Assistindo
de forma entusiasmada às recentes manifestações populares de protesto que se
espalharam pelo Brasil, que tiveram a oportunidade de sintetizar a profunda
decepção do nosso povo com seus governantes, em todas as esferas de todos os
poderes, procuramos compreender as causas que deflagraram este movimento, para
tentar encontrar uma saída possível frente o impasse que se aproxima, com a
velocidade da Internet, cujos desdobramentos podem ser muito ruins.
Auxiliado
nesta reflexão por um artigo de Juan Arias, publicado no jornal El Pais, edição
de 17 de junho último, vamos primeiramente levantar algumas perguntas, que
geram a perplexidade naqueles que deveriam conduzir a Nação.
1-
Por que surge “agora” um movimento de protesto,
como os que ocorrem no restante do mundo, quando nos últimos anos o Brasil
viveu anestesiado, gozando da estabilidade econômica e do pleno emprego? Mais rico, com
menos pobres, mais democrático e menos desigual?
2-
Por que saem às ruas para protestar contra o
aumento da passagem de ônibus jovens que evidentemente não usam estes meios,
que já possuem carros?
3-
Por que protestam os estudantes oriundos de
famílias pobres, que a pouco tempo sonhavam poder ver seus filhos na
Universidade?
4-
Por que estes manifestantes estão recebendo
apoio da população que apenas há bem pouco tempo conseguiu elevar-se à Classe
C? Uma massa humana
que sonhava poder comprar uma geladeira, uma máquina de lavar ou uma televisão,
e que, só recentemente conseguiu realizar este sonho?
5-
Por que o Brasil, sempre orgulhoso do seu
futebol, mostra-se, agora, contrário ao Mundial, inclusive vaiando uma
presidente que tem 70% de aprovação, segundo os institutos de pesquisa?
6-
Por que os protestos recebem apoio de moradores
de favelas recém pacificadas, cujos moradores tiveram melhoria de renda e se
libertaram dos narcotraficantes?
7-
Por que até os índios, que tem recebido apoio
dos tribunais, estão se revoltando por toda a parte?
8-
Por que, após sofrer as agruras de longo período
de ditadura, vivendo em uma democracia, só agora estão revoltados?
9-
Serão os manifestantes tão ingratos para com
aqueles que foram eleitos e que estão trabalhando para melhorar o país?
10-
Por que?
Na verdade,
a explicação para todo este movimento e para responder a todas estas perguntas,
é bem simples:
A motivação
humana, que pode ser entendida em termos de hierarquia de necessidades,
partindo das necessidades fisiológicas até a autorrealização, explicada por
Abraham Maslow, nos mostra claramente que, atendidas as necessidades básicas,
como alimento, moradia, etc., assume igual importância, o nível da pirâmide imediatamente
acima, onde as necessidades de segurança, necessidades sociais e de autoestima
tornam-se igualmente imprescindíveis.
“Pode-se ensinar uma pessoa a
pensar.
Depois disto, é impossível evitar
que ela pense”.
O paradoxo
de todo governo de transição, burro, que insiste em manter velhas práticas
despóticas para governar, reside exatamente neste detalhe.
A insistência
na manutenção de estruturas oligárquicas, podres e distantes do povo,
privilegiadas por leis casuísticas e pela truculência policial contra os
insurgentes, acaba por transforma-se no combustível que fornece energia à massa
rebelada, fazendo aflorar a violência.
A história
humana é repleta destes exemplos.
A solução,
embora dolorosa à elite governante, apresenta-se melhor do que a alternativa da insistência
nestas práticas antiquadas de mando.
As cabeças
dos nobres girondinos que o digam.
Para começar,
torna-se necessário urgênciar os mecanismos de combate à corrupção,
fortalecendo o Ministério Público e agilizando os processos contra os crimes de
“colarinho branco”.
A punição
exemplar dos “inimigos do povo” provoca a ataraxia necessária para que se possa
continuar as reformas reclamadas.
A
renegociação do “Contrato Coletivo de Convivência” (leia-se Constituição) a
cada nova geração, ou pelo menos a cada 25 anos, para atender e para
comprometer os jovens, é outra importante forma de manter acesa a chama da
concórdia.
“Não sou
responsável e não me sinto compelido a obedecer leis escritas nos tempos
imperiais, que não representam minhas convicções, valores e crenças”.
Finalmente,
nesta emergência, promover a transparência, sem “maracutaias”, parafraseando
nosso “líder” mais carismático, nos contratos públicos, que devem ter as
prioridades estabelecidas, segundo a pirâmide de Maslow.
Não adianta
construir estádios de futebol ao invés de concluir a transposição do São
Francisco, por exemplo.
Estas
medidas iniciais, em minha modesta opinião, completam o início da transformação
que pode ajudar a serenar os ânimos, a partir de quando, se pode pensar nas reformas
estruturais e políticas para continuar avançando.
Professor Orosco
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