Sendo
a classe governante a única a ter poder político, inclusive o poder de
conservar o número do gado humano dentro dos limites que o impeçam de
transforma-se num perigo, todo o problema de preservar o Estado reduz-se ao de
preservar a unidade interna da classe dirigente.
E como preservar essa unidade dos
governantes?
Pelo adestramento e outras influências
psicológicas, mas também e principalmente pela eliminação dos interesses
econômicos que possam levar à desunião.
Popper,
Karl. A Sociedade Aberta e Seus Inimigos.
Tradução de Milton Amado. São Paulo: Editora USP, 1974.p.62
Na Grécia antiga, nos primeiros ensaios
de uma democracia, Platão, que não a defendia, alertava para a necessidade de
que a classe governante fosse privada da fortuna, da posse de propriedades ou,
como em Esparta, de joias e metais preciosos, para que pudesse desempenhar suas
tarefas sem sofrer dos males da ganância e da corrupção.
A proposta era tão radical, que
propunha aos governantes a posse comum das mulheres, de forma tal que os filhos
não pudessem identificar os pais, e vice-versa, o que, na teoria platônica,
obrigaria os dirigentes a ver “todo o povo” como sua prole, trabalhando pelo
bem de todos.
A ironia dos tempos modernos é poder
constatar que “vinte e cinco” séculos depois, o problema ainda não foi
completamente equacionado.
Como muitas transformações sociais
ocorreram neste intervalo de tempo, as soluções encontradas tornaram-se, para
os olhos de um observador externo e isento, no mínimo curiosas.
Ao invés do voto de pobreza, a riqueza,
o fausto ostensivo, mantido inclusive com “mimos mensais” que se somam aos
vultosos salários, como forma de unificar as demandas parlamentares e unificar
as opiniões.
O concubinato e a mancebia, custeadas
pelo estado, oferecida como alternativa para aquecer os corações daqueles que
sentem o frio da distancia familiar.
A luxúria e a abundância como
demonstração de prestígio e poder, associada à baixa propositura de ideias,
como forma de demonstrar a estabilidade das instituições.
A linguagem coloquial em substituição à
formal, como forma de se apresentar próximo do eleitor.
A divisão, a subdivisão e a
sub-subdivisão do poder, entre os poderes, como forma de evitar a
responsabilidade.
Enfim, de 8 a 80, o tempo não nos
tornou mais sábios ou prudentes.
Oxalá consiga nos transformar em
melhores críticos.
Professor
Orosco
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