terça-feira, 2 de julho de 2013

EM BUSCA DA JUSTA MEDIDA


         Sendo a classe governante a única a ter poder político, inclusive o poder de conservar o número do gado humano dentro dos limites que o impeçam de transforma-se num perigo, todo o problema de preservar o Estado reduz-se ao de preservar a unidade interna da classe dirigente.
         E como preservar essa unidade dos governantes?
         Pelo adestramento e outras influências psicológicas, mas também e principalmente pela eliminação dos interesses econômicos que possam levar à desunião.
Popper, Karl. A Sociedade Aberta e Seus Inimigos. Tradução de Milton Amado. São Paulo: Editora USP, 1974.p.62

         Na Grécia antiga, nos primeiros ensaios de uma democracia, Platão, que não a defendia, alertava para a necessidade de que a classe governante fosse privada da fortuna, da posse de propriedades ou, como em Esparta, de joias e metais preciosos, para que pudesse desempenhar suas tarefas sem sofrer dos males da ganância e da corrupção.
         A proposta era tão radical, que propunha aos governantes a posse comum das mulheres, de forma tal que os filhos não pudessem identificar os pais, e vice-versa, o que, na teoria platônica, obrigaria os dirigentes a ver “todo o povo” como sua prole, trabalhando pelo bem de todos.
         A ironia dos tempos modernos é poder constatar que “vinte e cinco” séculos depois, o problema ainda não foi completamente equacionado.
         Como muitas transformações sociais ocorreram neste intervalo de tempo, as soluções encontradas tornaram-se, para os olhos de um observador externo e isento, no mínimo curiosas.
         Ao invés do voto de pobreza, a riqueza, o fausto ostensivo, mantido inclusive com “mimos mensais” que se somam aos vultosos salários, como forma de unificar as demandas parlamentares e unificar as opiniões.
         O concubinato e a mancebia, custeadas pelo estado, oferecida como alternativa para aquecer os corações daqueles que sentem o frio da distancia familiar.
         A luxúria e a abundância como demonstração de prestígio e poder, associada à baixa propositura de ideias, como forma de demonstrar a estabilidade das instituições.
         A linguagem coloquial em substituição à formal, como forma de se apresentar próximo do eleitor.
         A divisão, a subdivisão e a sub-subdivisão do poder, entre os poderes, como forma de evitar a responsabilidade.
         Enfim, de 8 a 80, o tempo não nos tornou mais sábios ou prudentes.
         Oxalá consiga nos transformar em melhores críticos.


Professor Orosco 

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