Segundo os dicionários, a palavra
idiota tem sua origem no termo grego antigo ἴδιώτης (idhiótis),
utilizada para descrever "um cidadão privado, individual", derivada
do termo ἴδιος (ídhios),
"privado", aplicada depreciativamente, na antiga Atenas, para se
referir a pessoa que se apartasse da vida pública.
Ou seja, para os gregos, idiota era
aquele indivíduo individualista que, como um ser desejante, só pensava em si e
que se recusava a perceber que fazia parte de uma comunidade da qual se servia
e à qual também deveria servir.
Um ser desejante que, nas palavras
de Sören Kierkegaard (1813/1855), um filósofo e teólogo dinamarquês,
considerado o pai do existencialismo, ao alcançar o objeto do seu desejo,
aquilo que motivou o seu movimento e que norteou seus passos até então, percebe
a inutilidade da coisa em si e passa a desejar outra, mais distante ainda, sem
se dar conta de que somente alcançará o conhecimento, a coisa que o separa dos
animais não racionais, quando aprender a valorar o caminho percorrido, mais que
o objetivo momentaneamente alcançado. Quando, falando em termos nietzschianos,
aprender a valorar a vida vivida mais do que a vida idealizada.
Nada do que é finito, de fato, nem mesmo o mundo inteiro pode
satisfazer o espírito humano, que sente a necessidade do eterno. [...] Tua
luta, por isso, se exprime ainda mais profundamente quando tu, ..., desejas ser
o mais tolo dos homens e de ser contudo admirado e adorado pelos contemporâneos
como o mais sábio de todos, pois isso seria um verdadeiro sarcasmo sobre toda a
existência. [...] Por isso, não aspiras a nada, não desejas nada, a única coisa
que poderias desejar é uma varinha mágica que pudesse te dar tudo, e depois a
usarias para limpar o cachimbo.
(KIERKEGAARD, Estágios sobre o caminho da vida. E. Estético).
Este parece ser sem dúvida alguma, o
retrato mais fiel de nossa sociedade contemporânea, onde os homens massa, idiotizados
por uma ideologia consumista que gerou, segundo Ortega y Gasset, o conceito de
nações massa, tornaram-se virtualmente ligados uns aos outros e todos desconectados
da vida real, como se fossem habitantes do hiperurânio[1],
colocando a forma, acima do existente.
Uma sociedade em que os homens
aceitaram que se lhes impusessem midiaticamente o seu “modus vivendi”, como se fosse única alternativa, esquecendo-se de
que, como denunciado por Marx em seu Materialismo Histórico, que somos todos
reféns de uma superestrutura que detém os meios de produção material e que
também detém os meios de produção intelectual.
Uma sociedade em que o resultado de
uma vida é medido pela régua dos interesses atuais, momentâneos,
desconsiderando os obstáculos superados pelos que nos antecederam, quando construíram
as pontes que nos trouxeram até aqui.
Uma sociedade em que a maioria dos
homens abriu mão de sua dignidade.
Todas as criaturas que se encontram tanto no mundo sensível
como no mundo suprassensível foram criadas como realidades ontologicamente
determinadas. O homem, ao contrário, foi posto no confim dos dois mundos, com
uma natureza estruturada de modo tal que ele próprio deve determinar,
plasmando-a segundo a forma de vida moralmente pré-escolhida. A grandeza do
homem está portanto em ter sido criado por Deus como artífice de si próprio,
como autoconstrutor segundo suas escolhas morais.
(PICO della MIRANDOLA. Discurso
sobre a dignidade do homem)
A maioria sim, mas, felizmente, nem
todos,...
Professor
Orosco
[1] Termo usado por Platão no
Fedro para representar o mundo das ideias, das causas de natureza não física,
das realidades inteligíveis, do Eidos.
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