Passados alguns dias desde a
posse do novo governo brasileiro, os primeiros sinais de uma mudança programática
e ideológica por parte de nossa “elite política” começam a se fazer notar. A aprovação da PEC do Teto, que limita a
expansão dos gastos públicos, a revisão de alguns programas sociais que
privilegiavam apenas a grupos específicos, comprometidos mais com as propostas
bolivarianas do que com o Brasil; o estabelecimento de novos critérios para o
financiamento de atividades culturais, etc., são apenas algumas das medidas
tomadas pelo governo federal, para evidenciar isso.
No entanto, faz-se mister
alertar que, majoritariamente, o povo brasileiro, aquele mesmo que foi às ruas
manifestar-se contra a corrupção e contra a impunidade de alguns privilegiados,
ao que se saiba, não avalizou nenhum movimento de transformação radical de
nossa sociedade e, pelo contrário, a exemplo dos protestos sobre a reforma
proposta para o ensino médio, mostrou apenas que deseja discutir à luz da transparência
e da argumentação sólida, qual sociedade queremos construir.
Como por aqui, a regra geral é
oito ou oitenta, os “anticomunistas de
carteirinha”, os defensores de um “ultra
liberalismo” que prega um estado mínimo, sem ater-se ao fato de que somos
um país emergente, de dimensões continentais, com péssimo nível educacional,
sem infraestrutura compatível com nossas potencialidades econômicas e, refém de
um capital especulativo internacional desde nosso descobrimento, estão
aproveitando o momento particular que estamos vivendo para colocar novamente algumas
de suas propostas que, historicamente, sempre foram reprovadas pelo conjunto de
nossa sociedade.
Alguns defendem uma jornada de
trabalho de 80 horas semanais, outros a eliminação do ensino público gratuito,
a redução do número de representantes no poder legislativo, a eliminação do
SUS, etc., chegando ao absurdo de propor uma manifestação de apoio a Donald
Trump e a suas ridículas propostas para os Estados Unidos da América, em plena
Avenida Paulista, esquecendo-se que ele sequer sabe que existimos. Aliás,
pergunto-me se ele mesmo sabe que o mundo existe para além de seu próprio umbigo.
De qualquer forma, desejo
manifestar uma posição em que defendo a necessidade de uma certa cautela e um
certo comedimento nas “propostas que estão
sendo jogadas ao vento”, (marca da atual gestão) principalmente quando isso
é feito por um sistema midiático televisivo ou impresso, financiado por
interesses nem sempre muito claros, de tal sorte que se evitem traumas
desnecessários e de consequências danosas para uma gente que já sofreu bastante.
Cito, apenas como exemplo disso,
um artigo que li, no jornal O Estado de São Paulo de hoje, dia 23 de outubro, o
renascer de um movimento para a liberação de experimentos científicos com
animais, subentendido na reportagem sobre a lacuna provocada pelo fechamento do
Laboratório Royal (aquele que utilizava os Beagles) após a invasão que libertou
os animais ali confinados, ato do qual lamentei não poder participar, já que estava retido em outro compromisso
igualmente importante, em defesa dos direitos das pessoas com doenças raras, na
Câmara Municipal de São Paulo.
Finalmente, relembrar a todos
de que nossa Constituição prevê, como forma de validar mudanças programáticas
de grande impacto social, mecanismos de consulta popular, que podem ser feitas
tanto por Referendum quanto pelo Plebiscito, o que me parece está sendo
ignorado por todos, que se esquecem que “um governo de todos e para todos
precisa da participação de todos”.
Professor Orosco
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