segunda-feira, 25 de agosto de 2014

ÁGUA MOLE E PEDRA DURA


A recente estiagem prolongada em São Paulo está provocando a abertura de uma significativa quantidade de poços artesianos por toda a parte, dada a preocupação de todos em garantir o abastecimento d'água para uma população superior a 20 milhões de pessoas, somente na área próxima da Capital.
Diferentemente dos velhos poços d'água, de baldes e sarilhos, estes poços têm uma profundidade considerável, ultrapassando, na maioria dos casos, os cem metros de profundidade.
Geralmente, oferecem água de qualidade razoável, porém, impotável pelos padrões sanitários, requerendo, quase sempre, tratamento adicional , o que raramente é feito com o devido zelo.
A água, para ser retirada desta profundidade, geralmente necessita de um processo mecânico que, injeta ar, por exemplo, para compensar a água retirada, mantendo o nível do reservatório subterrâneo com a pressão  necessária.
Ocorre que, em grande escala, esta pressão não se equaliza e, forma-se bolsas flutuantes de ar, sob o solo.
Um único poço, não oferece grandes riscos, mas muitos podem provocar a movimentação do solo e afetar as construções na superfície.
A poucos anos, uma gigantesca cratera formou-se em Cajamar, engolindo casas e ruas, como consequência do uso inadequado e da quantidade excessiva de poços artesianos naquela região.
Qualquer engenheiro de solos, qualquer geólogo, sabe o que estou dizendo.
A conivência e a ausência do poder público nesta hora, pressionado pelas eleições, como agente fiscalizador e  regulador do número destes poços, caracteriza-se um verdadeiro crime que, dadas as características da metrópole, pode provocar acidentes muito graves e com muitas vítimas, já no curto prazo.
Imaginem a construção de prédios sobre um solo que se comporta como uma bexiga de ar, pronta para estourar.
O assunto é sério e de maneira egocêntrica, parece que as pessoas não estão querendo abordá-lo.
Grandes edifícios, grandes condomínios, agindo por conta própria, cavando poços, aleatoriamente e, por toda a parte, em número elevado, trarão conseqüências gravíssimas para todos nós. 

Professor Orosco.



sábado, 23 de agosto de 2014

VIVEMOS OU NÃO UMA NOVA ÉPOCA GEOLÓGICA?

CIENTISTAS DEBATEM SE VIVEMOS UMA NOVA ÉPOCA GEOLÓGICA


Desde o surgimento Geologia enquanto ciência, poucos séculos atrás, mais precisamente, cerca de 300 anos atrás, o ser humano começou a se preocupar com a datação dos eventos que marcaram as eras e épocas do planeta Terra.




Eras Geológicas – A história geológica da Terra pode ser resumida em quatro eras geológicas, caracterizadas de acordo com os principais eventos ocorridos na evolução do planeta.



Tempo em MAA
Época
Período
Era
0,01
Holoceno


Neogeno




Cenozóico
2
Pleistoceno
5
Plioceno
23
Mioceno
36
Oligoceno

Paleogeno
55
Eoceno
65
Paleoceno

Na escala de tempo geológico, o Plistoceno ou Pleistoceno é a época do período Quaternário da era Cenozoica do éon Fanerozoico que está compreendida entre 2,588 milhões e 11,5 mil anos atrás, abrangendo o período recente no mundo de glaciações repetidas.
O Pleistoceno sucede o Plioceno e precede o Holoceno, ambos de seu período. Divide-se nas idades Pleistoceno Inferior, Pleistoceno Médio e Pleistoceno Superior, da mais antiga para a mais recente.
O Pleistoceno (época geológica na história da Terra que, estende-se de cerca de 2,5 milhões de anos a 11,5 mil anos atrás), que abrangeu um período chamado Idade do Gelo, é considerado a etapa mais importante da evolução humana, em virtude do maior número de alterações  (anatômicas e fisiológicas) sofridas neste período.
            Estudos geológicos comprovam que o Pleistoceno teve um clima bastante instável, com fases úmidas, de chuvas torrenciais e com períodos de glaciações intercalados com períodos de seca, onde o avanço e recuo das geleiras provocaram mudanças drásticas no clima, afetando a vida animal e vegetal do planeta, forçando a migração espécies e provocando a extinção de outras (seleção natural).
            Dividido geologicamente em Pleistoceno Inferior (até 700 mil anos atrás), Pleistoceno Médio (entre 500 mil e 150 mil anos atrás) e Pleistoceno Superior (entre 500 mil e 150 mil anos atrás), foi sucedido pelo Holoceno, período também chamado de época atual, que se iniciou a cerca de10 mil anos, onde o homem tal como o reconhecemos hoje (Homo Sapiens Sapiens), afirmou-se.
            A evidencia da evolução do homem, a partir de ancestrais pré-humanos, encontra-se nos registros de fósseis descobertos, acompanhando os períodos geológicos citados, pode ser classificada como:
            1 – O Pré homínida, o Australopithecus, ou homem-macaco, cujos fósseis foram datados de um a três milhões anos atrás.
            Este espécime era bípede, andava ereto (constatado pela anatomia da pélvis, pernas, posição do crânio e coluna vertebral, além dos pés), habitava terrenos abertos e alimentava-se de carne e vegetais
            Existem evidencias de que usos instrumentos feitos de pedra e osso
            Seu antecessor teria sido o fóssil denominado “Lucy”, encontrado no lago Turkana, no Quênia, em 1979.
            2 – O Homo Erectus, o Pithecantropus, que viveu entre um milhão de anos e 100 mil anos atrás, com vários espécimes fósseis encontrados: Homem de Java (1891), Homem de Pequim (38 unidades), Homem Erectus Mauritanicus (descoberto no norte da África), Homem Erectus Heildelbergensis (Alemanha, 1908), que aparece associado a artefatos de pedra e armas, evidenciando que caçava animais de médio e grande porte (elefantes, rinocerontes, búfalos, etc.)
            3 – O Homo Sapiens, o Neanderthal, que teria surgido a aproximadamente 150 mil anos, no período da glaciação denominada Würn, e possuía estrutura esquelética similar ao homem moderno, embora mais volumosa, vivia em cavernas e usava o fogo para aquecer e iluminar o seu ambiente.
            Vestia-se com peles, alimentava-se de carne e vegetais (aprimorou facas, martelos e pontas de lança) e, sepultavam seus mortos junto com artefatos (descobriu-se uma sepultura na região de fronteira entre o Irã e o Iraque inclusive com pólen, evidenciando flores), o que nos leva a inferir ritos funerários e a crença na imortalidade da alma ou espírito.
            4 – O Homo Sapiens Sapiens, o grupo final de homens fósseis, conhecido pela designação Cro-Magnon, que viveu durante o Pleistoceno Superior, representa também o protótipo dos grandes grupos raciais: Cro-Mognon para os brancos, Chancelade para os asiáticos e Grimaldi para os negros.
            Possuía uma tecnologia material avançada, resultante de uma cultura intelectual bastante criativa (gravuras multicoloridas nas paredes de cavernas) e, segundo fosseis encontrados na Espanha, pode ter existido no mesmo período do homem de Neanderthal.
            Isto significa que, apesar das evidências encontradas nesses dados, a vida humana não se desenvolveu de forma idêntica em todos os lugares habitados.
A época Holocena, que sucede à época Pleistocena de seu período, costuma ser dividi-la em cinco cronozonas baseadas nas flutuações climáticas.


O Holoceno inicia-se com o fim da última era glacial principal, ou Idade do Gelo.
A época é informalmente chamada Antropogeno, por abranger todo o período de civilizações, embora essa denominação não seja reconhecida pela Comissão Internacional sobre Estratigrafia ( a disciplina que analisa as marcas da passagem do tempo no planeta) da União Internacional de Ciências Geológicas.
No período geológico denominado Holoceno, período Neolítico (pedra nova, polida) evidencia-se a presença do Homo Sapiens Sapiens, caracterizado pela produção de alimentos, inferindo uma agricultura incipiente, depois intensiva, pela domesticação de animais, que deu origem ao pastoreio, pelo sedentarismo, com a formação de aldeias e pelo surgimento da cerâmica.
O que se discute agora, é o estabelecimento de uma nova época geológica, chamada Antropoceno, provocada pela presença e ação do homem, do Homo Sapiens Sapiens, no planeta, principalmente a partir da Revolução Industrial, final do século XVIII, onde a produção e consumo de combustíveis fósseis começou a alterar as condições climáticas da Terra.
             A ideia foi lançada no início deste século (século XXI) pelo químico Paul Crutzen, do Instituto Max Plank, prêmio Nobel de Química em 1995 por seus estudos sobre a camada de ozônio na atmosfera.
            A pergunta que os cientistas tentam responder é se estas transformações são tão relevantes e profundas quanto as promovidas pelas grandes forças da natureza.
            Classificar o Antropoceno como uma nova época geológica é uma caracterização que depende da observação de uma mudança nos registros geológicos, como, por exemplo, no padrão de sedimentação em escala global.
            Com o aumento do nível do mar, haverá outro padrão de depósito de sedimentos e, onde hoje é continente, amanhã será mar.
É um processo muito lento, de anos, talvez décadas de análise e medições.
Essa nova marcação no tempo, porém, não se restringiria ao aquecimento global, mas às diversas ações humanas, impulsionadas pelo aumento populacional, como perda de habitats, mudança no uso do solo, sobre exploração de recursos naturais, causando, por exemplo, perda da biodiversidade, acidificação dos oceanos e perturbação dos ciclos naturais, sendo este último, as evidencias mais robustas do impacto humano.
Diversos estudos, nos últimos anos, apontam para uma mudança nos ciclos de carbono, nitrogênio e fósforo, além do hidrológico, onde, por exemplo, os dados compilados e publicados em 2009, pelo sueco Johan Rockström, junto com outros 28 cientistas, demonstram que a humanidade já ultrapassou três de nove barreiras do planeta que mantêm o sistema funcionando como o conhecemos.
As nove barreiras são: 1) O uso da água doce, 2) Conversão das florestas em plantações, 3) Acidificação dos oceanos, 4) Ciclo do fósforo, 5) Contaminação química da atmosfera, 6) Aerossóis na atmosfera, 7) Aquecimento global, 8) Extinção de espécies, 9) Ciclo do nitrogênio.
Já foram transpostos os limites da biodiversidade, da mudança climática e do ciclo de nitrogênio, por causa do uso excessivo de fertilizantes.
Três anos depois, em 2012, já se considera também superado o limite de fósforo e alerta-se para o fato de que o de carbono já está para ser atingido.
Hoje as emissões de carbono ultrapassam 40 bilhões de toneladas anuais, o que, indica que em menos de um século, vamos ter o dobro de CO2 na atmosfera.
Outra corrente de cientistas, ainda mais radical, defende que a presença do homem no planeta, alterou de tal forma o ciclo natural do desenvolvimento das espécies, que o Antropoceno, não se trata mais de classificar o tempo, apenas em fatores geológicos, a como época ou período, mas de era.  
A ERA ATÕMICA.


Professor Orosco



Texto elaborado a partir da Reportagem de Giovana Girardi e publicada no Jornal O Estado de São Paulo em 26 de Dezembro de 2.012

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

CAPÃO DO EMBIRA


Meu querido Capão do Embira
De guarús e lambaris
Rio caudaloso de minha infância
Que meus filhos não chegaram a conhecer.

Deitaram-lhe asfalto por em cima
Fizeram de teu leito esgoto mal cheiroso
Esqueceram tuas pontes de madeira
Soterraram teu passado glorioso

Meu querido Capão do Embira
De guarús e lambaris
Te guardarei eterna lembrança
De uma inocente época feliz.

Professor Orosco

domingo, 17 de agosto de 2014

FILOSOFIA DA NATUREZA

            Quando falamos de natureza, do que exatamente estamos falando ?
            A ciência, a religião e a política, apesar dos seus esforços, mostraram-se insuficientes para responder a esta pergunta que, a filosofia, como amante do conhecimento, procura compreender.
            Antes de iniciar o estudo da "filosofia da natureza", primeiramente devemos reconhecer a característica equívoca dos termos natureza e natural, de modo que ao empregá-los, compreendamos exatamente sua função.
            Natureza, que pode referir-se ao caráter metafísico (que não está restrita à matéria), natureza de algo, sua essência ou índole, que a distingue das demais, ou ainda ao conjunto de todos os seres físicos, de todos os processos, geralmente identificados com o corpóreo.
            Natural, que pode ser empregado como sinônimo de espontâneo; como forma de distinguir algo do artificial produzido pelos viventes, incluído o homem; como distinto do espiritual, não identificado com o corpóreo, como a liberdade, por exemplo e na acepção do termo, como distinto do sobrenatural.
            A caracterização do mundo natural, como um mundo heraclitiano, em constante movimento, evolutivo, pressupõe a produção de estruturas distintas, segundo o tempo e o espaço, formas a priori da interioridade e da exterioridade, que se desenvolvem independentemente da intervenção humana, onde o dinamismo e a estruturação são características estritamente relacionadas.
            Patentes nos seres viventes, estas características estão presentes em toda a matéria, ainda que de forma microfísica ou de equilíbrio.
            Embora o homem possa interferir na dinâmica destes processos, ele não pode modificar suas leis, que seguem caminhos próprios, autônomos e não passivos e independentes.
            A natureza está construída em torno de estruturas que se repetem, que formam padrões, pautas, como nos viventes, por exemplo, que possuem uma estrutura unitária na qual as diferentes partes desempenham funções específicas.
            Tijolo sobre tijolo, que formam o alicerce sobre o qual se edificam as paredes, a natureza está repleta de exemplos de onde a ciência experimental busca identificar estes padrões no intuito de ampliar nosso conhecimento dos fenômenos.
            Na natureza nem tudo são pautas, porém, tudo gira em torno delas, e o simples reconhecimento deste fato denota a especificidade deste nosso mundo, onde as estruturas espaciais referem-se à ordem que os componentes naturais adotam, suas configurações; e as estruturas temporais referem-se aos processos, ao desenvolvimento temporal do dinamismo natural que, com pautas características podem ser denominadas ritmos.
            Interligados, o dinamismo e a estruturação, condicionando-se mutuamente produzem ora novas estruturas espaciais, ora novos dinamismos, segundo suas potencialidades e virtualidades, cujos desdobramentos, de forma contingente, dependem das circunstâncias externas, podendo-se, desta forma, caracterizar o natural segundo sua atividade.
            Dada esta caracterização do natural em função do entrelaçamento entre o dinamismo e a estruturação, não é possível distinguir a matéria das leis de seu comportamento em um momento específico, como nas ciências, que precisam formular leis limitadas a situações experimentais controladas, pelo que, ditas leis, só podem ser válidas em circunstâncias muito específicas.
            Exatamente por isso, por retirar a possibilidade contingente, que o artificial difere do natural, e dizer: o artificial não tem um dinamismo próprio, o que fica restrito às entidades naturais que o compõem, contendo, apenas, estruturas espaço-temporais correspondentes ao projetado pelo homem.
            Uma escultura produzida em bronze, por mais bonita que seja, sofrerá do desgaste natural e dos efeitos da corrosão à qual este metal está sujeito.
            No entanto, mesmo nesta situação, dado o dinamismo próprio das entidades naturais que compõem o artificial, não é possível ao homem modifica-los, limitando-se, neste caso, quando muito, a direcioná-los.
            O próprio dinamismo natural humano, relacionado a suas estruturas espaço-temporais, dada sua racionalidade, as transcende, alterando outras e produzindo o artificial, ou seja: mesmo submetidos a leis naturais, pela racionalidade, permitem contemplá-las, conceitua-las e controlá-las.
            Como síntese que o caracteriza, o natural contempla as propriedades do corpóreo, do sensível, do material, da extensão cartesiana, do espaço-temporal, do quantitativo, não se deixando, contudo, definir em função destes.
            Não pode ser definido apenas pelo corpóreo, pois este implica, quase sempre em extensão, associado aos sólidos, desconsiderando líquidos e gasosos, ou ainda os campos de força, todos indubitavelmente com dinamismo próprios.
            Além disso, outra consideração importante é o fato de que os artificiais também podem ser corpóreos, ou seja, possuírem extensão.
            Igualmente, o natural não pode ser definido apenas pelo sensível, uma vez que as entidades microfísicas, por exemplo, não são percebidas pelos sentidos, ao menos sem o auxílio do artificial.
            Também o conceito de material não é suficiente para definir o natural, uma vez que este termo também é um equívoco, podendo representar o corpóreo ou aquilo de que algo seja feito, distinto do formal, que se refere ao modo de ser das coisas.
            A extensão também não é suficiente, uma vez que nem sempre é necessária para justificar o natural, ainda que percebido pelos sentidos, como o vento ou a luz do dia.
            Pelos mesmos motivos, o conceito espaço-temporal também é insuficiente para definir o natural, pois refere-se a dimensões, que, assim como o critério quantitativo expressa característica dimensionais, de localização, são tidas como primárias do mundo físico que, embora necessárias, aplicam-se também aos artificiais.
            O próprio conceito de necessário, que se contrapondo ao racional, no âmbito da liberdade, negando-lhe a possibilidade, não é suficiente para significar o natural.
            Por sua vez, o dinamismo e a estruturação, em todos os casos acima, apresenta melhores condições de identificar o natural, pois estendem-se não só às formas corpóreas, mas também a qualquer outro tipo de entidade natural, independentes da ação humana.
             E dizer: a caracterização do natural, conforme Aristóteles, se dá em função do dinamismo e da estruturação, apresentando a natureza como princípio interior de atividade nas substâncias.
            Pode até apresentar-se com o um exagero, mas, a relevância do assunto demonstra que, sem o correto entendimento dos termos natureza e natural; da correta observação do dinamismo e da estrutura espaço temporal das coisas, indo além daquilo que a ciência normalmente define, o processo do conhecimento e da tentativa de compreensão do mundo que nos circunda fica limitado e incompleto.


Professor Orosco

Extraído da obra de: ARTIGAS, Mariano. Filosofia da Natureza. Tradução de José Eduardo de Oliveira e Silva. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio, 2005.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

É POSSÍVEL ENCONTRAR DEUS ?


A poucas décadas atrás, o homem mais rico do mundo, Nathan Rothschild, que financiou o canal de Suez e o canal do Panamá; considerado um homem mais rico que a maioria dos países daquela época, morreu vitimado de uma septicemia provocada por um simples furúnculo.
Aqui no Brasil, em um momento tão especial, comovidos pelo triste acidente que vitimou o candidato à presidência de nosso país, Dr. Eduardo Campos, percebemos o quão frágil é a vida humana, quão absurda ela é e o quão insignificante somos, todos nós, diante dos desígnios de Deus.
Nesta hora, em que nos solidarizamos com seus familiares, assim como nos solidarizamos com os familiares das outras pessoas que também faleceram no acidente, desejosos de que todos eles sejam recebidos nos braços do Criador e que encontrem em sua companhia a merecida paz, devemos nos perguntar:
É possível encontrar Deus?
Seguramente esta questão tem demandado muito tempo e consumido muita energia por parte de inúmeros pensadores, religiosos ou não, ao longo da existência humana.
Poderíamos, de certa forma, diante de tantas explicações e, de tantas contradições, dizer que esta possibilidade, de encontrá-lo, extrapola a capacidade do entendimento humano, ao menos enquanto espécie animal vivente.
De certa forma, Deus não desejou que nós o conhecêssemos, pois se o quisesse, nós o conheceríamos.
Criando-nos como seres imperfeitos, seres desejantes, Ele, o fez de tal forma, que nós o procurássemos, por toda a vida e não que o encontrássemos.
“O homem, mortal, não pode contemplar a face de Deus!”.
Entendemos que, agindo assim, o prazer que ele nos permitiu, consiste na busca que realizamos ao procurá-lo.
Um prazer que está contido na observação de suas obras e no gozo de sua realização.
Como nas palavras de John Locke, “A busca da verdade é como uma caçada, onde grande parte do prazer está na perseguição” (Ensaio Sobre o Entendimento Humano. Epístola ao Leitor. São Paulo: Martins Fontes, 2012), ou então, como no célebre aforismo de Guimarães Rosa “Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” (Grande Sertão: Veredas), concluímos que:
Nesta busca, só podemos sentir, em nossos corações, que nos aproximamos ou que nos afastamos d´Ele, segundo nossos apetites e segundo nossas ações.
Que este termômetro que marca o quão “mais quente” ou o quão “mais frio” estamos de alcançá-lo, não pode ser encontrado nas alturas ou tampouco encontrado nas profundezas.
Que só podemos encontrá-lo na justa medida, na altura de nossos olhos, refletido em outros olhos, que igualmente nos fitam; olhos que também procuram medir a sua própria temperatura.
O sucesso desta empreitada, segundo desejamos crer, está na firme convicção de nossos passos e nos motivos que nos movem.

Professor Orosco

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O ESCOLHIDO


Jovem guerreiro, que se achava bonito, preparado e valente, pretendente natural ao trono, é escolhido por um grupo de velhos, para escoltar um outro jovem, ainda mais moço, até o local de sua coroação, onde seria declarado o lider de uma nação religiosa.
Constrangido pela tarefa, decepcionado pela escolha do outro, acata as ordens e aceita a missão.
Durante a jornada, o guerreiro vê no mais moço, a inocência da idade, os ímpetos da juventude que lhe fazem agir com imprudência, colocando-se em perigo constante e de forma fortuita.
A raiva toma conta dele, que censura estas atitudes, ao mesmo tempo que desperta uma sensação de amizade e proteção.
Durante a jornada, muitos perigos, muitos obstáculos e muitas intervenções para retirar o moço das provas e ameaças contra a sua integridade.
À medida que a jornada transcorre, a amizade entre os dois se fortalece e o sentido da proteção toma, no guerreiro, uma proporção que supera o bom senso e a auto-preservação.
Ele não pensa mais em si, mas apenas na proteção daquele que seria coroado.
Enfrenta todos os obstáculos, é ferido, suporta as dores e, ao final, chega ao local combinado, feliz por seu companheiro ter chegado incólume.
Na preparação para a cerimônia, escolhe sua melhor roupa, limpa sua espada e, colocando-se de joelhos, diante da assembléia, rende homenagem ao amigo.
Neste momento solene, quando o mais moço se prepara para receber a coroa, o lider religioso, pegando-a em suas mãos, dirige-se à dupla e, surpreendentemente, coloca-a sobre a cabeça do mais velho, que estava ajoelhado.
Ele fora o verdadeiro escolhido para governar.
Sempre fora ele.
A jornada a que se submeteu tinha um propósito.
O propósito de que ele aprendesse o valor da renúncia e do amor ao próximo, da dedicação desinteressada e altruísta em favor do amigo, características tidas como fundamentais para quem vai governar o povo.
A escolha foi acertada.
Ele seria um bom Rei.

Professor Orosco.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SERÁ QUE FOI UMA CONQUISTA DE FATO ?


Voltando para meus afazeres cotidianos, depois de participar de mais uma Reunião Extraordinária do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, tive a oportunidade de acompanhar uma minha colega de Conselho em parte de sua aventura para voltar para casa.
Cega, veio sozinha desde São José dos Campos, ônibus, rodoviária, metro, troca de trens, calçadas, só para lutar, voluntariamente, pela defesa dos direitos das pessoas que, como ela, sofrem com alguma incapacidade.
Percebi o quão pequenos são os meus problemas e o quão fraco sou quando reclamo de minha dor nas costas, do meu resfriado, do meu pouco dinheiro.
Olhei ao meu redor, e isto eu posso fazer, e percebi que, tanto no metro como na cidade já existem inúmeras pessoas com deficiência circulando.
Sinto-me recompensado ao perceber que nosso trabalho produziu frutos.
Uma conquista.
Há poucos anos, só estavam lá para mendigar ajuda.
Hoje, elas trabalham, compram, se divertem, sonham, se fazem respeitar.
Sem dúvida uma conquista.
No entanto, ainda percebo que existe uma parcela importante destas pessoas, seres humanos que sofrem de alguma incapacidade, que não estão sendo devidamente contempladas, ainda que nos seus direitos mais básicos.
As pessoas com deficiência intelectual.
Não só altistas, mas todos, como os Angelman's e os vários PC's, que ainda são preteridos da atenção básica, como saúde e educação.
Sinto-me compelido a continuar lutando, mas lamento que boa parte de meus companheiros, influenciados pelas conquistas alcançadas tenham, alguns demonstrando os efeitos da fadiga pela luta e outros que ficaram acomodados em suas cadeiras motorizadas, deixado a militância aguerrida em prol do coletivo.
A união faz a força, e no nosso caso, a união nos permite ficar em pé.
Apoiados uns nos outros podemos vislumbrar melhor o horizonte que se ergue diante dos nossos olhos, descrevendo-o para os que não podem enxergar.
Se ficarmos divididos, por "picuinhas pessoais", brevemente estaremos reivindicando novamente as calçadas para mendigar. 
Como em qualquer peleja, a conquista é sempre mais fácil que a manutenção dos territórios conquistados.
Não devemos, não podemos, nos esquecer disso.

Professor Orosco