Denomina-se moção à ação ou consequência de mover ou mover-se; aquilo que denota movimento.
Existem nos animais dois tipos de moções que lhes são peculiares.
As chamadas vitais que começam no momento em que um ser é gerado e o acompanham durante toda a sua existência, como: circulação do sangue, pulsação, respiração, digestão, excreção, etc., que não necessitam da imaginação.
O outro tipo são as moções animais, também chamadas voluntárias, que são: andar, falar, mover um de nossos membros da forma como foi imaginado por nossa mente.
Essas sensações são moções dos órgãos e das partes internas do corpo provocadas pelas coisas que vemos, ouvimos, etc.
Esses tênues começos da moção, dentro do corpo humano, antes que surjam a marcha, a fala, a luta ou outras ações visíveis são chamados de esforços.
Este esforço, quando se dirige a algo que o causa, é denominado apetite ou desejo.
Quando o esforço se traduz em afastamento de algo, é denominado aversão.
Então, podemos dizer que apetite e aversão são moções de aproximação e afastamento.
Os seres humanos desejam aquilo que amam, e odeiam coisas pelas quais tem aversão.
As coisas que não desejamos nem odiamos são chamadas depreciadas, e dizer, a depreciação nada mais é do que uma imobilidade ou contumácia do coração, que resiste à ação de certas coisas.
O que denominamos bom é, quase sempre, objeto de algum apetite, enquanto mau é objeto de ódio ou aversão.
O apetite, unido à ideia de alcançar, chama-se esperança.
A mesma paixão, sem essa idéia, é desespero.
A aversão, ligada à ideia de poder ser ferido pelo objeto, chama-se temor.
Quando alguém tem a esperança de poder evitar esse ferimento pela resistência, a aversão toma o nome de coragem.
A coragem repentina é chamada cólera.
A esperança constante, confiança em nós mesmos.
O desespero constante, desconfiança de nós mesmos.
A ira, diante de grande dano feito a outrem, quando concluímos que foi feito injustamente, recebe o nome de indignação.
O desejo de bem ao próximo chama-se benevolência, boa vontade, caridade.
O desejo de riquezas, cobiça.
O desejo de posição ou proeminência chama-se ambição.
O desejo que dificilmente conduz às metas e é obtido de coisas que opõem alguns obstáculos para serem alcançadas é denominado pusilanimidade.
O desprezo por ajudas ou obstáculos insignificantes, magnanimidade.
A magnanimidade em perigo de morte ou ferimento, coragem, firmeza.
A magnanimidade no uso das riquezas, liberalidade.
A pusilanimidade em relação às riquezas denomina-se tacanhice, miséria e parcimônia, segundo seja aceitável ou não.
O amor pelo próximo, em sociedade, amabilidade.
O amor às pessoas, por mera complacência, é lascívia natural.
O mesmo gênero de amor, mediante maquinação insistente, por imaginação do prazer obtido no passado, é luxúria.
Amor particular por alguém, com desejo de ser reciprocamente amado, é paixão amorosa.
O mesmo, porém cercado de dúvidas de que haja reciprocidade, é ciúmes.
O desejo de fazer mal a outrem, obrigando-o a lamentar algum fato ocorrido, é afã de vingança.
O desejo de saber por que e como, curiosidade.
O temor invisível, imaginado pela mente ou baseado em relatos publicamente permitidos, chama-se religião; quando são proibidos, superstição.
O temor, sem apreensão do como ou do porquê, terror, pânico.
A alegria pela compreensão de uma novidade se chama admiração.
A alegria gerada pela imaginação da própria força e capacidade do homem é a exultação da mente que se denomina glorificação; quando se baseia na experiência de ações passadas, chama-se confiança; quando porém, se fundamenta na bajulação de outrem ou no próprio conceito para usufruir dos deleites das consequências, toma o nome de vanglória.
O pesar ocasionado pela opinião de ausência de poder é chamado desalento da mente.
O entusiasmo repentino é a paixão que proporciona as caretas a que chamamos riso.
Ao contrário, o desalento repentino é a paixão que causa o pranto.
O pesar causado pela descoberta de falha de capacidade chama-se vergonha, que é revelada pelo rubor.
O desprezo pela boa reputação chama-se impudicícia.
O pesar causado pela calamidade sucedida a outrem denomina-se piedade.
Associado à ideia de que também nos possa ocorrer, compaixão ou solidariedade.
O desprezo ou indiferença pela desgraça alheia denomina-se crueldade.
O pesar suscitado pelo êxito de um competidor por riquezas, honra e outros bens, quando unido ao propósito de fortalecer nossas próprias aptidões, chama-se emulação.
Se estiver associado ao propósito de suplantar ou criar obstáculos a um competidor, recebe o nome de inveja.
Quando na mente humana se registram de forma alternada apetites e aversões, esperanças e temores, relativos a uma mesma coisa, de forma que, algumas vezes é despertado o nosso apetite e, outras vezes, a aversão, a soma desses desejos, aversões, esperanças e temores, que continuam até que a coisa seja feita ou considerada impossível, é aquilo que chamamos deliberação.
Na deliberação, o apetite ou aversão imediatamente mais próximo da ação ou omissão corresponde ao que chamamos vontade. O ato, não a faculdade, de querer.
Essas formas de linguagem são expressões ou significados voluntários de nossas paixões, cujos melhores signos se encontram nas feições, nos movimentos do corpo, nas ações e nos fins, ou propósitos, que, aliás, sabemos que o homem possui.
Professor Orosco.
Extraído de: Hobbes, Thomas. Leviatã. Trad. Rosina D'Angina. 2. Ed. São Paulo: Martin Claret, 2012, pg 47 - 57.
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