
imprudência ao tentar mudar o sistema, lamentando-se por haver perdido seu
ímpeto reformista, declarando-se vencido, mas não arredando pé de suas
convicções e ideais de mudança.
O filósofo, reconhecendo o mérito do
jovem professor, incentiva-o a não se deixar abater pelo sistema, informando-o
de que não está só em seus reclamos, e que existem outros apenas aguardando o
momento de se manifestar e promover a mudança de um método sabidamente
ultrapassado.
Alerta-o para o fato de que não deve
esmorecer, pois embora existam outros, mesmo assim são raros no universo
estudantil.
O mestre alude ao fato de que a
produção pedagógica, pobre de conteúdo, só é aceita por aquela maioria que se
deixa dominar, mas que, se analisada por homens pensantes e críticos, não
suportaria a confrontação e que, este modelo, cedo ou tarde ruirá, como consequência
da fragilidade de seus alicerces, declarando que somente aqueles capazes de
perceber sua fragilidade é que poderão realizar a transformação que se faz
necessária, bastando apenas um, para que o movimento reformador se inicie.
O jovem professor, sentindo-se
desamparado e fraco para empreender tal mudança, solicita a ajuda do mestre
para poder resistir em defesa de suas propostas, contra um inimigo de mil
faces, que teima em perpetuar o sistema.
Pede-lhe que o oriente,
indicando-lhe o melhor caminho, para que possa empreender tal jornada,
mostrando-lhe na base do ensino, o que precisa mudar.
O mestre, concordando com o jovem
professor, declara que, como em uma construção qualquer, só se pode edificar
sólidas paredes se elas forem erguidas sobre um bom alicerce, no caso, o ensino
fundamental, onde o desejo de aprender não foi conspurcado pelo sistema, e
nele, começando pela língua mãe, no caso, o Alemão.
É no ensino da linguagem que o
estudante tem a oportunidade de libertar-se do senso comum, da educação de
massas e, ainda que de maneira forçada, expandir seu vocabulário.
Somente uma escola de qualidade, com
o firme propósito de ensinar, é que pode levar o estudante a superar o senso
comum, começando pela linguagem que lhe permitirá desenvolver ferramentas para
o desabrochar de um pensamento crítico sobre as informações que receberá.
É o rigor da língua que assegura ada
cultura contra os falsos argumentos,
Seria, na exortação deste gênero,
que a escola deveria obrigar os alunos a compreenderem e interpretarem textos
mais complexos, analisando os clássicos com o rigor requerido, de tal sorte que
isto se transformasse em um hábito, cruel e fatigante para os menos hábeis e,
deleitável e entusiasta para os melhores.
Esta sim deveria ser a educação
formal nas escolas, e não a atual, que mascara a informação e que serve para
disseminar uma cultura baseada no senso comum, acusada de erudição quando, na
verdade, só reproduz um saber vazio.
Prova disto está na forma como a
língua materna (alemão) é ensinada.
A aceitação da evolução histórica da
língua, desprovida de uma crítica real, acaba por promover sua destruição
basilar, e é exatamente isto que precisa ser evitado, se desejamos realmente
ter acesso à cultura.
Não só na língua, mas em todos os
campos do saber, onde falsas e soberbas pretensões reduzem e limitam o acesso
ao verdadeiro conhecimento.
O ensino da língua, apenas no seu
aspecto formal, científico, em nada contribui para seu aprendizado pois, além
de promover o terror nos alunos, priva-os da contemplação das grandes obras, do
contato com o pensamento de grandes autores, que acabam, pelo modismo,
relegados ao ostracismo.
Os alunos acabam incentivados a
produzir textos baseados em seu conhecimento pessoal, em suas vivências, o que
empobrece o resultado, uma vez que os dão por acabados, quando na verdade
seriam, apenas, iniciados.
Diante da falta de maturidade e
discernimento para tal empreitada, os alunos tendem a exaltar sua imaginação,
sentindo-se libertos e ávidos por expressar suas opiniões, tecendo críticas ou
elogios sobre todos os assuntos, o que lhes dá a chave para abrir a porta de um
saber argumentativo.
Os mestres, por sua vez, diante dos
resultados, ao invés de criticar os excessos e os erros gramaticais, adotam uma
postura censora sobre sua autonomia para tratar dos temas abordados nas
composições, denunciando sua vaidade e presunção, mostrando-lhes que pouco ou
quase nada sabem acerca dos assuntos tratados, delimitando-lhes a área de
atuação, o que inibe no aluno, o desejo de ousar, tornando a mediocridade do
senso comum, uma regra a ser seguida.
Existem, ainda, aqueles que
consideram este método um absurdo, pois ele exige uma originalidade
incompatível com a idade dos alunos, supondo-se que tenham uma cultura formal
que a maioria não alcançou.
No ginásio (escola fundamental),
supõe-se que o aluno seja capaz de escrever e explicitar corretamente suas
opiniões, embora o correto fosse discipliná-lo sobre a égide dos escritos
clássicos, evitando, assim, a soberba que vai entorpecer seu espírito e torna-lo
refém do senso comum.
Poucos sabem que, dentre muitos,
apenas um conseguirá se fazer realmente entender pela escrita, ficando os
demais presos na mediocridade, onde o ensino formal, contrapondo-se ao deixar
fazer, que permite a barbárie, precisa impor seu rigor, sem o qual o ensino da
língua mãe (alemão) será tido como um mal necessário, que distancia a escola da
tarefa de oferecer acesso à verdadeira cultura.
Esta deficiência no ensino da língua
demonstra o equívoco na formação fundamental, que pode ser medida, quando
comparada à seriedade com a qual os gregos e os romanos a tratavam desde a
adolescência.
A vã tentativa de implantar uma “cultura
clássica”, em verdade se mostra uma artimanha para mascarar o real compromisso
de ensinar para a cultura.
O próprio termo “cultura clássica”
adotado no fundamental, traveste o fracasso da proposta, já que a “cultura
clássica” extrapola, em muito, este estágio da formação acadêmica.
A cultura clássica, cultura formal e
cultura que forma para a ciência, três pretensos objetivos do ginásio, no que
concerne ao ensino da língua alemã, são, na verdade, termos que se usam para
mascarar a solução do problema, uma vez que não realizam seu propósito
verdadeiro.
E dizer, no ensino fundamental, em
faltando o primeiro objeto de estudo, a língua materna, falha-se na tentativa
de consolidar a cultura, que permitiria aos estudantes compreender as grandes
obras.
É somente pelo ensino formal,
argumentativo, que se pode evitar cair na linguagem comum, oferecendo aos
estudantes as condições para que possam analisar e compreender os textos.
Todos aqueles que realmente
desejarem aprender precisam, como um soldado, disciplinar-se em suas tarefas, a
tal ponto que isto se torne um hábito.
A maioria dos escritores não
aprendeu a expressar-se de forma argumentativa que a cultura verdadeira exige,
pelo que, não são boas referências.
Reconhecemos, portanto, o fracasso
do modelo adotado no ensino fundamental, que não consegue fornecer as bases necessárias
para implementar o acesso a uma cultura verdadeira, de obediência à forma, uma
vez que propaga o senso comum, ao qual a maioria dos autores atuais foi
rebaixado.
A verdadeira cultura clássica, que
prima pelo uso correto e habitual da língua evidencia o quão difícil é que
alguém consiga fazê-lo por suas próprias forças, pelo que precisam socorrer-se
junto aos grandes mestres (Goethe, Schiller, Lessing e Winckelmann) para alcança-la.
É a obediência à forma, como era na
Antiguidade grega, com a ajuda dos grandes mestres, dos clássicos alemães, que
nos permite alcançar a cultura verdadeira.
Deste cuidado, no ensino
fundamental, se observam apenas vestígios transmitidos pelos professores, que
não alcançaram, eles mesmos, o conhecimento.
A percepção do helenismo clássico é
tão rara que somente por uma incompreensão grosseira se pode almejar realiza-la
no ensino fundamental, onde a idade dos alunos não permite sua compreensão,
apresentando-se seus personagens como se fossem mitológicos.
Com isso, perde-se a oportunidade de
apreciar e compreender os clássicos gregos, de valorar suas esculturas, etc.
Paradoxalmente, a obediência à forma
e à gramática que se observa no ensino das línguas antigas, no ensino
fundamental, não é a mesma que se dá para a língua materna, à qual se procurar
dar um sentido mais prático.
Da mesma forma, este viés cientificista
do ensino fundamental, que lançou uma luz esclarecedora na cultura das
humanidades, outrora levada a sério, na época dos raros Alemães verdadeiramente
cultos, que se preocupavam em consagrar, no ensino fundamental, preocupar-se em
oferecer uma cultura nobre e superior.
Esta reforma planejada e
implementada no ensino fundamental, não alcançou os próprios mestres, pelo que
não alcançou o objetivo desejado, dando-se maior ênfase à erudição que, por sua
vez, tomou o lugar da cultura verdadeira, basicamente por acreditar-se que se
podia alcançar o mundo da cultura grega sem o rigor da língua alemã.
Torna-se, portanto, mister, resgatar
o cuidado com a língua e com o espírito alemão, escondido sobre os escombros do
senso comum, seu verdadeiro inimigo, influenciado por estrangeirismos, principalmente
franceses, bradando que “alemães não são e nem serão franceses”.
É por esta razão, afirma o mestre ao
jovem professor, que é necessário nos apegarmos ao espírito alemão que se
revelou na Reforma e na música, que provocou esta força tenaz, ousada e
rigorosa da filosofia, arrastando para a luta uma escola de ensino fundamental
comprometida com a verdadeira cultura, despertando o nativismo purificador do
pensamento alemão, que tem, na cultura grega, o apoio necessário para cruzar o
rio da barbárie.
Enquanto não o fizermos, não
lograremos êxito.
Esta é a triste situação em que se
encontra o nosso ensino fundamental.
Professor
Orosco
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